Angels Dont Cry escrita por dastysama


Capítulo 29
Capítulo 29 - A dor tbm ajuda a crescer




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– Eu vou com você – Mischa disse parada no meu quarto enquanto eu arrumava minhas malas – Vou com você para Luleå se não se importa.


– Por quê? – eu disse pasmada, sem entender o que ela queria.


– Se meu pai descobrir que abandonei a faculdade vai me matar, não posso voltar para casa. Quero ficar com você por um tempo, afinal você vai decidir o que fazer da vida e também vou fazer o mesmo. Também não quero mais ser o que os outros queiram que eu seja.


– Então vai vir comigo? Não acha mais isso tolo? – eu disse abrindo um sorriso enorme e pulando no pescoço dela, a abraçando com força.


– Ainda acho que é a maior tolice que vou fazer na vida, mas acho que vou fazer da mesma forma. Talvez de certo ou apenas vou quebrar a cara.


– Vai dar certo para nós duas – eu disse voltando para minha mala e a fechando.


– Pelo menos terei que ficar do seu lado e evitar que você faça alguma besteira, esse negócio do vocalista daquela banda está me mandando mensagens que isso significa perigo.


– Sei que parece meio louco, mas talvez em breve você acredite. Mas tudo foi real demais para se deixar passar.


Quando todos ouviram que eu iria embora de Estocolmo, acharam que era por causa de Lukas, por causa da traição – que se espalhou rapidamente pelos corredores – e por causa do término. Eu dizia claramente que não tinha nada a ver, e não tinha realmente. Não dava mais a mínima para Lukas nem para aquela faculdade idiota com pessoas idiotas, eu queria agora seguir minha própria vida. Os professores tinham me dito que iriam perder uma grande aluna, mas diplomacia não era para mim. Havia algo em algum lugar do mundo que devia ser para mim, mas isto não era.


 


– Me sinto naqueles filmes de adolescentes rebeldes que fogem para outro país – Mischa disse comendo um saquinho de amendoins enquanto estava sentada no banco do avião – É tão emocionante! Eu liguei para o meu pai dizendo que desistia de tudo e ele ficou furioso, mas fiz isso ontem, acho que ele está vindo para cá.


– Não seria melhor você falar com ele? – eu perguntei olhando pela janelinha do avião.


– Quando ele ver que eu sumi, vai ficar preocupado, talvez isso mude um pouco as coisas. Se ele me encontrasse lá, teríamos a maior briga de todos os tempos e no final teria que ser obrigada a ficar na faculdade.


– Então você planeja vir comigo para minha casa, ficar por lá uns dois meses até eu conseguir ir para a França?


– Você vai mesmo para a França? Se você for, vou com você. Lá é um lugar legal, algumas férias de julho eu costumava ir com minha mãe para lá. É um ótimo lugar para fazer compras.


Tudo bem, eu havia me esquecido de como Mischa era rica. Enquanto para mim, França era um sonho desconhecido, para ela era uma realidade mais que cotidiana. Talvez uma temporada em Luleå seja algo bem estranho para ela. Quero dizer, nós vivíamos em uma espécie de fazenda, só que em vez de em um lugar quente, era um lugar bem frio. Minha casa era grande para poder suportar o frio intenso que sempre atingia o local e nós tínhamos criação de ovelhas, toda a lã era vendida na cidade. Era um lugar legal de se passar as férias, mas não para morar.


– Espero que você goste de Luleå, não é nada comparado ao que você está acostumada, mas também não é tão ruim assim – eu disse meio preocupada.


– Vig, onde você e eu estivermos, qualquer lugar ganha uma graça. Vamos animar as coisas se forem tediosas. Vai ser legal conhecer um lugar assim, com ovelhas e tudo mais – ela disse rindo enquanto continuava a comer os amendoins – Só espero que tenha caras gatos.


– Se você gosta do tipo trabalhador rural, bem têm de monte, principalmente aqueles que trabalham com lenhas.


– Lenhas? Aqueles com músculos enormes, sem camiseta com aqueles machados partindo madeira? Não é nada ruim – ela disse pensativa – Meu pai vai me obrigar a casar com algum cara rico e metido, então tenho que aproveitar a vida antes que isso aconteça. Imagine eu vivendo um romance daqueles em uma cidadezinha fria como Luleå?


– Mischa, isso é vida real, não é como seus filmes românticos – eu disse lembrando que uma das milhares de malas que ela havia trazido, havia os DVDs dos seus filmes melosos favoritos. Ela iria me obrigar a assistir todos novamente com ela. Isso para mim se chamava tortura.


– Mas posso sonhar! Todos os romances que vivi foram tão sem sal e sem açúcar, eu queria algo emocionante. Pelo menos você sonhou algo bem legal, aquilo da França com o vocalista da banda parecia coisa de filme.


– Nem tanto – eu disse tentando me lembrar de alguns fatos, mas tudo parecia tão vago agora, como se o que eu estivesse fazendo fosse uma besteira. Acho que era bom eu começar a escrever o que eu me lembrava do ocorrido, se não, posso acabar esquecendo tudo.


– Quero dizer, você e Lukas eram perfeitos, em todos os quesitos. Podiam virar um belo romance, mas se pensar bem... podia, não foi um belo romance. Acho que você estava certa, não havia aquela mágica, havia?


– Eu não sei. Como assim mágica? Algo como um amor a primeira vista ou sei lá? – eu perguntei sem entender qual era a lógica de Mischa.


– Bem... tem essa, mas não é tão legal se quer saber. Deixa eu me lembrar de algum filme para eu poder te explicar... ah! Aquela coisa que você sente quando vê uma pessoa, mas também sente uma repulsa? Então os mocinhos ficam brigando o tempo todo, por que querem evitar que o sentimento vire uma realidade, sabe? Mas de tanto tentar refrear isso, uma hora acaba explodindo e eles se pegam de jeito. É isso que estou falando, é mágica. Você pensa que nunca vai acabar com aquela pessoa, mas na verdade você gostava dela desde o começo, sem saber.


– Mischa, você é meio louca, não é? – eu disse piscando freneticamente, tentando descobrir de onde ela tirava essas ideias. E de certa forma, eu já tinha visto isso de algum lugar. Acho que foi do mesmo filme que ela tirou.


– Isso que é um romance daqueles! Você não gostaria de viver um desses? – ela disse sonhadoramente – Acho que é bem mais legal do que aqueles amores à primeira vista. Por que entre o casal principal tem mais obstáculos e tudo mais. Preciso assistir mais filmes!


– Vou esconder todos os seus filmes de você, ou melhor, agora quem vai ser torturada vai ser você. Vamos assistir filmes de guerras, terror, policias, suspense e ficção. Esses são os filmes de verdade, com os mocinhos morrendo no final!


– Eu não ouvi isso Hedvig! – Mischa disse tapando os ouvidos – Gosto de finais felizes, não quero mais desgraças do que as que eu já tenho. Preciso dos meus filmes bonitinhos que me fazem chorar de alegria e não de tristeza por causa de morte.


– Mas é divertido! Ver sangue voando para todos os lados, cérebros explodindo e tiros vindo de todas as direções!


– Cala boca, Hedvig! Para! Não quero escutar! – ela disse ainda apertando os ouvidos e deixando os amendoins de lado pelo menos um segundo.


– Bang! Bang! Bang! – eu disse cutucando ela enquanto ela dava altos pulos de susto. Então eu sosseguei e fiquei rindo, enquanto Mischa continuava quieta no canto dela, ainda decidindo qual era a hora certa para destampar os ouvidos.


– Não faça mais isso – ela disse voltando para os amendoins como se nada tivesse acontecido – Não gosto desse tipo de coisa. Minha mãe morreu por causa de um assalto e eu estava no dia, vi como tudo aconteceu e não gosto de relembrar...


Eu não sabia disso. Eu realmente não sabia, afinal Mischa não falava muito de si mesma, mas eu devia presumir afinal ela falava raramente na mãe, só falava do pai que parecia ser um sujeito amargo. Claro, a mãe morreu. Por isso o pai age dessa maneira e pressiona tanto Mischa. Agora estava me sentindo terrivelmente culpada pelo ocorrido, afinal armas nunca foram um problema para mim já que eu costumava caçar com eu pai, mas para ela isso era algo terrível. A única coisa que pude fazer foi abraçá-la e pedir desculpas. Eu pensando que minha vida era terrível, existia pessoas em pior situação. Sim, existia.


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