Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Olá e antes de qualquer coisa peço desculpas pelo tamanho deste capítulo. Me empolguei com ele e como já tinha escrito ele há um bom tempo, não tinha noção que ficou tão longo. Tentei diminuir, mas eu teria que cortar e essa não era uma opção. Eu espero que gostem e que tenha ficado bom pelo tamanho dele.

Outro assunto sério: Quero saber se estão recomendando a fic certa porque Traiçoeiro recebeu duas, DUAS recomendações hahaha. Quero muito agradecer de coração a Queen B e a Leeh Wesley, poucas coisas colocam um sorriso no meu rosto e a recomendações de vocês definitivamente fez isso. Muito obrigada e espero que gostem do capítulo.

Céus, falei demais. Boa leitura!



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Abri os olhos devagar, sentindo os estranhos, parecendo sensíveis demais. Uma luz fraca preenchia a cabana e conseguia ouvir os pássaros cantando sua canção matinal, como se fosse o primeiro cantarolar deles naquele dia, dando boas vindas. Como se estivessem felizes por acordarem e cantassem para a vida.

–Seus olhinhos estão pequenos, filha. – uma voz doce sussurrou as minhas costas.

Virei com dificuldade vendo a mulher de pele branca e cabelos pretos, deitada ao meu lado sorrindo com carinho, como de costume quando aparecia em meus sonhos.

Com a única diferença que ela parecia bem real ali comigo.

A mulher levou a mão até os meus cabelos, e então afagou a lateral de meu rosto com um toque tão delicado e cheio de amor que não resisti a fechar os olhos, aproveitando aquele contato.

–Está se sentindo melhor? – indagou me olhando preocupada.

Olhei para o seu rosto, que parecia ter o formato do meu, e balancei a cabeça.

Sim, eu estava melhor do que ontem à noite, mas ainda não me sentia... Bem.

–O que está fazendo aqui? Faz tempo que não me visita. Onde está o homem que sempre lhe acompanha?

Ela sorriu apertando minha bochecha e se sentou.

–Eu senti que estava precisando de mim filha. Dessa vez David não veio comigo porque precisamos conversar sozinhas. – seu rosto ficou triste. – Vamos dar uma caminhada. Pegue o xale que está um pouco frio. – orientou.

Joguei as pernas para fora da cama e me enrolei no xale. Landon estava dormindo em uma das camas, assim como Bae.

As outras se encontravam vazias.

Sai rapidamente, tomando cuidado para não fazer barulho, seguindo a mulher. Quando estávamos do lado de fora da cabana, ela entrelaçou nossos braços, dando passos lentos.

Uma pequena névoa cobria o chão, dando a impressão que tudo era cinza, como se tivessem perdido as cores durante a noite. Conseguia sentir o cheiro do orvalho, e o reconfortante clima de dia preguiçoso.

Algumas tendas foram montadas e estavam espalhadas pela clareira, acredito que a tripulação do Jolly Roger dormia ali, a fogueira ainda crepitava, com um fogo baixo.

Passamos na tenda das crianças e me soltei da mulher querendo ver se havia alguma ali, dormindo.

–Emma melhor não. – ela tentou me impedir segurando meu braço.

–Só quero dar uma olhada nas crianças se caso estiverem ali. É rápido. – garanti empurrando o pano para conseguir olhar lá dentro.

Apertei os lábios para evitar que o som de surpresa saísse deles. As crianças não estavam, mas Killian sem camisa, dormindo com Zirba abraçada a ele sim.

Balancei a cabeça e recuei, voltando para a mulher que me observava com atenção.

–Elas não estão.

–Eu sei que não filha. Você está bem?

–Claro. Por que não estaria? – instiguei colocando um sorriso no rosto, voltando a segurar seu braço como antes.

–Sabe Emma... O amor é uma coisa engraçada. – começou, pegamos a trilha que ia para a praia, tomando cuidado onde pisávamos. – Ele sempre chega escondido e se olharmos para ele de forma errada, iremos interpretá-lo da mesma forma, porque nossa mente arruma desculpas para negar esse sentimento para evitar que nos machuquemos. – ela parou me soltando e se enfiando no meio da mata. Fiquei na trilha tentando enxergá-la, sem saber se a seguia ou não. – Me desculpe, precisava pegar uma muda dessa planta. Não a encontro em lugar nenhum. – explicou me mostrando. – Onde estávamos? Ah sim. Falando sobre o amor.

–Eu na verdade não sei por que você começou a falar sobre isso. – falei com sinceridade, apertando seu braço com mais força quando escorreguei em uma pedra.

–É apenas um conselho para a vida, filha. Olhe sempre com o coração quando se tratar do amor e não com os olhos. O coração nunca mente, ele é sábio e sempre está certo quando se trata de sentimentos.

–Por acaso não está insinuando que eu fiquei triste por causa do que eu vi na tenda?

–Não sei. Você ficou triste com o que viu na tenda? – questionou prendendo meu cabelo atrás de minha orelha.

–Claro que não! Estou triste por ele me esconder coisas importantes. Coisas sobre mim. Vovó Libélula disse que tudo depende dele me contar a verdade para que ela possa me ajudar, mas Jones se nega a fazer isso e eu não sei por quê.

–Talvez por que ele tem medo de perdê-la se caso contar? Não quer que vá embora do navio dele? – sugeriu em um tom brincalhão.

–E por que ele não iria querer que eu fosse embora do navio dele? – perguntei irritada com ela. – Eu só atraio problemas. Sou um peso morto ali. Veja só, ele mudou a rota apenas para me trazer aqui. – murmurei.

–Não sei. Talvez esteja certa. Foi apenas uma sugestão.

Nós duas caminhamos em silêncio até a praia, andando até a beirada do mar.

A água estava trincando de fria, e me fez bater os dentes, porém permaneci ali ao lado da mulher, achando agradável a sensação de meus pés ficando dormentes após um tempo.

–Eu sei o que vovó lhe disse, Emma. – falou por fim. – E concordo em partes com ela, Cora não é quem você pensa.

–E quem é você para dizer que minha mãe não é quem eu penso?

Ela se virou para mim com um sorriso triste.

–Sou seu anjo da guarda, filha. E sei como esta confusa, eu sinto sua confusão e gostaria de poder ajudá-la. Vovó esta certa quando disse que você tem um dom e Cora quer isso de você.

–Você está errada. Minha mãe me ama. - afirmei.

–Você fala isso com tanta convicção, porém não acredita em si mesma. Emma, você já estava duvidando sobre quem sua mãe realmente é. Chorou a noite toda praticamente desejando que as coisas fossem diferentes. Chorou quando ouviu da boca de Libélula que ela não é quem você pensa, porque... Você já desconfiava e ter alguém com tanta sabedoria lhe dizendo isso a assustou.

–Ela disse que eu deveria ir para casa e esquecer isso. – comentei os olhos fixos no Jolly Roger que parecia estar dentro de uma pintura. A neblina cobria o mar dando a sensação de estarmos envoltas em algo mágico.

–Eu sei. E o que você acha?

–Que eu quero ir para casa. – sussurrei mordendo o interior de minha boca.

A mulher suspirou profundamente virando o rosto para o outro lado, parecendo decepcionada com a minha resposta.

–Já sei! – exclamou animada. - Por que não escreve para Graham contando tudo o que aconteceu? Talvez se conversar com ele ajude um pouco a aliviar esse seu coraçãozinho.

Neguei com a cabeça.

–As coisas estão no navio. Terei que esperar até a hora que zarpamos para fazer isso. Até lá, eu fico amuada.

–Ou podemos ir até o navio. – falou alegremente puxando o bote.

Olhei do rosto dela para o bote e então para o navio que estava distante.

–Você está falando sério?

–Claro. Por que não? Venha eu lhe ajudo a remar até lá.

Permaneci na areia a olhando entrar no mar puxando o bote, a testa franzida.

–Você não é real.

Ela me olhou ofendida.

–Claro que sou real! Eu estou aqui, não estou?

–Não. Você apenas aparece nos meus sonhos. – continuei, achando tudo muito estranho.

A mulher parou por uns minutos, olhando para o meu rosto até que por fim assentiu.

–Você está certa. E como isso é um sonho seu, nós duas podemos ir até o navio. Afinal é um sonho! Você não estará indo lá de verdade. Venha. – me chamou esticando a mão.

Dei de ombros, pensando que aquele era o sonho mais estranho e realista que tivera. Os acontecimentos do dia anterior realmente deveriam ter mexido com a minha cabeça.

Entrei na água, trincando os dentes. Estava tão fria que parecia que eu estava enfiando agulhas em meu corpo, e eu tinha que ficar rígida sempre que uma onda vinha em minha direção. A mulher me ajudou a subir no bote, não parecendo nem um pouco afetada com o frio, sem nunca tirar a expressão de tranquilidade do rosto.

Pegamos os remos e começamos a ir em direção ao navio, lutando contra a maré que estava incrivelmente brava aquela manhã.

–Você sabe meu nome, porém eu não sei o seu. – falei após uns quinze minutos que ficamos em silêncio. – Como se chama?

–Pode me chamar de Branca. – respondeu fazendo força.

Fiquei repetindo o nome em minha mente, achando que era um nome adequado para alguém como ela.

Chegamos ao navio e Branca se colocou de pé, agarrando a escada, subindo com destreza.

–Jogue a corda para que eu possa içar o bote. – pedi, me levantando e cambaleando por causa das ondas.

Branca parou meio caminho e olhou para mim.

–Deixe o aí e venha. Não irá precisar dele.

A olhei confusa com suas palavras.

–Se lembre que é um sonho, Emma. – tranquilizou voltando a subir.

Agarrei a escada, dando um impulso. Meus dedos estavam rijos por causa do frio e cada parte do meu corpo parecia congelada.

Assim que pisei no convés, encontrei Branca de pé no parapeito do navio, se segurando em uma das cordas penduradas.

–Você sabe que é um cisne, não sabe? – indagou sem me olhar, a voz séria.

–O que?

–Você é um cisne. Cisnes sempre podem voar de volta para casa quando sentem saudades. – explicou, se virando e pulando no convés. – Me mostre a cabine de Killian.

–Claro. Venha é por aqui. – indiquei que me seguisse, achando estranho estar naquele navio sozinha.

Nunca acontecera antes, era um silêncio assustador.

No momento que entrei na cabine, me sentei pegando papel, pena e tinteiro, começando a escrever a carta para Graham, contando tudo nos mínimos detalhes, enquanto Branca ficava estudando e mexendo tudo com atenção na cabine.

Depois de muito tempo e algumas folhas consegui terminar a carta, dobrei-a e me levantei para guardar na caixinha, porém Branca estendeu a mão.

–Me dê que eu irei entregá-la para ele. – prometeu tirando-a de mim e guardando na bolsa que usava.

Aquiesci. Afinal aquilo era um sonho, claro que nunca chegaria às mãos de Graham.

Voltamos para o convés e Branca comprimiu os lábios, subindo no parapeito do navio novamente. Eu queria puxá-la de volta, porque eu estava ficando com agonia de ver o vento chicoteá-la tamanha era a força que tinha, dando a impressão que a levaria embora a qualquer instante.

E eu não queria que ela fosse embora, sua presença me trazia conforto.

Ela suspirou, olhando para mim com os olhos marejados.

–Filha... – começou com a voz embargada. – Eu a amo e não tenho dúvidas de que consegue passar por essa provação. Sei que é forte, porém não quero vê-la sofrendo se não posso ajudá-la. – soluçou alto. – Não quero que volte para casa, mas saiba que será bem vinda se caso não quiser prosseguir com isso. Os cisnes sempre podem voltar quando quiserem, eles tem asas para isso.

–Do que você está falando? – questionei me sentindo confusa.

–Suba aqui comigo. – pediu estendendo a mão. Mesmo achando que ela estava louca fiz o que pediu, ficando ao seu lado, segurando na corda. Olhei para as ondas que batiam nervosas no casco do navio. – Emma, você é forte. É tudo que eu queria que fosse se caso eu tivesse a criado, mas tem coisas que você desconhece e que não tenho como ajudá-la desse jeito. Minha ajuda é limitada. Eu sei que consegue passar por isso, confio em você e em sua determinação. Quer mesmo voltar para casa e abandonar tudo?

Pensei por uns momentos, sentindo as lágrimas se acumulando em meus olhos.

Assenti minimamente, sem coragem de olhar para ela. Branca disse que confiava em mim, mas eu não era forte e nem corajosa. Eu não passava de uma dama fútil, aprendendo alguns golpes com a espada e vivendo uma vida que não era minha.

Eu não poderia continuar com aquilo por muito mais tempo.

–Pedirei para Killian me deixar em casa. – informei para ela em um sussurro que se perdeu no vento, sem ter certeza se queria fazer realmente aquilo. Eu não queria abandoná-lo tão já.

–Ou você pode voar com suas asas, filha. Vá embora voando. Elas irão lhe acolher quando chegar. Elas sabem de sua história. Sabem que não foi treinada para o que foi destinada.

–Elas? Quem são elas? Me desculpe, mas não está dizendo coisa com coisa. Voar? Como isso é possível?

Branca sorriu para mim com orgulho, passando a mão pelo meu rosto.

–Veja. – falou simplesmente se jogando para o mar.

Gritei esticando a mão para tentar pegá-la, mas então ela apareceu flutuando em minha frente.

Claro era um sonho.

Eu poderia voar também se quisesse.

Levantei um pé e então pisei no ar, caindo e sentindo a água fria me envolver.

[...]

Tossi desesperada, sentindo a água salgada voltando por minha garganta e saindo por minha boca. Eu estava com tanto frio e tudo dentro de mim ardia.

–Emma! Graças a Deus. – minha visão foi entrando em foco e vi Bae em minha frente, o rosto aliviado. – O que estava pensando? Por que fez isso?

Me sentei ainda tossindo, me virando para o lado, vomitando o que restava de comida da última vez que me alimentara. Eu sentia os grãos de areia grudados por todo meu corpo e minha boca estava seca de tão salgada.

–Eu... Eu... Não entendo. – balbuciei com a voz rouca, minha garganta sendo arranhada. – Era um sonho.

–Ah Emma. – sussurrou me abraçando com força o qual retribui fracamente, ainda confusa. – Não quero nem pensar o que teria acontecido se caso eu não tivesse a seguido. Eu não deveria ter visto até onde iria. Deveria tê-la levado de volta para a cabana. Quase que não consegui chegar a você. Me desculpe. – pediu fungando.

Afaguei suas costas, meu corpo todo sendo atingido por violentos tremores de frio.

–Eu estou bem. Obrigada por me salvar. – gaguejei batendo os dentes.

–Vamos voltar para o acampamento. Você precisa se aquecer. – Bae me soltou, se colocando de pé e me ajudando a levantar.

Neguei debilmente com a cabeça, sendo amparada por ele quando minhas pernas fraquejaram.

–Eu não quero voltar para lá agora. Me leve para dar uma volta. – implorei. – Me leve para conhecer um pouco da ilha. Eu não quero que ninguém fique sabendo disso.

–Eu vou ter que contar para Killian, Emma.

–Por que? Ele não tem que saber. Ninguém tem que saber que fiquei tão atormentada... – fechei os olhos com força me interrompendo. – Será nosso segredo, Baelfire, por favor.

Bae me olhou parecendo sentir pena de mim.

–Tudo bem. Mas desde que me conte tudo o que aconteceu, desde a conversa com a vovó, até esse seu sonho.

Assenti, segurando nele com força.

–Irei lhe contar tudo. Obrigada.

–Aqui. Beba. – ordenou me entregando o cantil para mim.

O levei a boca, saboreando a água doce que descia por minha garganta, tirando aquela sensação de que havia algo me arranhando com unhas, aliviando a irritação e queimação de meu estômago.

Começamos a caminhar lentamente pela costa, enquanto eu começava a contar tudo o que acontecera para Bae. Ele havia jogado o casaco que usava em meus ombros, na tentativa que eu me aquecesse. Não falei para ele que não estava adiantando nada, já que eu estava encharcada até os ossos.

Baelfire fez poucas perguntas e me ouviu com toda atenção, deixando que eu desabafasse e conforme eu ia falando, começava a me sentir mais leve, mais como eu mesma. Já não tinha vontade de chorar e estava até sorrindo ao perceber que os paredões da ilha tinham cores variadas: vermelho, roxo, verde. Se misturando, sem nunca repetir um mesmo padrão.

Quando terminei de contar, que foi no momento em que eu pulei do navio, eu já me sentia bem e estávamos sentados aproveitando o sol da manhã que secava a roupa em meu corpo, em um campo coberto de flores de várias cores e com a grama alta. Bae saiu para procurar alguma coisa que eu pudesse comer e voltou um tempo depois com uma tigela com frutas cortadas.

–Onde achou essa tigela? – perguntei colocando um pedaço de mamão na boca e aproveitando o gosto doce que descia pela minha garganta, atingindo minha barriga vazia.

–Em um dos esconderijos. Sou um pirata, sei como achá-los. – se gabou, sentando ao meu lado. – Você já está mais parecida com a Emma que eu conheço.

–Eu me sinto mais eu mesma. – respondi colocando outro pedaço de fruta na boca. – Foi bom conversar com você. Obrigada por me ouvir e se preocupar comigo.

–Estou aqui para isso. Você está se sentindo bem?

–Emocionalmente no momento sim, acredito que estava precisando contar para alguém, desabafar. Agora, estou morrendo de dor no corpo. Claro que eu não esperava pular de um navio e não me machucar.

–Não quebrou nada, eu verifiquei. Se descansar, logo estará nova em folha para outra.

Ri colocando a tigela vazia de lado e lambendo os dedos.

–Muito obrigada, mas acho que prefiro que não tenha outra.

–Eu também. Vamos voltar para o acampamento? Acredito que já estejam juntando as coisas para levarem ao navio.

Concordei com ele, vestindo seu casaco e andando ao seu lado, sem ter a necessidade de me escorar nele como estava antes.

–Que terra estranha. – comentei quando pisei em um negócio pegajoso.

–É argila. – informou.

No mesmo momento me agachei enchendo a mão, até que estava satisfeita, começando a moldar alguma coisa indefinida, gostando da sensação dela grudando entre meus dedos. Bae riu, mas não disse nada da minha atitude infantil, voltando a caminhar.

Assim que pisamos no acampamento avistei vovó sentada debaixo de uma árvore rodeada de gente. Killian estava ao seu lado parecendo não prestar atenção em nada que a senhora falava, como se estivesse em outro mundo.

Ele levantou a cabeça e olhou ao redor como se procurasse algo. Seus olhos pararam em mim, brilhantes de raiva. Sua expressão estava presa em uma carranca e eu soube que Gancho estava bravo comigo.

Jones caminhou a passos rápidos até onde eu estava com Bae.

–Aonde você se enfiou? – instigou enraivecido.

–Eu acordei cedo e chamei Bae para ir dar uma volta comigo. – menti, esperando que Baelfire confirmasse minhas palavras.

Killian lhe lançou um olhar cortante.

–É verdade. Eu estive com ela o tempo todo... – afirmou, me olhando. – Irei pedir para alguém lhe preparar um banho. – avisou se afastando.

–Espere! – chamei e ele se virou me olhando. – Aqui um presente para você. Não sei ao certo o que é isso, mas aceite como se fosse a mais bela obra de arte, que sua amiga lhe deu como agradecimento.

Bae sorriu, pegando a argila que já estava dura e toda contorcida de minha mão.

–Irei guardar, ó bela dama. – brincou a segurando com cuidado e voltando a andar.

Jones respirou fundo impaciente, e eu olhei para ele.

–Está se sentindo bem?

Minha pergunta pareceu deixá-lo ainda mais irritado.

–Não. Eu não estou me sentindo nada bem. Emma você não pode simplesmente sair assim sem avisar, ainda mais depois de ontem. Venha comer alguma coisa, amor. Acabou perdendo o café da manhã.

–Não é necessário. Bae me cortou algumas frutas para que eu comesse enquanto caminhávamos. Eu queria conhecer um pouco a ilha antes de irmos e como acordei cedo achei que seria o horário perfeito. – expliquei dando de ombros.

Killian comprimiu os lábios, olhando para o chão.

–Por que não me chamou para caminhar com você? Eu conheço a ilha melhor que Baelfire. – falou com a voz baixa, como se tentasse esconder alguma coisa.

–Eu teria chamado se não estivesse ocupado. – Jones me olhou rapidamente. – Está tudo bem, eu entendo. Não iria acordá-lo, levando em consideração que estava acompanhado.

Ele estudou meu rosto, sua testa franzida.

–Eu queria tê-la acompanhado, Swan. – murmurou.

Abri um sorriso hesitante.

–Ficará para a próxima. – falei em tom brincalhão.

Jones desceu os olhos para o meu corpo.

–Por que está molhada? – perguntou sem me olhar.

–Decidi dar um mergulho. – respondi rápido demais. Killian se abaixou, cerrando olhos, erguendo o casaco de Bae com o gancho.

–E esse hematoma pegando metade de seu lado direito? – indagou bravo.

Fiz minha melhor cara de inocente.

–Eu escorreguei em uma pedra e cai de mau jeito. Acontece. – dei de ombros como se não fosse nada demais. – Irei ver onde posso tomar banho e onde estão minhas roupas de ontem. – me desviei dele, indo na direção onde Bae sumiu.

–Me deixe ver isso, Swan. – segurou meu braço com o gancho. – Você pode ter quebrado alguma coisa.

Afastei a mão dele quando estava indo tocar minha costela.

–Não é preciso. Bae já fez isso, no momento em que caí. Estou bem, Jones, não se preocupe e aproveite as horas que ainda temos aqui.

–Achei que havia dito que ainda éramos amigos. - sua voz soou rouca as minhas costas.

Suspirei voltando a encará-lo.

–Ainda somos amigos, Killian. Apenas estou lhe dizendo que Bae já cuidou disso. Não irei fazer de novo apenas para agradá-lo. Com sua licença.

O escutei batendo em alguma coisa e praguejando em voz baixa. Deixei que ficasse nervosinho, não iria voltar atrás apenas para satisfazê-lo.

–Bom dia, Emma. - Zirba cantarolou ao meu lado.

Forcei um sorriso para ela.

–Bom dia, Zirba. Como está?

–Bem, bem... E você está se sentindo melhor? Ficamos preocupados quando não quis se juntar conosco para o jantar e não estava aqui para o café da manhã.

–Eu estou bem, Zirba. O momento já passou.

–Fico contente em ouvir isso. Baelfire me disse que está precisando de um banho antes de zarparem. Me siga que iremos para a casa de banho exterior.

–Exterior? E os homens não vão até lá?

Zirba riu negando com a cabeça.

–Eles têm a deles e respeitam a nossa. Vem. - pegou minha mão, me puxando fazendo com que eu soltasse um gemido de dor.

Subimos um caminho com uma vegetação rasteira e seca, cheia de pedras pontudas e escorregadias. Zirba parecia não perceber que eu não tinha a mesma agilidade que ela para andar naquele tipo de terreno.

–Somos sortudos o suficiente para que nessa ilha tenha esses pontos com lagos e lagoas. São ótimos lugares para um banho, porém o lago não tem a água quente, por isso só o usamos durante o dia. - explicou ao pararmos perto de um lago gigante e com a água azul, e uma vista para a ilha toda de tirar o fôlego. - Irei buscar os óleos para que se banhe.

Aquiesci começando a me despir, tendo certa dificuldade para soltar o pano que estava amarrado como blusa e me sentindo livre quando consegui tirá-lo. Não queria ter que usar aquilo nunca mais.

Caminhei até a beirada do lago, colocando a ponta do pé, verificando a temperatura da água. Apesar do frio que estava na hora em que acordei ali a água estava morna.

Senti um comichão em minha pele, como se alguém estivesse me observando. Virei o rosto para trás, estudando as rochas que cercavam ali com atenção.

Avistei Killian atrás de uma delas me fitando, se abaixando um pouco, mas sem se esforçar muito para se esconder. Voltei a olhar para frente o ignorando e tentando me tampar o melhor possível com minhas mãos, entrando no lago e indo até onde a água batia em meus ombros. Cerrei os dentes para que eles não batessem, ali sim estava frio.

E eu sabia que Killian continuava ali, mesmo sem olhar e acabei me encolhendo. O que raios ele estava fazendo?

Zirba logo surgiu com os óleos e sabonetes para que eu me lavasse. A dispensei querendo fazer aquilo sozinha e pedi que ela desse uma olhada, apenas por garantia, para ver se não havia ninguém ali. Ela iria encontrar Jones e o mandar embora.

Me lavei lentamente, fazendo uma careta ao tocar no hematoma que estava em um tom forte de roxo. O estudei por uns instantes tentando entender como eu o havia conseguido. Talvez pelo impacto quando cai no mar?

Uma das mulheres apareceu com roupas para mim e uma toalha. Me enrolei com pressa, o vento me causando calafrios.

–Killian. - pronunciou erguendo para me mostrar o vestido azul claro que carregava nas mãos.

–Ela está dizendo que Killian escolheu esse para você. - Zirba esclareceu surgindo novamente. - Desculpe, tive que resolver um negócio.

Garanti para Zirba que estava tudo bem e pedi ajuda com o vestido para abotoar os botões das costas. Ele tinha mangas curtas, cintura abaixo do busto, e era de um tecido leve.

–Obrigada, Zirba.

–Você consegue voltar para o acampamento? Quero me banhar agora.

–Claro. Sou capaz de voltar sozinha para lá. - afirmei me afastando dela e pegando o caminho que viemos.

Desci cantarolando, brincando com a saia do vestido, distraída admirando o lugar.

–Ah!- exclamei surpresa ao encontrar Killian andando de um lado para o outro no meio do caminho. - Olá.

–Vovó quer falar com você agora, mas será que podemos conversar depois?- indagou.

Assenti.

–Claro. Obrigada por me avisar. – passei por ele, apressando o passo.

Eu estava realmente querendo conversar com vovó, perguntar para ela sobre o que acontecera essa manhã.

–Eu a acompanho. – segurou em meu braço, colocando minha mão no interior de seu cotovelo, me levando.

Fomos em silêncio até a cabana da vovó, por mais que eu sentia que ele queria me dizer alguma coisa, já que olhava para o meu rosto de segundo em segundo.

– Swan, não fique me afastando como está fazendo. Conversei com Bae e ele disse que você o procurou porque precisava falar. Por que não conversa comigo, amor? –indagou e percebi que sua curiosidade era real. Ele realmente queria saber por que não falava com ele.

–Já lhe falei que é porque estava ocupado.

Jones balançou a cabeça.

–Você me mandou embora ontem quando fui conversar com você. Escreve cartas para Graham, conversa com todos menos comigo.

–Apenas o fiz porque vi que estava se divertindo, não quis estragar sua noite. - justifiquei. - Eu não seria uma boa companhia. Não que eu seja em algum momento. - acrescentei divertida.

–Eu gosto da sua companhia, Emma. – sussurrou em meu ouvido, abrindo a porta para mim.

–Como você está menina? - vovó questionou assim que pisei dentro da cabana, encontrando- a em pé. – Estive conversando com Baelfire, porque fiquei preocupada com você e queria saber como ele a encontrou.

Olhei para Killian ao meu lado, que me lançou um olhar instigador.

–Do que está falando, vovó? – me fiz de desentendida.

–Que Bae a salvou hoje cedo, Emma. Quero que me conte sobre esse sonho que teve.

–Emma? – Killian me chamou seu peito subindo e descendo lentamente como se ele estivesse tentando se controlar. – Por que Baelfire teve que salvá-la hoje cedo?

Olhei para os meus pés. Vovó havia feito isso de propósito. Bem que Lori havia comentado algo sobre ela não conseguir ficar com a boca fechada.

–Quero ter essa conversa em particular com Libélula. – falei decidida.

–Verdade. Eu havia me esquecido que pediu segredo para Baelfire que foi até o navio e pulou para o mar. Exceto que não existem muito segredos que eu não saiba. – falou inocentemente indo se sentar.

–Você o que? – Killian gritou com raiva, apertando meu braço. – Emma... O qu... O que estava tentando fazer pelo amor de Deus? – indagou sua voz falhando.

Não consegui olhar para seu rosto, envergonhada demais que aquilo tivesse acontecido e eu ainda não entendia o por quê. Com vergonha de ter sido pega mentindo.

–Eu estava tentando voltar para casa. – admiti timidamente. Jones me soltou, dando um passo para trás.

Ficamos um tempo em um silêncio constrangedor, até que vovó pigarreou.

–Agora já sabe como Emma se sente. Ela quer ir para casa. Saía agora, por favor. – pediu.

Jones saiu sem me dizer nada e eu não tive coragem de olhar para o seu rosto. Eu não havia tentado me matar, tinha certeza disso, para mim tudo não havia passado de um sonho em um momento que estava me sentindo frágil. Fiquei tão surpresa quanto Bae ao perceber o que havia feito.

–Por que fez isso? Eu não queria que ele soubesse.

–Sei disso, mas ele precisava. Me faça um favor e abra a primeira gaveta daquela cômoda. Pegue o pente e algumas fitas que tem ali, quero pentear seu cabelo.

Mesmo estando brava, fiz o que me pediu indo me sentar a sua frente, de costas para ela.

–Se contou isso, pode me contar alguma coisa que Killian está me escondendo?

Vovó passava o pente vagarosamente por meus cabelos.

–Não. Entenda que é diferente Emma. Agora ele já sabe de sua vontade de voltar para casa, Killian esconde os segredos dele por medo de contar você querer ir embora.

–Agora ele vê que de um jeito ou de outro eu quero isso. Mesmo inconscientemente, talvez assim ele me conte. – conclui. – Eu não estava tentando me matar, vovó. Juro que não estava. Não tem nada que eu preserve mais do que a vida... Eu não sei.

–Se acalme, menina. Eu sei disso. – me tranquilizou. – A mulher com quem você falou realmente estava dizendo a verdade sobre voltar para casa. Porém devo avisá-la de que não foi um sonho. Você estava acordada em todo momento, conversando com Branca.

–Mas... Ela... Para onde ela foi?Tem a ver com o meu dom, não?

–Sim. Mais precisamente com a obrigação que vem junto com ele. Eu disse que você estava acordada, não que ela está aqui. Branca aparece apenas para você por conta da conexão que existe entre ambas. Vocês duas compartilham do mesmo poder.

–Branca mencionou "elas". Quem são elas, vovó?

–As donzelas fiandeiras do destino, menina. - respondeu simplesmente.

Fiquei pensando em suas palavras, gostando de sentir suas mãos trêmulas arrumando meu cabelo.

–A senhora sabe que mesmo que eu queira voltar para casa eu não vou fazer isso? Irei continuar insistindo. -avisei por fim.

–Eu sei, porque não é do seu feitio escolher o caminho mais fácil e nem desistir sem antes tentar com todas as suas forças. Aquela foi sua decisão do momento, era o que você queria, foi a última coisa que desejou antes de dormir, por isso quando a oportunidade surgiu você a abraçou e forçou sua mente a acreditar que tudo era um sonho. Porém aquele rapaz precisa saber como se sente, Emma. Ele está desesperado para que converse, que o escolha para desabafar. Afinal ele a escolheu para isso, se abriu para você. Deixou- a vê-lo em seus momentos mais frágeis. Esse rapaz tem uma confiança em você, menina, coisa que não vejo há muito tempo. Você sabe. Vá conversar com Killian agora, ele está precisando disso. E saiba que ele gosta muito de você, Emma. Seja paciente com ele, não apenas com os segredos que ele guarda, mas com as atitudes dele e os sentimentos. Principalmente com esse último. - ela parou de falar como se pensasse. - Cuide dos sentimentos dele, Emma. Afinal eles são seus.

–Que?- olhei para ela perplexa.

Vovó riu sacudindo as mãos, para que eu saísse.

–Branca também disse que Killian tem medo de me perder se caso contar a verdade. Por que?

–Talvez devesse perguntar para ele? – sugeriu impaciente.

Me levantei, dando um beijo em seu rosto e saindo para fora. Vi Jones sentando em tronco de árvore, os olhos fixos no chão. Me aproximei silenciosamente dele, colocando meu queixo em seu ombro.

–Vamos conversar? – convidei. Killian olhou para mim, o semblante triste, e eu sorri para ele. – Me mostre seu lugar preferido daqui da ilha. Temos tempo, não?

Jones se levantou e me abraçou com força, fazendo com que eu segurasse o gemido de dor que quis sair por ele apertar. Retribui o abraço, afagando seus cabelos quando ele escondeu seu rosto em meu pescoço.

–Eu não vou a lugar nenhum, Killian. – afirmei. – Me desculpe por isso, mas continuarei aqui até ter minhas respostas. Eu quero muito ir para casa, mas não ainda.

[...]

Killian segurou em minha mão o percurso todo, me ajudando a subir quando necessário e sem reclamar dos meus passos lentos. Ele parecia mais contente, estava falante, apontando tudo na ilha e comentando sobre algumas plantas, até que chegamos ao lugar que ele queria me mostrar: o topo de uma montanha que tinha vista para todo o mar e de onde podíamos ver o Jolly Roger parecendo um pontinho no meio daquela imensidão de água azul que parecia se fundir com o céu.

–Vista para o mar... Agora sei porque aqui é seu lugar preferido. - comentei indo sentar a sombra.

–Gostou daqui?- questionou se sentando ao meu lado.

Assenti, sorrindo para ele, o admirando. Killian era um homem extremamente atraente, bonito, isso era fácil de perceber. Mas o que eu gostava mais nele era a bondade que tentava esconder, mesmo que todos seus atos, até os que eu não concordava, eram pensando em algo maior. Gostava do sorriso de menino travesso que abria quando se permitia baixar a guarda e como estava me deixando conhecer um outro Killian Jones, que deixava escondido.

–Gostei sim. Para dizer a verdade gostei de tudo que vi até agora. E você estava certo ao dizer que eu iria adorar a vovó.

–O que ela disse para você ontem, amor?- perguntou sério, brincando com a ponta do meu cabelo.

–Disse que minha mãe não é quem eu penso. Que ela tem como me ajudar, mas primeiro você precisa me contar a verdade. - Killian abriu a boca para me interromper, porém apertei sua mão. - Está tudo bem, querido. Você sabe que não gosto de forçá-lo a nada. Irá me contar quando se sentir pronto. - o tranquilizei, mesmo que não estivesse tão disposta a esperar a boa vontade dele. - E então ela me aconselhou a pedir para você me levar embora. Desistir disso.

–Não, Emma. - murmurou apertando minha mão com força. - Você não pode.

–E não irei, querido. Como lhe disse vou ficar aqui até saber que tentei tudo o que podia. Hoje cedo, Killian... Eu não estava tentando me matar. Eu achei que era um sonho, eu nunca faria algo desse tipo.

Jones aquiesceu, me olhando com uma intensidade que fez meu coração bater em falso.

–Eu sei. Conheço você, Swan para saber que não faria. Eu fiquei apavorado quando vovó contou. - confessou. - E depois me culpei porque eu deveria ter cuidado de você noite passada, mesmo que tenha me mandando embora... Eu deveria...

–Era por isso que eu não queria que soubesse Killian. Você já se culpa por coisas demais. Acredite que está tudo bem. Bae estava lá. - falei suavemente tocando seu rosto.

–Eu deveria ter estado. Deveria ter evitado. Me desculpe, amor. - pediu, apertando minha mão em seu rosto e fechando os olhos.

–Você não tem pelo que se desculpar Jones. De verdade está tu...- parei de falar, ficando imóvel.

–Emma?- Killian chamou alarmado.

–Tire esse bicho de mim. - implorei olhando aterrorizada para a borboleta amarela que estava pousada em meu ombro, abrindo e fechando suas asas lentamente.

Killian riu divertido.

–Tem medo de uma borboletinha?

–Eu... Tenho. Na verdade é mais agonia do barulho das asas delas. Pelo amor de Deus tire isso de mim!

Jones se inclinou sobre mim, espantando a borboleta que saiu voando. Suspirei aliviada.

–Obrigada.

–Sabe que eu entendo porque ela pousou em você. Elas podem facilmente confundi-la com uma flor por causa do seu perfume.

–Me lembre de nunca mais usar os óleos corporais dos mouros. E seus flertes estão mais sutis, senhor. Antes eles eram grosseiros.

Jones abriu um sorriso tímido, voltando a se sentar ao meu lado, pegando a bolsa que usava e tirando umas coisas embrulhadas em folhas.

–Trouxe comida para você.

–Está tentando me conquistar, é?- brinquei pegando um dos embrulhos e abrindo. - É seguro comer esse peixe?

–Você vem comendo comida velha do navio e está preocupada com esse peixe?

Dei de ombros tirando um pedaço com as pontas dos dedos e levando a boca, oferecendo para Killian que se serviu de um pedaço.

–Você disse que queria voltar para casa... Do que você sente mais falta da sua vida?- Killian instigou me olhando.

Olhei para frente, admirando as cores misturadas como em uma tela de um pintor, quando está criando a pintura.

–Da comida- respondi com sinceridade levando outro pedaço de peixe a boca. Ele era bom, mas preferia as comidas preparadas em uma cozinha limpa.

Jones riu e olhei para ele.

–Não deve ser a única coisa que você sente falta.

Pensei por uns segundos.

–É. Você está certo. Sinto muita falta da minha cama... E dos banhos também.

–Meu Deus, você está falando sério!

–Claro que estou. Por que não estaria?

Killian balançou a cabeça, um sorriso no rosto.

–Então do que não sente falta?

–Dos vestidos, sem dúvida- respondi com convicção, conseguindo tirar uma risada de Jones. - É verdade. Não sinto nem um pouco de falta dos vestidos pesados e toda aquela armação por baixo deles. Você não faz ideia de como era usar o urinol ou a casinha com aquilo. Desse vestido eu gosto- apontei para o vestido simples que eu estava usando. - A propósito obrigada, me falaram que foi você quem escolheu. Aqueles outros que tem espartilho, anágua, corpete, crinolina... Por mim nunca mais os usaria.

–Percebi que não se sentiu a vontade com a roupa das mulheres da tribo. Por mais que tenha ficado deslumbrante, Swan. - abaixei a cabeça para esconder o rubor, abrindo outro pacote e encontrando queijo. -E do que você gosta do Jolly Roger?

–Eu não vou responder você. –avisei.

–Nem esperava que fizesse isso.

–Não sei... Acho que a liberdade que tenho com vocês. Eu... Eu estou aprendendo que... Muita das coisas que eu fui ensinada a temer, não é tudo aquilo. Gosto de estar no Jolly Roger porque sinto que posso ser mais eu mesma, mesmo que esteja soltando minhas amarras aos poucos. Não preciso me preocupar em estar parecendo sempre feliz, nem ser educada o tempo todo. Posso ser sarcástica e irônica. Posso usar o cinismo... Tudo aquilo que uma dama não pode. Uma dama tem que ser amável o tempo todo, uma dama não deve permanecer sozinha com um homem que ela mal conhece. Uma dama não pode fazer nada que não seja parecer agradável para conquistar um bom casamento. Aqui eu não tenho que me preocupar com isso. Foi difícil no começo, e não vou mentir para você Jones, ainda é me acostumar a viver em meio aos homens. Mas eu gosto da sensação de liberdade que ganhei com vocês.

Olhei novamente para Killian, encontrando seus olhos azuis que me causavam um arrepio pelo corpo todo e faziam meu ventre se remexer inquieto, apenas de olhá-lo.

–Fico feliz em saber que está se soltando. Estou apenas perguntando para saber como fazê-la se sentir mais como se estivesse em casa enquanto fica conosco. - explicou.

Levei meus dedos ao seu rosto, afagando sua cicatriz. Killian fechou os olhos momentaneamente, voltando a abri-los e me encarando intensamente.

Tentei manter minha respiração normal. Às vezes meu corpo respondia a Killian de uma maneira tão forte, que eu tinha que lutar para parecer não estar sendo afetada.

– Está vendo? Antes eu não me atreveria a tocar seu rosto assim, iria parecer indecoroso.

–E agora?

Dei de ombros, meu coração batendo rápido, os olhos de Killian se recusando a soltar os meus.

–É normal. Não parece errado, coisa que amigos podem fazer, não? Tanto que faço sempre.

Killian aquiesceu, retirando minha mão de seu rosto e a apertando.

–Como conseguiu essa cicatriz? – indiquei com a cabeça a cicatriz de seu rosto.

–Eu tenho tantas cicatrizes que não me lembro como as consegui, Swan.

–Bom... Essa que tenho aqui no pescoço, foi quando você me cortou com o punhal. Lembra logo no começo?- indaguei, mostrando o risco fino para ele. - Essa aqui do braço foi quando estava aprendendo a lutar com espadas. E essa aqui em meu tornozelo eu cai treinando com Bae, acabei me cortando em um dos obstáculos.

–Você fala delas com orgulho, Swan.

–Claro. Você não sente orgulho das suas?

Jones negou com a cabeça.

–O que há para se orgulhar? O deixam marcado para que se lembre o quanto é fraco.

–Está errado, Killian. Você tem que se orgulhar de suas cicatrizes porque elas são a maior prova de que tentou, falhou, mas ainda está vivo e de pé tentando. Suas cicatrizes são lindas, elas o deixam mais lindo, mais especial. Porque elas mostram que você é um lutador. - soltei uma risada incrédula, observando a cicatriz de meu braço. -Quem um dia imaginou que eu teria uma cicatriz para mostrar que eu sou uma lutadora? Quem um dia diria que eu teria uma história para contar sobre as minhas cicatrizes? E espero que venham muitas outras, para assim eu ter provas de que vivi, não apenas fingi como estava o tempo todo. Uma cicatriz nunca é algo feio, Killian. Me prometa que vai tentar ver suas cicatrizes como algo belo, sim? Assim como sua história.

Killian respirou fundo.

–O que quer dizer sobre minha história?

–Não a conheço toda, mas sei o bastante para saber que é triste. Porém você não deve ver isso como algo ruim, porque histórias tristes são as mais belas e por mais que pense o contrário mostram que apesar de tudo você sobreviveu e está vivendo da melhor forma possível até encontrar algo que vá o preencher novamente. Que vai trazer alegria para você, que vai dar sentido novamente para querer viver sua vida da melhor forma possível e plenamente. Um passado com uma história triste não quer dizer um futuro infeliz. Quer dizer que algo muito bom está vindo em sua direção.

–Como uma mulher que passou a maior parte da vida presa pode saber tanto assim?

–Tive bastante tempo para refletir sobre o assunto. E aprendi muito nos últimos meses para aprimorar o pensamento.

Killian olhou para o mar por algum tempo, como se estivesse perdido em pensamentos.

–Talvez eu já tenha encontrado. - confessou olhando para mim, seus olhos azuis brilhando tanto que me senti presa a eles. De novo. - Talvez você esteja certa sobre o futuro me dar algo bom.

–Isso é ótimo, Killian.

–Você acha?

Abri um sorriso sincero para ele, assentindo com a cabeça.

–Acho. E fico contente em saber disso. Espero que me conte o que é quando se sentir pronto.

–Eu irei Swan. Só preciso ter certeza.

–Leve o tempo que precisar Jones. - falei soltando um bocejo, sentindo a preguiça começando a se apossar de meu corpo.

–Por que não descansa um pouco antes de irmos?- sugeriu.

Neguei com a cabeça.

–Não quero perder nenhum minuto em que posso admirar esse lugar. Tenho medo de piscar e perder algum detalhe.

–Você gostou tanto assim daqui?- indagou incrédulo.

–Eu amei aqui, Killian. Nunca estive em um lugar tão lindo assim. Parece que estou em um sonho. Mas um sonho bom e tranquilo. - expliquei maravilhada. - Talvez para você não tenha o mesmo efeito porque já está acostumado, mesmo que ache impossível se acostumar à tamanha beleza.

–É realmente difícil se acostumar à tamanha beleza. É uma das coisas mais lindas que já vi. - murmurou, e por algum motivo me pareceu que ele não estava se referindo a ilha. Do jeito que algo se agitou dentro de mim, gostando de ouvir aquelas palavras, era como se fossem algum tipo de elogio a mim. - Podemos voltar aqui depois que conseguirmos encontrar a ilha de Hel. Como um descanso, ficamos uns dias e você explora tudo com mais cuidado, o que acha?

–Sério?

–Eu prometo que a trago de volta aqui.

Puxei uma das fitas que estavam em meu cabelo e segurei o pulso de Killian a amarrando fortemente.

–O que está fazendo?- instigou curioso.

–Me certificando de deixar um lembrete da sua promessa. Geralmente as pessoas amarram a fita na ponta do dedo, mas acho que aqui chama menos atenção e você irá lembrar sempre que olhar.

O abracei meio sem jeito devida a minha posição.

–Obrigada Killian. Eu vou adorar voltar aqui se tivermos a oportunidade.

Killian correspondeu ao meu abraço desajeitado, encostando o queixo em meu ombro, nos mantendo assim por algum tempo.

Eu conseguia sentir sua respiração em minha nuca e tentei sincronizar a minha para o mesmo ritmo. De alguma forma pareceria errado se não respirássemos juntos naquele momento.

Sua mão espalmou na base das minhas costas, me apertando mais ao seu corpo. Ser abraçada por Killian me trazia a sensação de conforto e proteção. E eu sabia bem no fundo que eu não deveria me sentir desse jeito. Mas não conseguia evitar.

Cedo demais, ou tarde, Killian me soltou, estudando meu rosto.

–Se está esperando que eu tenha um ataque pelo tempo que ficamos naquele abraço, vai ficar esperando.

Killian estalou a língua, se fazendo de desapontado.

–Droga. Vou sentir falta de seus ataques. O jeito para consegui-los vai ser ter que beijá-la.

Senti meu sorriso desaparecendo, e meu rosto ficando tenso.

–Estou brincando, Emma. Só irei fazer isso se algum dia pedir, não precisa ficar toda tensa. Como já disse, não faço o tipo que força uma mulher a fazer alguma coisa contra a vontade.

Assenti, mordendo o interior de minha boca.

–Swan?- chamou, procurando meus olhos.

–Eu sei Killian.- respondi o olhando. -É que o jeito que falou deu a entender que você espera que eu peça.

Killian passou a mão pelos cabelos.

–Não vou mentir dizendo que não. Eu já deixei claro que poderia querer beijá-la de novo.

Apoiei o queixo em meus joelhos, observando as ondas quebrando na areia lá embaixo, o vento carregando folhas e o perfume das flores pelo ar.

"Não se iluda por essas palavras seu tolo" briguei com meu coração, que batia tão forte e rápido que eu tinha impressão que queria sair de meu peito e dançar. Ele não estava acostumado a ouvir palavras do gênero, que chegassem até ele. Tudo que ouvira foram sussurros de elogios padrões tentando ganhá-lo.

Tentei fazê-lo entender que aquelas palavras por mais que fossem carregadas de intensidade que nos faziam estremecer, não eram verdadeiras. Nunca seriam o que aparentavam ser, e que nós dois não podíamos nos dar o luxo de acreditar nelas, caso contrário acabaríamos machucados.

Escutei Killian suspirando ao meu lado.

–Qual o problema, Emma?

Balancei a cabeça em uma negativa.

–Alguma coisa tem de ter. - atalhou.

–Somos amigos, Killian. Você não pode dizer coisas desse tipo para mim. Isso pode acabar estragando a amizade que construímos e eu não quero perdê-la. Gosto de sua companhia e de conversar com você.

–Você não quer que eu a beije, já entendi Swan. Não é tão difícil assim de entender.

–Não é que eu não queira. – respondi com honestidade, deitando a cabeça em meus joelhos para olhá-lo. - Só é errado, pois não sentimos nada um pelo outro. E tem minha reputação, para você não é nada, mas para mim é uma das únicas coisas que realmente importam da vida que deixei para trás. Um beijo apenas por desejo pode acabar com a minha reputação. É a única coisa que pode me destruir se eu tiver perdido.

–Você não acha que já a perdeu só de entrar no Jolly Roger? – indagou com sarcasmo.

–Talvez. – concordei. – Isso foi errado, contudo não pude evitar. Eu tive que fazer isso para encontrar minha mãe e ter respostas. Um beijo é errado para mim, porque não tem que acontecer apenas por acontecer. Tem que acontecer por algum motivo especial, de preferência com a pessoa por quem está comprometida ou por quem você tenha sentimentos fortes. Nós dois não temos nada disso.

–Não entendo sua linha de pensamento, Emma.

–Não é muito complicada. Nós nos sentimos atraídos um pelo outro, é óbvio, mas isso é físico. E é errado, pois para mim é vazio, não tem o emocional envolvido. Um beijo só pode ocorrer quando tiver os dois, a atração e a emoção. O desejo e o sentimento. Se só for por desejo, vira algo banal, sem importância. É algo vazio. É algo que suja a reputação de uma mulher, porém não a de um homem. Os homens não tem que se preocupar com isso, mas quando decidem se casar escolhem aquela mulher que tem a reputação limpa. Nunca as que eles desgraçaram pelo desejo. Um beijo tem que ir além de toques, arquejos e línguas sem sentido. Entendeu?

–Foi isso que a assustou daquela vez, não foi? O medo de perder sua reputação? O fato de ter pedido o beijo por que sentiu desejo?

Aquiesci, abraçando minhas pernas. Não era verdade, contudo ele não precisava saber que eu tinha sentimentos até demais naquele momento. Ele não precisava saber que o que me assustou foi ter pedido o beijo por estar desejando aquilo e no fim descobrir que havia algo mais ali no meio, não ter controle sobre meu corpo e nem sobre o meu emocional.

Até é claro, ele tentar tirar minha roupa.

–O beijo da cabine aconteceu por causa do desejo, você mesmo disse isso. Você disse que não iria se desculpar por começar a me desejar. – recordei jogando uma pedrinha para longe. - Não teve nada mais profundo. Então não vamos estragar o sentimento que temos um pelo outro, que construímos a base da amizade. Temos que nos manter a eles, e não ao desejo. Tudo bem?

Killian assentiu, mas não parecia satisfeito.

–Killian, eu preciso saber se me entendeu?- perguntei com seriedade.

–Entendi Swan. Eu entendi. Não vai acontecer novamente.

–Bom.

E então o clima antes leve se tornou carregado. Como era possível que palavras acabassem com uma atmosfera em meros minutos de conversa?

Killian bufou e se colocou de pé.

–Vou ir dar uma caminhada. Você pode continuar admirando a paisagem.

Concordei com a cabeça.

–Tudo bem, capitão.

Fique observando ele se afastar até se tornar um pontinho e desaparecer. Não entendia por que havia ficado tão irritado com o que eu dissera. Não era mentira nenhuma.

Deitei no chão, usando as mãos como travesseiro e fiquei prestando atenção, tentando guardar o maior número de detalhes possíveis, até que não consegui manter mais as pálpebras abertas e fui embalada pelos sons e cheiros que me rodeavam.

[...]

Acordei com o ar frio se enrolando em meu corpo. Apertei os olhos e me espreguicei, soltando um grunhido, meus ossos rígidos estalando.

Pisquei algumas vezes, tentando fazer a confusão do sono sumir, percebendo que o sol já havia ido praticamente embora, o único rastro que deixara era uma linha laranja avermelhada, que dava o seu adeus o mais lentamente possível.

–Você é muito linda quando está dormindo. -Killian falou. Olhei sonolenta para ele que estava sentado ao meu lado. Quanto tempo ele estivera ali? Pelo menos não parecia mais estar irritado. Sentei passando a mão pelo rosto, tentando acordar, mas estava difícil fazer minha cabeça despertar de vez. - Mas é muito mais quando está acordada, Swan.

O olhei confusa. Do que raios ele estava falando?

Então repentinamente ele segurou minha nuca com firmeza, sem me machucar, apertando os lábios contra os meus, vindo para cima de mim e me fazendo deitar, seu corpo cobrindo o meu, me prendendo embaixo de si.

Arfei surpresa em seus lábios e Killian aproveitou para passar sua língua pelos meus, invadindo minha boca com urgência. Talvez pelo fato que meu corpo respondia de forma estranha a ele e eu estivesse a tanto tempo lutando contra a vontade de que aquilo acontecesse, passei meus braços por seu pescoço, o abraçando, nos aproximando ainda mais. Não conseguindo deixar minhas mãos paradas e as movimentando para suas costas, tentando puxá-lo para mais perto de mim, a proximidade em que nos encontrávamos não parecia ser suficiente. Algo dentro de mim queria que Killian estivesse ainda mais perto de meu corpo.

Me senti respondendo ao beijo apaixonadamente, me atrevendo a explorar sua boca com minha língua, coisa que não tivera coragem de fazer da outra vez, me sentindo esquentar quando elas se encontravam em uma dança confusa que me enviava arrepios deliciosos por todo meu corpo, deixando meu coração eufórico e minha alma leve, como se aquilo não fosse errado. Eu deixei meus dedos se perderem em seus cabelos negros, sentindo seu hálito quente me preenchendo e esquentando tudo dentro de mim, como uma lareira acesa para dar conforto em um dia de chuva.

Killian então se separou, me esmagando com o peso de seu corpo.

–Seus lábios são muito beijáveis quando está acordada, Emma. - murmurou em meu ouvido, o nariz em meu cabelo aspirando profundamente. – E acho que preciso beijá-los mais uma vez. Não. Tenho certeza que preciso.

–Killian não.- tentei o deter sem muita vontade, quando voltou faminto procurando minha boca e eu pateticamente a entreguei, sem questionar, apenas deixando que acontecesse e sabendo que não deveria. Apenas querendo que ele continuasse a me beijar, porque eu adorava sentir seus lábios sobre os meus.

Porque eu sentia que algo mais estava acontecendo dentro de mim e que parecia precisar de Killian, como se fosse impossível pensar em se separar dele.

Sua mão apertava minha coxa, me fazendo tremer com a intensidade de seu aperto, fazendo algo esquentar em meu ventre e se contrair lá embaixo. Me fazendo segurar ainda mais a ele.

Seus lábios deixaram os meus mais uma vez, passando seu nariz de um lado para o outro lentamente pela linha do meu maxilar, descendo para o meu pescoço depositando beijos macios que me faziam soltar pequenos arquejos e murmurar seu nome como uma espécie de prece e ele fosse um tipo de deus que estivesse me respondendo , continuando a trilhar seus beijos como dádivas que me aqueciam.

–Isso não tem nada de errado. Como pode dizer que é vazio? Eu não aguentava mais, amor. É tão bom. Como pode ser tão doce, Emma?- sussurrou fazendo o fogo em meu âmago começar a queimar cada vez mais forte, encostando seu nariz no meu, seu polegar afagando minha bochecha, seus olhos azuis vibrantes exigindo os meus. Eu o fitei com a respiração entrecortada, meu coração cantava tão alto que acreditava que Killian o escutava. – Ah Deus! Tão maravilhosa e certa. Isso é certo, Swan. Não existe nada mais certo que isso. Tudo em você é certo. - murmurou com um leve sorriso, correndo seus olhos pelo meu rosto antes de ficar sério, tomando meus lábios com desespero, como se precisasse deles.

Aquelas palavras foram como tapas em meu rosto. Tapas para me lembrar que aquilo era extremamente errado, era contra tudo que eu acreditava. Que eu não podia me portar dessa maneira. Que eu não podia deixá-lo me usar daquele jeito.

O empurrei com toda força que tinha, separando nossos lábios, quando tudo o que eu mais queria era permanecer ali.

–Não!- gritei quando consegui me afastar. Killian ficou imóvel e me olhou atônito, seus olhos parecendo magoados por eu tê-lo afastado, então se sentou, ainda me fitando, deixando que eu saísse.

Me coloquei de pé, o olhando furiosa.

–O que diabos pensa que está fazendo? - indaguei, não conseguindo não gritar.

Killian se colocou de pé e tentou me segurar.

–Emma...- começou, os olhos cautelosos.

–Não!- me afastei dele. Ri sem humor nenhum, uma risada seca. - Estou vendo como você não é o tipo de homem que força uma mulher a fazer o que não quer. Apenas quando pedir, não é mesmo? Bem, eu não me lembro de ter pedido nada! - gritei novamente. Meu corpo inteiro tremia querendo voltar para como estava minutos antes, para o calor de seus braços, para seus beijos e suas palavras enganadoras. Ao mesmo tempo, que eu me sentia envergonhada de ter correspondido tão apaixonadamente, sendo que não significava nada para ele.

Apaixonadamente?

Como nesses momentos de clareza que nos pegam desprevenidos, eu compreendi toda a confusão de sentimentos dentro de mim. A necessidade de senti-lo perto, de não querer me separar de Killian.

"Seu coração já encontrou um lar" dissera vovó Libélula.

Esses momentos de compreensão que nos fazem entender algo que não fazemos ideia do que seja. Você apenas sabe e sente.

Era como Killian havia dito para mim, não havia palavras no mundo que chegassem perto de descrever como era. Tudo o que eu tinha lido em livros era uma vaga tentativa de tentar transcrever algo muito maior do que nós. Era uma coisa pessoal de cada um, um momento único em que se descobre, entende aquele turbilhão de sentimentos.

Eu estava apaixonada por Killian.

–Ah não!- soltei em um lamento fraco, sentindo minhas pernas moles, enquanto o encarava sem conseguir acreditar. - Não, não, não. - murmurei para mim em completo desespero. Era coisa demais acontecendo de uma única vez.

Eu não podia deixar que ele me usasse como unguento para suas feridas não cicatrizadas

"Seu idiota, eu falei que não era para se deixar levar pelas palavras dele" atalhei para o meu coração que estava pulsando dolorosamente em meu peito, implorando para que eu o deixasse no comando.

Eu não podia estar apaixonada. Eu não queria me apaixonar. Não podia deixá-lo no comando.

Não podia amar um homem o qual seu coração ainda batia por outra, e não podia me entregar a alguém sem que tivesse um compromisso.

Era nisso que eu acreditava, não era? Era errado eu desejar alguém com a intensidade que eu o desejava, porém eu lidava com isso, conseguia controlar se ele se controlasse também. Mas agora... Com a descoberta desse sentimento tudo ia muito além do desejo. Pelo menos para mim. Eu estaria me enganando se o deixasse continuar com aquilo, me iludindo que talvez desse jeito ele pudesse começar a sentir o mesmo por mim.

Killian tocou os lábios levemente, contemplando meu rosto com ar pensativo, antes de piscar e parecer voltar ao presente.

–Emma, me desculpe. - pediu cuidadoso, se aproximando.

Passei as mãos pelos cabelos, me virando para observar o mar que estava praticamente coberto pela neblina. Não iria chorar por aquele beijo. Tentei me convencer que não era para tanto, quando tudo dentro de mim parecia querer desmoronar.

Killian tocou meu ombro, enviando sensações por todo meu corpo que eu tinha que ignorar pelo meu próprio bem. Eu não tinha nenhum interesse em senti-las.

Não com ele.

–Não me toque Killian. - sibilei entre dentes, colocando a maior distância entre nós dois. -Você tenta se convencer que não é o tipo de homem que força nada, mas é exatamente esse tipo. Eu pedi para não tentar nada, lhe expliquei sobre a minha reputação e de como acho isso errado. Lhe pedi para que não estragasse nossa amizade. Perguntei se você havia entendido e você me garantiu que havia. - minha voz saiu estrangulada.

–Eu sei, eu sei. Olhe me desculpe, Swan é que... Vendo você ali adormecida, pensei como teve uma noite difícil e como você está deixando de dormir para cuidar do meu sono. Eu...

–O que uma coisa tem a ver com a outra, Jones? – minha voz saiu aguda, tentando entender.

–Eu quis mostrar o quanto estou grato por isso, e...

Abri a boca perplexa com o que tinha ouvido.

–Vá se ferrar, Killian.- me ouvi dizendo com frieza, começando a descer a passos rápidos, tentando não deixar que as ondas de humilhação me alcançasse.

Gratidão? Gratidão? Antes ele tivesse o feito por desejo, seria um pouco menos humilhante.

Enquanto eu o retribuía por estar, apaixonada por ele, Killian me beijava por gratidão.

–Emma!- Killian gritou quase me alcançando.

Comecei a correr, não querendo ouvir mais nada dele pelo dia de hoje.


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Notas finais do capítulo

Então...? O que acharam? Desculpas novamente pelo tamanho, eu tendo a escrever quando estou passando por alguma coisa complicada e esse capítulo foi escrito em uma dessas ocasiões e eu não aguentava mais de ansiedade para mostrar a vocês. Espero novamente que tenham gostado e que tenha ficado bom. Prometo que não terão capítulos tão longos assim novamente.

Quero agradecer novamente as meninas pela recomendação. De verdade, não estou sendo forçada nem nada, é uma surpresa que alegra meu dia ver que estão gostando do que estou escrevendo. Obrigada.

E antes que falem que eu demorei (o que não foi o caso), sim o capítulo estava pronto há séculos, porém eu quero fazer uma postagem semanal. Logo decidi que capítulos novos sairão entre sexta a domingo. Tudo bem?

Uma última coisa, não sei se dona Gabriela está acompanhando por aqui (afinal eu quase sempre mando pra ela), porém quero agradecê-la pelo apoio e por ler quando eu tenho dúvidas sobre o que eu escrevi. Não poderia ter pedido uma amiga melhor.

Ah claro, quero deixar a música que eu ouvi um zilhão de vezes enquanto revisava esse capítulo e achei que seria legal compartilhar com vocês: https://www.youtube.com/watch?v=DAMM8JVbr8g

Desculpem por estar falante hoje. Obrigada se chegaram até aqui por lerem e pela paciência.

Beijos.