Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Oi leitores queridos, aqui estou com mais um capítulo. Espero que lhes agrade.

Boa leitura.



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Descemos uma escada e chegamos no que poderia ser um porão com redes penduradas em todos os lugares.O lugar fedia a álcool e a urina.

–Ali fica a cozinha- Landon apontou para um lugar afastado.Um homem gordo acenou com uma peixeira na mão,devo dizer que fiquei com medo -Aquele ali é o cozinheiro,ou conhecido também como “cirurgião”- olhei questionadoramente para ele.-Se alguém se machucar em batalha e não tem como salvar o braço ou a perna...ele amputa- Landon falou dando de ombros,como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eu estava bem certa ao sentir medo do “cirurgião” e tinha certeza que não queria passar pelas mãos dele.- e geralmente comemos no jantar.- ele terminou de falar com naturalidade. Me perguntei quantas vezes ele já havia provado um braço ou perna cozido.

Olhei com os olhos arregalados para ele,assustada,e esperei ele falar “é brincadeira” mas essa frase nunca veio.Senti meu estômago revirando. O que eu tinha feito?

–No começo você vai achar estranho. Mas depois de meses no mar,você vai estar comendo qualquer coisa...inclusive aquele rato ali- ele apontou para uma ratazana enorme.-Bem vindo à bordo, filho. Esse navio nãoé tão ruim quanto os outros. Aqui,você pode ficar aqui – ele me mostrou uma rede vaga- aquele velho bode não vai mais usá-la mesmo...pobre velho não sobreviveu ao cirurgião.- deu um sorriso amarelo.- Durma que amanhã seu dia será cheio.

Landon me deixou. Os outros tripulantes me olhavam estranho ou devia ser impressão minha e eles continuavam com as vidinhas deles? Eu estava com medo,o que antes parecia uma excelente ideia,mostrava ser falha e com nenhuma chance de dar certo.

Não queria nem pensar no que aconteceria a mim se eu fosse descoberta.

Me deitei olhando para o teto,onde baratas e outros insetos que eu desconhecia caminhavam tranquilamente, já acostumados com as pessoas.Ah que saudades da minha cama e das bolsas de água quente que Granny colocava embaixo do colchão em dias frios como hoje.Eu estava congelando, levei minhas mãos perto do meu rosto e vi que as pontas dos meus dedos estavam roxas e doíam,esfreguei uma mão na outra e logo em seguida as coloquei no meio das pernas na tentativa de aquecê-las.O balanço do mar fazia meu estômago revirar, me arrependi de ter comido na festa e bebido algumas taças de vinho. Estava quase tudo em silêncio,a maioria dos homens estavam deitados e a única coisa que quebrava o silêncio era o ronco no ambiente que estava se tornando insuportável e estavam quase me deixando surda.Parecia até que queriam fazer um sinfonia com os roncos. Depois de muito me encolher e quase virar uma bola,consegui me aquecer o suficiente para pegar no sono.

Na manhã seguinte o jeito que me acordaram não foi muito agradável.

–Vamos marujo,esta na hora de começar o trabalho!- Landon gritou e virou a rede me fazendo cair de cara no chão,senti gosto de sangue na minha boca.

Mas que droga se continuasse desse jeito eu não chegaria ao próximo porto.Com muito esforço me levantei fazendo uma careta de dor.Segui Landon para o convés e o sol estava forte e convidativo. Fiquei feliz de sentir as partes que estavam regidas se esquentando, enquanto começava a sentir as dores no corpo que surgiam.

–Café da manhã - o cirurgião passou dando alguma coisa pastosa meio amarelada e que tinha um cheiro horrível,eu podia jurar que era larva,porque eu vi se mexendo.Juro que vi! Os homens comiam sem nem olhar.Olhei em volta procurando o capitão. Nada dele.

–Não vai comer?-Landon perguntou. Fiz que não com a cabeça. Olhei para onde eu vi que o aposento do capitão sugestivamente. Landon pareceu entender- O capitão não come com a tripulação,a comida dele é melhor e seria melhor você comer se não quiser morrer logo- empurrei meu prato para ele,Landon deu de ombros e começou a comer minha comida.Eu continuava encarando por onde eu vira o capitão surgir ontem, quando um tipo de porta se abriu e de lá saiu aquele homem que parece que atraído,como se soubesse onde eu estava e que estava o esperando, encontrou meu olhar assustado. Rapidamente eu desviei.

Não o rapidamente o bastante para não ver como so olhos dele são azuis.

Não o rapidamente para sentir aquele treco esquisito em meu estômago.

–Bom dia, marujos.- ele os cumprimentou cordialmente. Todos responderam com murmúrios e acenos de cabeça. – Vamos ao trabalho, sim? Smee e Landon – o capitão chamou, coçando de leve a sobrancelha com o gancho.- Preciso falar com vocês.

Landon se colocou de pé prontamente, assim como um homem baixinho e barbudo que usava um gorro vermelho. Fiquei os observando enquanto subiam para perto do leme e os homens se prostravam um de cada lado do capitão.

O capitão gesticulava enquanto apontava nervoso para um mapa, creio eu, e Landon escutava de cabeça baixa, sem dizer uma palavra sequer. O que seria que teria o deixado tão nervoso e a ponto de descontar nos homens.

–Você tem uma arma?- a voz de alguém próximo a mim fez com que eu desviasse os olhos.

Era um jovem,não mais velho que Graham, mas estava castigado o que o fazia parecer com alguém velho. Percebi que era jovem pelo seu olhar ainda assustado.

Neguei com a cabeça tentando voltar minha atenção para os três homens perto do leme.

–Aqui, pegue. Você vai precisar.- ele me passou um tipo de faca.- É um punhal.- explicou ao ver meu olhar confuso.- Ele é bem útil tanto para trabalhos no navio quanto para uma luta. Vamos, vou te ensinar a fazer nós.

Ele se levantou e eu o segui, desajeitada.

–Sei que Landon é seu responsável,mas acho que aquela conversa vai demorar um bocado.- ele olhou na direção dos três e eu o acompanhei.- Sou Ian, ouvi dizer que você é mudo.-balancei a cabeça e peguei a ponta de uma corda exatamente como ele havia feito.- Não é difícil, só me imite, certo?- assenti e comecei a tentar imitá-lo. Ian era muito bom fazendo nós, enquanto os meus não segurariam nem uma formiga.- Você precisa prender mais forte, desse jeito.- sem querer ele tocou em minhas mãos e eu as puxei com rapidez.- Suas mãos lembram de uma garota.- comentou sarcástico, dei um sorriso para ele.- Aqui trabalhamos em turnos: na parte da manhã certos marujos cuidam da manutenção do navio, na parte da tarde outros são escalados para limpar o convés, depois temos um tempo onde podemos descansar e jogar conversa fora. Gostamos de jogar dados e cartas mas nunca apostamos dinheiro. Vamos nos deitar as oito da noite, nenhuma lamparina ou vela pode estar acesa nos nossos aposentos. Toda noite alguém é designado para ficar de vigia no mastro.

Assenti com a cabeça, puxando com toda a minha força para fazer o nó. Ficamos em silêncio fazendo a atividade, minhas mãos já doíam de fazer e desfazer nós. Me perguntei se Ian já estava entediado de estar ali comigo ou se era melhor do que fazer a tarefa que era resignado.

Enfiei a mão dentro da touca que estava usando, coçando minha cabeça, estava pinicando e eu podia sentir o suor se acumulando ali. Eu queria poder arrancar aquilo da minha cabeça e deixar os cabelos livre. Tristemente constatei que se eu quisesse permanecer ali por bastante tempo sem ser descoberta teria que cortar meu cabelo.

Surpreendentemente o dia passou rapidamente. Ian me ensinou algumas outras coisas, como tinha que ser a manutenção de algumas partes do navio, como recolher as velas, onde ficava o deposito com bebidas e me explicou que cada marujo tinha direito a beber um copo de água por dia, em caso de muito tempo em alto mar a quantidade diminuía para meio copo.

Isso era muito pouco, não tinha certeza se aguentaria.

Durante os serviços que fiz durante o dia, sempre eu dava um disfarçada e me encostava ou sentava em algum lugar. Achei um lugar para me esconder quando Ian se distraia.

Eu realmente adorava poder me esgueirar para o deposito de bebidas e encher minha boca com a água.

Perto das seis horas os marujos se juntaram ao convés. Me sentei perto de Ian e de um senhor chamado Delalieu eu acho. Dois marujos que eu não sabia o nome seguravam cada um violão,e outro tinha um acordeão nas mãos. Então alegremente eles começaram a cantar, dançar e beber, enquanto outros jogavam cartas.

O navio estava em festa e eu nem ao menos entendia o motivo.

Eles passavam o dia trabalhando, trocando os turnos para deixar o navio limpo, não era um trabalho nada fácil,mas mesmo assim eles eram alegres e estavam festejando. Eu sempre imaginei que eles fizessem isso quando sacavam ou achava algum tesouro.

Será que seria assim todos os dias?

Se fosse não seria tão mal. Talvez quando já estivéssemos à uma semana em alto mar e a comida começasse a acabar o clima de camaradagem iria desaparecer e estariam escolhendo quem deveria ser morto para servir de alimento.

Eu temia que se isso acontecesse eu fosse a escolhida.

Meu olhar vagava pela paisagem. Os últimos raios de sol se escondendo, as velas e lamparinas do convés sendo acesa. A imagem de minha mãe aparecendo em minha mente. Graham. Granny. Papai. Aquele capitão de olhos azuis e sorriso malicioso.

Como será que estavam as coisas? Qual foi a reação de meu pai ao descobrir que eu sumira? Iria tentar me encontrar ou estava feliz por ter desaparecido de sua vida?

Soltei um suspiro pesado e infeliz. Eu estava ali e não sabia por onde começar a procurar pela minha mãe. Eu nem podia falar para começo de conversa.

Nunca passei tanto tempo calada em meus dezoito anos de vida. Isso era torturante.

Não que eu fosse uma tagarela, mas eu gostava de mostrar que não estava satisfeita, e teria usado a minha fala para dizer poucas e boas para os marujos que me batiam sempre que passavam por mim, de brincadeira. Tenho certeza que quando ter a chance de me examinar com cuidado estarei toda roxa-esverdeada.

Permiti olhar para o capitão. Havia passado o dia todo com vontade de analisá-lo mas não tive tempo. Ele passara o tempo todo no leme junto com Landon e aquele marujo, Smee. Queria saber o que era tão importante ao mesmo tempo que não.

Estranhamente enquanto o analisava discretamente, senti uma vontade,um impulso na verdade, de me levantar e passar as pontas dos meus dedos pela sua barba, ela parecia macia olhando da onde eu estava. Podia jurar que ele possuía uma cicatriz,porém não tinha tanta certeza, já que estava ficando escuro.

Então, ele soltou o leme e o passou para Smee. Se espreguiçou e desceu a escadinha parando junto aos marujos para beber. Landon andou até a mim.

–Como está jovem? Bem?- perguntou se sentando e pegando a garrafa de rum que Ian bebia.- Me desculpe por não ter lhe auxiliado hoje. O capitão realmente acha fazermos uma parada nessa ilha antes de seguirmos para nosso objetivo.

–E o que você acha?- Delalieu instigou.

–Isso importa?- rebateu desgostoso enquanto entornava a garrafa de rum.- Ele não vai mudar de ideia.

–E para onde iríamos?- Ian questionou a mesma coisa que estava martelando em minha cabeça.

Landon suspirou.

–Ilha do pesadelo.- contou em um sussurro.- Só não quis dizer o que busca lá.

Fiquei pensando o que encontraríamos naquela ilha. Só de ouvir o nome senti arrepio e o silêncio que os homens que estavam ao meu redor foi o suficiente para crer que a viagem não seria nada boa.

–Quem foi o imbecil que abandonou sua arma aqui?- o berro do capitão me tirou no transe. Ele apontava para a faca fincada no mastro. Ninguém respondeu.- Vou perguntar novamente e espero obter uma resposta: Quem foi o imbecil que deixou sua arma aqui?- gritou mais uma vez, olhando para os seus marujos.

Então instintivamente passei a mão pelo cós da minha calça, onde eu havia deixado minha faca,ou punhal,o dia inteiro so a havia tirado para raspar o...

Levantei a cabeça de olhos arregalados,encarando minha faca na mão do capitão. Landon percebeu minha agitação.

–Por favor, me diga que não é a sua.- murmurou, virando a garrafa de rum novamente. Fechei os olhos e me xinguei por ser tão,tão burra a ponto de me esquecer da minha única arma.

Com toda a coragem que possuía me levantei, erguendo a cabeça e o encarando.

Azul no verde.

–Ah então foi você.- falou de uma forma amigavelmente falsa.- Me diga: o que estava pensando em deixar sua arma? Acho que não estava, não é mesmo? E se fossemos atacados agora? Como iria se defender?

Abri a boca para me explicar porém a fechei rapidamente.

–Exatamente, não iria.- disse se aproximando e começando a me rodear lentamente, como se fosse um abutre.- Infelizmente não posso deixar que esses tipos de comportamento aconteçam no meu navio.- ele passou a faca lentamente pelo meu pescoço. Minha respiração se tornou rápida e supérflua, senti meus olhos ameaçando me trair e minhas pernas tremendo.- Me diga: você prefere a prancha ou ser abandonado em uma ilha?

–Capitão.- pude ouvir a voz de Landon.- Ele é novato, deixe essa passar. Eu deveria ter o acompanhado hoje mas fiquei o ajudando.

O capitão soltou um suspiro exasperado e irritado e olhou lentamente de Landon para mim.

Engoli em seco.

–Não costumo ser tão misericordioso assim,marujo. É bom não cometer o mesmo erro novamente, Landon não poderá te salvar.- anunciou dando um passo para longe de mim. Senti meu corpo relaxando e fechei os olhos de alivio mas os abri ao sentir um ardência na lateral do pescoço.

–Não se esqueça nunca da sua arma.- ele me entregou, sério, olhando nos meus olhos como se quisesse me dizer algum coisa.- Ela pode salvar sua vida.

Assenti e ele se virou, subindo as escadas para retornar ao leme.

Coloquei a mão no meu pescoço. Senti algo quente escorrendo pelo meu pescoço.

Encarei minha mão suja de sangue.

O meu sangue.

O filho da mãe havia me cortado.


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Notas finais do capítulo

Bom gente, é isso. Espero que tenham gostado e eu acho que esse foi o capítulo mais chato que eu escrevi até agora, se realmente ficou um tédio me desculpem, prometo compensar no próximo.

Mas me diga o que acharam, criticas são muito bem vinda.

See ya.

Beijos.



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