Aisaka Taiga P.O.V.

— Alguém aqui entendeu o que ele quis dizer? — Maya perguntou e várias cabeças femininas se mexeram negativamente. Eu não mexi a cabeça e tampouco respondi, ainda estava pensativa sobre o que vira à alguns minutos atrás...
— Acho que alguém aqui entendeu muito bem o que ele quis dizer. — Emiko sugeriu deitando a cabeça descaradamente em minha direção, fazendo com que todas me fitassem curiosas.
— Hey, vocês já se conheciam? — Shine perguntou curiosa e por algum motivo eu corei! Mas isso não durou muito, eu não tinha motivo para ficar assim. Okay, talvez eu tivesse.
— Pode se dizer que sim. — Sorri sem graça ao ver que os olhares continuavam e e isso só significava algo. Elas não tinham ficado sastifeitas com a minha resposta. Pensei em mentir, mas logo me questionei o que tinha de mais em contar para elas o que tinha acontecido! Não havia acontecido nada demais.
Acabei por contar toda a verdade para as meninas. Não toda a verdade, omiti a parte que Fubuki se mostrara bastante prestativo e que falara muito perto do meu ouvido. Mas ao falar daquilo, toda a confusão que tomava antes conta do meu cerébro voltou, eu havia conhecido os dois lados de Shirou Fubuki naqueles dois dias. Primeiro ele se mostrara um garoto super prestativo e saíra me dando um conselho, logo depois se mostrara um garoto totalmente frio e calculista. Quem realmente era Shirou Fubuki?
— Eu só não entendi o por quê do vice-presidente falar mais que o presidente. — Maya colocou a mão sobre o queixo pensativa.
— Talvez ele não goste muito de argumentar. — Shine sugeriu.
— É porque Shuuya Gouenji, o vice-presidente foi presidente do conselho estudantil por esses dois últimos anos em que estive aqui. — Emiko começou, fazendo todos os olhares se mudarem para si. — Parece que ele está ensinando Fubuki como fazer essa escola continuar do jeito que sempre foi... Fubuki é do primeiro ano do ensino médio, só que diferente da Aisaka, ele entrou no comecinho do ano. Desde então eles ficaram amigos e parece que Fubuki virou o aprendiz dele.
— É, faz um pouco de sentido. — Assenti ainda pensativa.
— Emiko, não acha que sabe muito sobre esse tal de Gouenji? — Yumi perguntou e pude ver seu rosto ferver de raiva só de tocar no nome dele. É, ela tinha odiado ele.
A face de Emiko enrusbeceu, a garota ficou totalmente vermelha e parecia que ia desmaiar:
— Você está bem Emiko? — Shine perguntou dando tapinhas na costa da amiga.
— Sim, mas acho que já estou indo, afinal a aula já vai começar. — Ela disse já escapando, saindo sem responder a pergunta feita por Yumi.
— Mas voltando ao assunto, como vamos conseguir todo esse dinheiro? — Maya perguntou assim que Emiko havia sumido de vista. E como saira rapído!
— Eu posso pedir para minha mãe. — Yumi sugeriu.
— Não. Melhor não. — Maya a cortou e eu senti vontade de perguntar o por quê, mas achei muito invasivo.
— Eu acho que deveríamos deixar o dinheiro para depois. — Opinei unterrompendo o pensamento de todas. — Primeiro precisamos de jogadoras para o time.
Era verdade. Se não tivessemos as 11 jogadoras, não adiantaria de jeito nenhum arranjar dinheiro.
— Então podemos começar a amanhã a procurar mais jogadoras para o time, não é? — Shine perguntou entusiasmada.
— Ye...
Antes que eu pudesse terminar a frase, um garoto ruivo passou correndo por mim, quase me derrubando. Eu o teria o xingado se não ficasse tão surpresa ao ver que o garoto se parecia tão com Fubuki. Mas não era ele já que seu cabelo possuia uma cor tão diferente da de Fubuki. Será que eles eram parentes ou era uma tremêndia conscidência?
— Garoto mal-educado. — Maya resmungou.
— Hey garotas, estou indo para a aula. — Shine falou acenando e logo depois saiu em direção aos corredores.
— Eu também. — Maya.
Só restou eu e Yumi. Fitei o chão pensativa refletindo sobre tudo que havia acontecido durante o dia e foquei em algo que me pareceu interessante. O fato de Yumi estar agindo como uma jogadora do time!
— Yumi, você quer entrar para o time? — Ela pareceu ficar mais surpresa do que a primeira vez que havia feito no dia anterior.
— De onde tirou isso? — Ela perguntou irritada desviando o olhar.
— É que você estava tão centrada, era como se você fosse... Um membro do nosso time também. — Ao ver que Yumi me encarava com cara de tédio, elevei um pouco o tom de voz para mostrar que eu achava aquilo importante. — Por quê você não participa? Está nos seus olhos e nas suas atitudes que você ama o futebol!
Ela abriu a boca e fechou pelo menos umas dez vezes antes de me responder e confesso que achei que ela nem ia mais falar. Mas era verdade, eu via o quanto a Yumi se importava com o time de futebol, mas o por quê de ela ficar tão irritada quanto tocava no assunto... Isso me incomodava.
— Eu tenho os meus motivos okay? — Ela disse após algum tempo e vi pelo o seu olhar que seria melhor para ambas não insistir mais no assunto naquele assunto . — Agora vê se para de me irritar.
E então ela deu meia-volta, sumindo pelos corredores. E eu fiquei confusa novamente, quais eram os motivos da Yumi não querer jogar? Quando eu parava um pouco para analisar aquela situação parecia mais que ela não podia em vez de querer.
Só então, ao reparar que os corredores estavam vazios, lembrei que o intervalo já acabara e eu precisava urgentemente voltar para a sala! Ai meu Deus, hoje definitivamente não é o meu dia de sorte...

Emiko Ominae P.O.V.

Eu era uma boba.
Uma tremenda boba por me deixar intimidar por alguém como ele.
Shuuya Gouenji.
Por quê eu tinha que mudar completamente quando eu o via?
Porque ele tinha que ter mudado tanto comigo de uns tempos para cá?
Tinhamos a mesma idade e por muito tempo fomos melhores amigos. Brincavámos juntos o tempo todos até que algo pareceu estragar a nossa amizade... Eu não sei exatamente o que foi, só sei que no ano passado Gouenji começou a se afastar de mim e a cada dia que passava ele inventava uma desculpa diferente para se manter longe de mim. E desde então nunca mais nos falamos, mas eu ainda teimava em corar ou ficar estática quando o via e isso era por causa do que acontecera nas festas de férias da escola.
Músicas tocando, bolos explodindo e muita felicidade no ar. Tudo isso com uma alegria por o ano estar acabando. Mas eu não estava feliz. Eu tinha estado assim desde que ele parara de falar comigo, mais confusa do que triste ou os dois.
Na verdade eu só havia vindo ali por causa dele. Sabia que por ser o presidente do conselho-estudantil era praticamente obrigatório sua presença nem que fosse por uma ou duas horas. Olhei para os lados e finalmente o avistei, vestindo em uma roupa elegante, ao colocar o pé dentro daquele lugar, foi recebido por aplausos e saudações.
Ele ainda não estava tão frio quanto atualmente...
Ele se juntou com os amigos em frente ao barzinho e começaram a beber e conversar animadamente. Eu fiquei o tempo todo olhando inocentemente para lá, quando nossos olhares cruzavam, eu fingia que havia deixado meus olhos irem para lá sem querer.
Ficamos assim por mais ou menos duas horas. Eu já estava começando a ficar incomodada e por dentro, chateada. Eu não havia conseguido aproveitar a festa como eu queria, Gouenji não viera nem dar um 'oi' para mim, sua antiga melhor amiga.
Ficar ali estava mais parecendo com uma tortura. Me despedi das minhas companheiras e elas nem pareceram se importar já que eu nem participava da conversa delas, peguei minha bolsa e fui caminhando de cabeça baixa em direção a saída. Eu estava envergonhada comigo mesma. Envergonhada por ter sido tão idiota ao ponto de achar que só porque era uma festa, o Gouenji pararia de me ignorar e voltaria a falar comigo igual antes.
Eu era mesmo uma idiota.
Idiota.
Essa palavra combinava mesmo comigo.
Já estava lá fora quando senti alguém puxar meu braço, eu não estava afim de aturar um bebâdo idiota naquela hora. Já estava pronta para socar quem quer que fosse quando me vi de frente com ele, ele estava tão elegante e ainda mantinha aquele cheiro dele, à quanto tempo que eu não o sentia? Há muito tempo.
E lá estava ele, como se o tempo tivesse parado. Parecia o mesmo Gouenji de sempre, só que a julgar por sua cara e seu sorriso, ele parecia ter bebido...
— A festa ainda não acabou, por que já vai embora? — Ele soltou meu braço e me encarou de certa forma que me fez corar. Droga. —A propósito, você está muito bonita hoje. Apesar de ainda continuar pequena. — Ele riu e eu o acompanhei, não tinha a mínima vontade de brigar com ele naquela hora. Eu estava muito, muito feliz. — O que foi? Você parecia tão triste na festa.
— Como se você ligasse. — Finalmente tive coragem de falar ou pelo menos consegui falar algo. Mas logo me arrependi, ele iria ficar bravo comigo! Mas em vez disso, ele riu e passou a mãos nos meus cabelos.
— É, você continua a mesma Emiko de sempre. — Eu corei disfarçadamente.
—E isso é bom? —Arqueei uma sobrancelha e ele sorriu, pegando minha mão. Corei de novo. ARGH.
—Ótimo. — E antes que eu pudesse dizer algo, ele me beijou. Me beijou. E eu entreguei totalmente aquele beijo. Nossos lábios se tocavam como se já tivessemos feito aquilo antes e mesmo o beijando, eu não conseguia parar de sorrir!
Eu fiquei repassando essa cena na minha cabeça milhões de vezes, tanto que já sabia decorado cada parte, cada toque...
Mas ele nunca mais falou comigo depois daquele dia, principalmente do beijo.
Talvez ele não lembre de nada porque estava bêbado, mas... Eu queria que ele lembrasse.
Seria legal viver aquele momento mais uma vez.
Eu deveria aprender a me controlar, se não queria contar às meninas, poderia pelo menos agir normalmente quando tocasse no nome dele.
Algo passou correndo e quase derrubou os meus livros, o xinguei de vários palavrãos fazendo com que ele se virasse para mim e de todas as pessoas da escola, era ele. Shuuya Gouenji.
— O que faz aqui? — Perguntei enquanto ele recolhia meus livros. Ele rapidamente os pegou e os jogou praticamente em cima de mim.
— Esqueceu que infelizmente estudo na mesma sala que você? — Ele respondeu seco e entrou na sala.
Infelizmente...
Senti meus olhos lacrimejar quando ele disse aquilo. É, talvez ele tivesse bebido bastante naquele dia. Eu deveria mesmo seguir em frente... Talvez fosse melhor do que ter que aguentar aquilo todos os dias...

Shirou Fubuki P.O.V.

O dia fora bem cansativo comparado aos outros e eu estava ficando cada dia que passava mais cansado daquela rotinha rigorosa. Guardei os meus livros no armário e fiquei esperando por ele no corredor. Meu irmão.
Não demorou muito para ele aparecer, Atsuya vinha chutando o vento e assim que me viu, pareceu suspirar entendiado. Guardou os seus livros no armário assim como eu fiz e seguiu direto em direção a saída, sem nem ao menos me olhar nos olhos. Ele estava agindo assim desde que eu virara o presidente do conselho estudantil e eu já estava cansado de ter que aturar isso calado:
— Atsuya, você está com inveja? — Perguntei inocente e ele levantou os olhos confusos para mim.
— E do que eu teria inveja? — Ele perguntou com o seu tom habitual, provocador.
— Desde que entrei no conselho-estudantil você está mudado. É inveja? — Ele riu alto. Por alguns segundos cogitei a ideia de lhe dar um soco. Eu me preocupava com ele, queria saber o motivo de ele estar agindo estranho comigo, mas ele em vez de cooperar, ria.
— Para que ter inveja de alguém que é feito de marionete? E isso não é pior. Irmão, a única coisa que eu consigo sentir vendo você bancar outra pessoa é nojo. — Eu o encarei confuso. — Você não é assim, frio com as pessoas. Você era o Shirou, o garoto educado e...
— E fraco! — O cortei. — Não era isso que você dizia? Que eu precisava ser mais forte? Apesar de eu ser mais velho, quando nossos pais morreram, eu chorei por muitas noites, você sempre me chamava de fraco e agora, graças ao Gouenji, eu aprendi que não devemos demonstrar nosso...
— EU NUNCA DISSE QUE VOCÊ TINHA QUE SER ESSE TIPO DE FORTE! — Atsuya gritou abaixando a cabeça e cerrando a mão em punho. — Quando eu pedia para você ser forte era porque eu queria que você aceitasse a morte dos nossos pais, eles morreram, mas eles não queria que você morresse também! Ser forte é ser maduro o suficiente para aceitar as coisas do jeito que são, não bancar o chefão para as pessoas! Eu sei que você não gosta de fazer o que faz com as pessoas...
— VOCÊ NÃO ME CONHECE. — Foi a vez de eu o cortar. Eu não conseguia ficar ali. Eu não conseguia entender, como era tão fácil para o Atsuya mencionar a morte dos nossos pais sem ao menos sentir um pouco de receio. MAS PARA MIM ERA! Eu sentia cada dia que deitava na cama de noite, mas... Atsuya talvez tivesse razão, quando conheci Gouenji vi uma pessoa muito legal nele e que se importa com os outros, uma que quase ninguém conhece, o verdadeiro Gouenji. O que se esconde de trás de toda aquela frieza. Eu queria mostrar as pessoas que ele era diferente, mas o que acabei fazendo foi me tornando o mesmo que ele. Outra pessoa.
Eu precisava sair de lá de dentro. Eu precisava descansar e refletir. A escola já estava praticamente vazia, avancei o corredor rapidamente e corri em direção às escadas sem nem tomar cuidado para notar onde estava andando. Eu só precisava sair e tudo ficaria bem. Ou pelo menos, não ficaria tão ruim assim.
Mas eu tomei uma surpresa quando vi o que acontecia lá fora. Estava chovendo e por conta disso escorreguei da escadas e cai. Passei a mão na minha testa prevendo que nasceria futuramente um galo ali em cima e quando abri os meus olhos, me assustei. Ela se levantou e me encarou assustada:
— O que faz aqui na chuva, Fubuki?
Podia ser qualquer pessoa menos ela e por quê ela? De tantas pessoas que poderiam ter me pego com os olhos vermelhos e que eu poderia ter caído em cima, tinha que ser justo a Aisaka Taiga?