POV America

Agora eu tinha três filhos. Ainda era difícil acreditar, era muito maravilhoso e surreal. Mas hoje, com o meu terceiro filho completando o seu primeiro ano, a minha ficha conseguia cair um pouco. Estar com ele era melhor do que quando estava com os gêmeos, quando eu era mais jovem e despreparada. Bem, eu ainda era jovem, afinal eu ainda tinha vinte e três anos, mas com certeza era mais preparada que a primeira vez. Eu já sabia como segurá-lo melhor, como amamentá-lo, como trocar a sua fralda. Katrina sempre estava comigo e raramente May também. May tinha apenas doze anos quando eu ingressei na Seleção. Agora, praticamente seis anos depois, ela já estava com dezoito anos. Ela se tornou uma moça muito bonita, esbelta, e portadora de grandes dotes musicais. Ela tocava tão bem quanto eu. Agora, depois de um ano e alguns meses de namoro do Ernest, ela ia tanto na casa dele quanto ele aqui. Algumas semanas atrás, ela foi pedir a minha benção de e minha mãe para pedir May em casamento. Nós achamos graça do cavalheirismo dele, mas o concedemos nossa benção apenas pedindo que ele esperasse um pouco. Afinal, muita coisa pode acontecer em um ano. A idade fez bem a Maxon. Com vinte e seis anos, ele ainda continha sua pele de menino moço, porém, seu humor havia mudado, a barba por fazer o deixava mais velho e as rugas em sua testa aparentavam aparecer. Com o tempo nos afastamos, tínhamos poucos anos de casado mas já aparentávamos ter várias décadas. Os filhos nos afastaram. Katrina evitava ao máximo ficar perto de Maxon, ele era muito rígido com ela sem o menor motivo, e Ethan não gostava de se aproximar de mim, e eu também não sabia o motivo. Creio que seja apenas o bom e velho favoritismo.

Como eu já havia dito a Maxon, eu faria uma festa grandiosa para o primeiro aniversário de nosso filho. Eu havia convidado todos os reinos que convidei na festa dos gêmeos. Os doces já estavam prontos, as mesas, a decoração, o bolo. Katrina, Ethan e Malcolm estavam no jardim com May e Ernest, enquanto eu terminava a arrumação e Maxon o seu trabalho. Eu estava andando apressadamente em direção ao meu quarto, onde eu deixara o presente especial de Malcolm, quando esbarrei com alguém e cai em direção ao chão. Felizmente, a pessoa me segurou pelos dois braços em e impediu de bater a cabeça no chão. Quando fui me virar para agradecer a pessoa, dei de cara com Maxon. Eu me recompus vagarosamente ao mesmo tempo que ele.

– Desculpe, Maxon. – eu disse, fazendo-o olhar apreensivo para mim.

– Tudo bem, querida? – disse ele, fazendo-me sentir um calafrio ao escutar o apelido pelo qual tanto ele me chamava.

– Sim. – eu disse, com a incerteza evidente na voz.

– Venha cá.

Ele me puxou docemente pela mão até o nosso quarto. Quando chegamos, ele me conduziu até a cama e nos sentamos na barra dela.

– Tudo bem. Vamos conversar, como um casal normal, certo? – ele perguntou, com um tom um pouco brincalhão.

– Acho que...tudo bem. – eu disse, de cabeça baixa.

– Agora querida, me conte o que te aflige. – ele disse, levantado o meu queixo e olhando profundamente em meus olhos.

– É que...não da Maxon. Simples assim.

– O que, minha querida?

– Maxon, eu não nasci para simplesmente cuidar de nossos filhos! Quando me casei com você, além de amar você eu também aceitei arcar com as responsabilidades do reino e...eu não faço nada! – eu disse, explodindo e me levantando.

– Você não faz nada por que não quer! – disse ele alto também, levantando-se.

– Eu não faço nada por que você não deixa! Sempre que eu me aproximo você me afasta! Ainda mais com o Ethan agora!

– Como assim com o Ethan agora? – perguntou, desentendido.

– Maxon, o meu próprio filho me odeia! – rosnei.

– E a minha própria filha tem medo de mim! – disse ele no mesmo tom.

– Você é muito rígido, o que esperava?

– Ela é minha...única menininha. – disse ele, hesitante e com a voz mais calma desta vez. – Ela é minha menininha, não quero que nada faça mal a ela.

– E você acha que sua atitude está a ajudando? – eu perguntei, colocando minha mão em seu ombro.

– Acho que...não. – disse ele, com a culpa na voz por um momento, mas logo voltando ao tom nervoso. – E você senhorita America? Você mal fala com o seu filho!

– Eu não falo por que ele passa o dia inteiro trancado naquela droga daquele escritório com você! Eu mal o vejo. – eu disse, com o tom mais tristonho. – E sinto muitas saudades dele. De vocês dois, na verdade. – eu disse, olhando profundamente em seus olhos.

– America, eu... – disse ele, hesitante. – Me desculpe. Eu não sabia que estava tirando o seu filho de você.

– Não, Maxon. O nosso filho. – eu disse com uma lágrima correndo-me a face.

Ele me abraço e me aconcheguei por alguns instantes em seu peito. Logo em seguida, um barulho atrás de nós nos chamou a atenção. Quando me virei, ainda com meu rosto quente e provavelmente vermelho por causa das lágrimas, duas pessoinhas saíram de trás da porta. Katrina parecia ter chorado desesperadamente e Ethan possuía algumas lágrimas ainda caindo.

– Mamãe! – Katrina disse, correndo até mim e eu logo me abaixei para poder abraçá-la.

– Papai! – disse Ethan, fazendo o mesmo com Maxon.

– O que houve filha? – eu sussurrei no ouvido dela.

– Nós viemos até aqui para chamarmos vocês para receberem os outros países. Mas no meio do corredor, ouvimos os gritos. – ela disse e voltou a chorar.

Eu a abracei mais forte. Sabia que a culpa era tanto minha quanto de Maxon, mas eu não aguentava ver os meus filhos chorarem. Senti uma mãozinha em meu ombro e me virei. Um Ethan, um tanto parecido comigo agora, pedia para entrar no abraço, ainda com os olhos lacrimejando. Eu o concedi passagem. Depois foi a vez de Maxon. Ainda um pouco hesitante, ele me deu um leve e rápido beijo e depois voltou-se a falar comigo.

– Desculpe, Meri. Eu fui um idiota. – ele disse. – Me perdoe por ter feito nossos filhos ouvirem a nossa briga.

– Isso Maxon. Nossa briga. A culpa foi minha também. Me desculpe. – eu disse, com mais lágrimas ameaçando descerem de meus olhos. Ele me lançou um sorriso fraco.

– Sempre te perdoarei, meu amor. – ele disse, me abraçando.

– Eu também, querido. – cheguei mais perto de sua orelha e sussurrei. – Eu te amo.

– Eu também te amo.

– Será que algum dia voltaremos a ser o mesmo casal de antes?

– Eu espero que não. Agora está melhor do que antes.

– Quem sabe? - eu lhe lancei um sorriso.

– Eu sei.