O vento frio batia no meu rosto,mas eu não sentia. O tremor em meu corpo era só o medo.O medo mais puro e simples.Meus saltos se enterravam na grama do campo de baseball e meu vestido balançava com o vento. Estava com um sobretudo,para parecer o mais humana possível. Tinha que enganá-los o mais rápido possível.Meu escudo já estava em volta de todos e eu sentia que meu mundo ia ruir.
Edward e eu tínhamos passado a última semana na cama.Não me alimentei,nem ele.Minha garganta ardia como louca,mas eu tentava esquecer esse pequeno fato. Edward pelo menos provou do meu sangue.Ele não tinha sangue para eu provar.
Coloquei mais um pouco de lenha na grande fogueira que eu estava montando. Ela já estava suficientemente grande,mas melhor prevenir do que remediar. Joguei os gravetos,vendo o fogo crepitar.
A sensação em minha volta era péssima,horrível no mínimo.Meu coração estava naquele ritmo ridículo que ficava quando eu me animava com Edward.
Edward.
Meu coração deu uma cambalhota só de pensar em Edward.Adorava pensar em como toda a manhã,após a noite,digamos,quente que temos sua voz fica rouca e grossa. Adoro como ele me chama de Sra.Cullen. Adoro como suas mãos passeiam em meu corpo.Adoro seu sorriso.Seu cheiro.Sua voz. Adoro ele. E adoro as noites que passamos.Ambos sem precisar dormir,ou cansar.Sua boca sugando meu sangue enquanto nossos corpos se satisfazem.
Edward.
Nessa manhã,ficamos nos olhando o tempo todo,unidos espiritualmente e fisicamente.Tinha libertado minha mente do escudo e conversávamos silenciosos. Nossos corpos eram um,como nossas almas.Eu não queria que nos destruíssem .E eu ridiculamente só soube falar ‘Eu te amo’.
Por que eu não posso falar coisas bonitas como ‘você é a minha vida’ ou ‘eu vivo por você’?
Ok,são frases de Edward,mas... Eu sou tão profunda como uma piscina infantil.
Senti Edward se aproximando e senti o objetivo que ele tinha.Seus braços me envolveram,me puxando para perto.
“Você está bem?”ele perguntou em meu ouvido.
“Sim,querido. Por quê?”perguntei sorrindo, tentando tirar de mim a sensação de morte eminente.
“É que...eu preciso conversar com você.”ele falou me girando para a sua frente. “É sério.”
Afaguei sua bochecha,passando meus dedos entre suas sobrancelhas franzidas. Ele ficava tããããõ bonitinho quando nervoso...
“Se...se algo acontecer de errado...se começar a luta ficar muito feia ou se começarmos a perder eu quero que você fuja.Provavelmente você deve ser mais rápida de loba,então transforme-se. Quando estiver cruzando os limites do estado, lembre-se de ir para Nova York. Lá você vai encontrar a nossa casa,é só perguntar a qualquer jornalista. Fique algum tempo e depois vá embora.Para qualquer lugar.Eu vou te encontrar.” Ele parecia bem agitado.Não.Ele estava agitado.
“Edward,por favor. Vai acontecer nada!” reclamei,dando soquinhos em seu ombro.
“Na verdade...”Alice começou,mas eu olhei feio para ela. Tinha momentos que eu queria que Alice calasse a boca.
Alice viu meu olhar e franziu a testa em irritação. Sua boca se abriu e ela apoiou as mãos nos quadris.
“Eu ia falar que eu não tinha certeza.Não consigo ver nada!Você tampa a minha visão!”ela reclamou,marchando e puxando Jasper atrás dela.
Desde que Alice descobriu que ela não conseguia ver o meu futuro porque ela estava presa a sua antiga humanidade e sua vampirice,ela anda muito irritada.Tento o máximo evitar que ela se irrite.Ou me mate.
Edward bufou,me puxando para um abraço.Respirava baixinho em seu peito,sentindo o humor de todos em minha volta,seus cheiros familiares.Não era legal ver as emoções tensas de todos e isso não me ajudava. Por mais que eu sentisse o medo,eu não tinha. Eu me sentia calma no abraço de Edward,me sentia completa. Mais completa do que antes me sentia.
Isso era estranho.
Uma brisa quente passou pelo meu nariz,alguns cheiros diferentes me fazendo pensar. Eram cheiros quentes,como nossos amigos carnívoros.Com certeza não era humano. O cheiro era regado de algo parecido com ódio e malícia. Eram sentimentos terríveis. Em alguns cheiros eu senti ordens macabras de morte.Eu sentia isso. E a morte.
“Edward!Os Volturi!” murmurei bem baixo,lutando para eles não me escutarem. Edward se virou para Carlisle que conversava com Benjamim e falou a palavra tão temida. Carlisle chamou os outros que tomaram as posições que tínhamos combinado.
Atrás da grande fogueira,à minha frente estava Benjamim e Zafrina,que seriam nossa arma potencial. Edward estava ao meu lado e do outro estava Emmet. Atrás de nós estava Carlisle,Esme,Jasper e Alice. Jasper tentaria controlar os sentimentos dos nossos inimigos.
Tanya,Irina,Kate,Eleazar e Carmem estavam logo atrás deles. Kate estaria melhor em campo aberto,sendo que ela não conseguia eletrocutar com o pensamento. Senna, Kachiri, Ceci, Assua, Garatchi e Jassy estavam atrás,em seus pés flechas para um propósito bem maior. Tia,Amun e Kebi,junto com o Siobam,Liam, Maggie e Nico formavam a fila seguinte. Logo atrás estavam Mary,Randall,Alistair,Charles,Mackenna,Lida, Garret e Rose.
Atrás,os lobos se estendiam em uma linha grande,sendo no meio um enorme lobo preto,flanqueados por Vladimir e Stefan.
Nossos olhos se concentraram no caminho à nossa frente. Respirei erraticamente,contando os segundos que demoravam. Noventa segundos depois,vultos negros avançavam pelas árvores.Seus mantos eram de cores diferentes em degradé. Três figuras no centro usavam mantos negros e ao seu lado mantos mais claros. Pude perceber estranhamente a presença de duas crianças em seus flancos, deviam ter seus doze anos. Seus olhos eram de um vermelho chocante em meus olhos e me olhavam com um sorrisinho cínico.
Libertei minha mente para passar o escudo em volta dos corpos de meus amigos.Pelo que Eleazar tinha me dito, meu escudo ia ajudar a evitar o ataque de Jane e Alec. Eu queria saber quem eles eram...
“Edward. Quem são Jane e Alec?”perguntei baixinho,fazendo um movimento com a cabeça em direção ao grupo que se aproximava.
“As crianças.”Ele me disse,apertando minha mão com mais força. Olhar novamente para os olhos abrasadores me fez sentir um arrepio.
Eles pararam alguns metros antes do fogo crepitante.Me aninhei em Edward,torcendo para que eles não percebessem minha mudança.
“Carlisle,meu amigo!”um rapaz de pele fina e pálida exclamou. Ele estava no meio do grupo,com um longo manto preto. Por baixo de suas roupas podia ver um belo terno risca de giz e uma gravata vermelha com aparencia de ser bem cara. Os cabelos compridos e lisos dele estavam presos em um rabo de cavalo e um belo sorriso estampava seu rosto de anjo.
“Aro.”Carlisle cumprimentou,sorrindo levemente.Ele se virou para os outros dois rapazes,não muito mais velhos que Carlisle que estavam parados ao lado de Aro. “Caius.Marcus.”
Caius,um belo rapazde cabelos prateados e curtos sorriu acidamente para Carlisle,ajeitando a manga da blusa social. Marcus,outro belo rapaz de longos cabelos pretos presos em uma trança longa somente suspirou,batendo seus olhos em mim.Ele parecia algo perto do interessado e eu podia sentir dele a tristeza e o desapego. Suas mãos afagaram a barba rala que tinha no rosto,ainda me avaliando com os olhos. Ele estendeu sua mão em direção a Aro que recebeu de bom grado,os grande e nublados olhos dele se voltando para mim também.
“Marcus percebeu em volta de Edward uma relação com a humana que procurávamos. Isso é pior que esperávamos Carlisle.”Aro disse,largando o manto no chão e ajeitando o terno,se aproximando um pouco de nós.Uma figura atrás dele se mexia conforme os movimentos dele.
“Ela será transformada em vampira assim que possível,Aro.”Carlisle respondeu,mantendo na face um sorrisinho de alegria por voltara ver seus amigos.
Eu me sentia enjoada.
“Creio que promessas vindas de você não vão ser mais aturadas,Carlisle.”Caius falou,largando o manto atrás de si e se aproximando com passos largos. “Ou ela morre agora ou ela se transforma agora!”ele exclamou.
Eu vou por tudo para fora.
Com certeza.
“Creio que possamos fazer isso,Caius.”ele falou meio sem vontade.Ele se virou para nós,com um olhar meio apelativo. “Edward,por favor. Não queremos que nossos amigos sintam o cheiro de sangue.Atrás daquelas árvores ia ser muito bom.”Carlisle falou apontando para umas árvores atrás de nós.
“VOCÊ ACHA QUE SOMOS IDIOTAS,CARLISLE?” Caius gritou dando mais passos até nós,onde Carlisle resolveu se mover e evitar uma aproximação desagradável.Escutei Esme arfar. “EU QUERO VER ESSA GAROTA SENDO MORDIDA OU NADA FEITO!”
“Paz,irmão.”Aro falou,revirando os olhos.”Se não fosse pedir muito Carlisle...”
Carlisle voltou a se virar para nós,agitando a cabeça para Edward avançar. Nós estávamos há alguns passos de Carlisle,atrás da fogueira que queimava lentamente. Caius lançou um olhar para Edward,cruzando os braços e batendo o pé na grama.
Edward me colocou nos braços e beijou meu pescoço.Tínhamos ensaiado isso várias vezes,mas eu estava o cúmulo de nervosismo. Seus dentes fincaram em meu pescoço,como aconteceu inúmeras vezes naquela semana. O prazer foi imediato e lutei para um gemido não escapar dos meus lábios. Tudo parecia tão certo...
“Aro!”A voz fininha de uma criança gritou,tirando do meu topor. “O sangue dela!O cheiro dela!” ela exclamou.
Senti os dedos de Edward se agarrarem em minha cintura,me levantando e me puxando para trás dele. Minha respiração estava entrecortada em suas costas e meus dedos tremiam. As feições de Aro se tornaram sinitras.
“Carlisle,o que ela é? Seu cheiro não é de uma humana, nem de uma vampira. O que ela é?” Aro sibilou.
OP silêncio em nossa volta era sinistro e lúgubre.Nossas respirações eram ofegantes e tensas.Naquele silencio ridículo meu coração era escutado mais e mais,seus batimentos apressados como asas de um pássaro.
“Melhor eu perguntar para o companheiro dela.”Aro falou se aproximando de Edward lentamente,que ainda tinha os lábios sujos de sangue.
“Edward,meu rapaz, diga-me. O que ela é?” Aro perguntou com a voz aveludada.
Silêncio.
“Diga-me.”ele sibilou.
Silêncio.
“DIGA-ME!” ele gritou e eu vi abismada sua mão lentamente caminhar até a bela face de Edward,um barulho alto me tirando dos meus pensamentos chocados. Instantaneamente meus lábios saíram de cima das minhas presas,mostrando os longos caninos.
Escutei um arfar vindo da guarda à minha frente e os olhos de Aro se tornando mais abismados. Sua boca murmurava como aquilo era possível. Seus olhos varriam minha face à procura de outra coisa.Mas aquilo era verdade.
A mais triste verdade.
Uma mancha surgiu em volta do meu escudo.De repente outra. E outra. Todas dirigidas a mim.Uma névoa lenta se arrastava pelo chão e os soldados começavam a se movimentar lentamente,sem precisar de comando. Porque eles sabiam.
Sabiam o que eu era.
E o que eu ameaçava.
Em um surto,meu coração bateu forte e me livrou do choque inicial.Meus olhos varreram as figuras pálidas e chocadas em minha volta e eu encontrei um rosto.
“BENJAMIM!”gritei.
E como se tivesse acordado de um sonho,Benjamim começou o seu trabalho.
E o que eu considerava nossa provável vitória.
Ou não.
