Angels Dont Cry escrita por dastysama


Capítulo 23
Capítulo 23 - Anjos não choram




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O Museu do Louvre foi construído em 1190, contra ataques de Vikings, na época do rei Felipe Augusto. Ele é considerado um dos museus mais importantes do mundo e só de saber que artes têm lá dentro, já dá para sacar o porquê de tanta importância. Tenho que dizer, que só ver ele de fora, meu coração já dava altos pulos, ainda mais ao ver a pirâmide de vidro.


– Esse lugar é incrível! – exclamou Charlotte em inglês. Tudo bem, tico-teco, tente relembrar as aulas de inglês! – Foi construído em 1180.


– 1190 – eu corrigi, mas só Bill ouviu e me lançou um olhar de reprovação – O que foi? Ela é francesa, deveria saber uma coisa dessas.


Tudo bem, cale a boca Hedvig! Você não deveria estar arruinando o momento dos dois, apenas deixe Charlotte pagar uma de garota inteligente. É claro que ela não sabe decorar datas, mas todo mundo tem essa dificuldade, não é culpa dela que ela não tem uma miniatura do Museu do Louvre, nem leu aquelas revistas milhões de vezes. Isso é coisa sua, só você faz.


Eu mantive uma distância dos dois, ficando mais atrás e evitando entender o que tanto ela falava, ou o modo como ela envolvia o braço do Bill, ou como ela ria e mexia a cabeça quase tocando no ombro dele. Hedvig se concentre! Hoje é um dia para você apreciar o mundo das artes e não para ficar com raiva e socar tudo e todos. E nada de explodir pessoas, entendeu?


Olhe só a arquitetura do museu! Isso não é digno de imensa atenção? Ainda mais quando a verdadeira arte está dentro, mas também transpira por fora! Hey, quem ela pensa que é, abraçando ele daquela forma? Sinceramente, essa garota é muito rápida para o meu gosto, nem o conhece direito! E se Bill for um psicopata que viaja pelos países atrás de garotas bobinhas e inocentes? Tudo bem, ele não é assim.


Calma, vou respirar fundo. Vamos entrar no museu e tenho que estar preparada! Olhe só a escadaria, as estátuas que parecem que vão sair do lugar a qualquer momento, como se estivessem vivas. E olhe as pessoas sentadas por aí, despreocupadas, afinal elas estão no Louvre! Quer lugar mais lindo e calmo que esse? E eu aqui sobrando. Não totalmente, afinal só Bill me vê, mas no momento ele não está me vendo, por que está com ela.


Sério, não estou com ciúmes, só não gosto que me deixem de lado. Mas ele está namorando agora, gosta dela, não posso ficar atrapalhando. E tenho que colocar um sorriso na cara, eu pareço totalmente entediada. E estou no Louvre! Como posso ficar entediada? Ainda mais com todas essas galerias e esses quadros incríveis! Um dia sempre sonhei em pintar igual a esses grandes artistas.


– Vamos ver a Mona Lisa! – exclamou Charlotte puxando o braço de Bill até onde estava um dos quadros mais famosos.


E lá estava ela, sorrindo misteriosamente, com seus traços feitos perfeitamente pelas mãos habilidosas de Leonardo da Vinci. Só falta Charlotte dizer que a pintura era de Picasso, mas ela acabou falando certo. Na verdade, eu me sentia como a mulher na pintura, tentando ser forte e sorrir, mas por dentro havia algum mistério, algo que a incomodava seriamente.


– O quadro começou a ser feito em 1503 – eu disse, Bill se virou para trás para me ouvir – E foi terminado três ou quatro anos depois. A pintura foi feita a óleo sobre madeira de álamo. O sorriso dela é um dos mais misteriosos que existe, você pode tentar desvendar o que ela sente, mas realmente nunca vai saber. Talvez ela possa ser definida para você como “Automatisch”.


Ele ficou pensativo, olhando para o quadro e depois olhando para mim, como se tentasse ver um pouco dela em mim. Charlotte continuava a falar, enquanto tentava analisar a obra ou lendo o que dizia ao seu lado. Bill simplesmente parecia estar distante, como se não ouvisse mais nada. Nada, além de mim. Senti aquela sensação eufórica dentro de mim. Eu realmente não podia sentir isso.


– O que acha dela? – Charlotte perguntou para Bill, que acordou de repente.


– Ah... que... ela não devia ter medo.


– O que? – ela exclamou. Ele estava falando inglês lentamente para que eu entendesse aos poucos e para Charlotte não desconfiar.


– Ela parece ter medo de expressar o que realmente sente, fica sorrindo o tempo todo, mostra que é forte, mas na verdade ela está escondendo seu lado fraco. Ela não tem ideia de como as pessoas a apreciam de verdade, mas às vezes pensa que todos a esqueceram. Ela não está morta de verdade, sua lembrança não.


Charlotte ficou atônita, tentando entender as palavras filosóficas dele. Mas não era filosofia, era realismo, ele estava falando de mim. Não era Mona Lisa que precisava ouvir aquilo, era eu. Talvez fosse isso que me incomodava, eu não tinha terminado com Bill, não da maneira certa. Eu simplesmente disse para ele esquecer tudo, mas não era tão fácil. Antes de eu ir, eu precisava ajeitar tudo.


– Isso foi lindo, Bill! – Charlotte exclamou quebrando totalmente o clima. Bufei baixinho e me afastei, deixando os dois novamente a sós.


Continuamos a ver o resto dos quadros, eu não conseguia analisá-los direito, parecia que minha mente estava enevoada. Era como estar no Louvre e não estar ao mesmo tempo. Será que isso tinha a ver com meu último dia no mundo dos vivos? Espero que não, estou a fim de aproveitar tudo isso ainda.


Depois de andar muito e de Charlotte tentar apresentar a maioria das artes para Bill, eles decidiram descansar um pouco. Voltamos para a escadaria onde várias pessoas ficavam sentadas lendo, não sei como elas conseguem fazer isso quando tem muito a se ver! Mas os dois haviam comprado café – como se Charlotte não convivesse com isso todos os dias – e um lanche para comerem. Fiquei há alguns metros, fingindo apreciar uma escultura que havia por perto.


– Obrigado pelo passeio – Bill disse para Charlotte enquanto ela sorria bobamente para ele. Eu tentava aguçar meu ouvido e também tentar ver se eu compreendia tudo que ele dizia.


– Não foi nada, eu só gostaria de encontrar você em outro lugar que não seja o meu lugar de trabalho.


– É, eu apenas fiquei te atrapalhando o tempo todo – Bill disse sem-graça. Ele estava vermelho! Como ele pode ficar assim? Cala boca Hedvig. Tudo está ocorrendo como o planejado.


– Claro que não! Eu adorava sua visita! Gostei de você desde a primeira vez que te vi, Bill – ela disse também ficando vermelha.


Tudo bem, vou surtar. Meu Deus, preciso me acalmar, mas como? Respire, você não pode jogar tudo fora, não pode simplesmente destruir tudo que construiu. É o que você quer! É o que você quer! Pare de ser estúpida uma vez na vida e deixe as coisas tomarem seu curso, não atrapalhe. Bill a ama, e ela também o ama. E eu não pertenço a isso, estou fora, por que estou morta. Hoje simplesmente eu vou atravessar o outro lado e descobrir que tudo que senti foi apenas uma bobeira. O meu amor pelo Bill só foi uma paixonite boba, quando você convive com alguém por um tempo, você pode acabar se apaixonando. Mas isso passar, vai passar.


Então quando me virei novamente para olhá-los, eles estavam se beijando. ELES ESTAVAM SE BEIJANDO. Calma, Hedvig, calma. A estátua que eu estava vendo começou a tremer freneticamente, algumas pessoas olharam assustadas. Coloquei a mão na minha cabeça e me abaixei.


– Acalme-se, não faça nenhuma besteira, por favor – eu disse baixinho para mim mesma – Por favor, não acabe com tudo novamente. Controle sua raiva, isso não é bom. Você quer vê-lo feliz, isso não inclui você.


A estátua parou de tremer, várias pessoas ainda olhavam atônitas para aquilo como se fosse explodir a qualquer momento. Bill nem prestara atenção no que acontecia, estava mais ocupado desentupindo a boca da garota. De repente coloquei a mão no meu rosto, senti algo gelado. Era uma lágrima. Mas anjos não choram, ou pelo menos, não deviam chorar. Eles são livres de emoções, então por que não me sinto como se fizesse parte deles? Na verdade, sinto como se eu não fizesse parte de nada.


Talvez esse seja o melhor que eu tenha a fazer. Ir embora. Quem sabe Deus planejou isso, para que eu me machucasse e aprendesse alguma lição valiosa. Mas o que posso concluir com isso? Que o amor é uma droga, que ele só machuca? Não era isso que eu queria aprender. Mas aí está a prova da maior dor de todas, uma lágrima. Uma lágrima gélida, contendo um sufoco de desamor. Eu me sentia ferida.


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