Isso era um saco. Entediante. Muito entediante.

Não a parte de estar pegando fogo. Isso era só um saco. Depois de contar até um milhão novecentos e setenta e dois mil e quarenta e cinco, eu consegui ignorar a dor. Mas eu não tinha nada a fazer.

Carlisle tinha me dito que a transmutação podia demorar uns três dias. Acho que não eram três dias muiiiito longos.No meu caso eram.

Eu podia sentir a mudança ocorrendo dento de mim,por baixo da queimação. Podia sentir a temperatura relativamente baixa que era a grande cama onde eu estava.Podia escutar vozes distantes. Podia sentir cheiros diferentes. Podia sentir uma raiva grande dentro de mim, querendo se separar de mim.

Não lembro de Carlisle mencionando essa raiva. Eu não estava prestando atenção de qualquer maneira. Vai ver que isso vem junto com a queimação.

Senti meu corpo se contorcer. Cara, isso estava doendo. Iam arrancar minha cabeça fora daqui a pouco.

A queimação andou pelo meu corpo, saindo das minhas pernas e braços dormentes, passando pela minha cintura, se concentrando em meu coração apressado. A raiva aumentou, um bomba relógio martelando, avisando para eu tirar o veneno de mim.

Minha cabeça rasgava, meus membros doíam. Queria que isso acabasse para eu me enroscar na cama e dormir.

Peraí.

Vampiros não dormem.

Ótimo.

Então veio a dor. Não uma dor qualquer. Era como se estivessem explodindo minha coluna algo enorme saindo de lá, lutando contra o veneno . Gritei, lógico. O que mais fazer?

“Carlisle!” a voz de Edward cortou meus ouvidos. Porra! Não tinha como falar mais baixo?

“Amanda!Amanda?Você está me escutando?” a  voz de Carlisle cortou meus ouvidos de novo. Tentei responder, mas meu corpo convulsionava.

“O que aconteceu?” Edward perguntou mais baixo, alto e claro para mim.

“Acho...Acho que o corpo está rejeitando o veneno...” Carlisle respondeu. Gritei, lutando com meus membros moles.

Algo saiu da minha garganta. Não era choro, nem grito. Era um grunhido, diferente os barulhos que Edward fazia. Era mais um uivo...

“O gene transmorfo.” Carlisle disse. Escutei em sua voz admiração, mas isso não era hora de ficar admirado. Era hora de me ajudar!!!

Mordi meus lábios, tentando segurar um grito  presas afiadas furaram minha carne, sangue caindo levemente. O cheiro, doce e saboroso, penetrou em minhas narinas e dei um gemido ao tocá-lo com a língua. Infelizmente, o sangue estancou rápido demais.

Podia escutar meu batimento acelerado,quase um som único, o ser dentro de mim me contorcendo.

Então se foi. A queimação, o ser destruidor de costelas. Nenhum dor restava. Só podia escutar meu coração batendo descompassado e rápido, bombeando aquele líquido molhado e quente.

“O coração  dela!” a voz fininha de Alice me avisou.

Abri os olhos e arfei. Eu podia ver tudo. Podia ver como a luz tingia um arco-íris na facetas pálidas à minha frente, via cd grão de poeira, cada defeito mínimo na pele, no cabelo ou na postura de meus familiares. Eu não tinha  um vista somente panorâmica. Eu tinha uma vista completamente 360°.

“Querida...Você está bem?” uma voz doce, parecida com sinos de igreja penetrou na minha mente. Seu cheiro veio junto, deliciosamente maravilhoso e gentil. Uma pessoa com um cheiro desse devia ser apaixonada, gentil, delicada, simpática,ciumenta e cabeça-dura.Só não era melhor porque o cheiro doce e molhado não estava com ele, nem em ninguém no quarto. Só em mim.

“Estou...ótima!” respondi. Me assustei com a voz profunda,sexy e suave, irresistivelmente  misteriosa, mais bonita e sexy que os sinos.

“Não acredito!” Carlisle arfou, sua voz também era sinos. Não gosto muito de sinos. Ms continua sendo bonita. E seu cheiro me lembrava algo confiável e esperto. “Achei que não veria isso de novo!”

“Veria o que, Carlisle?” perguntei,ainda impressionada com minha voz. Sorri largamente, mostrando como eu estava bem.

“Carlisle, os dentes dela!” Alice exclamou. Sua voz parecia sininhos agudinhos, aqueles de bicicleta. Seu cheiro no entanto me mostrava uma pessoa amiga e meio compulsiva por compras.

“Presas, você quis dizer.” O gargalhar de Emmet era algo mais bronco,como um sino enormeee dos monges no Tibet.

“Ela está tão linda!” Um repicar mais fino, mas não tanto como de Alice me fez crer que era Rose. Seu cheiro parecia com a Rose. Amável, dedicado e fiel como o de uma mãe.Vi seus cabelos, finalmente, atrás de Emmet.

“Presas?” perguntei,meio preocupada. Minhas mãos foram cobertas por um espelho e arfei ao ver minha imagem.

Primeiro olhei para meus olhos, do mesmo tom chocolate de antes, mas mais bonitos e grandes. Meus cílios estavam fartos e negros, me deixando misteriosa. Meu nariz descia perfeito,do jeito que eu lembrava, mas mais bonito. Minha boca era rosa e cheia, aninhada em uma pele branca que nem porcelana,mas um brilho saudável e alegre pairava em minha face. Aparecendo em meu sorriso murcho,dois caninos afiado sorriam para mim.

Minha sobrancelha escura e bem desenhada se levantou.

“AIMEUPAIZINHODOCÉU!” exclamei cobrindo minha bela e maravilhosa face com as mãos. “Carlisle!Como?Presas?Eu não tenho presas!!!!”

“Se quiser eu conto uma história...”ele começou, mas tive que interromper.

“Faz o que quiser, só me explique isso!” exclamei, com vontade de chorar. Não por causa da beleza, mas por causa das presas. Como eu vou beijar com isso atrapalhando?

“Bem,alguns anos depois de me transformar, comecei a viajar pela Europa. Passei alguns anos em Portugal,Espanha. Na Itália,passei por volta de 1720. Pouco tempo depois,estava na Romênia. Meados de 1800. Lá fui hospedado por um gentil conde,chamado Vlad Tepes. Muitos na vila me avisaram sobre sua monstruosidade,me avisando para ficar longe do...como é que o chamaram?...Ah,é: ‘sugador de sangue’,o ‘Conde Dracula’.Acreditei que ele fosse um vampiro normal...ledo engano.”

“Ele era diferente. Extremamente bonito, mais bonito eu todos da nossa espécie. Tinha uma voz tentadora e hipnotizadora. Ele s metamorfoseava,eu tinha visto. Seu corpo se encolhia, se tornando um pequeno morcego. Evitava sair de dia, seus olhos, sua visão era muito sensível. Não gostava de cheiros muito fortes,como o de alho. Seu olfato era extremamente apurado. Era extremamente rápido,extremamente forte e perigoso.”

“Filho de uma transmorfa com um vampiro, ele tinha as melhores qualidades e ambas espécies. Nunca tinha visto um ser tão poderoso. Nem os Volturi.” Ele suspirou.

“Cometi o infeliz deslize de contar minha descoberta à Aro. Provavelmente com medo de perder o trono para Vlad e dizendo estarem diante de seres perigosos. Mataram um a um os vampiros transmorfos. Vi um grande amigo morrer,o último.” Ele parecia triste,lembrando de algo muito distante.

“Imagine minha surpresa ao ver nas livrarias em 1897 um novo livro sendo lançado:Drácula. Parece que Stoker (um grande amigo meu por acaso) encontrou o diário de Vlad. Mas a tradução do romeno para o inglês não foi uma das melhores. Confundido com um rival de Vlad...” ele suspirou.

Peraí.

“Você é o doutor descrito em ‘Drácula’?” perguntei afobada.

“Sim.” Ele sorriu, satisfeito. Emmet parecia dormir.

“AIQUEBACANA!!!”  gritei animada, me jogando na cama.

Todos riram,inclusive eu. Era tão legal saber que você é um vampiro extremamente poderoso odiado por meio mundo...

Ah,ótimo.

“Fudeu!” exclamei.

“Amanda!” Rose exclamou, me advertindo do palavreado pouco digno de uma dama.

“Rose! Se eu fosse uma vampira,não ia ter motivo para guerra! Mas eu acabei me transformando em uma aberração super poderosa!!”

O silêncio no quarto era tão verdadeiro e desconfortável que chegava a me enjoar. Se eu tivesse algo no estômago. Mas é modo de falar, de qualquer forma.

“Quem quer testar o novos poderes?” Emmet berrou, meio que arranhando meus ouvidos.

Graças a Deus Emmet tem um timing mais que perfeito!