Angels Dont Cry escrita por dastysama


Capítulo 20
Capítulo 20 - Um anjo é capaz de voar




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– Tudo bem, você vai voltar para vê-la – eu disse quando voltamos para o hotel depois dele ter voltado de uma entrevista.


– Eu estou cansado, Hedvig, acho que o melhor é eu ficar por aqui. Amanhã volto a vê-la – ele disse se sentando na cama, pronto para deitar.


– Não! Amanhã é tarde demais, Bill! Você precisa vê-la e é agora – eu disse pegando o braço dele e o puxando para se levantar – Mas antes podemos sair um pouco. Você não quer sair?


– Ah, Hedvig! – ele disse rindo e de repente ficando de pé, eu vacilei e quase caí para trás, mas ele me segurou. Algo não muito necessário, afinal eu podia flutuar, mas era melhor assim, da última vez eu caí feio – Tudo bem, vamos sair.


– Está brincando? – eu perguntei piscando atônita novamente – Você está mesmo a fim de sair? Não vai ficar reclamando meia hora de como as fãs podem ficar te perseguindo?


– Não e vamos logo antes que eu mude de ideia – ele disse me empurrando para ele conseguir passagem até a sua mala, onde ele pegou roupas menos chamativas para se trocar – Espero que você saiba para onde vamos hoje. Quero conhecer os lugares mais lindos da França.


Eu já sabia o que queria visitar dessa vez, era outra das minhas miniaturas, uma das que eu mais gostava e era cenário de uma das histórias que eu mais gostava quando pequena. A Catedral de Notre Dame ficava a beira do Rio Sena, imponente com seu estilo gótico, enfeitada por gárgulas, que são usados para afastar maus espíritos.


– O que viemos fazer aqui? – Bill perguntou olhando pasmado para a Catedral, ele sabia que era incrível, mas talvez estivesse esperando algo mais divertido do que uma igreja.


– Bem, eu nunca fui muito a igrejas quando eu estava viva. Essa é um dos lugares religiosos que eu mais gostaria de conhecer. Não estou dizendo que agora vou rezar, implorando por Deus que me salve, mas depois que você morre, você descobre como as coisas são realmente. Não sei se ir a igreja é um modo de ir ao Céu ou só é uma enganação, só sei que há algo sempre acima de nós.


– Você quer rezar? – ele perguntou, piscando, ainda atônito.


– Só quero conhecê-la – eu disse pensando bem – Mas só de você chegar perto, você sente algo diferente. Por mais que já ocorreu derrama de sangue por perto, o solo é decididamente sagrado. Ela começou a ser construída em uma época que todos chamam de Trevas, em 1163 na Idade Média. Duraram 170 anos até ficar pronta e só foi finalmente concluída por volta de 1330. Diversos reis e rainhas já passaram por aqui, foram coroados em cerimônias lindas, mas também, houve sangue, como eu disse.


– Como sabe tudo isso? – Bill perguntou com seus olhos brilhando para mim.


– Eu comprava revistas que vinham com miniatura de lugares famosos, lá falava um pouco sobre cada lugar. Li diversas vezes por isso acabei decorando – eu disse ficando vermelha – Vamos entrar?


Quando atravessamos o portal, eu não consegui andar mais adiante, eu fiquei parada, olhando para aquela maravilha! Não tenho palavras para descrever o local, só sei que era como se sentir mesmo no Céu. Havia diversas colunas com capitéis coríntios e arcos de ogiva que formavam as abóbadas no teto da Catedral, havia diversos lustres acesos para iluminar todo o local. Eram cinco e meia, por que o órgão estava tocando e tinha várias pessoas sentadas nos bancos.


– Pensar que a história do Corcunda de Notre Dame se passa aqui – eu disse sussurrando para não atrapalhar as pessoas que rezavam – E olhe os vitrais! São lindos, todos inspirado em cenas religiosas.


– Acho que quem mais merecia essa viagem é você, simplesmente por que sabe apreciar cada detalhe desse lugar. Um guia turístico talvez não se expressasse tanto quanto você, pelo visto não é tão automática quanto eu imaginava.


– Eu gosto de artes – eu disse de repente – Eu pintava quadros, mas parei uns dois anos atrás por que apareceram outras coisas na minha vida. Sinto falta de certa forma, talvez por estar aqui agora e por ter me esquecido do meu sonho antigo de se formar em artes plásticas. Eu sonhava em usar aquelas boinas francesas, em pintar quadros nas ruas de Paris e sempre ir aos cafés. Não era algo luxuoso, era só algo que me agradava.


– Por que desistiu? – Bill perguntou preocupado.


– Por que as coisas não são tão fáceis assim, as chances de eu conseguir ser uma grande artista plástica eram mínimas. Comecei a sonhar alto demais com dinheiro e percebi que essa não era a forma mais fácil de conseguir, por isso segui Diplomacia. Na verdade, era por que no fundo, eu queria vir aqui, mesmo que fosse por curto tempo e a trabalho. Acho que acabei virando uma pessoa diferente do que eu era – eu disse amargamente.


– Eu queria poder lhe dizer que deveria seguir seu sonho, mas já não é possível – ele disse pegando a minha mão e a acariciando com o polegar.


– Sim, mas isso não importa – eu disse, afinal não queria começar a chorar novamente – Espero que você tenha fôlego, Bill, por que vamos subir 422 degraus até chegar ao topo da igreja. Vamos voltar a ver um pouco de Paris.


Tudo bem, eu nunca me cansei tanto na minha vida. Tivemos que parar umas duas vezes para recuperar o fôlego até alcançarmos o topo. Mas foi divertido correr com Bill pelos degraus, olhando para as pessoas que desciam ou subiam tão cansados quanto nós. A primeira parada foi perto das gárgulas que protegiam a igreja, elas olhavam melancolicamente para o céu.


– Pobres criaturas – eu disse olhando para elas – Acreditavam que eram guardiãs, destinada de dia a serem de pedras e de noite a ganharem vida. Gárgulas vêm de garganta, por que elas escoam água quando chove muito.


Levei Bill até a torre sul, onde ficava o sino Emmanuel, que pesava 13 toneladas e só batia em datas especiais. Depois disso, tivemos que subir mais lance de escadas até chegar, finalmente, ao topo da catedral. Um frio enorme nos atingiu, com ventos gélidos que pareciam facas prestes a cortar nossa pele. Mas a paisagem era incrível como a da Torre Eiffel, claro que lá era bem mais alto, só que ficar naquela Catedral parecia ser algo especial.


– É como estar em outro mundo, não é mesmo? – eu disse quando Bill ficou ao meu lado – Como se tudo parecesse estar bem novamente.


– Sabe, Hevig – Bill disse se apoiando no muro – Quando você for embora, promete não se esquecer de mim? Quero dizer, falam tantas coisas sobre o outro lado, tenho medo que perder a memória seja uma das formas de recomeçar, mas eu realmente não gostaria que você me esquecesse.


– Não vou te esquecer – eu disse rapidamente – Não me perdoaria se eu fizesse isso. Vou guardar tudo que aconteceu esses dias para sempre na minha memória. E quem sabe quando você for para o outro lado, nós poderemos voltar a ser bons amigos. Mas espero que demore, você tem uma longa vida pela frente.


– É verdade, tem ainda muita coisa a vir, mas talvez eu não tenha tanto medo de morrer quanto tinha antes – ele disse pensativo.


– Nem eu! – eu disse começando a subir no muro da Catedral, me apoiando em uma das gárgulas que havia ali.


– O que você vai fazer? – ele perguntou surpreso, várias pessoas que estavam ali, olharam para mim com medo de que eu fosse me suicidar.


Fiquei de pé no muro, com os braços abertos, sem apoiar em nada. Eu não precisava ter medo, afinal eu já estava morta, nenhuma queda iria me parar agora. A sensação era estranha, sentir o vento congelante na pele, estando acima de metros e mais metros do chão. Acho que o meu maior medo antigamente era viver, por que viver era se arriscar demais, era não aproveitar o máximo com medo de perder tudo o que conquistou. E aqui estava eu, vivendo após ter morrido.


– Me dê a mão – eu disse estendendo ela para Bill – Segure firme e suba, não vou deixá-lo morrer.


– Hedvig, todos estão olhando e você está fazendo uma loucura – Bill sussurrou baixinho, olhando para minha mão, sem saber o que fazer.


– Desde quando você se preocupa com os que os outros vão pensar, Bill? Venha comigo – eu disse tentando convencê-lo que tudo estava bem. Então ele pegou a minha mão e apoiando em uma gárgula, ele subiu no muro ao meu lado. Eu era capaz de sentir o pavor nele, enquanto ele se equilibrava e segurava minha mão fortemente – Bill, você está nesse momento em cima da Catedral de Notre Dame, como se sente?


– Como se fosse cair – ele disse totalmente apavorado.


– Eu te amo, Bill – eu disse baixinho.


– O que? – ele perguntou se segurando na gárgula, pronto para descer o mais rápido possível.


– Ah, nada. Nada demais.


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