Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Olááá amores da minha vida. Como estão? Animados para o natal? Aqui estou um dia mais cedo, para deixar um capítulo para vocês, porque é a única forma que tenho de presenteá-los. Sendo assim, espero que gostem do capítulo e me desculpem se quebrei minha promessa de não escrever um capítulo com mais de sete mil palavras.

E donas Rakett e Beatle saibam que vocês me deram os presentes de natal mais lindos. E olhem que eu nem estava esperando presente. Muitíssimo obrigada de todo coração pelas recomendações. Como sempre é uma surpresa adorável e incrível ver que vocês acham que "Traiçoeiro" merece ser recomendada. Eu adorei de verdade. Espero que gostem desse capítulo.

Boa leitura.



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“Graham meu amigo, como bem sabes, tudo que nos traz deleite, sensações de paz e aquela felicidade que se contenta em apenas dançar em nosso interior, passam como um borrão diante de nossos olhos, escapando pelos dedos como água, mesmo que você tente com todas as forças, mantê-los ali, inalterados, não querendo que acabem nunca.

Assim estão sendo os dias que se seguem na casa de campo de Belle. Os dias mais calmos e felizes que consigo me lembrar em toda minha vida. Uma sensação interna de que isso que estou vivendo agora é uma família.

Peço que não se ofenda meu amigo, guardo com carinho todos os momentos que passamos juntos... Mas isso aqui é diferente de tudo. Diferente dos jantares silenciosos em minha casa com nossos pais. Diferente de como nos portamos, aqui estamos sempre rindo alto e brincando, sem se importar, sem ter ninguém para nos olhar torto e dizer que esse não é um comportamento adequado.

Você não acha que a felicidade é o comportamento mais adequado que existe? Aqueles risos e brincadeiras que eu sei que deveriam existir sempre, em todos os momentos.

Estava passando os dias com Belle na biblioteca, pesquisando, como lhe contei nas cartas anteriores, e por volta das quatro da tarde, Landon batia à porta convidando nossa amiga para dar um passeio pela propriedade. Ela sempre me olhava como se me pedisse permissão, mesmo que soubesse que nunca diria “não”, para se levantar alegremente e aceitar o braço de Landon, saindo tagarelando pelo corredor.

Irei contar, apesar de saber que não ficará feliz, na verdade sei que não está feliz com esse meu comportamento, mas eu não consigo mais me afastar. Penso todas as noites que será a última vez, todavia no dia seguinte, assim que estamos sozinhos, não resisto a não correr para os braços de Killian. Sinto-me tão bem ali, Graham, e me pesa na consciência o fato que oficializou nosso noivado sem o meu consentimento, pois sinto que estou lhe traindo... Como estava dizendo, quando Belle saía com Landon, não demorava muito, Killian aparecia sempre seguido da criada, que enrolava o máximo, não querendo nos deixar sozinhos. Assim que a mulher dava as costas, Jones corria para trancar a porta com afobação.

Nesses instantes eu abandonava os livros e ia me sentar com ele, indo preparar seu chá. Killian ficava me estudando com atenção, para então aceitar a xícara e dar uma sondada em minhas pesquisas.

Eu sempre era vaga com o assunto, dizendo que ainda não tinha encontrado nada, sendo que não era verdade. Sempre conseguia ser vaga com Jones quanto a isso, porque bem... Eu ia para seus braços e isso lhe tira o foco de qualquer outro assunto. Sinto-me baixa de usar esse artifício para não lhe dar a resposta, mas o que posso fazer? Não estou pronta ainda para compartilhar o que Belle e eu encontramos.

Nós encontramos uma lenda que se aprofunda mais sobre donzelas- cisnes, que não podia ser ignorada. Não quando na mesma noite recebi a visita do casal e novamente eles me contaram a história da princesa donzela- cisne. Irei lhe contar, mas não ainda. Espero que não se importe.

Estou escondendo o máximo que posso pelo simples motivo que estou com medo que se mais alguém fique sabendo, essa tranquilidade que tanto estou gostando de viver, seja tirada de mim antes da hora.

Recebo também a visita do médico. Todas as semanas, duas vezes. E sempre lhe pergunto quando terei permissão para sair e parar de tomar os elixires. O homem apenas pede-me paciência, que apesar da aparente melhora, era melhor não abusar.

Jones sempre permanece no quarto, comigo quando o médico vem. E sempre garante que cuidará para que eu faça repouso. Ele gosta de ficar encostado à parede fazendo questionamentos, querendo saber exatamente para o que são os elixires que eu estou tomando, se era para algo grave, e se teria a chance de me curar e não mais precisar ingeri-los...”

Escutei uma batida na porta do quarto e Jones colocou a cabeça para dentro.

–O médico está aqui para vê-la. – avisou. – Está escrevendo?

–Estava, pode deixá-lo entrar. – dobrei o papel, enfiando-o dentro do envelope e guardando na gaveta.

O médico entrou acompanhado de Killian que foi ficar em sua posição de costume, observando enquanto eu era examinada.

–O senhor poderia informar meu assistente para deixar nossa condução pronta? Descerei em um momento. – o médico pediu. Jones fez uma cara de desagrado, mas aquiesceu, saindo.

–Algum problema? – eu percebia que aquela apenas havia sido uma desculpa para tirá-lo do quarto.

–Nenhum. Seu senhor é muito preocupado com você, senhora Jones. – comentou.

Respirei fundo, contrariada.

–Swan. Srta. Swan. Senhor Jones, não é meu marido. – atalhei.

Vi o rosto do médico, adquirir um tom vermelho.

–Peço desculpas, eu pensei...

–Eu sei. Somos apenas bons amigos e as pessoas confundem nossa preocupação com algo a mais. – expliquei. – Quando terei alta, senhor? Não aguento mais ficar presa em casa.

O médico guardou os aparelhos que estava me examinando, um deles que ele jurou para mim que podia ouvir meu pulmão, e sorriu.

–Creio que já esteja liberada, senhorita. Seu pulmão parece limpo, apenas peço que não exagere.

–Ah meu Deus! De verdade?

–Sim, de verdade. Porém recomendo que continue com os elixires.

–Mas poderei sair? – insisti mal podendo acreditar. Estávamos chegando ao final do segundo mês ali. Jones estava melhor, seus ferimentos pelo menos, estavam cicatrizando sem danos e finalmente poderia levá-lo à ópera.

–Sim, poderá sair.

–Muito obrigada, senhor. – contive o impulso de abraçá-lo. – Por favor, não conte para o senhor Jones se ele perguntar. – pedi. – Quero fazer-lhe uma surpresa.

–E a encomenda que a senhorita pediu, ficaram prontas. – ele tirou duas caixinhas da maleta. – Por isso pedi que o senhor Jones saísse. A senhorita me pediu sigilo.

–Sim, sim. Fez bem. – abri as caixas, admirando o gancho novo e brilhante, e na outra uma prótese de mão, revestida como se fosse uma luva.

–Ficaram do seu agrado?

–Do meu sim, espero que fique do agrado dele. E que não se ofenda com a mão falsa. Muito obrigada. – fechei as caixas, indo guardá-las para que ele não visse e peguei o dinheiro para pagar o homem.

Tão logo o médico se despediu, corri para Belle, contando animada que finalmente poderíamos ir à ópera. Ela riu de meu estado, garantindo que mandaria um criado no mesmo instante à cidade para que comprasse as entradas.

Sugeri que ela e Landon fossem também, contudo minha amiga negou, ficando séria e voltando a se concentrar no livro que estava lendo.

Naquela noite me esgueirei para o quarto de Killian, como sempre fazia, mas dessa vez com uma garrafa de vinho na mão e equilibrando duas taças em meus braços, as entradas para a ópera presas entre meus lábios.

Bati na porta com a ponta do pé e rapidamente ela foi aberta, revelando Jones sem camisa e os cabelos molhados.

Passei por ele, tentando ignorar a forma que meu coração disparou com a visão.

Não era a primeira vez que o via sem camisa e nem seria a última.

–Vinho? – ele indagou, vestindo a camisa de dormir e vindo me dar um beijo na bochecha, sua mão descansando em minha cintura.

–Sim. Tenho uma surpresa para você. Peguei o melhor que encontrei na adega dos French.

–Que surpresa? – quis saber abrindo a garrafa e servindo as taças.

–Eu já posso sair. – respondi pegando a taça que Killian estendeu para mim.

–O médico a liberou?

–Sim! – estendi as entradas para ele. – E como estou livre, estou convidando-lhe para me acompanhar até a ópera. Acredito que nunca tenha assistido uma.

Jones pegou as entradas da minha mão, as estudando.

–Não. Nunca fui a uma ópera.

–Ótimo. Garanto que irá amar. É mágico... Algum problema? – perguntei quando ele deixou as entradas na mesa, sério.

–Nenhum Swan. Era de se esperar que eu a convidasse para sair e provavelmente a chamaria para ir até a taverna beber uma cerveja e aqui está você me levando à ópera.

–Está me convidando para ir até a taverna beber uma cerveja? – indaguei com dúvida.

Killian me fitou com os olhos cerrados.

–Você quer ir a uma taverna beber uma cerveja comigo?

Dei de ombros.

–Posso optar por outra bebida? Não gosto muito de cerveja, até seu rum tem gosto melhor. Quando vamos à taverna?

Jones riu, tirando a taça de vinho da minha mão me abraçando com força, escondendo seu rosto em meus cabelos e respirando fundo.

O abracei de volta, deixando que minhas mãos corressem livres por suas costas, até se ajeitarem em seus quadris.

–Você não existe, Emma. – falou segurando a ponta de meu queixo e inclinando minha cabeça para trás, deixando minha boca exposta. – Podemos ir amanhã à taverna. – murmurou seus lábios tocando de leve os meus.

Sorri para ele.

–Parece ótimo para mim, querido... Gostaria de tentar uma coisa.

Jones franziu a testa.

–O que gostaria de tentar, Swan?

–Não é nada... Íntimo, você pode e espero que permaneça vestido. – peguei a garrafa de vinho e minha taça, indo em direção à cama. – Gostaria de me deitar um pouco com você, se não se importar. – falei rapidamente, sem conseguir encará-lo.

O quarto caiu em um silêncio, não constrangedor, tampouco agradável.

Olhei para Jones que me fitava descrente.

Por favor, não é como se eu não tivesse feito isso na outra noite quando me contava sobre sua vida”, pensei impaciente.

–Nossa. – ele pronunciou finalmente. – Sem dúvida essa é uma surpresa. Por favor. – indicou à cama. – Antes que mude de ideia.

Sentei na cama, observando-o se ajeitar ao meu lado. Ele olhou para mim e sorriu, sem comentar nada e pela primeira vez, achei a falta de seus comentários algo incômodo.

Servi mais vinho para nós dois e me arrastei até estar escorada em seu peito, sentindo o calor que saía de seu corpo em minhas costas.

–Irá à ópera comigo?

Jones deu um beijo em minha cabeça.

–É claro que irei Swan. Até parece que iria perder a chance de carregá-la em público nos meus braços.

–Está indo apenas para me exibir como um prêmio, senhor? Neste caso, informo-lhe que não há necessidades de ir. Belle pode muito bem me fazer companhia.

–Não. Estou indo porque nunca assisti uma ópera, e já que a ocasião está me dando oportunidade de carregar uma bela dama em meus braços como acompanhante, creio que devo aproveitar.

Revirei os olhos, terminando de tomar o conteúdo da taça e entregando-a para que Killian a colocasse no chão.

Virei- me para olhá-lo e encontrei-o já me observando com olhos alegres. Fiquei uns minutos admirando aquela expressão neles, perguntando-me o que eu teria que fazer para deixar aquela alegria ali, todos os dias.

Seu indicador correu pela linha do meu maxilar, subindo para desenhar o contorno de meus lábios, passou pelo nariz, maçãs do rosto, até por fim ir para minha cicatriz.

–A incomoda? - indaguei.

Jones fez que não com a cabeça.

–Você é linda, Swan. Estou apenas lhe admirando e certificando-me que é real.

Deitei-me meio em cima dele para que conseguisse alcançar sua boca. Era impossível ignorá-la, ainda mais quando me dizia coisas tão amáveis.

Eu sabia que era errado. Que não deveria, mas gostava tanto de senti-la sobre a minha. Era uma sensação tão enervante sentir sua língua explorando minha boca e a luta que sempre travavam no início. Eu adorava o gosto da boca de Killian, assim como eu adorava-o por inteiro.

Eu era uma pecadora e não me importava com esse fato quando o estava sentindo daquele jeito. Não me importava, porque era impossível não continuar comendo do fruto proibido quando ele tinha um sabor tão peculiar e doce.

Ninguém iria saber. Não passaria dos beijos. Eu seria perdoada.

Deus não iria me castigar por retribuir com beijos o homem que eu amava, iria?

Jones gemeu em minha boca, apertando meu corpo ainda mais contra o seu, e ouvir aquele som vindo do fundo de sua garganta, aquele som que demonstrava o quanto ele gostava de ter-me daquele jeito e provavelmente queria-me de outros, fez uma fagulha que já estava acesa, soltar um estalido, criando uma maior e mais quente.

Com muito esforço, separei-me dele sem fôlego.

"Eu o amo"

Pensei ao observar seu rosto assim que desgrudei nossas bocas. Seus olhos permaneciam fechados, a respiração pesada, seus lábios inchados e úmidos, meio avermelhados.

Killian tateou até achar um travesseiro e o colocou sobre seu colo. Olhei curiosa para baixo, vendo-o apertar o travesseiro naquela região.

–O que aconteceu?- quis saber.

Jones abriu os olhos e sorriu.

–Você. Você aconteceu, Emma.

Balancei a cabeça confusa.

–Por Deus, mulher, melhor não querer saber, caso contrário sei que irá sair correndo daqui. - falou com rapidez. - Apenas deite-se aqui como estava.

Voltei a deitar contra seu peito, pousando minha mão em sua barriga, ainda observando o travesseiro.

–Ah. - murmurei. – Aaah! Entendi. Você ficou... Excitado? Por causa de um beijo?

Killian me olhou horrorizado.

–Pelos céus, o que eu fiz com você?- instigou.

–O que quer dizer?

–Não irá sair correndo? Achando um absurdo e indecoroso?

Balancei a cabeça em uma negativa, voltando a me deitar.

–Desde que fique em suas calças, não me assusta o fato de estar... Excitado, apesar de ser um bocado embaraçoso.

Jones começou a gargalhar, seu corpo inteiro vibrando e me sacudindo.

–Swan, Swan... Quem diria que a palavra, “excitado” estaria saindo assim de sua boca?

Lancei-lhe um olhar debochado.

–Senhor, além de tê-lo como companhia a maior parte do tempo, convivo com outros homens. Se não fossem seus livros, seriam as histórias eróticas que eles compartilham e por vezes escuto. Sim, no começo me sentia e ainda me sinto incomodada com o assunto e a palavra, mas como disse desde que fique em suas calças, por mim tudo bem.

–Ainda assim está corando...

–Vamos nos prolongar neste assunto, Jones? O fato de eu dizer, não significa que não me sinto envergonhada. Estamos falando do senhor, estar desejando...

–Fazer amor com você. - completou suavemente. - Por isso fiquei nesse estado, porque enquanto lhe beijava e sentia o peso de seu corpo, eu imaginei como seria fazer amor com você.

Fiquei imóvel, meu coração batendo de uma forma estranha, para então me sentar, indo para fora da cama.

–Acredito que sexo é a palavra. - retruquei, tentando afastar a pintura vívida que minha mente havia criado de nós dois. - Escute Killian, isso não irá acontecer. Não posso me entregar a você, não além dos beijos.

–Por que não, Swan? Não pode negar que há sentimentos além do desejo entre nós dois.

–Porque eu estou noiva. Descobri quando chegamos aqui que foi oficializado para a sociedade. E não estou negando nada, estou me guardando. É diferente.

Jones se sentou na cama, seu rosto se transformando em uma carranca.

–Você não irá se casar. - decretou com seriedade.

–Como pode dizer isso? Que poder acha que tem sobre minha vida? Killian uma hora eu voltarei para casa e o casamento irá acontecer.

–Você não precisa voltar. Pode ficar comigo, morando no navio. Eu lhe cedo minha cama se não quiser dividi-la. Não precisa se submeter a um casamento forçado.

–Jones essa é sua vida, não a minha. Você sabe que eu não gosto do mar. Já viu como fico angustiada quando passamos muito tempo sem ancorar. E eu sabia que esse casamento iria acontecer em algum momento.

–Então simplesmente irá aceitar esse destino? - perguntou incrédulo. - Ficará presa e infeliz, cuidando de um marido, uma casa e seus filhos?

–Eu não serei infeliz, Killian. - respondi baixinho. - Terei minha família. Não é como se eu tivesse escolhas.

–Sempre tem uma escolha, Swan! - Jones gritou, jogando a garrafa de vinho na parede. - Sempre.

–Você não entende. - murmurei a voz presa em algum lugar dentro de mim, assustada com sua explosão.

–Você está certa, eu não entendo. - concordou. - Não entendo por que você irá se casar com um homem que não se sente nem ao menos atraída. Você está feliz, aqui, agora, comigo não está?

–Killian...

Não está?- insistiu erguendo a voz.

Fiz que sim, olhando para o chão.

–Então fique. Você está feliz comigo, fique.

–Jones...

Fique Swan.

–Eu não posso! - sussurrei com aflição.

Killian andou até a porta e a abriu com raiva.

–Saía! - ordenou com o tom de voz duro.

Olhei para ele perplexa.

Abri a boca para dizer algo.

–Saía. - repetiu apontando para fora.

Andei sentindo-me atordoada. Quando estava do lado de fora, virei- me para olhá-lo.

–Não entendo por que está tão irritado. Quando nos conhecemos o senhor já sabia que isso iria acontecer em algum momento.

Jones me deu um sorriso enviesado e bateu a porta na minha cara.

[...]

Na manhã seguinte, Jones não desceu para o café da manhã e não estava a mesa para hora do almoço.

Não questionei sobre sua ausência, apenas me resignei em esperar a raiva sem sentido que havia lhe dominado passar.

Tudo o que eu menos queria era brigar com Killian quando estávamos tão bem.

Belle passou o dia me olhando ansiosa e quando saiu para dar uma volta pela propriedade com Landon, convidou-me para ir junto.

Aceitei sem pensar duas vezes, puxando Bae conosco, que gostava mais de passar as horas na cozinha com a criada do que dando o ar de sua graça.

–Vamos partir amanhã de manhã para Bristol. - Landon informou. - Talvez com sorte o navio esteja lá.

–Ou tenha ficado no fundo do mar. - Bae observou. - Ele foi bem destruído.

–Espero que não. - comentei. - Aquela é a casa de Jones.

–Falando nele... Onde se enfiou?- Bae perguntou.

Dei de ombros.

–Ele saiu ontem à noite para a vila. - Landon respondeu. - Parecia bastante irritado.

Apertei minha mão no braço de Bae, me encolhendo.

–Hoje à noite teremos uma pequena comemoração. - Belle avisou. Olhei para a minha amiga surpresa, mas Landon e Bae pareciam já, estarem sabendo da novidade.

–Comemoração?

–Eu falei que ela tinha esquecido. - Bae observou.

–Esqueci o que?

–Que hoje é vinte e quatro de outubro. - Belle respondeu simplesmente.

Parei por uns segundos, tentando ligar a data a algo importante.

–Não pode ser! Hoje é meu aniversário! - exclamei.

–Dezenove anos, não moça? - Landon me deu uma cotovelada de leve.

Balancei a cabeça.

–O que estão aprontando?

–Algo pequeno, mas não podia passar em branco.

–Não precisava, de verdade. O clima não está para comemorações.

–Errado. Exatamente quando as coisas estão para baixo que deve achar motivos alegres para comemorar. E outra Landon e eu ficamos aqui todo esse tempo apenas a pedido de Belle, que queria que estivéssemos para seu aniversário.

Arqueie a sobrancelha para ele.

–O motivo não foi nenhuma certa criada que está interessado?

Bae sorriu.

–Também.

–E sem falar que você não quis fazer nada em seu aniversário de dezoito. – Belle me lembrou. – Eu sei que ainda era a época do luto, mas não pode deixar outro ano sem comemorar sua existência aqui.

Quando chegamos da caminhada, Killian ainda não havia retornado para casa.

Subi para me trocar, ignorando as perguntas de Belle sobre Jones, apenas querendo que a noite anterior não tivesse existido. Que eu tivesse mantido minha boca fechada quanto à história do noivado.

Na hora do jantar a sala estava iluminada e todos os criados estavam ali, com suas melhores roupas. A mesa estava posta com minhas comidas e doces preferidos. Um bolo grande o suficiente para alimentar um batalhão esperava seu momento de atacado ao fim da festa.

–Feliz aniversário. - Belle me abraçou. - Espero que não se importe de eu ter convidado os criados. Precisávamos de gente.

–De forma alguma. Foi uma ótima ideia.

–Este é meu presente para você. Como agora vive no mar, imagino que passe frio. - ela me entregou uma grande caixa. - Irá lhe aquecer.

–Abrirei depois se não se importar.

–Emma.

–Landon!- retribui seu abraço apertado.

–Não é muito, mas acho que irá gostar. - ele me entregou um pacotinho leve. - Poderá ter a terra sempre com você quando achar que irá enlouquecer no navio.

–Não precisava. Obrigada. - deixei a embalagem em cima da caixa de Belle.

–Este é o meu. Espero que goste. - Bae estendeu algo retangular e leve.

–Sei que vou gostar, é um presente seu. - respondi me virando para os criados que pareciam deslocados. - O que estamos esperando? Essa comida toda não irá sumir sozinha. Vamos, vamos!

Assim que Belle, Landon Bae e eu nos servimos, os criados fizeram o mesmo, pegando pouca comida, parecendo temerosos. Demorou um tempo para que se sentissem a vontade para falar algo mais alto que um sussurro ou repetir algum prato.

Felizmente Bae e Landon souberam como deixá-los bem, porque Belle por mais que se esforçasse, sempre seria a patroa e quanto a mim, estava ali ao mesmo, tempo que não estava.

"É meu aniversário. Mais um ano, eu deveria estar feliz, principalmente porque achava que não estaria viva"

Decidi que não me preocuparia com Jones. Era minha noite, minha pequena festa, e ele era um homem adulto que sabia se cuidar. Sempre soubera.

Algum tempo depois violas, violinos e acordeões preencheram a sala. Instrumento dos criados, que tocaram músicas de sua gente. Músicas animadas e que alegraram meu ser.

Por alguns momentos eu gostava de parar e observar todos se divertindo. Conversando uns com os outros sem a hesitação inicial. Algumas criadas vieram me dar um abraço de parabéns, palavras doces vindas daquelas pessoas simples, que sem saberem me deram os melhores presentes. Não existia nada melhor que receber palavras sinceras como presente.

Cantamos. Belle me sujou de bolo. Eu revidei e em alguns minutos estávamos as duas travando uma guerra, até que me virei sujando Baelfire que por sua vez jogou o glacê em Landon que ria dele.

Eu me sentia uma criança de novo, jogando os restos dos bolos que sobraram no prato, rindo e sentindo o açúcar grudando em minha pele.

Se bem, que nem quando criança eu havia me comportado dessa forma. Teria levado uma bronca se fizesse guerra de bolo.

Quando dei por mim só estávamos os quatro na sala. Em algum momento os criados haviam se retirado da guerra que iniciamos.

–O que está acontecendo aqui? - a voz de Jones veio da porta. Parei de bater em Bae, por ele ter sujado meu cabelo com glacê, estudando seu estado.

O cabelo desarrumado, a camisa desabotoada mais que o necessário e desalinhada, a braguilha da calça aberta.

Sua voz estava lânguida, indicando que estava embriagado, mesmo que seu rosto dissesse o contrário.

Percebi uma marca arroxeada em seu pescoço e um arranhado em seu ombro, que a camisa deixava aparecer.

O resto de batom de alguma mulher sujava a parte de baixo de sua boca.

–Nada importante senhor. - atalhei, colocando de volta à mesa o pedaço de bolo que estava pronto para minha vingança contra Bae.

–Isso certamente é alguma coisa. - rebateu.

Landon, Belle e Bae nos olhavam sem pronunciar uma palavra.

Por algum motivo eu senti raiva de Killian. Tanto ódio daquele homem que eu queria chorar.

–Pelo visto Emma não foi à única que esqueceu. - Bae falou como quem não quer nada.

Jones lhe lançou um olhar confuso.

–Eu irei subir. Obrigada pela festa, Belle, eu amei cada minuto. - agradeci pegando meus presentes e sai pela porta dos criados, me recusando a passar perto de Killian.

–O que eu esqueci? - ouvi a voz dele indagando.

– O aniversário de Emma, senhor. - ouvi a voz de Belle, com um leve tom de repreensão.

–Ah não... Maldição! Por favor, digam-me que não era hoje.

–Sim, era. Nós estávamos comemorando. Mas não se preocupe, ela se divertiu. - Bae garantiu, não escondendo tão bem o desagrado.

–Gostaria de um banho, senhorita?

Olhei para a criada parada em minha frente.

–Por favor.

Subi para o meu quarto rapidamente e enquanto esperava que a banheira fosse cheia, abri meus presentes.

Belle me dera um casaco forrado. Chique e caro demais para um ambiente como o navio, mas que certamente seria bem vindo. Abri o pacotinho de Landon, encontrando um colar simples com um vidrinho como pingente contendo terra dentro. O apertei contra meu peito, emocionada com o singelo presente.

Desembrulhei o de Bae encontrando um retrato de uma paisagem e um bilhete.

"Sempre que se sentir sufocada no navio, olhe para cá, irá lhe acalmar."

Guardei meus tesouros com cuidado e fui para banheira. Tive ajuda para me banhar e tirar o glacê do cabelo, rindo da careta que as criadas faziam. Quando estava, limpa elas me deixaram e tão logo ouvi uma batida na porta.

–Emma? - a voz abafada e hesitante de Killian se fez ouvir. Permaneci em silêncio, de pé no meio do quarto. – Swan, sei que ainda não está dormindo. Gostaria de conversar com você.

"Ah, agora você quer conversar?"

Vesti minha camisola e deitei-me na cama, olhando para a paisagem que Bae me dera.

–Fada. - ele tentou novamente, dessa vez girando a maçaneta. Trancada. – Emma, por favor. - implorou. – Deixe-me vê-la.

Fechei os olhos sentindo as lágrimas quentes descendo.

Eu nem sabia por que estava chorando. Se pelo fato dele, ter sumido o dia inteiro, por ter estado com outra mulher que lhe dava aquilo que queria ou por não ter estado na comemoração.

–Tudo bem. Eu entendo que mereço sua porta fechada porque a expulsei de meu quarto ontem e não estive aqui hoje. Mas eu preciso vê-la antes de ir me deitar para conseguir dormir. Por favor. – tive a impressão de que o ouvi fungando. –Emma, amor, abra a porta. Eu preciso conversar com você. Quero lhe dar um abraço.

Bufei, indo para o quarto de Belle no exato momento em que ela entrava.

–Killian está em sua porta. - informou.

–Eu sei. Por isso vim para cá, ele não está me deixando dormir.

Belle suspirou fundo, concordando e começou a se despir, limpando com um pano úmido o bolo de seu corpo.

–O que aconteceu?

–Contei para ele do noivado e ele surtou comigo ontem.

–E agora você está com ciúmes dele por ter ido atrás de algumas prostitutas. – deduziu. – Sendo que provavelmente ele foi atrás delas por estar com ciúmes de você.

–Belle!

–Estou lhe apresentando os fatos. Vocês dois estão envolvidos emocionalmente. Estão com ciúmes porque querem ser um do outro e não podem. Não é difícil de reparar Emma. Você o ama.

–Sim. Eu o amo, mas não importa.

–Tome, cuidado minha amiga. Corte isso pela raiz antes que se arrependa. Volte para sua casa. – aconselhou. – Escreva para Graham vir buscá-la.

– E então o que? Irei dizer "Olá Graham, eu fugi de casa para ir, em busca de minha mãe que está viva enfurnada em algum canto da Terra. Entrei em um navio pirata, me envolvi com o capitão, por quem estou perdidamente apaixonada por sinal, fomos para o submundo e então eu descobri que sou uma donzela -cisne, descendente das valquírias, que por sua vez tem conexão com Freyja a deusa do amor. E ah, tem a parte que uma donzela cisne nasce do casamento de mortais guerreiros com a realeza divina. Logo, eu creio que não devo ser filha dos meus pais, porque nenhum deles é da realeza ou guerreiro".

–Não. Você irá voltar e continuar sendo Emma Swan. Irá entregar aquela capa branca para Graham e pedirá para ele esconder. Terá um casamento feliz e seus filhos. A vida tranquila.

–Não é assim que funciona Belle. Você viu que eu sou destinada a um guerreio. Alguém que eu devo proteger e salvar.

–Graham é oficial, logo é o seu guerreiro. Aquele que você irá cuidar e ter filhos, como diz aquela história. Que você será a fiandeira do destino.

–Mas eu não o amo!

–Você não sabe Emma. Por Deus, minha amiga, esse relacionamento com esse homem irá destruí-la que quando acabar a única a juntar os pedaços será você! Volte para casa e esqueça essa loucura. Você já descobriu o que é agora precisa ir cuidar de seu guerreiro.

–Eu gostaria de dormir se possível.

Belle comprimiu os lábios e assentiu, vindo se deitar.

–Tudo bem. Perdoe-me, eu só quero o melhor para você.

–Eu sei, mas esse não é o fim. Preciso encontrar todas as peças do quebra cabeça. Tenha uma boa noite.

Dei as costas para Belle, socando o travesseiro e tentando dormir.

Na manhã seguinte acordei sozinha na cama e pulei rapidamente, lembrando-me que Landon e Bae iriam embora cedo.

Alcancei meu roupão e sai para o corredor, que começava a ser iluminado pelo dia que nascia.

–Emma!

Fechei os olhos e apertei o passo, querendo chegar ao andar de baixo logo.

–Fada, por favor. - Killian segurou em meu braço.

–Bom dia, Jones. - soltei- me dele, voltando a andar.

–Emma, eu imagino que está irritada e com toda razão.

–Não estou irritada, Jones. Estou indo despedir-me de Landon e Bae.

–Perdoe-me por não ter estado aqui ontem. Belle havia me avisado já tem alguns dias. Eu esqueci.

–Não importa Jones. Você claramente tinha coisas mais interessantes para fazer.

–Irá responder tudo com negativa?

–Não... - fiquei em silêncio, descendo a escada.

–Escute, eu não lhe comprei nada de presente, mas talvez possamos ir até a taverna para comemorar seu aniversário. Havíamos combinado de ir ontem, lembra?- convidou a voz ansiosa.

Olhei para seu rosto.

–Não estou interessada. Não gosto de cerveja.

–Eu lhe pago outra bebida. Pode pedir o que quiser.

–Meu aniversário foi ontem, senhor.

–Emma. - Killian se postou a minha frente, parecendo agoniado. - Perdoe-me. Eu sinto muito por não ter estado com você ontem. Por ter esquecido, mas não me castigue dessa forma.

–Não estou lhe castigando senhor. Estou lhe dizendo que não quero sair. E por favor, gostaria de minhas entradas para a ópera.

Jones olhou para cima, respirando fundo algumas vezes.

–Deixarei em seu quarto mais tarde. - respondeu.

–Obrigada. - desviei dele, imaginando que estariam tomando café da manhã.

–Talvez, queira fazer outra coisa comigo para que eu comemore com você seu aniversário. Pense em alguma coisa, por favor. Não, deixe-me de fora. Comprarei um presente, um pequeno bolo. Iremos nos divertir. Eu quero comemorar esse dia de alguma forma já que eu não estive aqui ontem. É importante para mim que eu comemore seu aniversário com você. Eu não deveria ter esquecido.

Revirei os olhos, virando-me para ele.

–Killian. - comecei. - Não há necessidades. Está tudo bem. Pare de tentar se desculpar.

–Não está tudo bem. Eu queria ter ficado com você ontem, no seu dia, mas fui um asno.

–Ainda bem que sabe disso, Jones. Meu dia foi ontem e você escolheu sua forma de comemorar. - minha voz tremeu e eu odiei isso.

–Não falei que eram eles discutindo? - ouvi a voz de Bae a minhas costas. - Desculpe, mas já tomamos o café.

–Eu desci para ver vocês e não comer. Tem certeza que já tem que ir?

–Melhor estarmos em Bristol o quanto antes. - Landon afirmou. - Logos vocês dois se juntarão a nós. Nem terá tempo de sentir saudades, Emma.

Abracei-lhe.

–Tomem cuidado. E eu adorei o presente.

–Fico feliz em ouvir isso.

Bae me abraçou também.

–Fique esperta com Killian, Emma. Eu sei o que está acontecendo entre vocês. Cuide da minha garota no tempo que ficar aqui. - pediu.

–Como ela se chama?

–Tamara.

–Vou ficar de olho nela. - prometi.

–Eu não queria que fosse embora. – Belle choramingou, abraçando Landon. – Gosto de ouvir suas histórias.

–Talvez nos encontremos de novo em algum momento.

Ela lhe deu um sorriso desanimado.

–Espero que sim. Volte sempre que quiserem. Principalmente você, Baelfire. Sei que gostou muito de minha “propriedade”.

–Claro. Voltarei o mais rápido possível. – garantiu.

Seguimos para a porta da frente, ainda nos despedindo, como se prolongar as palavras de adeus, fizesse alguma diferença.

–Se o Jolly Roger estiver lá, não se esqueçam de arrumar um cozinheiro. Assim como um médico. Melhor termos um a bordo. Tentem descobrir quem teve a brilhante ideia de nos abandonar e quem apoiou. Estão fora da tripulação sem direito a receberem nada. –Killian instruiu. – Mantenha-me informado.

–Pode deixar Killian.

–Vocês têm certeza que não querem ir a cavalo? – Belle instigou pela milésima vez. – Certamente chegarão mais rápido.

–Pegamos carona pelo caminho até lá, não se preocupe com a gente Belle. – Landon a tranquilizou.

–Bem, devemos ir. – Bae deu um, tapa no ombro de Landon. – Nos vemos em breve.

E ficamos nos três parados na entrada da casa, observando os dois homens sumirem de vista.

–Vai ser difícil me acostumar sem eles. – Belle murmurou. – Voltarei para a cama, ainda está muito cedo. – bocejou voltando para dentro.

Killian e eu ficamos um, tempo mais do lado de fora, os olhos focados onde Landon e Bae haviam desaparecido.

–Ficará brava se eu beijá-la agora?

–Certamente. – respondi dando meia volta para dentro de casa.

–Quando poderei...

–Talvez nunca mais, o que acha? De qualquer forma, eu estou prometida a outro e não irei ficar com você. Talvez o melhor seja cortar o mal pela raiz.

–Às vezes eu tenho vontade de lhe dar, uns chacoalhões, sabia?

Olhei para ele boquiaberta.

–Como ousa...?

–Eu estou aqui, lhe pedindo desculpas, implorando para que faça alguma coisa comigo para que eu possa me redimir e você fica virando as costas.

–Eu não quero Jones. Não quero que se redima. E vá em frente se tem vontade de me dar uns chacoalhões. – abri os braços. - Mas eu não sou igual as suas mulheres. Quer alguém para beijar, vá procurá-las. Não irei permitir que coloque essa boca, que eu não faço à mínima ideia de onde esteve antes, na minha. Passar bem.

Subi as escadas de dois em dois degraus, pegando o corredor para o meu quarto, quando Killian me puxou pelo cotovelo, fazendo com que eu desequilibrasse.

–Você vem comigo. Agora! - e saiu me arrastando em direção ao seu quarto.

–Eu não quero. Solte-me Jones. – exigi, contorcendo-me para tentar escapar.

–Parece que retrocedemos a época em que você era uma mimada. Eu não obedeço, ordens, esqueceu? - Jones me empurrou para dentro do quarto, trancando a porta.

–O que diabos, pensa que está fazendo? Deixe-me sair.

–Observe com atenção, Swan.

Cruzei os braços, lhe lançando meu melhor olhar esnobe, vendo-o andar até a bacia de água e começar a lavar a boca com o sabão de pedra.

–Pare... Jones pare com isso. Ficou louco?- indaguei ao ver a espuma branca saindo de sua boca e então ele se retraiu, vomitando. - Está vendo? Às vezes você é pior que criança, Killian.

Fui para o seu lado, enchendo um copo de água para ele enxaguar a boca.

–Agora está limpa. - ele murmurou.

–Jones... Você apenas me machuca agindo dessa forma.

–Sabe o que machuca? - Killian apontou o dedo para o meu rosto. - Eu fazer o que fiz ontem e chegar aqui no quarto e encontrar isso. - ele pegou o gancho que eu havia encomendado para ele.

–Eu havia prometido que iria lhe arranjar outro.

–Você sabe como eu me senti péssimo, quando entrei aqui e encontrei os embrulhos de presente? Um gancho de boa qualidade e a prótese de uma mão com um bilhete. – ele pegou o papel. Não tinha necessidades de ler, eu sabia as palavras que estavam ali. – “Eu prefiro o gancho, mas escolha o que lhe fizer sentir melhor. Com amor, Emma”. Sabe como isso me machucou porque eu não estava aqui para comemorar seu aniversário e nem lhe comprei um presente, mas você me deu isso, quando quem merecia ganhar os presentes era você? Você sabe quanto eu me odiei, Swan por não ter estado aqui, porque escolhi sentir raiva de você por uma coisa que não é culpa sua e ainda assim você está sempre tentando fazer o melhor para eu me sentir bem? Você tem noção do quanto eu queria ter passado o dia de ontem a mimando, e lhe agradecendo por tudo que tem feito por mim, mas ao invés disso eu decidi bancar o ingrato e lhe deixei? Isso machuca Swan. - Killian me fitava seus olhos brilhantes por conta das lágrimas contidas.

Pisquei, secando as minhas antes que elas chegassem a cair.

–Perdoe-me, não foi minha intenção fazê-lo se sentir dessa forma. - pedi com sinceridade.

Jones riu descrente.

–E ainda você pede perdão, mesmo não tendo feito nada... Eu queria invadir seu quarto ontem e beijá-la, abraçá-la com todas as minhas forças para que me perdoasse quando eu desembrulhei isto. Por favor, perdoe-me por não ter estado aqui ontem, pela forma como reagi, por sentir raiva de você quando sempre está cuidando de mim.

–Apenas esqueça Killian. Já passou. Se acalme.

–Você me perdoa?

Aquiesci.

–Está perdoado, querido.

Jones soltou um suspiro aliviado.

–Irá pensar em alguma coisa para fazermos ainda hoje?

–Vou sim. - garanti.

–Posso beijá-la agora?

Fiz que não com a cabeça, mesmo que por dentro, eu implorava "por favor."

–Acho que mereço a recusa. Vou deixá-la sair. Obrigado pelos...

–Não me agradeça. Até mais.

[...]

–Estou indo até a vila... Quer vir junto? - indaguei para Belle enquanto calçava as botas de montaria.

Ela balançou a cabeça.

–Vá apenas com Killian. É capaz dele, me matar se eu for junto.

–Vai nada. Eu estou lhe convidando para ir também.

–Prefiro ficar em casa. Com um bom livro.

Dei de ombros pegando uma capa azul de Belle emprestada.

–Até mais tarde.

Caminhei até o quarto de Killian e bati na porta, entrando.

–Pronto?

Jones se levantou da cama.

–Aonde vamos? Eu achei que ia me avisar antes. Preciso me arrumar.

–Até a vila. Camisa e botas de montaria. Estarei esperando na entrada.

Assim que cheguei, em frente da casa, encontrei o tratador dos cavalos com os animais já selados.

–Pode deixá-los comigo. Obrigada. - peguei as rédeas da mão do homem, que fez uma reverência, saindo.

–Você sabe montar? - Jones questionou descendo as escadas com rapidez.

–Feche a calça e claro que sei montar.

Killian olhou para baixo e abotoou a calça.

–Eu não estou fazendo um bom trabalho em lhe impressionar, não é mesmo?

Fiz que não com a cabeça, pegando impulso para montar na égua e afagando seu dorso.

–Você nunca fez Jones. E nunca pedi que me impressionasse.

Esperei que Jones montasse e quando ele o fez, exibiu o gancho que eu lhe dei.

–O que acha ein? – sorriu ansioso.

–Me acompanhe. – puxei a rédea fazendo com que minha égua andasse.

–Onde estamos indo?

–Correr. – respondi sem virar para olhá-lo.

–Co... Correr? Ficou louca, Swan? – guinchou.

Lancei-lhe um olhar de deboche.

–Não. Apenas estou esperando nos afastar da casa. Belle fica consternada quando corro. Por acaso está com medo de perder para mim, senhor?

–Killian, Emma. E não, estou preocupado com sua segurança. Eu facilmente consigo ganhar de você.

Puxei a rédea, fazendo o animal virar para que eu pudesse encará-lo.

–Isso está me soando como um desafio, senhor.

–Você está escutando errado, Swan... Não arqueie as sobrancelhas desse modo cínico para mim.

–Você não é meu pai, pare de me dar ordens. – fiz minha égua recomeçar a andar, rodeando o cavalo de Jones. – Iremos apostar uma corrida até a vila, aquele que ganhar escolhe o lugar para que comemoremos o meu aniversário, que foi ontem. Assim como irá pagar a conta.

–Qualquer lugar? – instigou uma sobrancelha arqueada.

Parei ao seu lado e me inclinei, até quase estar perto dele.

–Qualquer lugar. – afirmei de forma lenta e manhosa, olhando para a sua boca. Percebi Killian fazendo o mesmo e se inclinando em minha direção, os lábios se entreabrindo. – Então o que me diz?- indaguei voltando a me endireitar.

–Que eu criei um monstro. – o ouvi murmurando. – Você está tão crente que irá ganhar?

–De jeito nenhum, senhor. É apenas para diversão.

–Muito bem. – concordou. – Mas quero adicionar algo a mais se caso eu ganhar.

–O que você quer?

Jones abriu um sorriso misterioso, que fez os pelos dos meus braços se arrepiarem e meu estomago afundar.

–Você.

–Muito alto, não creio que esse prêmio esteja disponível para o senhor. – respondi com a maior calma, mesmo que meu pescoço tenha começado a esquentar. – Pense em outra coisa.

–Que vá à ópera comigo.

Fingi considerar por uns instantes.

–Esse é mais razoável. Tudo bem, se ganhar pode escolher qualquer lugar que quiser para comemorarmos, pagará a conta e ainda será meu acompanhante para a ópera da próxima semana. Mas, se eu ganhar irei escolher, o lugar, pagarei a conta e quero minhas entradas para a ópera de volta, como eu havia pedido mais cedo.

–Feito.

–Muito bem, pare aqui do meu lado... Sei que o senhor é um pirata e provavelmente irá trapacear...

–Irá me pedir para que não trapaceie?

–Não. Ia lhe lembrar que agora eu também sei trapacear. – incitei minha égua a começar a correr, até estar galopando a toda velocidade.

Inclinei-me para frente, ficando meio de pé sobre o animal, prestando atenção aos sons dos cascos batendo ao chão, para tentar ter uma ideia de onde estaria Killian, apesar de saber que era boa, não podia negar o fato de que seu cavalo seria mais rápido de que minha égua.

Atrevi uma olhadela para trás, o encontrando quase perto de mim, e pela expressão em seu rosto ele parecia rir. Voltei a me concentrar no caminho a minha frente, o vento desmanchando meu penteado e fazendo com que meus olhos ficassem embaçados.

–Vai ter que fazer melhor do que isso, Swan! – Jones gritou ao passar por mim, gargalhando.

–Vamos lá, garota. Não podemos deixar que eles ganhem. Eu sei que você consegue ir mais rápido que isso. – sussurrei para a égua, prendendo meus pés de forma que não escorregassem nos estribos, ficando de pé e guiando o animal para outro caminho.

Killian podia ser mais rápido, mas eu conhecia um atalho.

O terreno era irregular e muito arborizado, mas me faria chegar até a vila sem problemas se saltássemos e nos desviássemos dos galhos. Toda vez que o animal tocava o chão minhas pernas doíam com o impacto, mas eu continuava sempre a incentivando mais.

Acertei minha cabeça em um galho que fez minha visão escurecer por um momento, mas tudo o que eu fiz foi segurar com mais força a rédea e continuar em frente.

Provavelmente eu conseguiria um galo com aquela batida.

Fiz a égua voltar para estrada, dando uns segundos de descanso para ela, até que vi Jones apontando ao fundo, levantando poeira, e voltei a correr, rindo sozinha da situação toda, rindo por sentir o animal se movimentando e me levando tão rápido, fazendo meu coração bater rápido demais toda vez que seus cascos tocavam o chão ou saiam dele.

Finalmente a vila se aproximava. Percebi os cascos de outro cavalo perto e mesmo com dó da minha pobre égua a fiz aumentar a velocidade, até entrarmos na área comercial.

–Bom trabalho menina. – lhe fiz um carinho, levando-a até o tanque para que bebesse água. – Aqui está seu prêmio. – deixei uma maçã ao seu lado, prendendo-a e dando uma moeda para o garoto que estava cuidando dos cavalos.

–Como? – Killian indagou assim que desmontou do cavalo.

Dei de ombros, um sorriso presunçoso no rosto.

–Conheço um atalho. Não recomendo pegá-lo quando se está cavalgando, mas a situação pediu.

Jones cerrou os olhos, erguendo meu queixo com o gancho, escrutinando meu rosto.

–Estou vendo. Você se machucou.

–Estou bem. – bati em seu braço para que me libertasse, soltando os cabelos que deveriam estar desgrenhados.

–Selvagem. – provocou.

–Certamente o selvagem aqui não sou eu. – rebati tirando um lenço da bolsinha que carregava comigo, amarrando-o na cabeça para esconder os cabelos. – Siga-me.

Killian apertou o passo até estar ao meu lado.

–Você ainda está hostil comigo. – reclamou me oferecendo seu braço. Olhei de soslaio para ele, aceitando-o.

Suspirei fundo, sem dizer nada.

–Exatamente com o que está incomodada?

–Com nada, Jones. Estou apenas pensativa. – soltei rapidamente. – Ontem... Eu esqueci que era meu aniversário. Se eu não lembrei, você não tinha a obrigação de lembrar, sabe?

–Como você esqueceu seu próprio aniversário, Swan?

–Não sei. Estão acontecendo coisas demais nos últimos tempos. Tornou-se algo insignificante, principalmente quando eu nem consigo me lembrar que mês estamos se não me avisam. Belle informou-me durante nossa caminhada da pequena festa que iria fazer.

–Você não deveria considerar algo insignificante, Emma. Eu não considero.

Sorri para ele.

–Sabe que sendo assim, está quase completo um ano em que estou em seu navio. Quando eu entrei fazia poucos meses que tinha acabado de completar dezoito anos. Não tive festa, estava em período de luto, por conta de minha mãe.

–Um ano já? –seu semblante ficou triste. – Passou muito rápido.

–Sim, sem dúvidas... Aqui, eu adoro os doces dessa confeitaria. – abri a porta, sendo atingida pelo ar quente e doce de dentro. – Escolha um lugar para sentar, estarei lá em breve. – empurrei-o de leve, indo estudar as vitrines.

–Olá criança. – a mulher atrás do balcão me cumprimentou com um sorriso adorável no rosto. – O que vai querer?

–Duas éclairs, por favor. E chá de camomila com limão, dois também. – pedi.

–Levarei em alguns minutos.

–Merci.

Caminhei até onde Jones havia se sentado, afastado, perto de uma janela, apesar do lugar estar vazio.

–Nossos pedidos já estarão aqui. – avisei.

–Gostei desse lugar, é acolhedor.

Olhei ao redor, para as paredes de pedra cinza, com algumas flores para dar vida ao lugar, as mesas de madeira clara.

–Sim, é mesmo.

–Não mais que você é claro. – continuou. – Quer saber por que fiquei tão irritado?

–Na verdade, não. Mas se quiser contar não irei impedi-lo. – indiquei que prosseguisse, observando o lado de fora.

–Emma. – ele reivindicou minha atenção.

–Sim?

–Eu quero fazer amor com você. Quero mesmo, preciso. – ele sussurrou com urgência. – Por isso fiquei irritado, não quero que me deixe. Quando eu a beijo, tudo o que eu consigo pensar é... Fazê-la minha para que fique comigo. Eu não quero mais ficar sozinho.

Encarei-o com advertência, minha postura se tornando tensa.

–Jones, você não pode dizer essas coisas.

–Pare de dizer o que posso ou não falar, Emma. Isso é o que eu sinto. Você quer saber o que eu penso quando a beijo?

–Não. De jeito nenhum. Está aí uma coisa que não faço questão de saber, Jones. Eu entendo que deva estar confuso, não espero que passe tanto tempo em minha companhia sem imaginar... Contatos íntimos entre nós dois e estarei mentindo se... – fechei os olhos mal acreditando que iria colocar aquilo para fora. – Dizer que nunca cheguei a... Você sabe, ainda mais depois dos livros que indicou que eu lesse, mas eu não sou a pessoa certa para ficar. É isso que quero que entenda. Eu estou lhe ajudando para que possa seguir em frente, sem depender de alguém.

–Aqui está. – a senhora colocou na mesa os pedidos. – Vocês formam um bonito casal.

–Obrigado. – Killian respondeu, dispensando-a. – Eu nunca dependi de ninguém, Swan, mas também sei que não quero mais ficar sozinho e eu nunca tive com nenhuma outra pessoa, o que eu tenho com você. Nem mesmo com Milah.

Fechei os olhos, aflita.

–Conversamos sobre isso depois, pode ser? Experimente. – peguei a éclair e a levei até a boca de Killian. – O que acha? Éclair significa relâmpago em francês, por isso ela também é chamada de bomba, porque explode quando você dá a primeira mordida.

Observei Jones morder o doce, os olhos fixos nos meus. Um pouco de creme caiu em minha mão e ele a segurou com mais força, passando a língua para limpar, de forma lenta, seus olhos brilhando de divertimento, ao perceber o meu estado, rosto avermelhado e quente de constrangimento... E outras coisas. Ele devia conseguir sentir como minha pulsação havia aumentado.

–Isso é bom. Muito bom. – Killian tirou o doce da minha mão.

Concordei com ele, sentindo-me mole em meu assento e com dificuldade em levar ar para os meus pulmões.

Comemos em silêncio e então ficamos um tempo olhando para fora. Eu tinha medo que Jones decidisse abrir a boca. Já era difícil o suficiente para mim quando ele não dizia aquelas coisas, eu não podia me dar ao luxo de cair em suas palavras.

Eu sabia até onde poderia ir e cruzar a linha seria uma estupidez sem tamanho.

Deixei as moedas em cima da mesa, despedindo-me com um aceno da mulher. Caminhamos até onde havíamos deixado nossas montarias.

–Você mentiu para mim. – acusei enquanto montava. Ele me olhou sem entender. – Disse que iríamos nos divertir.

–Sim, eu disse... – Killian pareceu pensar um pouco. – Você já pagou sua parte da aposta. Já fomos a um lugar que escolheu. Quero levá-la agora onde eu tinha em mente.

O estudei desconfiada.

–E onde seria esse lugar?

–Não muito longe da casa de Belle... Encontrei-o quando saia com Landon, eu tinha planejado levá-la até lá ontem. Como eu disse, French havia me avisado já tem alguns dias sobre seu aniversário e eu fiquei pensando em algo que gostaria, que apenas nós dois pudéssemos fazer. Venha comigo, garanto que iremos nos divertir.

Fiquei olhando para o rosto de Jones, tentando decidir, preocupada e curiosa com o que ele havia planejado. Eu sabia, assim como acreditava que Killian sabia, que uma vez que conseguisse fazer-me perder a sanidade, haveria poucas coisas que eu não lhe daria. Belle percebeu como eu me sinto, Landon com toda certeza sabia, era fácil de perceber apenas pela forma que ele me olhava... Que garantias eu tinha que Jones não soubesse? E se soubesse claro que usaria isso a seu favor, não era tonta, apesar dele, ter mudado muito, um pouco daquele homem do começo permanecia ali.

E ter essa consciência me assustava.

–Tudo bem. Mas não tente nada ou nunca mais olharei para sua face. Você voltará sozinho para o Jolly Roger. – ameacei.

Jones sorriu, indicando que eu o seguisse.

–Não tentarei nada. Palavra de pirata.


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Notas finais do capítulo

Foi isso gente. Desejo a todos os meus leitores lindos e cheirosos (eu sei que são) um feliz natal, aproveitem a comida, aquele tio sem graça que faz a piada do pavê(todo mundo tem esse tio), paciência com as perguntas "e os namoradinhos(as)" "Vai fazer o que no futuro? Isso dá dinheiro". Apesar disso, tirem o melhor dessa época, eu sei que vocês conseguem.

Muito obrigada novamente a Rakett e Beatle pelas recomendações, recebê-las foi algo supercalifragilisticexpialidocious (não encontrei palavra melhor para me expressar adequadamente, desculpem-me). Cada palavra que vocês usaram para recomendar estão guardadinhas comigo e com muito carinho.

Muito obrigada por lerem e até mais!

Beijos.



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