Surviving to Hell escrita por Alexyana


Capítulo 13
Inconcebível


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas lindas da minha vida, como vocês estão??
Primeiramente: PARABÉNS MRS DREAMS, minha gêmea! Muitos anos de vida, saúde, paz e divação. E claro: muitos presentes! (espero não ter errado a data).
Enfim, espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521945/chapter/13

– Então, o que vamos fazer? – pergunto para Carl e Sam depois de observar a moto de Daryl sumir na estrada. A perspectiva de ficar o dia todo sem mamãe é bem tentadora, e pretendo aproveitar isso ao máximo.

– Samantha, pode colher algumas hortaliças para mim? – grita Carol do alpendre, respondendo nossa pergunta e claramente acabando com nossa animação.

– Tudo bem – Sam grita de volta. Ela se vira para nos olhar, em uma pergunta silenciosa se iremos acompanhá-la.

– Eu estou fora – informa Carl, andando em direção a casa antes que possamos falar algo. Sam me encara, esperando que eu faça o mesmo, porém permaneço no mesmo lugar.

– Vamos lá – digo em um tom derrotado, começando a andar em direção à horta.

É um pedaço de terra relativamente pequeno, mas incrivelmente há muitas opções de alimentos. Vai desde a couve até a cenoura, e eu estou encantada com todas essas hortaliças e legumes. Mamãe ficaria orgulhosa de mim se me visse assim, morrendo de vontade de comer todas elas.

Vejo Carl e Seth conversando animadamente em frente à casa dos Greene, como se fossem amigos há anos. Sempre admirei a capacidade do meu primo de conseguir fazer até a pessoa mais tímida falar, quase como um poder especial.

– Por que você não dá uma chance pro Seth? – pergunto para Sam, que está colhendo algumas folhas de couve. – Ele não é tão mau assim, vamos lá.

– O problema não é exatamente ele, e sim o que ele é – ela diz, e olho-a totalmente confusa. Ela vê minha cara e começa a rir. – Eu gosto de garotas.

– Oh – eu digo, tendo consciência de minha expressão surpresa.

– Por que está tão surpresa? – ela pergunta curiosa, me estendendo algumas folhas.

– Não sei. Você não parece lésbica – digo sem jeito, pegando as hortaliças e colocando-as na cesta ao meu lado. Percebo que isso pode ter sido algo rude de se dizer tarde demais – Desculpe.

– Tudo bem – ela diz, e pela sua expressão parece mesmo estar. – Meu pai não aprovava.

– E o que você fez? – pergunto me levantando para acompanhá-la e entregando a cesta a ela.

– Eu fugi de casa – Sam diz simplesmente, encarando as árvores além da cerca, como se pensasse em algo que ocorreu há muito tempo.

Antes que eu possa perguntar mais alguma coisa, Carol nos chama de novo, dessa vez pedindo ajuda para cozinhar o jantar, e foi minha vez de pular fora. Eu realmente não serviria para nada, talvez só para comer os alimentos.

Vago pelos arredores da casa, desfrutando da solidão. Andar está me fazendo lembrar-me de mamãe, e pela primeira vez nesse pequeno tempo que estou longe dela, estou preocupada. Eu nunca fui uma pessoa pessimista, mas depois que tive que encarar que os infectados não têm sentimentos e que as pessoas morrem mais frequentemente que o recomendado para minha saúde mental, eu venho tentando me manter realista. Porém não está saindo como o esperado, já que é inconcebível a possibilidade de minha mãe morrer.

Passo em frente ao celeiro, e me lembro sobre o que Maggie me contou hoje cedo, sobre o que Shane fez. Entendo o motivo de Hershel ter ficado tão bravo com ele, e de Beth ter entrado em choque. Eles ainda não haviam superado a morte de todas aquelas pessoas conhecidas e não estavam preparados para toda aquela carnificina.

Imagino a filha de Carol saindo por entre aquelas portas, já infectada. Ela tinha quase a minha idade, e pensar nela dessa forma é estranho, me faz perceber que isso pode acontecer comigo também.

Ouço alguns murmúrios de dor lá dentro, e me lembro de que Randall está lá. Sua perna ainda está se recuperando, e Rick planeja levá-lo para algum lugar longe e dar uma nova chance a ele. Talvez seja o melhor a se fazer nessas circunstâncias. Não é uma boa ideia matar pessoas vivas quando os seres humanos estão em extinção.

Continuo me afastando da casa, alegre por estar tão perto da natureza. Atlanta não tinha os melhores ares, e eu adorava visitar vovó Alicia quando ela ainda estava viva. Era maravilhoso acordar com os sons dos pássaros e dos outros animais.

Vovó morreu há três anos devido a um ataque cardíaco, e eu pensei que ia morrer junto com ela, principalmente quando papai não foi mais me visitar. Mamãe também estava destroçada, e graças à ajuda de tia Melinda e de tio Grayson conseguimos nos recuperar. Fui obrigada a ir semanalmente a uma psicóloga durante meses, e eu cortei qualquer laço social amigável que ainda mantinha com as pessoas da escola. Foram tempos difíceis.

Vejo papai em cima de um cata-vento enorme um pouco mais a frente de onde eu estou, e percebo que é uma ótima oportunidade para falar com ele. Aproximo-me mais, e o som do martelo contra a tábua vai aumentando. Papai está construindo o que parece ser uma plataforma de vigia, e devo admitir que é uma boa ideia.

Ele para de repente, e só então noto Lori abaixo dele. Shane ri de alguma coisa que ela disse, e estranhamente não gosto disso. Nunca tive grandes esperanças de mamãe e papai voltarem, porém nunca o imaginei com outra mulher. Mamãe já teve alguns namorados, inclusive o colega de trabalho dela, Luke Black. Ele foi o mais duradouro, e era bem legal, porém nunca consegui vê-lo como um pai.

Continuo a me aproximar, na esperança dela me ver e ir embora, apesar de achar isto difícil devido às árvores ao redor. Papai desce do cata-vento e para em sua frente, e o que antes era uma conversa amigável se tornou uma conversa séria. Presto mais atenção no que eles estão falando, e a voz de Lori se torna mais clara.

– Você tirou a gente de Atlanta sem pensar em si mesmo. Se lembra daquela noite? Eu estava sentada no seu carro, pensando “Nós vamos ficar bem, ele vai fazer dar certo, a gente vai sair daqui”, e eu nunca te agradeci por isso – ela fala, abaixando a cabeça triste. – Olha, mesmo que as coisas tenham ficado confusas entre nós, você cuidou de mim. Obrigada, de verdade.

– Lori, você não tem que me agradecer por isso.

– Eu baguncei as coisas, coloquei você e Rick em guerra – Lori fala com a voz embargada, e a vejo apoiando as costas no carro prateado de papai. – Nem sei de quem é esse bebê.

Sua última fala me assusta e me choca ao mesmo tempo. Vejo papai encarando-a fixamente, e desisto de ir falar com ele.

Começo a correr na direção oposta a eles, não me preocupando se eles me ouviram ou não. O caminho que fiz há alguns minutos passa ao meu redor, mas não reparo nisso. A confusão em minha mente é transtornante, e não consigo formar pensamentos coerentes.

Eu sabia que Lori estava grávida, porém imaginava que a criança era de Rick. Como ela foi capaz de fazer isso com o próprio marido? Esse filho é de Shane? Eu vou ter um irmão? Como uma mãe pode não ter certeza da paternidade do próprio filho?

Caio no chão com o choque de corpos repentino, e só então percebo que Carl estava atrás do celeiro, ou seja, no meu caminho.

– Ei, olhe por onde anda! – fala ele um tanto bravo, levantando e pegando seu chapéu que caiu no chão com o impacto. Ele me olha quando percebe que não o retruquei, e seu semblante se torna um pouco preocupado. – Você se machucou?

– Não – respondo me levantando também e tratando de disfarçar minha expressão, que provavelmente está me denunciando. – O que está fazendo aqui?

– Eu, hum... – ele se atrapalha, olhando para o celeiro. Arqueio uma sobrancelha para ele, em um questionamento. Ele suspira derrotado. – Estava indo ver Randall.

– Randall? – pergunto surpresa, me lembrando das coisas que ouvi sobre o grupo dele. – Não é uma boa ideia.

– Eu sei – ele diz, apesar de estar claro que ele não sabe, já que estava mesmo querendo vê-lo.

– E você? Por que estava correndo? – questiona, finalmente se lembrando de que eu fui o motivo do tombo.

– À toa – digo evasiva, e resolvo que é melhor eu acompanhá-lo. Ele me lança um olhar que claramente diz que ele não acredita, mas não diz nada.

Andamos em silêncio pelo gramado, o Sol da tarde já se preparando para o fim do dia. Fico chutando algumas pedras do chão, com as palavras de Lori ainda em minha cabeça.

– Sua mãe disse que o bebê pode ser de Shane – finalmente falo, quebrando o silêncio após longos minutos. Fico esperando sua resposta, e ela demora a ser dita.

– Impossível – ele diz sério, quando já pensava que ele não iria me responder. – Tenho que ir.

Antes que eu possa responder, Carl começa a correr em direção à casa. Fico ainda mais triste por ter contaminado ele com essa horrível informação, mas não tomo a iniciativa de ir atrás dele. Ele precisa pensar, igual a mim.

Caminho até uma grande árvore, sentando-me abaixo dela com o intuito de esperar Daryl e mamãe chegarem. Admiro o crepúsculo, enquanto ouço as vozes das pessoas dentro da casa. A preocupação com mamãe começa a aumentar de acordo com que a noite avança, sobrepondo os pensamentos sobre meu possível irmão.

Vejo Sam no alpendre iluminado, provavelmente fiscalizando se está tudo bem comigo. Ela sorri quando vê que estou olhando, e me esforço para retribuir. Ouço o barulho de rodas na estrada, e levanto-me apressada para ver. Dois faróis iluminam a noite, e estranho esse fato, já que eles foram com uma moto.

O automóvel estaciona rapidamente, e Daryl sai do banco do motorista apressado, correndo para abrir as portas traseiras. Ele pega mamãe desmaiada no colo e começa a correr em direção à casa, onde algumas pessoas já estão reunidas devido ao barulho.

– O que aconteceu? Por que minha mãe está desacordada? – pergunto desesperada ao ver o rosto pálido e ensanguentado de mamãe. É inevitável não pensar no pior ao olhá-la, e isso me destrói completamente.

– Chame o Hershel, ela foi atropelada! – Daryl grita para ninguém em específico, adentrando na casa.

Lágrimas começam a correr livremente por minhas bochechas, e tento ir atrás de Daryl, porém alguém me impede. Soluços estrangulados saem livremente de minha boca enquanto tento inutilmente me soltar dos braços de Sam.

– Me solte! Eu tenho o direito de vê-la! – grito com a voz alterada devido ao choro.

– Acalme-se Emma, Hershel está cuidando dela – diz Sam, sua voz calma não tendo nenhum efeito sobre mim.

Desisto de lutar quando percebo que eles não me deixarão entrar e encolho-me o máximo que posso contra a parede de madeira do alpendre, abraçando meus joelhos, como fazia quando era pequena. Lembro-me do rosto mortífero de mamãe no colo de Daryl, o que faz com que mais do líquido salgado escorra por meu rosto. Me pergunto se irei conseguir sobreviver ao que está por vir.

And every demon wants his pound of flesh
But I like to keep some things to myself
I like to keep my issues drawn
It's always darkest before the dawn


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A tradução:
Cada demônio quer seu pedaço de carne
Mas eu gosto de ficar com algumas coisas para mim
Gosto de manter minhas questões só para mim
Está sempre mais escuro antes da madrugada
(Shake It Out – Florence and The Machine)

Então, qual a opinião de vocês sobre o capítulo? O que acharam de descobrir um pouco mais da Sam? O que esperam daqui pra frente?

Pergunta de hoje: Qual o maior medo de vocês?
Minha resposta: Tenho medo do fracasso, e da morte também, apesar de achá-la totalmente intrigante.