Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Taraaan... Olá lindezas da minha vida, como passaram a semana? Por favor me digam que foi melhor do que dessa autora aqui.

Capítulo novo para vocês e espero que gostem.

Boa leitura.



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Eu afastava os galhos das árvores com uma mão, erguendo a barra do vestido com a outra, tropeçando nas raízes e troncos caídos, ganhando alguns arranhões com os tombos. Conseguia ouvir minha própria respiração e sentir o sangue correndo pulsante em minhas veias. Meus pulmões pediam que fossem recheados de ar e minhas pernas que eu diminuísse o ritmo, mas não ouvi nenhum deles. Meus olhos estavam embaçados por conta do esforço, porém preferi acreditar que eles estavam tentando evitar que eu visse algo que me fizesse fraquejar naquele momento. Fraquejar ainda mais.

Meu vestido enroscou em um galho caído me fazendo cair com violência no chão. Permaneci naquela posição, sentindo as folhas e terra úmida tocando minha pele e meu rosto, o cheiro de quando já estão começando a se misturar após tanto tempo juntas, tentando me acalmar e pensar.

Depois de alguns minutos comecei a me mexer para me sentar, fazendo uma careta ao sentir uma leve dor em meu corpo e vendo meu joelho ralado. O cobri com o vestido, usando um tronco caído como banco.

Olhei ao redor e não sabia onde me encontrava, em qual lugar da ilha havia ido parar. Não sabia se estava longe o suficiente de Killian e sua gratidão estúpida ou não. Eu não sabia de mais nada além de que eu estava com raiva de mim mesma.

Eu deveria ter me afastado assim que senti sua mão em minha nuca.

Não, eu tinha que ter me afastado assim que ele me elogiou. Deveria ter pressentido que aquilo estava para acontecer, que ele já estava planejando aquilo desde que havia me garantido que não tentaria nada.

Ah Deus! Tão maravilhosa e certa. Isso é certo, Swan. Não existe coisa mais certa que isso. Tudo em você é certo. Suas palavras ecoaram em minha mente, quando a lembrança de seus toques e os beijos se fizeram presentes em cada pedaço de meu corpo, fazendo com que minha pele se arrepiasse deliciada com a memória.

Se eu não tivesse um pouco de sensatez naquele momento para me separar, com toda certeza eu estaria perdida depois dele pronunciar aquela frase. Com toda certeza aquelas palavras haviam saltado de sua boca na tentativa de conseguir arrancar minha roupa.

E eu, ingênua, realmente pensei que poderíamos ser amigos. Realmente achei que ele queria ser meu amigo, ignorar toda a tensão e termos uma amizade. Acreditei que havíamos conseguido, enquanto ele apenas esperava o momento certo para tentar me usar.

Ganhando meu coração para então tentar brincar com ele.

Comecei a chorar tentando entender como havia acontecido. Como eu havia me apaixonado por Killian? Como não havia percebido isso a tempo de evitar?

Olhei ao redor percebendo que a noite já havia se tornado mais escura, os sons noturnos começavam a ganhar vida, as cigarras gritavam a minha volta e eu não me lembrava de qual direção eu havia vindo e nem quanto tempo eu havia ficado ali.

Tudo bem, não seria nada mal ficar um tempo com os mouros até que eu conseguisse ir embora.

Então um estalido me fez ficar de pé, em alerta.

–Emma?- a voz de Landon me chamou. Suspirei de alívio, indo de encontro a ela.

–Landon?- o gritei de volta.

–Emma, me chame de novo para que eu a encontre. – pediu e assim eu o fiz, até que pude distinguir sua sombra a minha frente com a lamparina erguida. -Graças a Deus, Emma. Por que você tem essa mania de fugir?- indagou.

Eu o abracei feliz em vê-lo, e sendo acolhida por ele, mesmo que de modo hesitante.

–Eu fujo quando me sinto assustada. Me desculpe. – pedi com a voz embargada.

Fiquei abraçada a ele por um tempo me sentindo protegida. Como se ele fosse um pai tentando confortar sua filha, mas não soubesse como fazer isso porque havia criado apenas meninos.

–Killian está louco atrás de você. – Landon falou finalmente, me soltando e fazendo- me segurar em seu braço para me guiar.

–Hmm.- respondi desinteressada, mesmo que algo dentro de mim pareceu contente em saber que pelo menos um pedacinho daquele homem se sentia culpado.

–Ele me contou o que aconteceu.

–Claro que contou. – murmurei. – Ele deve estar se gabando disso para todos no navio.

Landon olhou rapidamente para o meu rosto.

–O que quer dizer, Emma?

–Que Killian estava esperando por esse momento. Ansioso para finalmente mostrar para todos que a dama é apenas mais uma qualquer. Uma mulher fácil. – expliquei, olhando para o vestido sujo de terra.

Landon suspirou fundo.

–Está errada, Emma. Killian não é esse tipo de homem. Eu o conheço e posso garantir que ele não brincaria com você desse jeito. Não depois de tudo que tem feito por ele.

–Afinal, por que ele lhe contou?

–Ele precisava encontrá-la, porém não queria dividir com todos. – falou dando ênfase e me olhando. - O motivo de você estar sumida. Killian confia em mim para dizer quase tudo, ele contou que a beijou a força e que você não gostou.

–Não foi esse o motivo. – atalhei. – Um pouco talvez.

–Então qual foi o motivo maior? – questionou calmamente.

“Eu estar apaixonada por ele” pensei com pesar, olhando para o lado evitando os olhos de Landon, com medo que percebesse.

–Seu motivo. – respondi por fim quando estávamos chegando à praia. – Ele disse que me beijou por gratidão.

–E você acreditou nele, Emma? Será que não percebe? – Landon parou, fazendo- me encará-lo.

Dei de ombros, meus olhos ficando marejados de novo.

–Perceber o que, Landon? Que ele quis me usar e me humilhar, deixando bem claro o quanto eu sou fraca e fácil?

Landon negou pacientemente, pousando a mão em meu ombro.

–Que ele tem sentimentos mais profundos que a amizade pela senhorita. Que Killian está apaixonado por você, Emma. Já pensou nessa possibilidade?

Arregalei os olhos, surpresa ao ouvir aquilo. De tudo que Landon poderia me dizer, eu não esperava ser isso que eu deveria perceber. Meu coração começou a bater rápido, como se estivesse me cutucando e dizendo: “Está vendo? Eu estava certo o tempo todo”.

–Não. Impossível, Landon. Pare de tentar arrumar justificativas para o que ele fez. – pedi saindo andando.

–Emma por que é tão difícil assim você enxergar isso? Está bem na sua cara!

–Não Landon!- gritei com ele. – Eu o conheço. Sei como Killian age. Ele é incapaz de sentir algo além de ser físico. Eu não sou alguém para ele usar como curativo até ver que não está resolvendo e tentar outra. – bati em meu peito, me sentindo agoniada.

–Emma... Nunca ninguém mostrou se importar, ou querer cuidar dele como você esta fazendo. Pelo menos não sem um interesse, querendo algo em troca. Ele gosta da sua companhia. Ele a respeita e ele sente com você. Ele... Ele sente por você. Killian já melhorou tanto, não o faça regredir se afastando dele. Eu nunca o vi tão sorridente como nos últimos tempos, nem tão bem consigo mesmo. Emma você consegue ver o que fez para um homem infeliz? Não consegue ver que você o fez começar a sentir de novo? Ele a chama de “minha Emma” quando não está perto. Ele sente sim, está sentindo algo além do físico porque você o fez sentir por inteiro.

Balancei a cabeça freneticamente em uma negativa, tampando meus ouvidos, como eu costumava fazer quando criança e tentava fugir dos trovões que ficavam ecoando em minha mente. Mas dessa vez eu tentava fugir das palavras de Landon que iriam me iludir se eu continuasse ouvindo. Sei que era um gesto infantil, contudo aquilo parecia ser minha única defesa no momento.

–Emma você sente o mesmo por ele. – não era uma pergunta. Era uma afirmação. Landon sabia.

–Não. Não sinto. – menti não conseguindo acreditar em mim mesma. – Não quero sentir, Landon. Apenas pare de falar, por favor. – implorei. – Apenas não toque mais nesse assunto, pois está errado. Killian passou a noite Zirba, ele continua o mesmo. Eu não sei por qual motivo ele me chama assim, mas eu não sou dele e você está errado.

Landon assentiu, oferecendo seu braço novamente e me lançando um olhar de pena.

–Como quiser Emma.

Terminamos o trajeto em silêncio até onde deixamos os botes, encontrando apenas um nos esperando e distingui Killian andando de um lado para outro, enquanto conversava com Zirba. Aparentemente todos os mouros estavam na praia para se despedir.

Forcei um sorriso assim que algumas mulheres soltaram uma exclamação ao me verem e saírem andando em minha direção. Killian se virou e percebi que ele soltou o ar de uma vez, seus ombros relaxando.

–Emma!- exclamou aliviado andando a passos rápidos até mim. Evitei olhar em seus olhos, para manter a expressão serena em meu rosto. - Você me deixou preocupado, não faça mais isso amor. – pediu em um sussurro, enquanto me abraçava com força, escondendo seu rosto em meu pescoço, fazendo tudo dentro de mim se agitar.

Olhei para Zirba que nos observava com uma expressão fechada, não parecendo contente e nem confortável de presenciar aquela cena.

–Me solte. – ordenei em um murmúrio para apenas Killian ouvir.

Jones se afastou olhando para o meu rosto.

–Amor...

–Agora não. – sorri amigavelmente para ele, como fora ensinada. Uma dama sempre deveria esconder seu desconforto, sempre deveria parecer agradável e sorrir para tudo.

Andei até as mulheres que me entregaram embrulhos com remédios caseiros, algumas plantas, sabonetes com cheiro e óleos para o corpo. Agradeci com sinceridade, retribuindo alguns abraços e respondendo que seria um prazer voltar novamente.

Fui até vovó que estava afastada com Lori ao seu lado. Beijei sua face, fechando os olhos quando ela tocou meu rosto, apertando minhas bochechas.

–Não seja tão dura com ele, menina. – aconselhou.

–Verei o que posso fazer. Obrigada vovó, por tudo.

–Gostaria de poder ter ajudado mais.

–A senhora me deu um colo. Isso foi o suficiente. – garanti. – Adeus.

–Eu prefiro um “até logo”. – falou sorrindo.

–Até logo então, vovó. E obrigada pelos remédios. – me despedi, andando de costas e observando o rosto da senhora, imaginando se ela aguentaria até a próxima vez ou se teria uma próxima vez.

–Não me agradeça. Você vai precisar depois de sua aventura de hoje cedo.

Landon me ajudou a subir no bote para que Killian e ele o empurrassem para a água. Acenei para os mouros quando estávamos nos afastamos, me virando e ficando séria, sem encarar nenhum dos dois.

O mar diferente de manhã, estava calmo e quase não havia ondas, facilitando assim o trajeto de volta até o navio.

–Meu amor. – Killian tentou pegar em minha mão e eu a puxei, apertando de encontro ao meu peito.

–Não. – decretei, vendo Landon balançar a cabeça como se estivesse entediado.

Jones se levantou e sentou ao meu lado.

–Killian a deixe quieta. – Landon o aconselhou.

–Emma olhe para mim. – pediu o ignorando. Virei o rosto para ele com a melhor expressão de desdém que consegui fazer.

–Eu não estou com vontade de conversar. – informei me levantando para ir me sentar a outra ponta.

–E quando vai estar com vontade de conversar comigo? – indagou bravo me impedindo de sair. O olhei irritada, até que percebi seus olhos descendo para minha boca e tive que desviar o olhar por conta do formigamento que me atingiu. –Vamos conversar agora.

Me sentei novamente soltando uma risada irônica.

–Você não está em posição de me pedir tal coisa, senhor Jones. – respondi de forma cortante.

–Emma...- me chamou novamente.

Percebi Landon segurando o braço de Killian, balançando a cabeça em uma negativa, o advertindo que não era uma boa ideia continuar insistindo e indicando o remo para que ele fosse ajudar.

Graças a Deus eu tinha Landon naquele navio apesar de tudo.

[...]

–Ele tentou alguma coisa, não tentou?- Bae se sentou ao meu lado, estudando meu rosto.

Olhei para o horizonte. Os homens haviam percebido que havia alguma coisa errada no momento em que pisei no navio e me afastei de Killian quando ele tentou segurar meu braço me chamando para conversar. E então eu gritei com eles, ordenando que eles levantassem âncora e soltassem as velas, arrumando a mareagem.

Eu ordenei e não Jones.

Todos me olharam de olhos arregalados, mas não demoraram a seguir minhas ordens sem esperar uma palavra vinda de Killian.

–Não. – respondi simplesmente, soando extremamente rude.

–Olhe Emma, não estou aqui para julgá-la. Apenas tome cuidado, está bem? – aconselhou antes de se levantar, depositando um beijo em minha cabeça e me deixando sozinha ao perceber que eu não queria companhia.

Tirando Bae, ninguém mais se atreveu a se aproximar. Isso não quer dizer que não era capaz de sentir a curiosidade, suas cabeças inventando e deixando escorregar por suas línguas o que deveria ter acontecido, afinal agora estava bem óbvio que algo acontecera entre seu capitão e eu.

Eu teria que achar um jeito de impor respeito, para que eles não tentassem nada achando que agora havia me tornado uma mulher fácil. Uma mulher que eles estão acostumados a lidar.

Aproveitei quando os homens foram se deitar, após algumas horas já navegando, para ficar dando voltas no convés, tentando me acalmar. Tentando achar alguma coisa que provasse que eu não estava de fato apaixonada por Killian.

Me apoiei no parapeito observando o céu. Tentando encontrar o cruzeiro do sul ou qualquer outra constelação sozinha. Eu apenas conseguia identificá-las quando Jones as apontava para mim, me dizendo qual era.

Senti sua presença antes mesmo que ele falasse alguma coisa. Eu não deveria ser capaz de senti-lo assim.

Não me virei, torcendo para que se eu o ignorasse ele simplesmente virasse e fosse embora achando que eu não havia percebido que estivera ali.

–Sei que sabe que estou aqui. – avisou calmamente, como se tivesse acabado de ver o pensamento que acabara de ter. – Seus ombros ficaram tensos.

Continuei em silêncio, sem me virar. Eu precisava impor respeito. Precisava mostrar que ele não podia fazer o que quisesse, não quando se tratasse de mim. Eu correspondi? Sim, mas não queria ter o feito, pelo simples motivo que eu sabia que acabaria desse jeito. Porque eu sabia que não conseguiria resistir a ele.

Escutei seus passos se aproximando, cautelosamente até parar ao meu lado.

–Você não vem? – indagou ansioso.

Soltei uma risada amarga, olhando incrédula para ele, mesmo que por dentro era difícil conter o frio em minha barriga se agitando, os pulos e puxões já não tão misteriosos assim.

–Você só pode estar brincando. – falei me afastando do parapeito.

Killian segurou meu braço.

–Emma, por favor. – pediu suavemente. – Sei que está furiosa, e eu já lhe pedi desculpas, mesmo que você tenha retribuído...

–Ah ótimo, então agora você vai jogar isso na minha cara? – instiguei descrente. – Irá jogar em minha cara que conseguiu me usar e me humilhar, provando que está certo, que eu sou tão fraca que não consigo resistir a todo seu poder de atração, mesmo que eu ache extremamente errado? Mesmo que eu tenha consciência e tenha dito para você que pode me destruir? Que eu gosto tanto de seus beijos que é difícil me separar e quando o faço tudo o que mais quero é voltar para o calor de seus braços?

Killian piscou algumas vezes parecendo atordoado, respirando fundo, sem desviar os olhos dos meus.

–Você gosta dos meus beijos? – indagou em um murmúrio abafado. – Você quer voltar para os meus braços agora? Porque se você quer basta pedir, Emma. Peça que eu a segurarei. – ofereceu, com a voz carregada, seu peito descendo e subindo lentamente.

Soltei uma risada estrangulada ao ouvir suas palavras. Comprimi os lábios, fitando os olhos azuis de Killian que estavam esperando uma resposta.

–Sim, eu quero. – falei com sinceridade, franzindo o nariz, ignorando a ardência em meus olhos. Killian abriu um sorriso leve soltando o ar lentamente, parecendo contente com a minha resposta. – Bem, parabéns Gancho, pode adicionar meu nome a sua lista e rir de mim enquanto conta o quão divertido foi enganar a tola aqui que achava que queria ser meu amigo. O quanto fui ingênua de pensar que você me respeitava. Ande termine logo de jogar em minha face.

Jones balançou a cabeça em uma negativa.

–Não Swan...

–Sim. Sim, Jones porque é exatamente isso que está fazendo agora!

–Você quer me deixar falar? – perguntou aborrecido, seu olhar pedindo por paciência. – Mesmo que você tenha retribuído eu vim lhe pedir desculpas, pois você me explicou e pediu para que eu não tentasse nada. Agora vejo o por quê. - Killian apertou mais meu braço se aproximando tanto de mim que eu era capaz de sentir sua respiração acariciando meu rosto e o calor de seu corpo me envolvendo. – Eu nunca tive a intenção de humilhá-la ou usá-la, Emma. Tenho muita consideração por você. – sorriu, parecendo acanhado, seus olhos suavizando. – Gosto muito de você para machucá-la desse jeito. Você precisa acreditar que eu não sou esse tipo de homem. - garantiu soando angustiado. –Eu quero ser seu amigo. Eu sou seu amigo, amor. – ele me puxou para um abraço. – Viu só? Amigos podem se abraçar assim, é o que nós somos, Swan. Sou seu amigo, assim como gosto de beijá-la também e quero fazer de novo e de novo porque não há nada de errado nisso, amor. Não quando nós dois queremos.

–Pare de dizer que não é errado, porque é! Eu não sou uma de suas mulheres, Jones. - retruquei a voz esganiçada. - Ontem mesmo você passou a noite com Zirba e hoje já está tentando fazer o mesmo comigo. Eu sei que está tentando porque eu li aqueles livros que deixou para que eu lesse. Sei como tudo funciona exatamente e eu não sou igual elas. Eu não sou alguém que você pode jogar fora.

Killian estreitou mais os braços ao meu redor, encostando sua testa na minha, os olhos fechados, negando com a cabeça.

–O que aconteceu ontem com Zirba não foi nada, Swan. Você e eu... Não é errado. Deixe-me beijá-la mais uma vez para provar que não somos errados, que não estou tentando fazer a mesma coisa com você. - pediu. - Claro que não é igual a elas, amor. Eu nunca pensaria isso, Emma. Nunca pensaria porque é diferente.

–E irá dizer a mesma coisa sobre mim para a próxima mulher que encontrar. Que eu não sou nada. - Jones balançou a cabeça sussurrando “não”. - Sim, porque eu conheço como homens do seu tipo agem. Eu lhe pedi Jones. Pedi que não fizesse. Perguntei se havia me entendido.

–Prometo não fazer mais, não se você não quiser tudo bem? Não quero fazê-la se sentir mal, Emma... Apenas não me ignore de novo, você prometeu me ajudar. Vamos conversar e resolver isso, por favor. - sussurrou em meu ouvido, seu hálito quente me causando cócegas.

Naquele pedido eu pude enxergar todo o medo de ser abandonado que Killian sentia. As lembranças antigas, o medo de ficar sozinho. Pude enxergar o garoto assustado e abandonado tantas vezes, seja se propósito ou pela vida, preso no corpo de um homem me pedindo para não ignorá-lo.

Landon dissera que nunca ninguém o tratou como eu estava. Não sem um interesse.

E enxergar isso tornou tudo ainda mais difícil.

Dei um passo para trás, sentindo dor ao sair de seu abraço e tentando não quebrar na frente dele.

–Não irei parar de falar com o senhor. - declarei. Killian sorriu e se aproximou de mim no mesmo instante que recuei. - Eu não estaria sendo justa se parasse de falar com você sendo que o retribui.

–Obrigado, Swan. Venha, vamos dormir. - chamou tentando pegar minha mão.

–Eu disse que não irei parar de falar com o senhor, não que vamos ser como antes. Estou retirando a minha promessa em ajudá-lo e se mostrou impossível para nós dois termos uma amizade.

Killian respirou fundo sem desviar os olhos dos meus.

–O que está dizendo, amor?

–Estou dizendo que você esconde coisas importantes sobre mim e ainda não me respeita. Existe um limite que uma pessoa aguenta ser feita de boba. Como posso acreditar em sua promessa de que não fará mais isso, quando me prometeu a mesma coisa esta tarde? - indaguei. - Estou dizendo que seremos como no início, conversaremos apenas o necessário. Você me dando ordens e eu as obedecendo. Nada além disso. Sem nenhuma conversa mais profunda ou... Nada. - dei de ombros pensando que eu sentiria falta de dar um beijo de boa noite em sua bochecha ou segurar sua mão. - Vai ser melhor assim. - concluí.

Jones negou com a cabeça, parecendo frustrado.

–Não, Swan... Eu posso ter me excedido hoje à tarde... Não volte a me tratar como antes. Você me odiava antes.

–Eu nunca o odiei senhor. - garanti lutando desesperadamente para não pedir que ele me abraçasse e beijasse como naquela tarde.

–Vamos dormir amor. Lhe garanto que amanhã conseguirá pensar com mais clareza e ver que isso não foi nada.

–Está vendo?- instiguei apontando para ele, que me olhou confuso. - Acabou de afirmar que o beijo não foi nada. Esse é seu problema, nunca é nada.

–Não Swan... Não foi isso que eu quis dizer.

–Quer saber? Tenha uma boa noite capitão. - fiz uma pequena reverência, dando as costas para ele e me mantendo firme na escolha de me afastar dele, antes que a melancolia que estava apontando em seus olhos me fizesse amolecer.

Mesmo que estivesse me matando por dentro ter que fazer aquilo.

Mas eu precisava me colocar em primeiro naquela situação.

E como eu havia dito se caso eu encontrasse amor, iria evitá-lo a todo custo.

Era o que eu precisava fazer, ou eu tinha certeza que iria me apaixonar ainda mais por Killian e não tinha nada que eu pudesse fazer para evitar que isso acontecesse.

[...]

Estava raspando o parapeito do Jolly Roger para tirar a crosta de sujeira. Minha cabeça estava pesada e girava, resultado de uma noite mal dormida e provavelmente uma gripe querendo surgir depois do meu pequeno mergulho no dia anterior.

Vovó sabia que isso aconteceria. Por isso mandou me darem os remédios.

Espirrei e cocei a garganta que estava me incomodando, tentando me concentrar em minha tarefa e parar de pensar em Killian e nossa conversa da noite anterior. Em Landon e sua afirmação de que Jones estava apaixonado por mim. Como parecia estranho eu ter acordado em meu bote e não ter tomado café da manhã com ele.

Eu estava me sentindo infeliz, por tudo o que acontecera. E por estar querendo tanto me jogar nos braços de Killian. Agora parecia mais difícil de tirar esse pensamento de minha cabeça depois que eu admitira meus sentimentos por ele.

Me inclinei sobre o parapeito vomitando no mar ao sentir a ardência e o gosto estranho subindo por minha garganta. Limpei a boca e deslizei até estar sentada, fechando os olhos e deixando o sol bater em meu rosto na esperança que me aquecesse. Eu estava com frio.

–Emma? – ouvi a voz de Bae e abri os olhos. – Você está bem?

Neguei com a cabeça.

–Acho que estou doente. Minha garganta dói e... – um espirro me interrompeu. – Minha cabeça.

Baelfire ficou de cócoras e colocou a mão sobre o meu rosto.

–E está quente. – constatou. – Largue isso que eu termino para você. Vá descansar um pouco lá em minha rede, aproveite que o porão está vazio.

Assenti, aceitando as mãos de Bae para me ajudar a levantar.

–No meu bote estão os remédios que os mouros me deram. Pergunte para Landon qual deles é para o que, por favor. – pedi indo para o alojamento, ignorando os olhares de curiosidade que os homens estavam me lançando.

Andei até a rede de Baelfire, me deitando ficando encolhida por causa do frio que eu sentia. Um acesso de tosse decidiu me atingir no momento que quase estava pegando no sono.

O silêncio ali era tão bom e quanto ao cheiro, eu não era capaz de sentir nada então não estava me incomodando.

–Swan! – apertei os olhos ao perceber que era Killian.

Claro que era. Apenas ele me chamava de "Swan" naquele navio.

–Ela está descansando Killian. Está tudo bem. – pude ouvir Bae descendo atrás de Jones. – Emma está bem. Não acha que eu teria comunicado você se não estivesse?

–Acho. – respondeu com rispidez. – Mentiu com ela quando disse que havia saído para dar uma volta, quando na verdade ela tinha ido tentar se matar! – grunhiu.

–Emma estava sonhando, Killian. Você deveria saber que ela nunca faria uma coisa dessas. Já ouviu falar em pessoas sonâmbulas? Elas não têm noção do que estão fazendo. E você poderia ter evitado se tivesse passado a noite na cabana, como Landon e eu fizemos para cuidar dela. Mas ao invés disso o que você preferiu fazer? – indagou com raiva. – Pode deixar que de Emma, Landon e eu cuidamos. Quero você longe dela.

Escutei Killian soltando uma risada de escárnio. Permaneci de olhos fechados apenas desejando que eles fossem discutir em outro lugar.

–Cale a boca. – Jones mandou com o tom de voz controlado de uma forma assustadora. – Cale a boca, Baelfire que o único motivo que você está aqui é porque Emma pediu. Sendo assim, acho bom você mostrar um pouco de respeito ao seu capitão. Isso ou eu não irei hesitar em jogá-lo como comida para os tubarões.

–Claro capitão. Pode me mandar calar a boca a vontade, porque sabe essa é a verdade e não tem argumentos para provar o contrário. Preferiu passar a noite se divertindo e agora quer bancar o preocupadinho?

–Eu não estou bancando nada. Eu me preocupo com Emma. - Jones rosnou. - E falei sério quanto a você calar a boca ou eu irei atirá-lo ao mar com esse gancho preso com todo prazer em sua garganta. - ameaçou.

Percebi Killian se aproximando da rede e me remexi, virando para ficar de costas para ele. Ele tirou o cabelo de meu rosto, pousando a mão em minha testa.

–Ela está com febre.

–Eu sei. Landon já está preparando o láudano. – informou Bae.

–Isso é culpa sua! Deveria tê-la tirado da água e levado-a de volta para o acampamento para que se aquecesse e não sair para dar uma volta. Deveria ter me chamado quando a viu saindo.

–Emma não queria voltar para o acampamento. O que eu deveria fazer? Diferente de você eu respeito às vontades dela. E devo recordá-lo que ela não queria que você soubesse. Foi a mim que ela pediu segredo. Em mim que ela confia porque sabe que eu nunca faria nada contra a vontade dela!

Jones ficou em silêncio, como se não soubesse o que dizer.

–Mas eu sei o que é melhor para ela. – falou por fim.

–Certamente. – Bae concordou com ironia.

Suspirei cansada.

–Apenas no caso de vocês terem se esquecido, eu estou aqui e não estou dormindo. Então por favor, fiquem quietos ou se retirem daqui. – pedi impaciente. – E isso foi para o senhor, capitão.

–Você a ouviu, Killian.

–Isso é besteira, Swan. – resmungou me pegando no colo. – Não irei voltar a tratá-la como antes e não pararei de conversar com você.

–Mas que inferno! – Landon praguejou. – Será que os dois imbecis não podem deixar a garota em paz? Coloque-a de volta na rede, agora! – ordenou irritado. – Eu irei cuidar dela. Ande Killian.

Jones olhou para o meu rosto e eu arquei uma sobrancelha de forma arrogante. Ele revirou os olhos, mas por fim me colocou no chão.

–Mas acho melhor você ficar em nossa cabine, amor. Irá ficar mais confortável.

–Eu sou parte da tripulação, senhor. – atalhei me perguntando se eu fui à única que reparei na forma como ele se referiu a sua cabine como “nossa”. – Não é certo eu ficar em seu espaço pessoal, a menos que eu tenha algum trabalho a ser feito lá. – justifiquei voltando a me sentar na rede. – Eu realmente estou me sentindo indisposta e gostaria de poder descansar por um tempo.

Killian olhou para Landon, que deu de ombros dando a entender que não poderia fazer nada, para então sair de forma tempestuosa, derrubando o que estava em sua frente.

Landon indicou para que Bae saísse também e assim que estávamos a sós ele se virou para mim, entregando uma colher com láudano.

–Se mais algum homem decidir entrar na disputa para ganhar seu coração, eu lhe juro que irei enlouquecer.

Fiz uma careta ao engolir e sentir o gosto amargo do remédio.

–Não existe disputa nenhuma, senhor Baptiste. Senhor Jones é meu capitão e Baelfire meu amigo. Obrigada por tirá-los daqui a propósito.

Ele se sentou em uma das redes, se balançando levemente.

–O que está sentindo?

–Dor de garganta e cabeça. Nariz entupido, espirros e tosse. Nada muito sério, apenas desconfortável. E estou com frio também, mas creio que é por conta da febre.

–Daqui a pouco irei lhe dar um elixir dos mouros de casca de salgueiro. Irá ajudá-la a se recuperar com mais rapidez. Viu se tem alguma mancha no corpo ou em sua gengiva? Disenteria?

–Não. Nenhum desses sintomas... Eu vomitei um pouco mais cedo. – recordei e Landon aquiesceu.

–Pedirei para que seja feita uma limonada para que fique hidratada... Emma, quanto ao Killian...

–Sim?

–Reconsidere sua decisão, por favor. Ele não conseguiu dormir noite passada, ficou andando pela cabine o tempo todo depois que conversaram.

–Você não vai conseguir fazer eu me sentir culpada. Não fiz nada errado. Só estou tentando me proteger.

–Eu sei Emma. Apenas tente achar outro modo, sim?

–Landon... Prometo que irei pensar no caso quando estiver me sentindo melhor. – concordei mesmo sabendo que só o estava fazendo para que ele não ficasse insistindo.

Landon assentiu, esticando a mão para tocar meu rosto, mas hesitando no meio do caminho. Ergui a cabeça, encostando minha testa em sua mão erguida, começando a sentir a sonolência causada pelo láudano.

–Descanse Emma. Eu lhe acordo quando for à hora do próximo remédio. - avisou se levantando e saindo do porão.

Não sei quanto tempo dormi, mas sei que o que me acordou foi uma vontade repentina de vomitar. Virei para o lado, vomitando no chão e tossindo, sentindo as lágrimas virem enquanto meu estômago não parava de se contrair mandando tudo o que tinha ali dentro para fora.

–Emma!- Jones surgiu ao meu lado.

–Saia daqui. - implorei com a voz fraca sendo atingida por outro espasmo e lavando o chão novamente. - Não quero que me veja vomitando.

–Não seja tola pelo amor de Deus. Eu não irei deixá-la sozinha de novo. Olhe só no que deu eu ter feito isso.

–Senhor, por favor. Chame Bae ou Landon. - me sentei, tomando cuidado para não pisar em meu próprio vômito.

Gotículas de suor frio se formavam em minha testa e minhas mãos tremiam.

Killian me olhava com o rosto impassível.

–Me deixe ver sua gengiva.

–Lhe garanto que é apenas uma gripe causada pela friagem senhor. - tentei o tranquilizar. - Por favor, chame Bae ou Landon para me ajudarem.

–Eu estou aqui. Do que precisa?- indagou se agachando para olhar em meu rosto.

–Preciso que chame Bae ou Landon para me ajudarem. Por favor. - repeti lentamente.

Vi o maxilar de Killian trincar, ele assentiu e se colocou de pé, saindo sem dizer mais nada.

Alguns minutos depois Bae e Landon surgiram, me olhando preocupado.

–Eu sinto muito. - comecei. - Eu não consegui segurar, mas prometo que irei limpar. - garanti quando eles olharam para a sujeira que eu fizera no chão.

Bae me tirou da rede.

–Não se preocupe. Eu limpo, sem problema nenhum. Vamos subir.

Landon e Bae me ajeitaram em meu bote, perguntando se eu precisava de mais alguma coisa para ficar confortável.

Garanti para eles que estava bem acomodada, mesmo que não fosse verdade.

Me colocaram nas mãos algo fumegante e com um cheiro estranho. Olhei para o rosto de Landon que comprimiu os lábios e indicou que eu bebesse tudo.

–Eca. - coloquei a língua para fora, fazendo um som estranho e uma careta. - Está tentando me salvar ou me matar?

– Os piores remédios são aqueles que acabam dando resultado. É o elixir de casca de salgueiro. Fizemos misturado com chá para que ficasse mais fácil de engolir.

Tampei o nariz terminando de tomar aquele negócio horrível, sendo atingida por um tremor.

– É bom isso ser milagroso. - observei.

Passei o resto do dia no bote, oscilando entre ficar acordada e dormir um sono aparentemente profundo.

Em um dos momentos em que fiquei acordada, Smee apareceu com um caixote e se sentou ao meu lado, começando a ler uma história para mim. Me deixou feliz ver o quanto ele estava contente por conseguir fazer aquilo, mesmo que engasgasse com algumas palavras e me olhasse constrangido. Eu me limitava a elogiá-lo e o incentivava a continuar.

Outros homens apareciam para perguntar como eu estava. Em nenhum momento eles foram desrespeitosos comigo, como achei que seriam depois do que aconteceu.

Não sabia quando havia dormido novamente, mas quando acordei já estava escuro. Podia ouvir os homens se divertindo, suas risadas altas e os usuais xingamentos enquanto jogavam.

Me sentei coçando os olhos, o corpo rígido e incomodada com o gosto de nada na boca.

Como se estivesse pressentindo, Bae apareceu com um prato de sopa para mim. Ele se sentou ao meu lado no bote, me observando comer em silêncio.

Aquela sopa, naquele momento, era o melhor banquete que já tivera.

Olhei o prato por um bom tempo antes de continuar comendo, por mais que a sopa estivesse deliciosa.

– Qual o problema, Emma? Não gostou da sopa? Está se sentindo pior?

Neguei com a cabeça, sorrindo para ele.

– Estava apenas lembrando de uma coisa.- comentei, reprimindo o suspiro triste que ameaçou sair.

– Do que estava lembrando?

–De minha mãe.

–Ela lhe fazia sopa quando ficava doente?

Balancei a cabeça, abaixando o rosto e enfiando outra colherada na boca.

–Ela nunca cuidou de mim quando fiquei doente. - contei, piscando sem parar. - Por algum motivo esse fato nunca me incomodou, mas agora... Que mãe nunca cuidou da própria filha quando ficou doente?- indaguei. - Ela me fazia beber um copo de vinagre antes de cada refeição, para que eu não conseguisse comer. Foi assim que eu emagreci a tempo de debutar quando tinha dezesseis. A idade adequada para apresentar uma dama à sociedade é dezoito. Geralmente as damas tomam uma colher antes de cada refeição para manter a silhueta, mas ela me fazia beber um maldito copo. Até quando eu estava doente. Era o único momento em que entrava no quarto. Minha barriga ficava estranha e doía. - respirei fundo não conseguindo mais conter o choro. - Engraçado que eu sempre pensei que ela fizesse isso por me amar, mas agora parando para refazer cada gesto dela, isso não é amor. Nunca foi. Eu não sei quem é minha mãe, Bae, porque tudo o que eu tenho dela são memórias que eu distorci para me fazer acreditar que ela me amava e que tudo que fazia era para o meu bem. - constatei me sentindo péssima.

Limpei o nariz com a costa da não e enfiei outra colher na boca.

–Sabe? Meu pai e eu sempre discutimos. Sempre. Porém toda vez que ele chegava em casa, tinha um presente para me dar. Desde algo simples que o fez se lembrar de mim ou uma boneca nova. Nunca contei para ele que eu odiava aquelas bonecas, que me davam medo. Uma vez ele me deu uma que era idêntica a mim, usaram até meus cabelos na boneca, da primeira vez que havia cortado. É meio que uma tradição. - Bae riu, me fazendo rir também em meio às lágrimas. - É verdade. Eu olhava aquela boneca com meus cabelos, os olhos parados de uma cor bem semelhante aos meus e tudo o que eu pensava, mesmo que ainda criança era "essa vai ser minha aparência quando eu morrer". Melancólico para uma criança, eu sei. Mas aquelas bonecas sempre me recordam a morte, Bae e sempre tive a sensação que não duraria muito. - balancei a cabeça terminando a sopa. - Porém por mais que papai e eu discutíssemos, ele sempre estava tentando ser presente. Quando eu ficava doente, ele se esgueirava em meu quarto pela noite e me dava um éclair, sabe aquele doce francês? Porque ele sabe que eu adoro. Antes de sair de casa para entrar aqui, brigávamos o tempo todo. E eu me arrependo, porque eu sempre pensei que ele me odiava, quando era o contrário. Papai me dava amor e minha mãe... - deixei a frase morrer.

–Emma... Você quer voltar para casa?- Bae instigou sério. - Porque se quiser nós a levaremos e mesmo que Killian se recuse a lhe ajudar, eu a levo.

Neguei veementemente.

–Mesmo que ela não me ame, eu a amo. Eu a amo e quero saber o que foi aquela carta. Quero ter minhas respostas, quero saber quem minha mãe é de verdade. E eu não vou desistir, Bae. Não mesmo. - afirmei, sendo atingida por uma crise de tosse.

Virei à cabeça para o lado, para não tossir em Bae e percebi Jones parado a poucos passos do bote com o caneco na mão, me encarando com o semblante contorcido e os olhos acusadores.

–Senhor?- chamei hesitante.

Killian piscou e seus olhos foram encobertos, tornando-se opacos.

E eu odiava quando ficavam daquele jeito. Sem brilho.

–Landon pediu para que eu lhe entregasse isso. - informou com a voz seca, me entregando o caneco de forma abrupta.

–Capitão... Está se sentindo bem?- questionei com a testa franzida, estranhando sua expressão.

Jones me abriu um sorriso enviesado, como os do começo, quando entrei para a tripulação.

– E do que isso lhe importa senhorita Swan?- perguntou com cinismo.

Aquiesci, abaixando a cabeça.

–Está certo. Em nada. Peço desculpas por ter sido inconveniente. Obrigada por me entregar. - indiquei o caneco e me virei de costas para ele.

Eu havia pedido para voltarmos a agir como antes.

Deveria estar contente por ele respeitar minha vontade dessa vez.

–Bae... Irei perguntar e espero que me responda com sinceridade. - falei levando o caneco de limonada a boca.

–Eu sempre sou sincero.

–Você por acaso não está com nenhum interesse amoroso para cima de mim, está?

Bae para minha surpresa começou a rir.

–Não Emma. Não estou. Eu a vejo apenas como minha amiga, não se preocupe.

Sorri levemente, me sentindo aliviada em ouvir aquela resposta.

–Ainda bem. Porque eu gosto da sua amizade Baelfire. Gosto de verdade.

Bae deu um beijo em minha cabeça, me abraçando de lado.

–E ainda a terá, Em. Pelo tempo que precisar, porque também gosto muito da sua amizade. - declarou sorrindo para mim. E eu pude ver em seus olhos que ele falava a verdade.

Era seguro com Bae. Ele estava apenas tentando me proteger. Nada de tentar ganhar meu coração para então brincar com ele.

Baelfire era mesmo meu amigo. E queria ser apenas isso.

Landon apareceu um tempo depois mandando Bae ir dormir e me dando outra colherada de láudano, deixando um balde do lado do bote apenas por precaução.

O agradeci pedindo desculpas novamente pelo incômodo, o qual ele respondeu com um gesto vago com as mãos, resmungando algo de "não é incômodo nenhum".

Eu queria perguntar para ele o que estava o aborrecendo, porque Landon nunca resmungava comigo ou me respondia com um gesto vago com as mãos. Porém achei melhor ficar quieta.

–Emma...- começou depois de um tempo.- Eu preciso descansar algumas horas.

–Tudo bem. - assenti. - Eu estou melhor agora, eu acho. Apenas deixe o láudano comigo.

–Emma, Bae e eu precisamos descansar. – falou novamente.

–Eu sei. E eu já disse que tudo bem. Sou capaz de me virar por uma noite.

Landon tocou minha testa, franzindo as sobrancelhas.

–Emma, você está voltando a ficar quente.

–Logo o remédio começa a fazer efeito. Vá dormir.

Landon hesitou por uns minutos e eu aguardei para ver o que ele teria a dizer.

–Acho melhor passar a noite na cabine de Killian para que não pegue friagem. A temperatura cai durante a noite.

Neguei com a cabeça.

–Não. Nem pensar, não dormia lá quando entrei para o navio.

–Mas você dormia até umas noites atrás. Emma por favor, de um descanso para esse velho aqui. - implorou. - Killian garantiu que ficará no leme e a deixará em paz a noite toda. Não toda, porque ele terá que ir ver como está, mas é coisa rápida.

Deixei bem visível o quanto eu estava desconfortável com o pedido dele. Porque ele sabia que havia tocado em meu ponto fraco. Eu detestava ser um peso morto e causar preocupação desnecessária para os outros.

–Por favor, Emma. Não conseguirei pregar os olhos se dormir aqui fora.

Suspirei derrotada e me coloquei de pé agarrando o balde.

–O que você não implora com um drama desses que eu não faço. Ein senhor Baptiste?

Landon me acompanhou até a cabine. Me senti uma intrusa assim que entrei naquele ambiente tão familiar e que parecia tão diferente em tão pouco tempo.

As roupas de dormir de Killian não estavam mais no lugar de antes. Havia apenas uma taça de vinho sobre a mesa. Os livros haviam sido guardados e a cadeira que eu me sentava durante a noite estava em seu lugar novamente.

Ver a cabine arrumada do jeito que era antes doeu em meu coração.

–Troquei os lençóis da cama. - Jones avisou com um tom de voz oco e seco, o que fez eu me encolher. - Se sentirá mais confortável ali. Imaginei que não gostaria de se deitar em um lençol sujo de um homem qualquer. - lançou com uma pontada de veneno.

Me senti ainda menor.

–O senhor sabe que não acho que seja um homem qualquer. - me defendi, tendo dificuldade para respirar. - E o sofá está de bom tamanho para mim, senhor. Obrigada por me deixar passar a noite aqui.

Jones deu de ombros indo para a porta.

–Faça como achar melhor, Swan. Venho vê-la em algumas horas. Tente não vomitar em nada.

Olhei para Landon que arqueou as sobrancelhas para mim, os braços cruzados.

–Ele está machucado...- cantarolou.

–Ora, por favor! Vá dormir. - o empurrei para a porta impaciente.

Assim que me encontrei sozinha ali, me abracei, desejando que Killian estivesse comigo.

Eu o queria com todo o meu ser.

Queria abraçá-lo e sentir sua mão em meu corpo. Sua respiração em minha pele.

Eu o queria.

E não queria o querer.

Balancei a cabeça e fui para o sofá, me ajeitando da melhor forma possível, como sempre fazia.

Por mais que meu corpo estivesse querendo se entregar a escuridão do sono, causado pelo remédio, meus olhos se recusavam a fechar.

Se recusavam a fechar porque meu coração batia pesado e ensurdecedor, me acusando de estar causando dor a Killian e a ele.

Por mais que eu explicasse, meu coração parecia não entender que aquilo era o melhor para ele. Para nós dois. Que Killian não sentia nada por nós.

Me sentei, vomitando no balde. Sentindo dor e ardência em minha garganta. Espasmos e contrações. Mais vômito.

Todo o meu jantar e o remédio estavam ali.

Levantei e sai da cabine, para esvaziar o balde e voltar para o meu bote, segurando nas paredes.

Killian me olhou assim que apareci e tudo que eu pensava era que eu estava apaixonada por aquele homem.

Tão apaixonada a ponto de querer me jogar encima dele, sem me preocupar com nada.

–Irei para o meu bote. Eu vomitei novamente e não quero correr o risco de sujar sua cabine. Ou deixá-la com cheiro de azedo. - expliquei, contraindo o rosto.

–Tudo bem.- aquiesceu desviando os olhos, o tom de voz frio.

Meu próprio pedido estava me causando dor.

Suspirei pesarosa, indo para o convés.

E não se passara nem um dia.

–Branca. - a chamei me encostando ao parapeito. - Branca se pode me ouvir, se realmente houver uma conexão entre nós duas, por favor, eu preciso conversar.

Esperei por um tempo o momento que iria ouvir sua voz, ou então ver seu rosto com aquele sorriso tranquilo de sempre.

Nada.

–Branca. - tentei novamente. - Por favor, eu preciso perguntar uma coisa. Uma não. Várias. Apareça, eu realmente preciso conversar. Branca?

Fechei os olhos me sentindo patética ao fazer aquilo. Deveria já estar doida ao pensar que Branca existia e iria atender o meu chamado.

–Muito útil você! Aparece apenas quando quer e quando vai me deixa cheia de dúvidas. - gritei para a noite. - Eu não quero que apareça nunca mais se for apenas para confundir minha cabeça. - berrei, me virando e dando de cara com Killian que me estudava com um olhar estranho.

–Com quem está falando, Swan?

Balancei a cabeça, sentindo meu rosto esquentar.

–Sozinha, senhor. Desculpe por ter quebrado regra e feito barulho após o horário permitido. Pode me dar o castigo. – abaixei o rosto, estudando meus pés, esperando que ele se decidisse.

Jones respirou fundo.

–Vá dormir, Swan.- mandou me dando as costas e voltando para o tombadilho superior.

–Mas...

–Apenas vá. E tome mais láudano, a febre deve estar fazendo você alucinar. Não pularei no mar para salvá-la se houver uma segunda vez.

–Sem problemas. Você não o fez da primeira. Não estou lhe pedindo para que me salve na segunda. – rebati com raiva, indo para o meu bote, me sentindo enjoada.

Assim que cheguei, encontrei branca sentada olhando os presentes que os mouros me deram.

–Eles lhe deram apenas coisas boas. - comentou erguendo os olhos para mim e sorrindo. - Venha cá. - abriu os braços me convidando.

Me atirei neles mesmo sabendo que era uma alucinação.

–Vou ficar aqui até que durma filha. Sem respostas hoje. Apenas descanse para que fique bem logo.

Assenti, escondendo o rosto em seu peito. Eu queria falar com ela sobre Killian e contar sobre minha mãe, assim como queria apenas ser abraçada por Branca.

–David veio comigo dessa vez. - sussurrou e eu levantei o rosto, encontrando o homem me olhando com uma expressão carinhosa.

–Estou feliz em vê-lo senhor.

Ele aquiesceu se ajeitando ao meu lado.

–Digo o mesmo, minha menina. Espero que não se importe que eu fique aqui.

Neguei com a cabeça, segurando sua mão e me ajeitando no meio dos dois, como uma criança e gostando da sensação de amor que exalava dos dois e me envolvia com ternura.

Não demorei muito para que pegasse no sono depois disso.


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Notas finais do capítulo

E então o que acharam? Ouso dizer que logo eles estão em uma certa ilha e não vejo a hora de mostrar para vocês. E me falaram que sentiram falta de Landon no capítulo anterior, espero que tenha matado a saudade.

Agora vou dar uma pequena explicação aqui que acho ser necessária: Emma disse que a mãe dela a fazia beber vinagre e isso realmente acontecia, padrões de moda existem e não é de hoje como todo mundo sabe. As mulheres bebiam vinagre na era romântica para manter a tez pálida. Era considerado status ter uma aparência adoentada, inspirado nos livros da era medieval com seus cavaleiros andantes e damas precisando serem resgatadas( por isso chamada de era romântica). Porém o vinagre puro é extremamente prejudicial, por ser usado como conservante e muitas vezes para a limpeza. Pequena aula de química para quem não lembra ou ainda não estudou. A escala do p.h é de 0 à 14, sendo do zero até o sete considerado ácido, o sete é neutro, e do sete até o 14 básico. O pH do vinagre é de 3 ou seja muito ácido. O pH da nossa saliva é de 6-7, logo o pH do vinagre acaba anulando o da saliva. Em contato com o estômago ele acaba corroendo partes internas, atacando os órgãos. Claro que inibe o apetite, mas não façam isso! ( sei que todo mundo aqui é inteligente para não fazer). Podem pesquisar para verem que não estou falando besteira e se sintam a vontade para me corrigir se caso necessário. (Lembrando que sou de Humanas e terminei a escola ano passado). Aula encerrada alunos. Estão liberados hahahahaha.

Uma última coisa: Vocês estão sendo tão legais comigo e eu me sinto tão querida toda vez que vou ler um comentário que decidi retribuir de uma pequena maneira (não, não é mais de um capítulo na semana). Em toda nota final vou deixar uma música que eu escuto enquanto escrevo ou reviso o capítulo. Isso significa muito porque sou muito ciumenta com minhas músicas, esse é meu pequeno gesto para agradecer vocês. Aqui está a música dessa semana, espero que gostem: https://www.youtube.com/watch?v=VLZcFJLdPiI

Muito obrigada por lerem e desculpem pela aula de química.

Beijos.