Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oii meus queridos. Como eu disse o capítulo já estava perto de sair. Eu revisei mas com toda certeza algumas coisas passaram despercebidas,peço desculpas.

E quero agradecer pelos meus primeiro comentários,muito obrigada.

Boa leitura!



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Fiquei olhando para o nada,por um tempo indeterminado. Não sabia o que fazer,como reagir. Tudo o que fui capaz de fazer foi ficar bem parada, com um braço escondendo meus seios e com uma mão onde estava meu colar. Sabia que estava chorando por que era capaz de sentir as lagrimas descendo pelo meu rosto,mas isso era tudo. Tudo que eu podia fazer. Tudo o que eu conseguia fazer naquele momento.

Em algum momento a carruagem começou a se movimentar. Isso me tirou do torpor que estava e olhei com curiosidade para fora. Bati na janelinha da frente e nosso cocheiro, nunca fiquei tão aliviada em ver o rosto daquele homem,se virou me encarando.

–Seu pai me mandou de volta para que eu levasse a senhorita para casa.- respondeu a minha pergunta silenciosa,enquanto conduzia a carruagem sem olhar para mim. Me inclinei para frente a fim de continuar ouvir a voz de alguém conhecido e que não queria me fazer mal.

–Ele esta bem? O senhor esta bem?

O cocheiro suspirou.

–Ele esta lutando. Até o último momento em que o vi ele estava bem. O oficial Humbert estava tentando convencê-lo a se esconder,mas seu pai é teimoso e continuou. Não se preocupe menina,esses piratas não querem matar,apenas roubar tudo o que acham, porém estão revidando.- respondeu arriscando um rápido olhar para mim.- E eu estou bem menina, obrigado por perguntar. Não é um bando de piratas que mal saíram das fraldas que irá assustar esse velho aqui. Já encarei piratas muito piores que esses,do tipo bárbaros. Esses são inofensivos,só querem fazer baderna.- explicou, acho que com o intuito de me tranquilizar. Assenti com a cabeça e voltei a fechar a pequena janelinha e me encolhendo,encontrando conforto no balançar da carruagem.

Entrei pela porta da cozinha onde sabia que encontraria Granny, recusei a ajuda do cocheiro mandando-o descansar. Ao colocar o pé na porta, ela já me olhou alarmada.

–Senhorita Emma o que aconteceu?-Granny veio correndo preocupada e eu a abracei ainda chorando.

–Foi horrível, Granny . Horrível.- eu solucei.

–Venha vou preparar um chá para a senhorita.

Ela me colocou sentada em uma cadeira,enquanto ia preparando o chá, eu tentava me acalmar e dizer que tudo ficaria bem, que nunca seria submetida à uma situação daquelas. Granny colocou a xícara na minha frente,se sentando e olhando para mim.

–Vamos,conte para Granny , Miss Swan,o que aconteceu.- pediu com a voz maternal de sempre.

Eu funguei tentando segurar as lagrimas que ainda queriam cair.

–Fomos atacados po-po-por pira-pi-piratas- recomecei a chorar, gaguejando vergonhosamente.

–Jesus!-Granny exclamou colocando a mão na boca.

Eu respirei fundo.

–Pararam a nossa carruagem,papai e Graham desceram e me deixaram la dentro enquanto eles iam resolver as coisas.E nesse tempo um dos homens entrou na carruagem e...e roubou o colar de minha mãe,mesmo eu implorando para ele pegar qualquer coisa menos aquilo.- soltei tudo em um fôlego só, não queria fraquejar mais.

–A senhorita não deveria ter dito nada,apenas entregar.Teve sorte que ele não a matou.E que corte é este na sua testa?

Toquei a minha testa confusa,nem tinha reparado que havia me machucado. Aquele corte tinha sido tão insignificante que nem doía.

–Devo ter machucado quando a carruagem freou e eu cai.Mas aquele colar era muito importante para mim, Granny.Era o ultimo presente que ganhei de minha mãe.

–Eu sei, Emma ,se acalme. Irei preparar um banho para a senhorita,e passará a tarde descansando.- seu olhar caiu no decote feito pelo gancho do pirata.- Devo perguntar como seu vestido rasgou?

Bufei e revirei os olhos. Se ela já devia imaginar a resposta por que iria perder tempo perguntando?

–O pirata, na hora que foi puxar meu colar rasgou o vestido com o gancho que ele possui no lugar da mão esquerda.

Ela assentiu sem dizer uma palavra,fazendo o sinal da cruz ao desaparecer pelo corredor me deixando sozinha passando a mão no pescoço na esperança do meu colar aparecer ali por mágica.

Granny preparou e me ajudou a tomar banho. Me irritava o fato de eu estar tão vulnerável que ainda sentia leves tremores passando pelo meu corpo,mesmo que fazendo um esforço para parecer forte.

Passei o dia inteiro trancada no meu quarto de camisola,de vez em quando ia ate a janela e olhava a cidade e sentia uma aperto no coração,por estar ali sã e salva enquanto pessoas estavam em meio ao fogo cruzado. Não havia nada que eu pudesse fazer,provavelmente atrapalharia se tentasse ajudar de alguma forma. Tudo que me restava era esperar que meu pai voltasse logo para casa.

Estava deitada em meu quarto,olhando para o teto, mexendo em meu pescoço de maneira automática. A noite já havia caído e nada de meu pai ou Graham voltarem. Me levantei pela milésima vez para ir à casinha, na intenção de na verdade caminhar um pouco. Ficar sem noticias já estava me deixando apreensiva.

Enquanto estava passando pelo corredor,ouvi a porta se abrindo. Me aproximei silenciosamente do topo da escada na tentativa de ver quem havia entrado. Até que reconheci meu pai,quando seu rosto ficou visível a luz da vela que queimava ali.

Meu peito pareceu mais leve.

Ele estava bem.

–Papai!- gritei descendo correndo as escadas e o abraçando- Fiquei tão preocupada! Então conseguiram pegar aqueles vagabundos?

–Olhe o linguajar inapropriado para uma dama, Emma!E pegamos dois homens os outros conseguiram fugir.- ele falou se sentando.-Granny chame o Dr. Whale,fui atingido no braço- nem havia percebido que Granny estava ali até meu pai falar com ela e apenas quando ele mencionou que reparei na mancha de sangue em seu braço e na careta de dor que estava em seu rosto. Me afastei rapidamente,olhando assustada para a blusa branca manchada. Percebendo meu olhar assustado me acalmou rapidamente- Esta tudo bem,filha,foi um tiro de raspão nada muito grave.

–E Graham,ele esta bem?

–Graham vai ficar bem.

–O que o senhor quer dizer com “Graham vai ficar bem”?- questionei,procurando a resposta em seu olhar. Ele poderia mentir com as palavras mas sempre fui capaz de identificar uma mentira apenas de olhar nos olhos de alguém. Era o meu pequeno dom do qual tinha muito orgulho,porque raramente ele falhava.

–Ele foi atingido,mas também não é nada muito serio,irá sobreviver.

–Meu Deus,papai!Como é possível alguém ser tão frio como o senhor?Eu quero vê-lo!- falei determinada cruzando os braços

–Se acalme,Emma.Poderá vê-lo pela manhã,agora a aconselho ir dormir, já que não tem muito que possa fazer essa hora da noite. Graham deve estar passando pelo médico e se preparando para descansar.

–IR DORMIR?-perguntei incrédula –Dormir foi tudo o que fiz o dia inteiro nessa casa enquanto,o senhor e o Graham e...e...e pessoas inocentes estavam em perigo e eu sem poder fazer porcaria nenhuma.Eu quero ter noticias,eu quero ver os homens que foram preso! - exigi,papai arregalou os olhos.

–Ver os homens?

–Sim,um dos piratas invadiu a carruagem e roubou o colar que mamãe me deu,eu o quero de volta.

–Ele lhe fez alguma coisa?Ele te machucou?- ele se levantou e segurou meu braço, me examinando com cuidado. Podia reclamar do que fosse sobre meu pai,mas ele sempre fora cuidadoso comigo. Conseguia sentir que realmente se preocupava.

–Não,papai.Eu estou bem so quero o colar de volta.- respondi,com a melhor voz tranquilizadora que pude naquele momento.

–Ora,Emma,tens sorte de estar viva. Agora por favor,vá para seu quarto que amanhã sem falta eu a levo para ver Graham.

–E os piratas?

–O que tem os piratas?- perguntou se servindo de licor.

–O senhor também irá me levar para vê-los.- insisti.

–Emma...

–Eu irei dar um jeito de ir se o senhor não me levar.- ameacei indo em direção à escada. Escutei o suspiro pesado que ele soltou. Ele estava pesando minhas palavras para ver se eram verdade, se eu seria realmente capaz de fazer o que estava ameaçando fazer.

–Tudo bem.- concordou por fim.

–Promete?- perguntei me aproximando para poder olhar em seus olhos.

Aparentando estar mais cansado do que nunca,ele concordou com a cabeça.

–Prometo,filha. Agora me faça um favor e vá se deitar- pediu ,mostrando que já estava cansando daquela conversa.

–Sr. Henry,o medico esta aqui- Granny anunciou,eu me virei sem dizer uma palavra para o meu pai e subi para o meu quarto.

Mas quando cheguei no quarto e fechei a porta, não consegui me aproximar de minha cama. Apaguei a vela que estava acesa e me encaminhei para a janela. Estava tudo tão escuro,mas aquilo no fundo me acalmava. O cheiro da noite,me acalmava. Era diferente, tão puro e me trazia lembranças boas de um lugar que eu não me lembro de ter estado mas eram memórias acolhedoras.

Fiquei um bom tempo vagando pelo quarto escuro e olhando a paisagem ao longe,até que o cansaço me venceu e me deitei na cama. Tudo o que eu queria era uma noite sem sonhos,mesmo aqueles sonhos que eu amava que sempre envolviam duas pessoas: uma mulher de cabelos escuros e pele tão branca que lembrava a neve e aparência macia,que sempre tive curiosidade para saber qual seria a sensação de tocá-la. A segunda pessoa era um homem loiro com os olhos claros,quase da mesma cor que os meus e sempre sorria para mim. Nunca conversamos,porem só de olhar para eles uma paz me invadia. Mas naquela noite eu não queria ter paz. Queria ainda me lembrar da raiva que estava sentindo para direcioná-la a quem merecia.

Na manhã seguinte eu acordei cedo, mesmo tendo dormido pouco. Estava um pouco decepcionada pelo meu desejo de não sonhar com aquele casal ter se realizado, percebi que estava ansiosa para vê-los. Me permiti rir de mim mesma por estar ansiosa para ver pessoas que nem são reais.

Não chamei Granny para ajudar a me vestir. Apenas peguei o robe e o vesti,escondendo a camisola. Me vestiria depois do café da manhã.

–Bom dia,papai- o saudei ao entrar na sala e já o encontrar sentado,sendo servido por um dos criados. Dei um beijo em sua bochecha ao me sentar, esticando minha mão para pegar um pãozinho,enquanto Ella entrava com uma jarra de suco para me servir.

–Caiu da cama- comentou, bebericando o café e fazendo uma careta logo em seguida.

–Temos compromissos para hoje, se lembra?- respondi e meu olhar caiu em seu braço imobilizado.- Como está o braço?

Papai olhou com desgosto para o braço.

–Está bem,mas o Dr. Whale insistiu para que eu o imobilizasse-o.

–Passou algum medicamento?

–Para dor.- respondeu e eu assenti.

– Então o senhor esta bem para me acompanhar?

–Não é bom para uma dama entrar em uma delegacia.- falou exasperado largando a xícara na mesa e me olhando desesperado pela minha insistência.

–Eu não me importo. Não me importo para o que é bom ou não. O senhor prometeu!

Ele suspirou.

–Tudo bem,termine seu café e já sairemos.- respondeu contrariado

–Já acabei.-anunciei.- Ella poderia pedir para Granny subir para ajudar a me vestir?- pedi e ela assentiu inclinando a cabeça e saindo.

–Emma!

–Já acabei! Irei apenas me trocar. Termine seu café.- ordenei saindo

–Você é impossível como a sua mãe.- o ouvi murmurando.

Granny em pouco minutos apareceu para me vestir, munida da crinolina,que é um tipo de armação de ferro para que a saia do vestido fique armada. Então entreguei o espartilho e me segurei na parede,enquanto ela puxava com força as amarras para que ficasse bem apertado. Então ela me trouxe o vestido. Não sei o que faria sem Granny para me ajudar a vestir tantos panos. Sentia falta dos vestidos simples e sem muitos enfeites.

–Não se esqueça o chapéu,senhorita Emma.- Granny me lembrou quando eu estava me retirando do quarto. Ela havia me ajudado a prender meu cabelo e eu estava desesperada para sair logo de casa.- Uma jovem não pode sair de casa sem o chapéu, não é bem visto.

Sim,claro que não era. O que era bem visto para as mulheres afinal?

–Obrigada, Granny.

Ao descer papai comentou algo sobre eu demorar para me vestir.

–Por que um dia não pegamos minhas roupas e vestimos no senhor para que veja o por quê eu demoro?- sugeri irritada, pegando o leque que Ella entregava para mim. Ele não respondeu nada.

Já na carruagem, enquanto passávamos pela cidade à caminho da onde os presos estavam, fiquei chocada em ver como tudo estava tão destruído. Algumas casas queimadas, animais andando sem rumo pela cidade, tudo quebrado. Pessoas honestas tendo que recomeçar do zero,sem saber por onde começar, ainda olhando atônitas umas para as outras. Ver aquela expressão no rosto das pessoas me fez querer matar todos os piratas existentes por causar tamanha desgraça as pessoas de bem.

A carruagem parou e olhei para meu pai, buscando a confirmação que já havíamos chego. Ele desceu e logo veio ao meu socorro,me ajudando a sair.

–Senhor- o guarda cumprimentou meu pai, inclinando levemente a cabeça.

–Viemos ver os prisioneiros que foram capturados na confusão de ontem.- anunciou meu pai,usando sua voz de governador.

–Senhor,ela também?- o guarda perguntou em um sussurro que eu ouvi, enquanto me lançava um olhar de soslaio na minha direção.

–Sim,eu também.-respondi dando um passo à frente.

–Emma!-meu pai chamou minha atenção.

–Papai.- dei um sorriso falso para ele.

O guarda meio contrariado com a minha presença nos levou ate a cela. Durante todo o caminho foi murmurando como aquele não era lugar para uma dama e em como aquilo era inaceitável .Meu pai não disse nada, mas tenho certeza que concordava com o guarda.

–Se levantem diante do governador,seres imprestáveis- pude ouvir a voz do guarda antes de entrar, tendo a visão tampada por conta da peruca que meu pai usava. Era tão ridícula. O guarda deu uma pancada na cela,me fazendo dar um pulo,assustada com o barulho.

–Não,muito obrigado,estou confortável aqui.-respondeu um

–Se levantem agora ou...

–Ou o que sofreremos as consequências? Nos já vamos para a forca mesmo,porque deveria me levantar para a senhora governadora?Linda peruca,boneca.-o outro respondeu sarcástico. Os dois soltaram risadas estrondosas.

–Não se esquente- pedi empurrando meu pai de leve para que pudesse finalmente enxergá-los. Estavam sentados um de cada lado da cela e tinha a aparência suja. Não se pareciam nem um pouco com o homem que roubou meu colar.- Apenas irei ver se algum deles foi quem roubou meu colar ontem no momento da confusão.- cheguei mais perto da cela com ar de superioridade e me decepcionei por constatar que nenhum deles era o ladrão. Eu ainda tinha esperança de reconhecê-lo por de baixo daquela sujeira toda -Não são eles.- falei me virando para meu pai.

–Para você,podemos ser quem quiser doçura.- falou um deles com a voz maliciosa. Me virei sorrindo encarando os dois.

–Venha nos fazer companhia. Estamos nos sentindo tão sozinhos.- o outro falou pousando os cotovelos nos joelhos e me olhando

–Apodreçam no inferno!-cuspi as palavras e antes que eu pudesse ter uma reação o homem colocou a mão para fora da grade me fazendo gritar e perder o equilíbrio caindo no chão. Nunca agradeci tanto o fato de ter que usar tantas camadas de pano como naquele momento.

–Emma!- meu pai se apressou para perto de mim, tentando ajudar a me levantar mas eu estava congelada de espanto no chão,encarando o homem que espumava de raiva e ódio enquanto me olhava,o rosto entre as barras.

–Não precisa mandar senhorita. Já temos um lugar reservado lá à muito tempo.

–Vamos querida.- a voz do meu pai me tirou da paralisia em que me encontrava. Segurei em seu braços,enquanto o guarda também ajudava a me levantar do chão.

–Obrigada.- agradeci quando já estava de pé e sai de lá sem esperar nenhum dos dois. Aquele lugar estava me deprimindo. Sem falar que estava sentindo muita raiva, e não sabia o que poderia ter ocasionado aquela raiva toda. Sentir raiva não era uma coisa boa,lembrei a mim mesma.

Pude ouvir meu pai agradecendo ao guarda e em seguida entrando na carruagem,junto comigo. Não entendia por que estava sendo tão emocional. Eu tinha que ficar forte, como sempre fora antes de tudo isso acontecer.

–Sinto muito por não ser quem estava procurando- meu pai começou a falar meio inseguro.- Mas talvez seja melhor assim. Não ficar se prendendo à um objeto e sim as lembranças e à marca que Cora deixou em seu coração,filha.

–Você não sente a falta dela,não é mesmo?- inquiri o encarando com calma. Não havia julgamento em minha voz, apenas a curiosidade. Afinal,era uma coisa normal pessoas se casarem sem se amar,apenas por ser conveniente. Casamento era para acontecer quando duas pessoas se amam,mas infelizmente era mais visto como um bom negocio.

–Não é bem assim, Emma.Você não entenderia,é complicado...- começou a tentar desviar do assunto.

–Papai eu não sou mais uma garotinha! Pare de me dizer que é complicado.

–Você não quer ir ver Graham?-indagou a voz levemente alterada pela impaciência. Percebi que aquele já era um assunto perdido,mas não iria desistir. Uma hora ou outra ele teria que falar sobre o assunto.

–Sim,por favor.- sussurrei e o vi relaxar. Alguma coisa me dizia que ele sabia de alguma coisa. E era uma questão de tempo até eu descobrir.

Graham ficou muito satisfeito ao me ver. Dava para se notar no olhar que ele me deu quando sua criada me anunciou. Ele estava deitado,coberto por um lençol,sem camisa,uma faixa passando por sei peito e se enrolando no ombro.

–Ah, Graham! Como você está?- me sentei na cadeira que havia ao lado de sua cama. Não me sentia completamente à vontade em ficar a sós com um homem. Mesmo que Graham fosse meu amigo nunca havíamos ficado na presença um do outro sem ninguém por perto. Era um sentimento embaraçoso demais.

–Levei um tiro no ombro mas estou bem, obrigado por perguntar, Emma. E você como está? Ouvi que você foi atacada.-havia preocupação em sua voz e seu olhar observou meu rosto atentamente parando no pequeno corte em minha testa.

–É... ele só queria roubar, não me machucou nem nada. Esse corte foi quando a carruagem parou bruscamente e eu tombei para frente. Acredite, eu estou bem. Queria ter ajudado.- confessei olhando para as minhas mãos.- Fiquei presa em casa igual à um animal assustado sem saber o que fazer.

–Foi o melhor que você fez, Emma. Um luta não é lugar para uma dama.

–Não é lugar para ninguém. Mesmo assim, quero ser útil da próxima vez.- falei obstinada, até que uma ideia me ocorreu.- Você poderia me ensinar a lutar, Graham!

Aos meus olhos parecia uma grande ideia. Brilhante na verdade. Poderia ajudar e não ficaria com aquela sensação de ser um peso morto. Eu seria útil.

Porém parece que Graham não achou a ideia tão boa assim, já que ele me olhou cheio de incredulidade, procurando algo em meu rosto para logo após começar a rir. A rir muito, como se eu tivesse contado uma piada muito engraçada.

–Não seja boba, Emma.- falou por fim quando conseguiu se controlar. Aquilo me irritou.

–Não estou sendo boba, Graham. Estou falando sério.

–Eu nunca deixaria você se meter no meio de uma luta, Emma. Não é lugar para você.

Bufei irritada e revirei os olhos.

–Não sou feita de porcelana, Graham. Eu não quebro fácil.

–Para mim você é feita do mais delicado material, que deve ser mantido protegido muito bem.- declarou,passando a mão com delicadeza pela minha bochecha me fazendo corar e me afastar do toque. Não sei quantas vezes teria que dizer a ele que não o via do jeito romântico da coisa.

Ele recolheu a mão parecendo magoado, mas não consegui me sentir mal. Não fazia o tipo que dá falsas esperanças.

–Mas pense bem. Mesmo que eu não vá para a luta e se algum deles invadir minha casa e você ou papai não estiverem em casa para me socorrer. Como irei fazer?- indaguei fazendo gestos para mostrar que meu pensamento era válido.

Graham pareceu ponderar por um tempo.

–Você está certa. Lhe ensinarei o básico de uma luta com espadas. Apenas o básico para se caso precise se defender.

O abracei com força me esquecendo que ele estava sem camisa e com o ombro machucado.

–Obrigada, Graham.

Ele riu, soltando um gemido de dor.

–Tudo bem,Emma. Fico contente que esteja feliz mas meu ombro.

–Ah me desculpe.- me afastei,corando.- Quando começamos?

–Em breve. Assim que conseguir mexer o braço direito.- me prometeu.- Agora, só não conte para o seu pai. Ele não vai gostar nada disso.

–Contar o que?- perguntei rindo e ele me acompanhou. Ficar na presença de Graham era extremamente agradável quando ele não estava tentando me cortejar.

Passei praticamente a tarde com Graham. Jogamos alguns jogos com as cartas, os quais Graham me deixou ganhar todos, já que eu era uma negação com jogos de cartas. Ele fingia perder e eu fingia não ver que ele estava me deixando ganhar.

Sua criada entrou trazendo um lanche para nós e os remédios para dor que o médico passara para Graham. Estava o auxiliando a comer,quando ele segurou minha mão, afastando a colher que estava levando para sua boca.

–Emma,se eu pedisse,você se casaria comigo?- perguntou de supetão, me fazendo arregalar os olhos. Nunca,em todo o tempo que nos conhecemos ele havia sido tão direto assim.

–Mas que pergunta é essa?-olhei brava para ele, tentando mostrar que era uma zona na qual eu não queria entrar.

–Calma é so uma pergunta. Não precisa lançar esse olhar cortante para mim.- se defendeu,levando minha mão em direção a sua boca, mostrando que queria mais.

Suspirei e respondi o que ele queria ouvir.

–Eu diria sim- falei sorrindo.-Mas isso não vai acontecer,porque você é meu amigo,certo?

–Não posso te garantir nada,eu sou seu amigo,mas nunca disse que não sou apaixonado por você- ele falou apertando minha mão.

Pousei o prato que estava na minha mão na bandeja e me levantei colocando meu chapéu.

–Acho melhor eu já ir, Graham . Vou pedir para uma das criadas vir pegar a bandeja.Melhoras-eu dei um beijinho no rosto dele e sai, sem dar chances para que ele dissesse mais nada.

Voltei para casa pensando em como Graham é um homem maravilhoso e que provavelmente existiam várias garotas querendo algo a mais com ele. Queria ser uma dessas garotas,mas havia feito uma promessa para a mulher que aparecia nos meus sonhos que casaria por amor. Não por interesse ou por ser conveniente como muitos. Em um dos sonhos que ela me apareceu,sozinha,sem o homem ao seu lado, ela me disse que o amor sempre acaba te encontrando. E eu gostava tanto dessa conversa digna dos livros que me permitia acreditar mesmo achando no fundo ser impossível.

As vezes acreditava que iria acabar sozinha e por algum motivo esse futuro não me apavorava. Me apavorava pensar que passaria o resto da minha vida ao lado de alguém que eu não suportava. Esse sim era um pensamento que chegava até a me dar calafrios de medo.

–Olá, Granny.- a saudei quando passei pela porta,tirando o chapéu e desfazendo o penteado com os dedos.Ela veio ao meu encontro com um envelope nas mãos.

–Chegou para senhorita mais cedo.- me entregou, o rosto demonstrando a curiosidade que sentia enquanto me passava o envelope e eu o analisava.

–Quem mandou?- tentando me lembrar de alguém que tinha assuntos comigo. Não que minha lista fosse muito extensa. Mas sempre recebia uma carta após algum baile de algum pretendente, interessado. Nunca respondi nenhuma dessas cartas.

Granny negou com a cabeça, impaciente. Se ela soubesse não estaria quase arrancando o envelope de minhas mãos para saber qual era seu conteúdo.

–Um menino apenas veio entregar.

–Muito bem. Irei para o meu quarto descansar e aproveitarei para descobrir de quem é essa carta. Me chame quando o jantar estiver pronto. E peça a Ella para que vá me ajudar a tirar essa roupa.

–Não quer que eu a ajude?

–Obrigada, Granny. Mande Ella por favor.- respondi, escondendo um sorriso ao ver o quanto a velha e boa Granny havia ficado irritada.

Ella surgiu para me ajudar, sem fazer muitas perguntas ou falar nada. O quarto estava imerso em silêncio e isso era reconfortante. Ela me ajudou a colocar o robe, que era usado para ficar em casa e se retirou.

Me sentei diante a penteadeira e escovei meus cabelos. Me prendendo a cada detalhe. Antes quando eu tinha o medalhão,ficava observando a pintura de minha mãe e tentando achar alguma característica dela em mim. Mas nunca achei nada nem remotamente parecido. Ela tinha a pele morena,enquanto a minha era clara. Olhos escuros e os meus mais pareciam o azul de um céu de um dia perfeito de verão. E seu cabelos castanhos não tinham nada a ver com as minhas madeixas loiras. Éramos tão opostas fisicamente.

Assim como meu pai, eu não havia nada parecido com ele. Não sabia a quem eu tinha puxado e isso sempre me incomodou,por mais que não dissesse. Éramos tão distintos. Geralmente os filhos se pareciam com seus pais. Mas eu não. Eu não possuía nenhum traço deles.

Peguei a carta e a virei,examinando. Não havia nada no envelope que dava uma dica de quem mandara a carta.

–Vamos,Emma é so uma carta,o que pode ser de tão ruim o conteúdo?- murmurei para mim mesma, pensando o quão tola eu parecia as vezes.

E quando eu abri eu quase tive um ataque do coração.

Era a letra da minha mãe.

A carta era da minha mãe.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenham curtido o capítulo e novamente,me digam o que acharam, não sou movida a comentários mas eles ajudam muito(principalmente para quem está começando,é bom saber a opinião de quem está lendo)

O que acharam dessa história de que o Hook vai recuperar a mão nessa nova temporada? Só curiosidade.

Então é isso.

Beijos.