Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oi,oi pessoas lindas. Como estão? Bom capítulo novo para vocês e espero que gostem.

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/530268/chapter/3

Fiquei encarando a carta ainda em minhas mãos sem saber ao certo o que aquilo significava. Era uma simples folha de papel mas eu temia as palavras que iria encontrar ali assim que começasse a ler.

Ouvi um barulho no corredor e rapidamente escondi a carta na gaveta e esperei para ver se alguém entraria em meu quarto. Respirei aliviada ao perceber que fora um engano. Mesmo assim me levantei e tranquei a porta para evitar que alguém me encontrasse com a carta. Suspeitava que não era para ninguém saber quem a havia enviado para mim.

Voltei à me sentar na penteadeira,pegando a carta de dentro da gaveta e criando coragem para lê-la.

Querida filha,você não sabe o quanto sinto sua falta,cada dia que passo longe de ti é tão angustiante para o meu pobre e velho coração...

Sinto muito pelo aconteceu,mas foi melhor assim,seu pai sabe o que faz,e o que ele fez foi apenas pensando no seu bem,não o odeio e peço que você também não o odeie.

Eu queria que você soubesse a verdade,mas as vezes ficar na ignorância é a melhor proteção. Sempre fora assim, as vezes saber demais nem sempre significa estar a salvo, Emma.

Seu pai nem imagina que sobrevivi ao “naufrágio” e preferia que continuasse assim.

Você não pode contar para ninguém sobre essa carta que lhe mando em segredo, nem mesmo para Granny, eu não temo pela minha vida,Emma e sim pela sua.

Peço que não se preocupe comigo,estou bem e em um lugar seguro.Peço que se preocupe com você e preste atenção em todos a sua volta,você pode não saber quem é,mas muitas pessoas sabem e vão querer te fazer mal.

Fique calma,quando for o momento certo vou explicar tudo para você,apenas tenha cuidado.

Não me procure, Emma,eu sei que você esta pensando isso,mas pelo menos uma vez em sua vida me obedeça e não me procure.

Me perdoe pela carta pouco explicativa,não posso correr o risco.

Que Deus te guarde,minha menininha,eu te amo e estarei rezando por você.

Com amor...

Mamãe”

Acabei de ler a carta e estava pasma. Minha mãe estava viva!

Eu deveria estar chorando, mas parecia ser incapaz de exercer tal ação naquele momento. Já que meu peito parecia inundado de um sentimento que não sabia dizer qual era.

Ela esta viva,meu Deus!

E será que eu entendi errado ou ela deu a entender que meu pai tinha alguma coisa a ver com o naufrágio?

Reli aquela parte novamente com mais atenção.

Sim, foi exatamente isso que ela quis dizer. Mas não poderia ser verdade. Poderia?

Balancei a cabeça, ela devia ter se expressado mal nas palavras,meu pai podia ser frio as vezes mas não causaria a morte de tantas pessoas sem motivos e não causaria a morte de minha mãe. Ou causaria?

Tantas suposições já estavam começando me deixar louca.

Voltei a ler a carta.

“As vezes é melhor ficar na ignorância”? O que ela quis dizer com isso?

Eu precisava procurá-la. Minha mãe me conhecia o suficiente para saber que eu nunca obedeceria .

Então vamos fingir que eu entendi que ela mandou que eu a procurasse.

Mas como iria fazer isso?

Eu teria que dar um jeito nisso o mais rápido possível.

***

Passei duas semanas inteira me corroendo por dentro tentando achar uma solução para o meu problema, quando a luz simplesmente apareceu em uma das tardes em que fui visitar Graham.

Estavamos jogando um jogo que inventamos quando criança, era um jogo muito bobo mesmo mas que ajudava Graham a passar o tempo. Tinhamos que fechar os olhos e dávamos as características que apareciam em nossa mente,sem fazer questão de fazer sentido.

E foi me descrevendo que ele me deu uma luz. Ou pelo menos uma faísca de luz.

Ainda me parecia absurda mas era a única ideia que tinha em mente.

Eu embarcaria em um navio pirata!

Sim, eu tinha ideia de que não seria fácil. Primeiro eu deveria achar um navio pirata e acredite não existem muitos à vista por aí. Mas eu tinha que tentar. Eu precisava tentar.

Assim como sabia também que nunca que eles me deixariam embarcar com eles... não sem ter,argh, segunda intenções. Mas eles deixariam se eu quisesse fazer parte da tripulação. Nunca ouvi história de algum pirata que negou a entrada de algum rapaz em seu navio.

Eu teria que me tornar um rapaz.

Até então essa era a parte mais complicada do plano. Como eu iria ficar parecendo com um rapazote?

Era isso!Eu so podia estar ficando louca,mas tinha que tentar,eu tinha que encontrar minha mãe.

–Então a senhorita está indo para Espanha esse final de semana?- perguntou Graham enquanto eu me preparava para ir embora. Sorri para ele.

–Sim, fomos convidados para o baile do príncipe Ferdinando. Meu pai achou melhor não fazer desfeita,assim como achou que seria uma esplêndida ideia para distrair minha cabeça... Ele ainda acha que estou perturbada pelo ataque que sofremos.- contei revirando os olhos.

–Acho que ele está certo.- concordou Graham sisudo.- Você parece estar mais nervosa que antes. Seu olhar fica vago com muita frequência, como se estivesse presa em seus pensamentos. E eu não gosto disso.

Graham era muito perceptivo, mas dessa vez estava errado sobre meu nervosismo. Eu queria,ah como eu queria ter contado tudo para ele. Das minhas suspeitas, da carta, de que talvez minha mãe estivesse viva. Mas consegui guardar tudo para mim, eu sabia que Graham por mais que fosse meu amigo, tinha um dever para com meu pai,sendo assim ele contaria tudo a ele.

–Talvez.- falei dando de ombros.- Precisa de mais alguma coisa antes que eu me vá?- indaguei querendo ser prestativa. Por mais que ele não me dissesse,eu sabia que ele estava sentindo muita dor e que havia se machucado de verdade, não apenas “um raladinho de nada” como gostava de se referir.

–Poderia chamar um dos criados? Estou precisando fazer uma visita a casinha.- pediu corando e eu ri. A casinha ficava do lado de fora da casa e eu tinha certeza que ele segurava o máximo que podia para não ir até lá quando estava com ele. Não via motivos para se envergonhar,afinal todo mundo usava a casinha.

–Deixe de ser bobo. Eu te ajudo- respondi passando meu braço pelas suas costas.

–Não acho que seja uma boa ideia.- torceu o nariz.

–Vamos. Então eu te deixo na cozinha e de lá um dos seus criados te ajudam. Pode ser?- instiguei e ele relutantemente acabou aceitando minha oferta.

Não precisei nem chegar a porta da cozinha para um dos criados aparecer correndo e o ajudar.

–Tchau Graham. Se comporte.

–Digo o mesmo para você,Emma. Nada de ficar com gracinha com os príncipes que estiverem por lá.- pediu brincando mas no fundo eu pude ver que ele falava bem sério.

–Não vou. Eles não fazem o meu tipo.- respondi piscando para ele que me abriu um sorriso largo enquanto era carregado para fora.

Assim que ele sumiu de vista e eu tive certeza que não havia nenhum criado por perto,me joguei escada a cima, entrando rapidamente no quarto de Graham e abrindo seu guarda roupa e pegando sem ao menos olhar uma calça,camisa e um casaco que parecia ser bem quente. Corri os olhos rapidamente para ver se não estava me esquecendo de nada.

Fechei a porta não me importando em arrumar a bagunça que havia feito ali dentro. Sentia meu coração batendo tão rápido que tive medo de que não fosse aguentar. E eu tremia. Tremia com a possibilidade de ser pega roubando as roupas de Graham. O que eu iria dizer?

Ah,estas roupas? É para que eu possa me disfarçar de homem para que assim eu possa entrar como parte de uma tripulação pirata com o intuito de procurar minha até então morta mãe,mas que descobri por meio de uma carta estar escondida.

É, eu seria mandada para um manicômio se dissesse isso. Então embolei as roupas e sai como um raio porta a fora em direção a carruagem,ignorando o cocheiro que havia me perguntando se estava tudo bem.

Considerando o fato que eu planejava fugir de casa, para ir viver em um navio,mas não um navio qualquer,um navio pirata, cheio de homens bêbados e fedidos, a escoria da sociedade. Sim, eu estava ótima!

Ignorei a ajuda do cocheiro para descer e entrei pela porta da frente, querendo não encontrar ninguém pela caminho até meu quarto,mas definitivamente não estava com muita sorte.

–Senhorita Emma.- Ella apareceu por trás de mim, me fazendo pular e soltar um gritinho de susto,enquanto deixava as roupas caírem no chão. Ella olhou para as peças com curiosidade.- O que são essas roupas?

Fechei os olhos rapidamente os abrindo e olhando para o corredor. Então me inclinei para pegar as roupas do chão antes que mais alguém aparecesse ali.

–É...hmm...essas roupas... essas roupas são.- vamos Emma pense, não deve ser tão difícil.- São do Graham.- me ouvi dizendo. Ella arregalou os olhos.- Acontece que irei viajar esse final de semana e não sei se conseguirei aguentar sem nada dele.- expliquei com um meio sorriso nervoso. Então, Ella abriu um doce sorriso para mim.

–A senhorita esta apaixonada por ele.- concluiu.

–Isso.- respondi como se estivesse me sentindo desolada.- Por favor não conte para ninguém.- implorei. Ela me deu um sorriso cúmplice.

–Eu sabia!- pude ouvi-la falando para si mesma. Então me olhou.-Seu segredo esta à salvo comigo,senhorita.

–Obrigada, Ella. Agora o que queria comigo?- perguntei recomeçando a andar para o meu quarto e ela me acompanhou.

–Ah sim. Bem, a costureira mandou avisar que seu vestido já está pronto. Gostaria de saber se a senhorita quer que vá buscá-lo.

–Mas claro que quero, Ella! Estarei saindo pela manhã de amanhã,preciso desse vestido hoje.- respondi impaciente. Mais por ela estar ali no quarto me impedindo de provar as roupas do que por ela não ter mandado alguém ir pegar o vestido.

–Claro senhorita. Me perdoe. Pedirei para irem buscar agora mesmo.- me garantiu abaixando a cabeça.

–Ótimo. Agora pode se retirar.

Estiquei as roupas na cama as analisando e me apressei em tirar o vestido,crinolina,espartilho e tudo que pudesse me atrapalhar na prova das roupas. Quando estava apenas com minhas roupas íntimas vesti as roupas que peguei de Graham.

Ficaram compridas mas isso era fácil de se arrumar,bastava dobrar um pouco as sobras dos panos. O problema maior seria da cintura da calça que ficava caindo. Precisaria dar alguns nós...

Alguém bateu à porta me fazendo sobressaltar ao som. Olhei desesperada em volta e vi meu robe. O coloquei, escondendo as roupas de homem que estava usando.

–Sim?- perguntei abrindo uma fresta da porta e Granny me olhava com desconfiança.

–O que você está aprontando?

–Nada.- respondi rápido demais e isso fez com que ela forçasse a porta para entrar no quarto, ainda desconfiada.

–Está só de roupas intimas por baixo disso?

–Aham. Sabe como é, Granny. Passei o dia fora,precisava trocar de roupa... então veio aqui por que...?

Ela ainda me olhava com desconfiança.

–Seu pai chegou,Miss Swan.Ele a esta esperando. Pediu para que servisse o jantar mais cedo pois irão sair pela madrugada e precisam estar bem descansados.

–Diga que já estou indo. Vou só colocar a camisola e já irei descer.

Ela inclinou a cabeça e se retirou sem dizer uma palavra. Fechei a porta e tratei de tirar as roupas de Graham e as esconder no baú, teria que cuidar delas mais tarde,quando todos estivessem dormindo e antes de eu ser acordada para a viagem.

Desci e papai já estava sentado.

–Olá,papai- o cumprimentei sentando na cadeira ao seu lado.

–Emma!Como está?-ele perguntou animado. Ele tinha um bom relacionamento com o rei da Espanha.- Já escolheu o vestido para o baile?

–Sim. Ele ficou pronto hoje e algum criado foi buscá-lo.- falei e comecei a comer, Ella estava servindo vinho para meu pai- Posso tomar um pouco?- papai não gostava que eu bebesse.

Ele ponderou por uns instantes.

–Tudo bem.Mas so um pouco. É bom você aprender a beber socialmente- Ella me serviu e foi para o fundo da sala de jantar onde ficou

Ficamos comendo em silêncio, não que me perturbasse. Mas sabia que meu pai estava prestes a dizer alguma coisa,pois me olhava nervoso de cinco em cinco segundo,como se pensando se deveria falar e logo em seguida desistindo.

–Emma,acho que já esta na hora de se casar.- ele então anunciou e eu engasguei com o vinho. Esperava qualquer assunto menos aquele... De novo.

–Perdão?- indaguei para ter certeza que ele queria falar sobre aquele assunto.

–Graham é um bom rapaz,sem falar que gosta de você.E ele gosta mesmo de você, Emma. Ele veio pedir minha benção e eu lhe dei.O que há de errado, filha? Por que não aceita?- inquiriu exasperado, como se realmente estivesse tentando entender qual era o problema

–Graham é meu amigo papai !Eu o amo,mas não para casar-me com ele.Pensei que já tivéssemos tido essa conversa sobre casamento.

–Sim,mas...

–Sem mas,papai. Quando estiver pronta irei me casar!Agora se me dá licença- me levantei em um impulso derrubando a cadeira- perdi a fome.

–Emma,volte aqui.Agora!- papai se levantou e aumentou a voz.

–Já disse que estou sem fome.- gritei de volta irritada por ele ter gritado comigo. Eu odiava que gritassem comigo. Isso realmente me tirava do sério. Podia fazer o que quisesse menos aumentar a voz para mim. Nada era mais humilhante que isso.- Mas que inferno!-falei e sai da sala,ele me seguiu e me segurou forte no meu braço.

–Veja como fala comigo!- sem que eu pudesse me preparar senti uma pancada em meu rosto e logo o lugar começou a arder e pulsar de dor.

Olhei perplexa para ele. E ele parecia perplexo também,olhando para sua mão.

–Emma me desculpe é que...que...Você é igual a sua mãe- ele murmurou perturbado.

–Vai tentar me matar também?Igual fez com ela?-disparei antes mesmo que pensasse no que estava dizendo. Ele me olhou estreitando os olhos.

–O que você disse,Emma?- ele perguntou confuso.

–Nada- puxei meu braço e subi as escadas batendo a porta do meu quarto.

Finalmente sozinha. Quase já nem sentia o ardor no meu rosto.

Acendi a vela e puxei a caixinha de costura debaixo da cama me esforçando para enxergar alguma coisa. Não ficaria tão bom quanto os ajustes que Granny fazia mas daria para quebrar o galho. Não podia ser uma roupa com caimento perfeito porque traria suspeitas... e nem tão limpas. Precisaria dar um jeito de deixar as roupas com uma aparência gasta e sujas.

A lembrança de minha mãe brigando comigo porque estava correndo e sujando meu vestido invadiu minha mente. E senti saudades. Muitas. Mas era um tipo estranho de saudade,era como se eu soubesse que sobreviveria mas não conseguiria. Eu não queria sobreviver, parecia errado tentar seguir com a minha vida assim,como se ela não significasse nada.

Assim como era errado o que eu estava prestes a fazer.

Mas estava cansada de pensar no que era certo e errado. Eu só queria fazer o que meus instintos pediam para que eu fizesse. O que parecia certo para mim. Mesmo que no fim eu quebrasse a cara.

Eu precisava disso.

Depois de enfiar a agulha muitas vezes em meu dedo e praguejar baixinho consegui deixar a calça mais ou menos na minha cintura. Ainda caia um pouco,o que me incomodava bastante,mas já estava melhor do que antes. Eu podia andar sem correr os risco de mostrar minhas calçolas.

Calçolas!

Eu precisaria levar algumas na minha jornada. Afinal não conseguiria ficar sem nada por baixo da calça e eu esperava ter a chance de tomar banho pelo menos uma vez a cada duas semanas no mínimo, no máximo uma vez por semana.

Um arrepio percorreu meu corpo. Eu sentiria tanta falta de um bom banho preparado pela Granny.

Arrumei uma pequena trouxa com a roupa de Graham e mais algumas coisas que achei necessárias. Iria levar na minha viagem à Espanha, o baile seria realizado no castelo de verão do rei,que era perto de um praia. Me lembro da última vez que estive lá, era capaz de ver o porto do balcão do salão de baile. Iria reconhecer algum navio pirata que estivesse atracado ali.

Enfiei a trouxinha dentro da caixa do vestido que usaria no baile e me assegurei que estivesse bem escondida. Então depois de realizar tudo que havia planejado em minha mente consegui me deitar.

Senti a maciez do lençol brincando em contato à minha pele. Como o colchão era confortável e relaxante com as bolsas de água quente que Granny colocava embaixo para que ficasse sempre quentinho. O travesseiro possuía um cheiro peculiar, que me era tão familiar. Então olhei ao redor tentando memorizar cada detalhe do quarto em que havia crescido. Olhar meu quarto como se fosse a última vez me fez amar cada pequeno detalhe ali que nunca havia reparado.

Por algum motivo eu sentia que aquela seria minha última noite em minha cama.

Eu estava assustada e ao mesmo tempo excitada com a ideia do perigo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Minha gente é isso. Me digam o que acharam. E claro só tenho a agradecer pelos comentários no capítulo anterior.

Não deveria dizer mas no próximo capítulo um certo Capitão já irá dar as caras e a história irá começar de verdade.

Antes que eu me esqueça: Vocês viram o trailer de 50 tons? Fui ver ontem porque sou meia atrasada e... nossa o Jamie ta tão diferente que quase não reconheci. Prefiro ele com a barba.

Vejo vocês.


Beijos.