Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Oii meus queridos. Como estão? Bem? Eu espero que sim, capítulo novinho para vocês,espero que gostem.

Boa leitura.



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Eu queria muito ter aproveitado minha cama, mas não consegui descansar como eu planejava. Fiquei virando de um lado para o outro enquanto mil situações de como meu plano daria errado surgia em minha mente competindo com a parte positiva e que acreditava no meu sucesso na missão me mandava imagens de como eu enganaria todos e encontraria minha mãe.

E ter essa possibilidade de ver minha mãe novamente me fez derramar umas lagrimas de alegria.

Logo escutei batidinhas na porta e ela foi entreaberta por Granny que segurava uma vela e entrava em silêncio.

–Já acordada,menina?- ela perguntou ao chegar perto da cama e me encontrar bem acordada.

–Não consegui dormir. Estou muito ansiosa para o baile.- menti enquanto me sentava. Ela me olhou com desconfiança enquanto ia acender as outras velas para que o quarto ficasse iluminado o suficiente para ajudar a me vestir. Granny sabia que eu não era tão apaixonada por bailes como as outras garotas,por mais que gostasse de ir sempre que podia. Porém nunca cheguei a perder o sono por um.

–Sei. E posso saber por que tanta ansiedade?- questionou me olhando de soslaio enquanto ia para a bacia que ficava ali para lavar o meu rosto e minhas axilas.

Dei de ombros tentando aparecer que não era nada importante.

–O rei da Espanha sabe como dar um baile. E outra lá estará cheio de bons pretendentes.- respondi sorrindo para ela.

–A senhorita esta muito estranha.- comentou, me ajudando a retirar a camisola e começar a tortura que era colocar a roupa.- Mas fico contente que esteja considerando a ideia de se casar... Mas o senhor Humbert é um ótimo pretendente.

–E também é meu amigo.- falei aborrecida.- Por que todo mundo quer me tacar para o Graham? Até parece que não tenho capacidade de arrumar coisa melhor.- soltei e só depois de ter falado percebi o quanto soou rude o que tinha dito.

Granny soltou um som de reprovação.

–Ninguém esta tacando ninguém para ninguém. E por aqui,acho que ele é a melhor coisa que a senhorita poderia arrumar. Se ele ouvir a senhorita falando desse jeito dele ficaria magoado. Então segure sua língua,Miss Swan.

Ela terminou de me vestir em silêncio, por mais que eu tenha tentando puxar assunto com ela. Pelo visto havia ficado brava comigo.

Perguntei se não poderia ir viajar sem o espartilho por que seria muitas horas,quase dois dias para ser mais exata, e aquilo apertava muito. Por muitas vezes eu havia desmaiado por que não consegui respirar. E ouvi casos de mulheres que acabaram por ter suas costelas quebradas por apertarem muito ou terem seus órgãos todos misturados e esmagados.

Mas Granny apenas negou com a cabeça e deu um puxão nas cordas apertando e me fazendo calar.

Ella apareceu logo depois junto com outros dois criados para pegar minhas malas que seriam levadas para a viagem. Iria passar apenas um dia mas com o tanto de bagagem que haviam pego parecia que estava me mudando permanentemente. E pensar que em breve estaria usando a roupa do corpo por meses.

Ainda estávamos meio dormindo,então entramos sem dizer uma palavra. Granny preparou um café da manhã para comermos quando estivéssemos mais despertos. Queria que ela tivesse vindo conosco no lugar de Ella,mas Granny gostava de dizer que não estava mais na idade de ficar pegando estradas de terra irregulares.

Felizmente nem Ella,muito menos meu pai conseguiam ler minha mente apenas de olhar nos meus olhos como Granny fazia. Se ela estivesse aqui teria visto a mistura de sentimentos,agonia,confusão, medo, animação entre outros que eu nem poderia citar.

Conforme eu ia observando o verde da paisagem o pânico do que eu estava planejando fazer me atingiu. Eu sentiria falta da terra. Nunca fui tão chegada a ficar muito tempo em alto mar. O mar era um lugar traiçoeiro e cheio de incertezas. O mar não pode ser deduzido,ao mesmo tempo que ele esta calmo já está pronto para te pregar um peça se você não estiver pronto para brincar à altura. O mar não é constante. Ele não pode ser domado. E eu tinha medo do que veria quando estivesse nele.

Então entendi por que os piratas gostam tanto de passar suas vidas no mar. Eles não gostam da rotina,logo a incerteza é uma ótima companheira para homens que não veem um futuro em exercer trabalho que exigem sempre do mesmo. Eles gostam de desafios. Ou gostam de achar que se arriscando estão preenchendo o vazio dentro de si. Os piratas são iguais ao mar, por isso se dão tão bem.

Naquele momento,ao chegar essa conclusão percebi que de fato não queria embarcar nessa jornada. Porque eu não era como o mar,logo não poderia me misturar com eles. Eu sou uma pessoa constante. Gosto de horários e certezas. Gosto que cumpram suas palavras. Gosto de saber que no final do dia eu sei o que me espera. Nunca conseguiria sobreviver sem saber se na manhã seguinte estaria viva ou o mar iria decidir acabar com a ela.

Eu gosto de certezas e gosto de me sentir segura.

Eu fui acostumada com isso, nunca em mil anos conseguiria mudar isso.

Mas também não poderia ser uma covarde e deixar minha mãe em algum buraco.

Eu pediria ajuda do Graham. Ele com toda certeza me ajudaria, e seria um incentivo a mais se eu aceitasse seu pedido.

Muito bem, não gosto de pensar que não tentei. Se por um acaso tiver algum navio pirata no porto eu irei embarcar. Se não tiver é um sinal que essa ideia não é para acontecer.

Fechado, Emma. Acordo fechado. Concordei comigo mesmo antes de ser embalada pelo balanço da carruagem.

Viajar era uma coisa tão desgastante que eu evitava ingerir qualquer coisa,inclusive água. Não era muito agradável quando tínhamos que parar no meio da estrada para fazer nossas necessidades,ainda mais para mim com toda aquela armação. Então quando chegamos no castelo depois de dois dias de viagem eu estava desesperada para usar a casinha.

Tão desesperada que mal conseguia andar reta,estava meio curvada, porque se eu me esticava tinha a sensação que iria explodir ou no caso mais provável fazer xixi por ali mesmo,na frente do rei e da rainha da Espanha quando tivemos que ir cumprimentá-los e agradecer por ter nos convidado e como éramos gratos de sermos lembrados. Então as bajulações: “Seu vestido é muito bonito majestade.” “Está ainda mais linda que da última vez. Essa decoração é nova?” “Tenho certeza que esse baile será esplêndido”. Muitos sorrisos,risada e conversas falsas jogadas fora apenas para manter as aparências. O rei e a rainha tinham mais o que fazer do que perder tempo com o governador e sua filha de um condado minúsculo da Inglaterra.

Quando os dois deram as costas para voltar aos seus afazeres pré baile,tive que me segurar para não sair correndo em direção à casinha ou o primeiro lugar que eu achasse que servia para que eu pudesse me aliviar. No desespero que eu estava usaria até o sabugo para me secar na falta de alface.

Ella soltava leves risadinhas ao ver o meu desespero procurando meu quarto. Tinha certeza que lá teria um pinico onde faria todo o xixi que estava me matando.

–Pelo amor de tude, Ella arranque esse treco de mim.- pedi impaciente assim que fechei a porta do quarto onde encontrei minhas coisas.

Rapidamente,mas ainda rindo ela veio em minha direção e me ajudou a tirar tudo. Quando estava finalmente só de calçolas fui para trás do biombo com o pinico como se fosse o maior tesouro da minha vida. Abençoado seja quem inventou o pinico e a casinha.

–QUE ALIVIO!- não consegui me contentar em gritar e suspirar alto. Posso apostar que Ella arregalou os olhos antes de começar a rir.- Você ri por que não era você que estava fazendo xixi perna abaixo.- falei em tom brincalhão.- Me desculpe pedir isso,mas se livre dessa coisa.- entreguei o pinico em sua mão fazendo uma careta.- Geralmente eu mesma me livro disso em casa mas não sei onde posso fazer isso aqui.

–Tudo bem senhorita.- Ella falou calma pegando o pinico que estava lotado de xixi.- Esse é o meu trabalho.

–Tenho certeza que seu trabalho não é se livrar do meu xixi. Mas mesmo assim obrigada.- agradeci vestindo o robe, enquanto Ella assentia e saia rapidamente do quarto.

Já aliviada e usando o meu robe fui até o balcão da janela para poder apreciar a vista. Era bem de frente para o mar,então a brisa que chegava ao meu quarto tinha um cheiro salgado e meio enferrujado. Me inclinei tentando avistar o porto e para minha felicidade eu tinha uma vista ótima.

Nenhum navio pirata à vista. Eu voltaria para casa,pensei sorridente.

Logo Ella voltou me avisando que teria que me vestir novamente para o almoço com a família real, e para isso ela havia pedido que viessem preparar um banho para mim. Quando ela terminou de me avisar, escutamos batidas na porta e os criados entraram carregando baldes para encher a banheira.

Ella me ajudou a entrar na banheira e me esfregou, lavou meus cabelos com cuidado, me deixou inclusive eu ficar um pouco mais tempo dentro d’água.

Cedo demais ela me avisou que teria que sair da banheira. Novamente, Ella ajudou a me secar e penteou meus cabelos.

Como eu poderia sobreviver por mim mesma se tudo o que eu tinha que fazer havia alguém para fazer por mim, inclusive o ato de me lavar e secar?

Novamente ouvimos batidas na porta e Ella se apressou em abri-la, dando de cara com um criado do palácio que tinha uma caixa nas mãos.

–A rainha pediu para entregar para a Srta. Swan. Uma vestimenta para o almoço.

–Diga à ela que agradeço o presente.- respondi me parando ao lado de Ella. O criado assentiu,se inclinando um pouco em uma reverencia e saiu andando apressado pelo corredor. Ella fechou a porta,soltando um suspiro.- O que foi?- indaguei, vendo a expressão em seu rosto enquanto abria a caixa e olhava o vestido.

–Nada. Apenas que deve ser ótimo receber presentes lindos assim.- indicou o vestido e eu me aproximei para olhá-lo.

Era realmente um lindo vestido, mas na cor laranja. Eu odiava laranja, não combinava com nada. Mas teria que usá-lo, não poderia fazer desfeita de um presente.

–Odeio essa cor.- murmurei.- Quando voltarmos para casa, pode pegar para você.

Ella arregalou os olhos,me olhando incrédula. Como se fosse um absurdo a ideia de dar o vestido para ela. Me limitei a sorrir e tirar o vestido da caixa.

–Esse não tem necessidade de usar o espartilho,senhorita.- Ella me avisou enquanto eu analisava o vestido.

–Abençoada seja a rainha da Espanha.- sussurrei com um sorriso.- Ande. Ajude a me vestir, não quero chegar atrasada.

Já no salão onde o almoço estava sendo servido encontrei os outros hospedes, pessoas que nunca tinha ouvido falar mas que pelo visto papai conhecia muito bem. Ele me apresentou, sempre muito orgulhoso ao dizer “Essa é minha filha, Emma Swan”,para seus, amigos. Eu esquecia seus nomes assim que eram acabados de serem pronunciado.

Honestamente eu não me importava com ninguém ali, só queria comer. Era tudo o que eu queria.

O rei, a rainha e o príncipe foram anunciados e nos viramos para ver a entrada da família real,enquanto fazíamos a reverencia,inclinando a cabeça levemente.

Finalmente pudemos comer!

Tive que me segurar para não atacar tudo que tinha ali na mesa. Me sentei ao lado de meu pai,o que quer dizer que ele ficou racionando a quantidade de comida que eu pedia para servirem em meu prato. A conversa durante o almoço era agradável, superficial, mas não podia culpá-los. Acho que não se sabiam muito sobre o que conversar, eu mesma não sabia sobre o que falar, já que eu não me interessava pelos assuntos dos homens e a conversa sobre a volta das fitas que as mulheres estavam tendo me parecia incrivelmente entediante. Sendo assim preferia ficar em silêncio e só sorrir ou responder quando era solicitado.

O príncipe não parava de me encarar.

E isso já estava me irritando um bocado. Ele me olhava de um jeito estranho,que fez eu me sentir estranha e quase nua.

Ele estava me devorando com o olhar? Acho que essa é uma ótima expressão para descrever o jeito que ele me olhava.

Tive que usar de toda a minha força de vontade para não revirar os olhos e dar um soco nele. Isso é, se ao menos eu soubesse como dar um soco em alguém.

As vezes é extremamente difícil manter a fachada de moça calma,quando na verdade o que eu quero é gritar para todo mundo que não sou uma peça de porcelana que precisa ser cuidada.

Talvez atraído por esse meu pensamento de querer ser um pouco mais livre,um dos guardas reais entrou apressado no salão e sussurrou alguma coisa no ouvido do rei. Me pareceu algo urgente,pois o rei adquiriu uma carranca. Aos poucos todos foram se calando e olharam preocupados para o rei.

–Não se preocupem.- o rei falou,voltando a colocar no rosto o sorriso gentil, mas eu podia ver que ainda havia tensão e preocupação ali.- Apenas fomos avisados que um navio pirata está atracado em nosso porto, mas vamos reforçar a guarda para o baile de hoje á noite. Acreditamos que eles estão apenas se abastecendo para uma nova jornada.

Senti o sangue fugindo de meu rosto. Aquele era meu sinal. O navio estava ali.

E eu iria partir essa noite.

Perdi o apetite, recusando a sobremesa e pedindo licença para me retirar com a desculpa que não estava me sentindo muito bem. Ganhei olhares horrorizados de todos na sala mas os ignorei. Não estava com paciência para esperar o rei e a rainha saírem do salão.

–Por que não vamos prender os piratas?- pude ouvir um dos guardas perguntando enquanto ia ate meu quarto. Parei bruscamente me escondendo para escutar melhor.

–O rei mantém contato com os piratas. Eles fazem trabalhos para o rei. Não prendemos eles, deixamos que eles peguem o necessário para cumprir seu trabalho.- explicou o outro guarda.- Nunca mais questione isso, está bem? Pode trazer problemas para você.

Fiquei mais um tempo parada tentando ouvir mais alguma coisa mas pelo visto a conversa havia cessado. Já tinha ouvido conversas de que alguns piratas agiam por mando de reis,porém não esperava que o rei da Espanha estaria no meio.

Balancei minha cabeça tentando voltar a mim, então fui até meu quarto e chamei Ella para caminhar comigo pela praia.

Eu queria ver o navio antes para já estar pelo menos um pouco familiarizada.

[...]

O salão estava decorado e a banda já tocava. Convidados ainda eram anunciados e o espaço rapidamente se enchia de vida. Alguns homens já estavam exagerando no vinho e percebia que em pouco tempo estariam alterados. O que seria engraçado, pois sempre acabava alguém tentando arrancar as roupas.

Uma pena que não estaria ali para presenciar a cena.

Eu já tinha um plano formado em minha mente. Esperaria até o baile estar em seu auge ,onde todos estivessem se divertindo e sairia de fininho. Em momento em que tive um tempo sozinha tratei de esconder a trouxa de roupa que havia feito no corredor perto de uma das saídas que o castelo possuía. Quando já estivesse longe o suficiente arrumaria um lugar para trocar as roupas que estava usando pelas de Graham.

Então era só arrumar um jeito de me infiltrar no navio sem chamar grandes atenções para mim.

Algumas danças, cortejos, taças de vinho e beliscadas na comida depois, percebi que já estava na hora de agir. A noite já havia caído e era impossível se enxergar alguma coisa do lado de fora. O que era bom e não ao mesmo tempo.

Fui discretamente, o mais discreta possível que uma garota com um vestido verde oliva poderia ser, até o corredor que daria para mesmo para onde havia escondido as minhas coisas. O corredor estava escuro,iluminado apenas por uns trechos com velas.

–Senhorita?- uma voz grossa me chamou e congelei no lugar. Era pedir demais para que minha fuga fosse fácil?- Senhorita? Esta perdida?

Me virei rapidamente,colocando um sorriso no rosto e tentando não parecer culpada.

–Não. Não estou perdida.- respondi calma. Pelo menos eu acho que estou calma.

–Por que a senhorita não está no baile?

–Por que o senhor faz tantas perguntas?- repliquei irritada, cada minuto que se passava eu estava perdendo um tempo precioso.

–Me desculpe senhorita, apenas estou fazendo meu trabalho.- o guarda respondeu baixando a cabeça.

–Certo. Me desculpe por ser rude. Eu estou indo à casinha. Bebi vinho demais.- expliquei e pude ver que ele ficou vermelho. Abençoado seja o inventor da casinha porque era uma ótimas desculpa para tudo.

–Tudo bem. Quer que eu chame sua dama de companhia? Qual o nome dela,senhorita?

–Ella. Minha criada se chama Ella. Pode ir atrás dela por favor? Eu agradeceria muito.

–Certamente senhorita.

–Obrigada.- agradeci e o observei enquanto fazia uma reverencia e saia apressado.

Esperei até que ele virasse a esquina e segurei a saia do vestido para poder correr antes que mais alguém aparecesse. Não saberia como lidar com outra pessoa com tanta calma igual agi com o guarda.

Não parei para olhar nada quando peguei a trouxa de roupa, apenas continuei em frente, sempre seguindo em frente até estar fora do castelo e mesmo assim não parei. Os guardas estavam cuidando da entrada do castelo, deixando assim o resto totalmente desprotegido. Acho que posso chamá-los de burros por fazerem isso. Qualquer pessoa sabe que com piratas ali,todos os cantos deveriam estar protegidos. Porém essa falha deles facilita, e muito, minha fuga.

A saia do vestido começou à agarrar nos galhos que estavam no chão, os sapatos com salto começaram a afundar no terreno e isso já estava me irritando.

Os sapatos foram os primeiros que eu me livrei,mas me arrependi eternamente pois agora eu podia senti-los sendo machucados pelas pedras. Quando já estava longe o suficiente parei para tomar um fôlego e olhar ao redor. Parecia estar deserto, então comecei a me livrar do vestido que usava.

Foi um alivio quando me vi apenas de roupas intimas e sem toda aquela armação e panos. Deixei que o vento acariciasse minha pele por uns minutos, não era sempre que eu tinha tanta liberdade assim e era uma sensação ótima. Por que não podíamos andar assim? Apenas de calçolas?

Me sentei no chão e abri a trouxinha de roupa. Peguei uma faixa que peguei no quarto de papai e comecei a enrolar em meu peito, bem apertado,com intenção de achatar meus seios e não os deixar tão visíveis. Se eu iria ser um rapaz eu tinha que ser completamente lisa, não que meus seios fossem fartos,mas qualquer volume chamaria a atenção.

Ouvi um barulho e virei a cabeça rapidamente em direção ao som. Fiquei parada por alguns instantes para tentar ouvir novamente,porém nada. Tudo no mais perfeito silêncio. Apenas os barulhos de sempre que toda noite tem.

Mesmo assim estava me sentindo desconfortável, como se tivesse alguém invisível observando cada movimento meu. Logo eu já não queria sentir o vento leve me fazendo carinho e brincando com meus cabelos, vesti a roupa de Graham e me pus de pé. Até chegar ao porto seria um bom tempo de caminhada.

Alisei o vestido que usava mais uma vez,como em uma despedida à vida que eu estou acostumada, com a esperança que fosse apenas um breve adeus. Não me prolonguei mais, sentia a presença de outra pessoa ali. Encarei as árvores novamente antes de seguir pela praia,com os dedos afundando na areia.

Eu tinha que chegar até a cidade,com toda certeza eles estariam ali bebendo. Minha meta era chegar até lá, antes que eles partissem, teria que aumentar o ritmo.

Mesmo com a escuridão que estava, era possível ver o contorno do navio, grande e prepotente, fazendo com que os outros navios fossem apenas entulhos atracados ali no porto.

A cidade estava silenciosa,todos deviam estar trancados dentro de suas casas,com medo dos piratas.Eles são fáceis de se achar,eles são barulhentos e você pode sentir a podridão deles a distância.

Pelo menos é o que sempre ouvi dizer.

Não demorou muito para que eu os achasse em um taverna, perto do porto. Parei e olhei meus pés,estavam sujos mas ainda assim pareciam pés de garotas. Precisava de um sapato. Como conseguiria achar um sapato agora?

Rodei um tempo pelas ruas perto da taverna. As ruas estavam iluminadas por lamparinas que ficavam no alto de postes. Até que em uma casa,mais afastada de onde os piratas estavam avistei uma bota em uma janela.

Corri ate onde estava e as peguei sentindo seu peso. Pareciam velhas e gastas o que seria ótimo. Por um momento veio em minha cabeça a imagem dos pés de seu possível dono e senti meu estomago revirar. Pés eram coisas que eu detestava.

Sem me demorar muito, porque se ficasse pensando muito acabaria ficando descalça mesmo e tentando entrar no navio.

Voltei e entrei na taverna que estava um verdadeiro caos.Homens bêbados,uns brigando com outros,garrafas quebradas e muita,muita, gritaria.

Fui ate uma mesa em que as pessoas pareciam mais civilizadas e deduzi que talvez fossem os piratas mais importante,não os marujos,por mais que eles estivessem sujos também.

E nojentos,tenho que acrescentar. Principalmente um gordinho que tinha um gorro vermelho com aparência de encardido. O que provavelmente estava.

Céus, Emma! Pare de criticar todo mundo,logo você estará assim.

Eles me olharam, fiquei com a cabeça baixa, sem dizer nada.

–O que quer rapaz?- um deles gritou para mim, não parecia irritado apenas... alegre do jeito que a bebida sempre deixa.

Entreguei o papel que eu tinha escrito mais cedo, minha letra transformada em um garrancho,depois de varias tentativas de deixá-la horrível e escrever com as palavras erradas para parecer mais real.

Só esperava que o pirata que pegou saiba ler.

–Você quer fazer parte da tripulação?

Assenti com a cabeça.

–E por que?

Peguei a folha e o lápis que estava carregando comigo e escrevi. Havia treinado o suficiente naquela tarde quando fingi tirar um cochilo,sabendo que eu teria que escrever novamente.

“Não tenho nada a perder”.

Entreguei para ele.

–Por que não fala?-ele me entregou o papel quando pedi e escrevi “Sou mudo,senhor”.-Ah entendi.Não acho que o capitão ficará bravo se tivermos mais um marujo a bordo...Vamos la garoto- ele me fez sentar- vamos beber,escolha uma moçoila para brincar antes de partirmos!- eles bateram as canecas e começaram a se xingar e a rir alto.

Foi mais fácil do que eu imaginava.Agora era so não ser descoberta.

Tive que festejar com eles,e tive que beber,mas depois de meio copo de rum e um de cerveja eu já estava vendo tudo embaçado e trocando as pernas.Mas como dizer para parar,quando eu tinha que ser muda?

Me sentei perto de um vaso e todo copo que eles colocavam na minha frente eu jogava ali dentro sem ninguém perceber.Mas eles estavam tão bêbados que não perceberiam de qualquer jeito. Um elefante rosa dançando can can poderia entrar ali agora e eles não iriam perceber.

Quando já era muito tarde e eu já estava dormindo debruçada em uma mesa,senti alguém me batendo e acordei assustada.

–Vamos garoto.Você ainda quer embarcar e se tornar um ser humano degenerado e maldito?

Assenti com a cabeça e segui os homens ate um bote amarrado.

Eles estavam fedendo e o cheiro do álcool misturado com suor estava me embrulhando o estomago e eu tinha que fazer um esforço imenso para não vomitar. E pensar que teria que aguentar isso todo dia.

Quando chegamos perto do navio pude ver que ele era imenso e bem sombrio.

–Bem vindo a bordo do Jolly Roger,garoto.- um dos piratas gritou no meu ouvido,eu quase morri com o bafo que veio, acompanhando de um calafrio que subiu pelo meu corpo ao ouvir o nome do navio.

Eles começaram a subir e eu olhava assustada. Já era tarde demais para voltar,eu sentia meu coração querendo sair pela boca,eu estava tremendo,eu estava suando frio e com uma incrível vontade de me abraçar e começar a chorar.

Quando subi,ajudei os homens a puxar o bote e a amarrar.Eles começaram a arrumar as velas,dar nós em cordas e a guardar barris de pólvora.Eu fiquei desenrolando as cordas e passando para os marujos.

–Qual seu nome filho?- um deles me perguntou,eu fiquei sem saber o que fazer- Ah esqueci que você é mudo.Mas eu sou Landon. Ja esteve a bordo antes?-fiz que não com a cabeça- percebi.É bom que você aprenda rápido se quiser sobreviver.

Onde eu havia me enfiado?

Escutei uma porta batendo forte e todos os homens pararam suas atividades e se viraram, Landon deu um cutucão no meu braço e eu me virei também,encarando o capitão deles.

Ele estava com uma vestimenta melhor que dos seus marujos. Melhor era pouco. Ele estava vestindo roupas de coro. Tinha um rosto muito bonito,um pouco sujo,mas bonito e com barba.Ele estava do lado do leme e exalava superioridade e eu já o tinha visto antes.Onde eu o já tinha visto?

–Marujos estamos partindo em uma nova missão. Ouvi historias sobre uma terra dourada,onde riquezas são facilmente encontrada e esta sobre o domínio de um reino inimgo. No caminho faremos nossa costumeira pausa no Caribe,para nos divertimos e reabastecermos o barco,e pararemos em alguns pequenos condados,para recolher riqueza.-

Então ele levantou sua mão esquerda. Mas onde deveria estar sua mão tinha um gancho... É ele!Ele que roubou meu colar.Eu estava a bordo do navio dele.

–Devo repassar as punições?- ele perguntou, me fazendo voltar a prestar atenção em seu discurso- Se alguém aqui tentar fugir ou esconder algo de devida importância do resto da tripulação será abandonado em uma ilha com uma garrafa de pólvora e outra de água e uma pequena arma. Se roubarem algo do capitão ou de alguém da tripulação será abandonado em uma ilha com uma arma com apenas bala.- ele falava e tinha um sorriso torto no rosto. Um sorriso muito lindo,com dentes perfeitos. Como ele conseguia manter aqueles dentes tão limpos?.- Agora meu preferido. Se algum dos homens aqui perderem o casamento será recompensado com 400 peças de oito e se for alguma parte do corpo 800 peças de oito. Lembrando que aquele que se comprometer com uma mulher virtuosa sem o consentimento da tripulação será morto. Mas quem aqui seria burro para tanto?-eles riram. Como alguém podia morrer por se apaixonar?Isso não estava certo!-Alguma pergunta antes de partimos?- todos ficaram quietos,eu continuava de cabeça baixa,evitando olhar para ele, sentia que ele poderia me reconhecer-Você! - ele falou,mas eu continuei de cabeça baixa,ate que Landon me deu um soco no braço,tive que me segurar para não gritar de dor.Levantei o rosto assustada,tudo o que se passou pela minha mente é que: ele percebeu que eu sou mulher e vai me matar ou fazer coisa pior. Onde fui me enfiar?-Não me lembro de você na tripulação- abri a boca para responder,mas me lembrei que eu era muda- Me responda verme maldito!- ele gritou para mim,fechei os olhos,eu odiava que gritassem comigo.Senti vontade de dizer para ele que o único verme maldito que tinha ali estava bem na minha frente.

–Ele é mudo,capitão –Landon respondeu,olhei agradecida para ele- Veio nos procurar hoje quando estávamos na taverna,pedindo para fazer parte da tripulação.

–Se ele é mudo como foi capaz de pedir?

–Ele escreveu,senhor.Achei que não haveria problemas.

Capitão ficou um tempo me encarando, com um sorriso no rosto. Algo naquele sorriso e no jeito que estava me olhando me fazia crer que ele sabia que eu estava mentindo. Rezei para não estar corando.

–Que seja- ele deu de ombros com total desinteresse e assumindo o leme.-Vai ficar como criado de bordo. Landon já que você arrumou ele,trate de ensiná-lo as regras e o básico para lutas. Vamos ver quanto tempo aguenta até chorar para sair.- falou ainda me encarando e discretamente piscou o olho para mim.

Arregalei os olhos, sentindo um frio repentino. Ele realmente havia piscado para mim ou eu havia imaginado coisas. Continuei parada ainda o encarando, incapaz de me mover. Eu precisava me mover mas não conseguia parar de sentir que ele sabe, sabe que sou uma mulher. O jeito como me olhou e sorriu ao me notar. O jeito que um frio estranho surgiu em minha barriga estava me assustando.

Landon assentiu e todos voltaram ao seus afazeres.Me virei para perguntar o que seria um criado de bordo,mas no ultimo segundo me lembrei que não podia falar

–Vamos achar um lugar para você dormir.Amanhã te ensino,não tem muito que se possa fazer nesse horário.


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Notas finais do capítulo

Bom gente, é isso. Espero que o capítulo tenha ficado bom e que tenham gostado. Me digam o que acharam.

Alguém aqui é de SP e vai na Bienal? Se tiver alguém que vai quem sabe não acabamos por nos esbarrar lá, seria bem legal. Eu estou tãão ansiosa.

Acho que já disse tudo o que tinha para dizer.

Beijos.



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