Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Oláá meus amores... Aqui estou com um capítulo novo, aproveitei os dias chuvosos para adiantar capítulos e revisões. Espero que gostem do capítulo.

E quero muito agradecer a Be, pela linda recomendação. Prometo um capítulo todinho dedicado a você por ter me deixado sorrindo igual uma tonta com sua recomendação. Obrigada querida.

Boa leitura.



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Acordei com os costumeiros sons do navio, apenas um pouco mais animado, por parte da tripulação. Pelo visto o vento não ajudou muito durante a noite como estavam esperando, e pela animação estava claro que estávamos nos aproximando da cidade.

Mesmo acordada, permaneci de olhos fechados, aproveitando aqueles preciosos momentos em que teria para mim mesma sem ter que lidar com Killian.

Apertei os olhos com mais força ao lembrar de Killian, e o que quase chegou a acontecer na noite passada. Eu ainda não sabia como me sentia a respeito daquele quase beijo, justamente porque eu não o estava esperando por mais que eu o quisesse muito.

Bom... pelo menos acredito que eu o queria muito, já que no momento não conseguia entender direito o que queria.

Minha cabeça estava uma confusão que eu não tinha tanta certeza se conseguiria organizá-la tão cedo.

Estávamos conversando e então Killian Jones realmente tentou me seduzir?

O pior de tudo não foi ele tentar me seduzir para beijá-lo... o pior fui eu me deixar ser seduzida por aquela voz baixa e rouca, seu nariz passeando pelo meu maxilar, sua respiração em minha pele, seu aperto em minha cintura...

Gemi de desgosto, me virando para o lado, querendo poder me esconder e nunca ser encontrada. Que grande decepção eu era para todas as mulheres de decência.

Como eu encararia Killian agora? Por favor, que ele não fizesse nenhum comentário sobre o quase acontecimento de ontem.

Finalmente, decidi que seria seguro abrir os olhos, já havia passado tempo suficiente ali me recriminando pelo o que quase fizera. Se não levantasse, certamente viriam ver o que havia acontecido.

Me sentei com cuidado, como se qualquer movimento pudesse entregar para aqueles homens, que nem estavam prestando atenção em mim, que eu quase havia beijado seu capitão na noite anterior.

–Ainda bem que acordou, Emma.- Landon apareceu todo animado, senti meus ombros relaxarem por ser ele a ir me procurar.- Estamos atracando agora. Veja, Nova Província.- ele apontou para a cidade.

Me levantei para poder observar o cais superlotado, com pessoas, animais e mercadorias. Mal podia acreditar em como era barulhento. Certo que a tripulação do Jolly Roger não eram silenciosos, mas aquilo ali era um caos. E ainda era de manhã!

Piratas, pensei enquanto balançava a cabeça.

–E o que fazemos agora?- indaguei me virando para ele.

–Geralmente Killian e eu vamos vender as mercadorias. Já os homens vão para a cidade, chegamos a ficar de dois à três dias atracados aqui, depois zarpamos para refazer tudo de novo.

–Ah! Parece bem legal.- falei sem ter muita certeza. Será que eu realmente queria me arriscar a andar por aquelas ruas?

Querendo ou não eu teria que ir, afinal não era para isso que havia me infiltrado no Jolly Roger? Para conseguir chegar a lugares como aqueles e procurar minha mãe?

–Dois à três dias está ótimo para eu perguntar se alguém viu minha mãe. Tempo suficiente, acredito.

–E creio que terá sorte aqui,Emma. Afinal temos pessoas aqui que vão para todos os lugares, alguém irá ter visto sua mãe.

Me virei para Landon, sorrindo esperançosa.

–Tomara que você esteja certo.

–Landon.- Smee chamou a nossas costas.- Bom dia Srta. Swan.- me cumprimentou quando me virei.- O capitão pediu para dizer que eu irei com ele vender as mercadorias e que você ficará encarregado de cuidar da senhorita.

Fiz uma careta quando ouvi aquilo. Pobre Landon, ter que ficar de babá de uma mulher.

Mesmo assim, eu estava aliviada em ficar na companhia de Landon e não da de Killian.

–Não, não posso aceitar. Não preciso de babá, posso ficar aqui no navio por enquanto. - falei, tentando soar o mais contrariada possível. - Você não tem que fazer isso, Landon. É ridículo.- tentei me fazer de ofendida.

Pelo jeito que Landon olhou para mim, eu estava fazendo meu papel direito. Ele que não se atrevesse a realmente me ouvir e me largar sozinha ali.

–Não tem problema nenhum, Emma. Eu até prefiro, essas transações não são das mais agradáveis.

–Aposto que ser minha babá também não é.- rebati cruzando os braços, mas agradecendo mentalmente que ele decidira ficar.

–Emma, isso não está aberto a discussões. Killian mandou, eu obedeço. Simples. – falou, deixando claro que não queria continuar aquele assunto, o que era ótimo, porque não sei se saberia aguentar muito mais tempo me fingindo de contrariada. – O que acha de uma volta enquanto isso? Pode demorar um pouco. Está com fome?

Olhei para Landon com as sobrancelhas arqueadas. Aquela pergunta era realmente séria? Eu não comia direito desde que a comida do navio começou a apodrecer, e para o meu terror a água também estava começando a ficar esverdeada.

–Acho que sua expressão diz tudo.- Landon respondeu.

–Estou faminta. Tão faminta que poderia devorar um banquete sozinha. –disse levando a mão ao estômago e o sentindo fundo. A lembrança do último baile em que eu fui e seu banquete que nunca ninguém comia, me veio a mente e como me arrependi de não ter comido mais. – Mas... eu não tenho como pagar a comida e não vou aceitar que use seu dinheiro comigo, Landon.

–Bobagem.- fez um sinal de descaso com as mãos.- Você não vai comer tanto assim. Não é possível uma pessoa tão pequena comer tanto.

Ah Landon, você realmente não deveria contar com isso. Quando criança e até boa parte da minha adolescência, fui mais cheinha que o normal. Sempre gostei de comer, o que atacava os pobres nervos de minha mãe, que tinha que ficar brigando comigo e os criados para que não me dessem comida.

Mas era só eu aparecer na cozinha que a cozinheira vinha me dar o que comer. Apenas quando faltava um ano para eu debutar na sociedade, tive que aprender a me controlar, afinal as gorduras ficavam pulando quando andava. Qualquer garota prestes a debutar sabe que se você pesar mais que 60 kg, já é o suficiente para ser excluída do circulo social.

Eu não me importava muito com essas coisas, porém meus pais sim. Valia o sacrifício de fechar a boca se fosse para agradá-los.

–Compartilhe esse lugar que você estava, pois parecia muito agradável.- Landon chamou minha atenção, oferecendo seu braço. Rapidamente coloquei minha mão no interior de seu cotovelo.

–Estava lembrando de casa. – respondi dando de ombros, como se não fosse nada importante.

Landon me guiou para fora do navio, me contando um pouco sobre a história do lugar. Como ele parecia bem feliz, deixei que continuasse falando, demonstrando muito interesse em tudo o que dizia.

Se fosse em um outro dia, eu ficaria mais que contente em saber sobre tudo o que ele estava me informando, afinal Landon era muito inteligente. Contudo hoje, mesmo que eu não quisesse, eu voltava para a noite anterior.

O que teria acontecido se caso eu tivesse deixado Killian me beijar?

–Emma!

–Desculpe, o que?

–Você ficou séria de repente. Perguntei se esta tudo bem.

–Claro, Landon. Tudo ótimo. Fiquei só pensando em como deve ser horrível esse lugar a noite pelo que estava me contando. Acredito que terei que me esconder. Eu realmente não acho nada boa a profissão de prostituta. E não é uma coisa que queira ver de forma tão explicita.

–De fato. Provavelmente Killian irá pedir que a senhorita durma na cabine dele.

Cerrei os dentes e tentei olhar para Landon o mais natural possível. Definitivamente não seria uma boa ideia dormir na cabine de Killian, só Deus sabe o que ele tentaria fazer, e lá ficaria mais difícil de fugir se fosse preciso.

–Eu acho que prefiro ver se consigo um quarto em alguma estalagem. Killian provavelmente pode alugar um para mim, não? Assim ele pode usar a cabine para fins de... Você sabe.

–Acredito que eu não saiba, Emma. Para fins de que?

–Argh. Vai me fazer dizer mesmo a palavra?- indaguei mortificada.- Sabe... um dos deveres conjugais, que só deve ser feito depois de casado.

–Você quer dizer sexo?

–Shhhh.- pedi olhando para os lados, com medo que alguém tivesse ouvido aquela palavra grosseira, mas levando em conta o lugar que nos encontrávamos , duvidava que aquela palavra tivesse o mesmo efeito que tinha para mim. – Landon! Achei que você tinha mais decência. Essa palavra é totalmente indecorosa.

–Peço desculpas.- falou tentando esconder o quanto se divertia com o meu embaraço.- Vamos comer e então temos que voltar para o navio para receber o pagamento.

Entramos em uma taberna e rapidamente fomos atendido por um homem baixinho e atarracado, que prontamente nos acomodou e foi levar os pedidos.

Após uns quinze minutos, dois tipos de carnes e uma cesta com pães foram colocados na mesa. Me surpreendi ao saber que eles tinham limonada, geralmente naquela época do ano não se encontrava muitos refrescos, apenas bebidas quentes.

–Você está em um hemisfério diferente, Emma. – me lembrou Landon, levando seu caneco de cerveja a boca.

Assim que o caneco foi colocado em minha frente, o agarrei como se dependesse daquilo. O gosto ácido e levemente adocicado explodiu em minha boca, que cheguei a pensar que iria chorar. Landon até fez uma observação, quando perguntei se poderia pedir outro, que eu deveria gostar muito de limonada, para ficar tão emocionada.

Comemos tranquilamente depois do meu ataque por conta da limonada, ou pelo menos Landon comeu tranquilamente, já que eu avancei no prato como se fosse minha última refeição.

–Retiro o que disse. Você realmente come demais.- Landon falou quando acabamos de comer, deixando o dinheiro encima da mesa.

Dei um sorriso sem graça para ele, me desculpando.

Andamos rapidamente até o Jolly Roger, encontrando toda a tripulação espalhada pelo convés, esperando. Landon desceu até a cabine de Killian para ver se este precisava de alguma ajuda com as divisões.

Me sentei na escadinha que dava para o leme, não ficando nem muito perto, nem muito longe dos homens. Logo Killian, Landon e Smee surgiram e começaram a distribuir o pagamento aos homens, que agradeciam freneticamente, enquanto olhavam o conteúdo dos saquinhos.

Lembrei que Killian havia dito que a maioria dos marinheiros não recebiam pagamento. Pela felicidade daqueles homens, imaginei que eles fossem recrutados dos navios mercantis ou da marinha real.

Killian deu algumas instruções e avisou que estaríamos zarpando dali três dias, que o Jolly Roger iria passar por uma manutenção. Fiquei encarando minhas mãos, por mais que eu tenha tentado olhar para ele, simplesmente não conseguia lidar por muito tempo com aquela sensação ardente e gelada ao mesmo tempo em meu estômago.

Gancho finalmente liberou a tripulação e eu me levantei para seguir com os homens para fora do navio.

–Menos você, Swan. Fique sentada que quero conversar com você. – Killian pediu.

Estanquei no lugar, sem saber ao certo o que fazer. Deveria sair correndo ou ouvir o que ele tinha a me dizer?

Por fim suspirei derrotada e voltei a passos lentos para onde estava sentada. Killian ficou me encarando, e eu me senti muito constrangida com aquele olhar. Eu sabia que era pedir demais para ele não me torturar.

–Isso aqui é para você, considere um presente. – falou por fim me entregando um pacote marrom.

Abri cuidadosamente, desamarrando o barbante e tentando não tremer ao encontrar uma escova de dente, palitinhos aromáticos, sabão e giz.

Levantei a cabeça,sem conseguir olhá-lo nos olhos.

–Quero só ver qual será a desculpa na próxima vez, amor.- comentou divertido. Mexi minha cabeça de um lado para o outro, me sentindo desconfortável. Comecei a brincar com a escova, sem saber se deveria dizer alguma coisa.- E antes que eu me esqueça.- falou, jogando um saquinho que caiu com um baque tilintante aos meus pés.

Olhei com curiosidade para o saquinho e o peguei com a ponta dos dedos com desconfiança, puxando a fitinha vagarosamente.

Senti minha boca se abrindo com surpresa, enquanto colocava a ponta dos dedos no saquinho, tocando o metal frio.

–O que é isso, Killian?- perguntei sem entender. Por que raios ele me daria dinheiro... a não ser que...

–Antes que essa cabecinha crie uma explicação absurda, essa é sua parte do saque.

–Por que estou recebendo?

–Você ajudou no último saque, foi corajosa para alguém dos seus padrões. Você está ajudando a manter o Jolly Roger conservado. Além do mais, faz parte da tripulação. Não acredito que achou mesmo que não receberia nada. Acho que comentei alguma coisa sobre sermos justos aqui, não?- indagou se aproximando perigosamente de mim.

Levantei a cabeça, quase batendo em seu queixo. Eu sentia um comichão em minha pele, uma sensação estranha correndo nas minhas veias.

–Sim, mas eu apenas faço essas coisas porque estão no nosso acordo para que eu possa permanecer a bordo. Esse era o trato. – argumentei, tentando evitar olhá-lo nos olhos.

–Bem... Considere um bônus, já que eu não a deixarei sem pagamento.

Lutando muito contra a vontade de tocar de novo seu rosto, sorri para ele.

– Sendo assim, obrigada capitão. Já tenho até em mente o que irei comprar.

–Não me agradeça. – ele se afastou e piscou para mim, mas não sem antes percorrer seu dedo indicador pelo meu queixo. – Irei esperá-la no cais. – informou se virando para sair do navio.

–Killian.- chamei quando ele já estava para descer.- Por favor...- ele pareceu ansioso.- Por favor, não faça aquilo de novo. Sabe? Você tentou me seduzir para beijá-lo. Eu realmente preferia que não o fizesse. Isso não vai ser bom para minha reputação e nem para nossa convivência. – argumentei, sem conseguir olhar para ele.

O escutei rindo e levantei a cabeça.

–Ah, Swan. Vou pensar no seu caso.

Ótimo ele iria pensar. Era melhor que nada, mesmo que não estivesse convencida que de fato iria fazê-lo, mas por via das dúvidas eu tomaria cuidado até entender qual era a intenção dele, já que claramente eu não fazia seu tipo.

Se bem que... uma vez Graham me explicou, muito rubro por sinal, que homens não ficam necessariamente com mulheres por desejá-las, é apenas um extinto que eles possuem. Eu era a única mulher naquele navio, era óbvio que a parte animal dele iria despertar para cima de mim, mesmo eu não sendo atraente aos seus olhos. Ele me disse que para alguns homens era mais difícil reprimir o extinto.

Perguntei para ele se ele fazia parte daqueles homens, apenas para provocá-lo, conhecia Graham o suficiente para saber que ele era integro. Ou nem tanto, não era tão burra a ponto de não saber que ele se envolvera com prostitutas quando estava na universidade, mas pelo o que eu ouvira todos os rapazes se envolviam. Era quase como um rito de passagem.

Graham me tacou uma almofada na cara, realmente irritado com a pergunta.

Mas a questão era: eu queria me sentir atraente aos olhos de Killian?

Eu não estava acostumada a não ser a “mulher perfeita”, como muitos dos pretendentes que apareceram desde que debutei na sociedade gostavam de frisar sempre que me encontravam, ou escreviam em suas poesias ruins, na esperança de conseguir minha mão.

Eu era sempre aquela que recebia os olhares das garotas de desaprovação por recusar pretendentes, enquanto umas se esforçavam para serem notadas e outras não recebiam nenhum pedido.

Será que se Killian ainda fosse o tenente Jones, eu seria seu tipo de mulher? Mas será que se eu conhecesse o tenente e não o pirata eu me sentiria do jeito que estou agora ou ele seria apenas mais um na lista do “não” se caso se interasse?

Lavei meu rosto rapidamente, usando o pano do vestido para secar. Peguei a escova, feita de osso bovino e fibras naturais, fiz a mistura de sabão com giz e comecei a esfregar em meus dentes. No começo senti certo incômodo, as sardas eram muito duras e minha gengiva estava muito inflamada, chegando até a sangrar, contudo após alguns segundos a sensação de ter a boca limpa foi ótima.

Passei a língua nos dentes,sentindo-os lisos, sem nenhuma sujeira e me senti muito, muito bem.

Desci do navio e avistei Killian de costas conversando com um homem. Pude perceber de longe que seus ombros estavam rígidos. Algo me dizia que ele não estava gostando da conversa.

Me aproximei cautelosamente.

–Olá- cumprimentei parando um pouco atrás de Gancho que se virou consternado por ter sido interrompido.

O rapaz que ele estava conversando me olhou de cima a baixo. Sorri para ele quando olhou nos meus olhos, e ele devolveu com um sorriso meio tímido.

–Então estou aprovada?- indaguei brincalhona para o rapaz que coçou a cabeça sem graça.

–Sim senhorita.- respondeu, voltando a olhar para Killian.- Como você sempre consegue as melhores garotas?

Killian abriu a boca para responder, um sorriso brincando no canto de sua boca quando ele me olhou de relance. Percebi que ele estava prestes a soltar alguma coisa, como se eu fosse realmente uma de suas “melhores garotas”.

–Ah... Não. Não, eu sou Emma. Emma Swan.- me apresentei esticando a mão para ele que a apertou, achando divertido o meu gesto.- Eu...ahn... estou viajando com eles e trabalhando no navio enquanto Gancho me deixa ficar a bordo... Killian! Digo Killian me deixa ficar a bordo.- me corrigi atrapalhadamente, olhando rapidamente para Killian e de volta para o homem.

–Gancho?- Killian se virou para mim.- Então é esse o apelido que você me deu? Nada de”senhor dos mares” ou “homem dos meus sonhos”? Eu tenho um apelido ridículo?- ele pareceu realmente indignado.

–Menos, Killian. Gancho é um apelido muito apropriado para você, e cá para nós, muito mais realista. – olhei para o rapaz que me deu um sorriso cúmplice. – E toda sua tripulação parece ter gostado muito, já que todos o chamam assim pelas suas costas.

–Gancho, Swan? Não tinha nada mais másculo não?

–Por favor, Gancho.- pedi revirando os olhos para seu drama.

–Então você faz parte da tripulação? Achei que não permitisse mais mulheres a bordo desde minha mãe.- o rapaz falou com hostilidade olhando para Killian que desviou o olhar.

Senti o clima divertido que estava segundos antes se dissolvendo com aquelas simples palavras.

Estranho. Muito estranho.

–Desculpe, ainda não sei seu nome.- o lembrei, tentando ignorar a indireta que ele havia lançando em direção a Killian.

–Baelfire ao seu dispor, milady.- se apresentou pegando minha mão e a levando até os lábios.

Ah, ele era um cavalheiro!

–Foi muito bom te ver, Baelfire. Vamos Emma.- Killian me puxou fortemente pelo braço enquanto eu corria para acompanhar seus passos.

–Foi um prazer te conhecer Baelfire!- gritei acenando para o rapaz.- Gostei dele.- comentei com Gancho que me lançou um olhar cortante.

–Não deveria.- rosnou apertando ainda mais forte meu braço.

–Por que não?- perguntei.- Ai,aii Killian! Está me machucando- reclamei tentando me soltar de seu aperto.- O que me leva a questionar novamente: quantos anos você tem? Por que ele não parece ser mais velho que eu e nem muito mais novo que você. Logo se a pergunta não é quantos anos você tem, seria quantos anos a mãe dele tinha e por que estava no navio...

Parei no lugar, sentindo a boca ficando seca e se abrindo. Olhei de olhos arregalados para Killian que me fitava como se eu fosse louca.

–Que foi, Swan? Está atrapalhando a passagem.- falou ríspido tentando pegar meu braço novamente.

Eu me afastei dele um passo, fazendo o segurar o ar.

–A hostilidade na voz dele... Meu Deus! A mulher dos desenhos na sua cabine é a mãe dele? Ela fugiu com você? Você fez uma mulher abandonar o filho? Quantos anos você tem?– disparei as perguntas sem me preocupar quem escutasse, não que aquelas pessoas iriam se preocupar com a conversa. Estava de uma forma estranhamente abalada e um pouco enojada, mas sem entender o que estava causando aquilo.

–Vamos, Swan.- a voz dele se tornou mais baixa, quase como implorasse.

–Não.- respondi de forma dura.- Não até eu obter alguma resposta.

Ele suspirou cansado.

–Vamos até a taberna tomar alguma coisa e eu te respondo, sim amor?

Olhei descrente para ele.

Eu não queria ir até uma taberna para obter respostas, eu queria que ele me dissesse ali, naquele momento.

Porém, não queria parecer uma garota mimada. Aquiesci com a cabeça e comecei a andar ao seu lado, me livrando de sua mão quando tentou segurar meu braço novamente.

Eu sabia exatamente o que estava sentindo agora.

Raiva e ciúmes.

Já sentira isso uma vez, logo que debutei na sociedade e vira as garotas jogando charme para Graham. Eu não queria nada com ele, contudo isso não queria dizer que gostava de ver meu melhor amigo conversando e rindo com outras garotas.

No primeiro baile que presenciei isso e que ele mal falou comigo, passei duas semanas contadas, o ignorando. Mandava-o embora quando ia me visitar, afirmava um mal estar quando era convidada para ir jantar em sua casa e sempre, sempre fingia não o ouvir ou entretida demais em uma conversa sobre fitas e os melhores pretendentes da temporada, não que esses assuntos me importassem, quando estávamos em alguma pequena reunião na casa de amigos dos nossos pais.

O fato é que eu queria que Graham sentisse minha falta e queria ter certeza que era importante para ele. Saber que ele conversava com outras garotas me deixou louca. Isso porque ele é só meu amigo.

Foi um motivo bobo para parar de falar com ele, contudo senti meu orgulho ferido e quando contei para Granny o que estava sentindo, ela riu e apertou meus ombros . “Você está com ciúmes de seu amigo, menina” declarou.

Podia ainda não saber como identificar desejo, ou saber que estava amando ou mesmo se queria beijar alguém. Mas conhecia ciúmes. E eu estava com ciúmes, assim como Graham, Killian se tornara algo próximo para mim, de um jeito meio estranho. Talvez sentisse isso por ele estar me ajudando, sempre tive uma certa possessão para com pessoas que parecem serem gentis comigo. Sempre quero guardá-las bem perto de mim, para serem apenas minhas.

O que isso dizia sobre mim?

–Você ficou quieta de repente. Está tudo bem?- Killian perguntou, enquanto mantinha a porta aberta com o braço esquerdo.

–Sim, tudo perfeitamente bem.- respondi rapidamente passando por ele.

Pude ouvir ele bufando logo atrás.

Andei até a mesa mais afastada das pessoas que estavam ali e me sentei o encarando.

–Não faça nenhum comentário malicioso.- ordenei assim que vi o sorriso sedutor surgir.- Apenas sente-se e fale.

–Você tem que parar de falar dando ordens.- observou se sentando de frente para mim.- Que tal pedirmos algo para beber?- sugeriu, chamando uma moça com um aceno.- O que vai querer?- indagou olhando para mim.

–Dois canecos de leite e um bule de chá, de preferência verde, caso não tenha pode ser preto mesmo, por favor. Bem quente. Pode ir.- dispensei a moça ferozmente, sem deixar espaço para réplica ou flertes entre os dois. Coisa que eu sabia que iria acontecer.

Eu não estava com fome, muito menos com vontade de comer alguma coisa, afinal já havia me alimentado não fazia muito tempo. Mas aquela garotinha que sempre comia por estar ansiosa demais, surgiu novamente dentro de mim.

–Você não esperou eu pedir, Swan.- reclamou Killian se virando para chamar a moça novamente.

–Ah, Jones. Você não percebeu que o outro caneco de leite é para você?- perguntei inocentemente, apoiando o queixo nas mãos.- Nunca fui muito chegada a álcool. Gosto de pessoas sãs para conversar, logo não quero que beba nada alcoólico para conversar comigo.- terminei de falar sorrindo com ironia.

A moça voltou com os dois canecos e o bule, os colocando no centro da mesa e saiu andando sem dizer nada.

–Sente falta dos chazinhos da tarde?- zombou ele enquanto me observava preparando o chá.

–Sinto sim. - respondi com toda sinceridade.- Prefere seu leite puro ou com chá?- perguntei calmamente,como se estivesse conversando com Graham, quando ele ia me visitar na hora do chá.

Chá era sempre uma boa ideia para assuntos sérios.

–Pode colocar um pouco de chá, sem açúcar.- pediu cruzando os braços, adotando uma carranca enquanto me observava preparar.- Vocês são treinadas para preparar e servir chá?- questionou. Percebi que ele pretendia zombar ainda de mim, entretanto ele soou realmente curioso sobre essa pequena banalidade enquanto observava minhas mãos agilmente preparar o seu.

– Na verdade o chá já vem pronto no bule, só temos que fazer a fusão e adoçar. Mas sim. Somos treinadas para “preparar e servir chá”, afinal um dia iremos cuidar de uma casa, “deveremos saber como servir nossos maridos e uma mulher que sabe servir um bom chá, é uma boa esposa”.- expliquei, usando as palavras de minha antiga tutora,colocando o caneco em sua frente.- Cuidado que está quente.- o adverti, enquanto levava o caneco a boca, soprando delicadamente.

–E é isso que você quer? Servir um marido?- perguntou ainda me encarando.

–Acho que quem deve responder as perguntas aqui, é você, senhor Jones.- mudei de assunto, com a voz perigosamente calma.

Ele não precisava saber que era meu maior pesadelo me imaginar tendo que servir um homem para o resto da vida.

Queria sim me casar, mas com um homem que queria uma mulher para amar e não uma mulher apenas para agradá-lo e sorrir nos eventos sociais. Se caso não encontrasse um homem assim, o que eu achava bem provável, a ideia de ser uma solteirona não era de toda ruim. Ou poderia casar com Graham, pelo menos seria um casamento cheio de amizade, porém injusto para ele. Eu o amava, mas não como uma mulher deve amar um homem.

–Muito bem. Qual sua primeira pergunta, senhorita Swan?- quis saber, finalmente levando o caneco a boca.- Isso está muito bom... me lembra muito casa.- consegui o ouvir murmurando para si mesmo enquanto encarava o conteúdo do caneco.

–Quem é a mulher dos desenhos?

Gancho respirou fundo, colocando o caneco de volta na mesa.

–Milah.- respondeu por fim.- Sim, ela era a mãe de Bae e sim, ela fugiu comigo porque nos... amávamos. Mas agora, ela esta morta.- Killian me encarava, os olhos incendiados com uma fúria contida, enquanto me contava.- Isso satisfaz sua curiosidade, senhorita Swan?

–O que aconteceu?O jeito que ela se foi tem algo a ver com a perda de sua mão? Quantos anos você tem, Killian?- prossegui sem me deixar abalar.

–Isso realmente importa?- sorriu sem humor nenhum.

–Importa para mim. Sei que já conversou um pouco comigo sobre sua vida, na noite passada, mas preciso saber com quem estou andando. – falei contraindo os lábios.

–Amor, você se infiltrou em meu navio. Você me pediu para ficar. Minha idade não tem importância nenhuma, assim como a minha história. Eu conto o que achar que deva ser relevante para uma boa convivência. Não entendo o por quê dessas perguntas, eu não sou nada seu e você nunca vai ser nada minha. Não estamos em nenhuma espécie de compromisso, onde eu deva lhe contar tudo da minha vida. Entendido? – ele havia se inclinado sobre a mesa. De suas palavras transbordava ácido que me atingiam lentamente.

Não desviei o olhar, contudo não respondi nada. Terminei de tomar meu leite com chá tranquilamente, sem deixar transparecer como estava irritada com suas palavras.

Deixei uma moeda na mesa e me levantei.

–Onde você vai?- perguntou segurando meu pulso. Pisquei algumas vezes antes de encará-lo, para tentar controlar toda aquela confusão que se iniciou dentro de mim quando ele segurou meu pulso.

–Isso realmente importa?- usei suas palavras duras, puxando meu pulso de sua mão.- Obrigada pela conversa e pela estadia no em seu navio.

Me virei e sai andando a passos rápido, ignorando seu chamado, sabendo que teria poucos minutos para sair de sua vista. Primeiro ele iria me chamar, então não acreditaria que eu fosse sair sozinha e por último perceber que sim, eu tinha coragem de sair sozinha.

Quando já estava na rua fiquei uns segundos, indecisa para qual lado ir, até que optei pela esquerda, que foi por onde viemos. Killian iria pensar que eu teria pego a direita, com a intenção de despistá-lo. Ou pelo menos eu torcia para que ele tivesse esse pensamento.


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Notas finais do capítulo

Bom gente, é isso. Eu quero pedir desculpas se o capítulo ficou chato, eu tenho essa noção, porém tenho noção também que as vezes nem todos os capítulos são cheios de altos, por mais que eu tente sempre deixá-los lá encima para vocês, esses capítulos medianos precisam acontecer para a história ter sentido.

Por isso Be que não dediquei esse para você, mas irei fazer isso, obrigada de novo pela recomendação.

E então? O que acharam do teaser da Dark Swan? Gostaram? Foi tudo o que imaginaram que seria?

Beijos.