Wings escrita por Rausch


Capítulo 11
Capítulo 10 - Dois lados, uma situação


Notas iniciais do capítulo

O clima vai começar a esquentar, galera.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/526988/chapter/11

O primeiro chumaço de cabelos caiu ao chão. Maryssa ainda não podia acreditar em como tudo aquilo ocorrera a semanas atrás. Não acreditava que o primo se recuperara de uma forma tão inimaginável. No começo até estranhara, julgara-se por louca diante dos fatos. Mas quando viu que Max realmente voltara, sentiu a plenitude novamente. Sentiu-se cheia. Enquanto cortava os cabelos do primo, a garota ruiva estava surpresa pela decisão dele em mudar o visual tão subitamente. Ele apenas chegou e disse “Corte”.

Haviam perdido os ingressos para a exibição de Wicked durante o aniversário do garoto, obviamente não conseguindo um devido reembolso. Porém algo maior estava para acontecer. Max até tentara relutar contra seu pai, mas nada tirou dele a ideia de fazer uma grande festa, daquelas que relembrariam seus tempos antigos de noitadas, só que em homenagem ao filho e sua cura e aniversário dessa vez. Max observava seu reflexo ao espelho enquanto cada vez mais chumaços iam caindo.

– Você voltou possesso por alguma entidade do além. – Maryssa disse a ironizar.

– Acho que sim, uma bem forte. – Ele riu e manteve as mãos ao colo.

Max não compartilhara o encontro com seu tio, pois acreditava que as pessoas diriam que era apenas um delírio do subconsciente de um garoto comatoso. Guardou para si aquele momento do qual não esqueceria, e não precisava dizer para que acreditassem, ele acreditava.

– O tio está bem empolgado para esta festa. Bailes a fantasias eram a especialidade dele, já disse minha mãe.

– Bailes a fantasia, interessante o aniversariante não ter fantasia. – Falou Max, estava atônito.

– O que? Não tem fantasia? Como você não falou, Max? Isso é hoje a noite. Daqui algumas horas a casa vai estar cheia. – Maryssa parou o corte por um momento e encarou o primo pelo espelho.

– Eu falei que não queria, além do mais não sei escolher fantasia. – Max apenas respondeu.

– Não acredito nisso, Max. – Maryssa retomou o corte. – Não pode fazer isso com o tio, ele depositou muita esperança nessa celebração.

Max preferia ter conseguido assistir a apresentação de Wicked com seus familiares, mas não tivera escolha quanto a grande festa no Brooklyn. Teria de infelizmente comparecer e sorrir. O garoto sentiu uma pequena pontada de dor na nuca, às vezes era costumeiro após o acidente. Não era nada sério, apenas incômodo.

– Acho que sei como te ajudar. Isso vai ser uma viagem em toda a história, e vamos pegar algo emprestado de alguém. – Ela terminara o corte, ele estava finalmente diferente. Gostaria de ver a reação das pessoas.

– Pegar algo? – Max alarmou-se.

– Sim, lá no sótão. Algo do titio.

Maryssa puxou Max e ambos saíram do quarto do rapaz, destinaram-se ao sótão.

(...)

Dave Herondale olhou pela fina persiana da sala na qual se encontrava em sua casa. Estava de corpo nu até a cintura. Não havia para quem exibir, apenas a transição do crepúsculo o acompanhava. Não comia há tempos, também não se interessava. Não queria sair do quarto, principalmente quando seu pai estava em casa. Não suportava olhar a repulsa em seus olhos. Jace Herondale realmente apartara-se do filho após a infração do garoto. Toda a atenção recaíra sobre Dinah, a filha perfeita, atualmente.

Sentia-se estranho desde o que fizera, na verdade, sentia-se estranho bem antes de tudo. Dave sabia que cometera um crime, mas o que mais o agora causava remorso era saber que mesmo que Max tivesse se curado, ele já não voltaria mais a ter as coisas que tinha. Dave não seria mais visto da mesma forma pelos colegas, pela família. Com exceção de sua mãe. Clary não mudara tão drasticamente para com ele, apesar da mágoa pelo que o rapaz fizera.

Ele ouvira falar da festa a qual a família havia sido convidada a participar na corrente noite. Tinha certeza de que não compareceria, porém não podia dizer o mesmo da sua família, que tentava arduamente se redimir diante de todo o ocorrido. Principalmente Jace para com Alec.

– Dave, estamos saindo para o Brooklyn. Tem certeza de que não quer nos acompanhar? Seria bom. – Grace apareceu na porta do quarto, pegando o irmão de surpresa.

– Não, Grace. Tenho certeza de que não irei. – O loiro foi seco para com a irmã mais nova.

– Tudo bem, então. – Ela olhou docemente para Dave. – Até mais tarde.

Ela fechou a porta.

Dave voltou a olhar para o céu que ia alterando sua coloração ao horizonte. Cruzou os braços fronte ao tronco musculoso. Estava a pensar sobre tudo. Odiava ter aqueles insights que o faziam arrepender-se amargamente pelas práticas do passado. As práticas que sempre deferiu contra o pobre Max.

– Que droga! – Ele chutou a mesinha de cabeceira um pouco abaixo.

Colocou posteriormente as mãos diante do rosto e respirou profundamente. Pior do que os insights de arrependimento, era quando estes eram insights de culpa por tantas outras coisas. Algumas que ele tentava entender já havia certo tempo.

Lembrou das vezes em que vira Max correndo pelos corredores do Instituto quando criança e de como ele parecia se divertir de forma tão simples. Ele viu que Max não precisava de uma estela para estar se sentindo feliz, Max só era ele. Aquilo incomodava Dave. Dave percebia como Dave parecia ser amado por todos, por mais que não fosse um legítimo Caçador de Sombras, as pessoas apenas o gostavam bastante. O loiro não entendia como ele podia ter tudo, não era certo. Podia ser apenas inveja daquelas que qualquer pessoa sente com relação a outra, no entanto, não era. Ele sabia que não era.

Dave sabia que por trás de cada ofensa e gesto agressivo para com aquele garoto frágil, ele tinha algo mais forte. Era algo que para ele era grotesco, ele não entendia, todavia também não queria. Queria apenas bater no garoto, o chamar das piores coisas possíveis. Aquele o acalmava, abrandava a força daquele sentimento ruim. Ele fazia tudo aquilo, para que nunca e realmente tivesse que encarar os olhos azuis do menino. Ele só fizera aquilo uma vez na vida, aos treze, e aquilo o incomodou mais que um fogo a corroer sua pele.

Por último, Dave lembrou do acidente e do que quase fizera. A morte era a única saída que encontrara para pôr um fim naquilo tudo. Aquela visibilidade exacerbada, aquele sentimento corrosivo. Agora sentia o arrependimento de ver todos longe e de ser tratado como um animal, enquanto que Max era tratado como um deus. E acima de todas as coisas, Dave sentia o sentimento pior do que nunca de que precisava pela primeira vez consertar algo na sua mísera vida. Porém não tinha coragem, ou pelo menos julgava não ter. Ele não tinha coragem para assumir que tudo o que queria era conviver com Max, deixar que ele sentisse o que ele sentia e não admitia. Amor.

“Eu não preciso fazer nada contra você, Dave. Você é do tipo de pessoa que se destrói sozinho.” – E como num flashback, ele recordara o dito por Max e em fúria estourou o espelho do guarda – roupa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu acho que vocês vão precisar rever alguns conceitos daqui em diante, ou talvez mais na frente. Espero que estejam ansiosos para o que virá, pois eu garanto que vai ser forte. Deixem os comentários, isso realmente importa. Até mais.