Abri os olhos incerta para o teto branco. Pisquei algumas vezes,analisando os sussurros em minha volta. Analisei minhas emoções.Uhmmm... Estavam até que boas. Edward estava por perto, então. Eu acho.

Claro que estava.

“Ei, você está bem?” ele perguntou, acenando para Carlisle, como se pedisse para ele se aproximar. Me mexi no sofá em que estava deitada, tentando me levantar. Passei os dedos nos olhos, respirando fortemente, aliviada de estar,afinal, na casa dos Cullen. A minha casa.

Talvez tudo tenha sido um pesadelo.

Escute, eu sei que eu possa parecer uma vaca sem coração e tal... Mas a verdade é que esse negócio de imprinting nunca foi uma coisa que eu quisesse.

Por que eu estou mentindo?

Quando eu era pequenininha meu sonho era ter um imprinting com alguém da reserva. Eu me lembro muito bem, chegando para minha mãe,com um DVD na mão e um travesseiro na outra. Tinha acabado de ver A Bela e a Fera. Ah,meus cinco anos.

“Mamãe!” chamei, indo em direção à cozinha. Varri aquele aposento imenso (para uma criança de meio metro de altura) e cutuquei a perna da moça alta e linda que era a minha mãe.

Ela me olhou com aquele olhar que ela sempre me dava, como se eu fosse a melhor coisa que já a aconteceu. Seus olhos de chocolate se derretiam lentamente.

“Sim querida?” ela enxugou as mãos,me pegando no colo e me pondo em cima da mesa.

“Eu tenho uma dúvida: a Fera é um lobo que nem o papai?” eu perguntei,as sobrancelhas se unindo do mesmo jeito que minha mãe fazia.

Ela parou para pensar.

“Não sei. O que você acha meu amor?” Ela perguntou, me pegando no colo e me levando para o quarto.

“Eu acho que ele é sim. Ele teve um imprinting com a Bela!” exclamei, abrindo minhas mãozinhas para enfatizar.

Mamãe parecia surpresa.

“Hum... Mas talvez eles só tenham se apaixonado...” ela murmurou, meio envergonhada. Papai era um lobo, mas não tinha tido um imprinting com mamãe. O único. Esqueci desse pequeno detalhe... Mas, sério,eu tinha 5 anos! O que vocês queriam?

“Não! Ele é um lobo! E teve um imprinting! Se essa fosse minha história, ele ia ser um lobo e ia ter um imprinting!” exclamei alarmada pela idéia absurda da minha mãe. Claro que ele era um lobo.

Ela sorriu.

“Então você quer ter um imprinting?” ela perguntou, me pegando de surpresa.

“Claro!” respondi baixinho, com vergonha. “ O imprinting deve ser a melhor coisa do mundo inteirinho!”

Mamãe riu do meu mini discurso, balançando a cabeça de leve. O barulho de uma porta se abrindo assustou nós.

“Olha quem está aqui!” meu pai gritou empurrando seu convidado. Seth.

“Ei princesa!” disse Seth me pegando no colo e me fazendo milhões de perguntas sobre o meu dia.

Passei minha infância sonhando com um imprinting. Mas depois que eu cresci e descobri os beijos, amassos, bebedeiras e coisas afins, concluí que o imprinting era a pior coisa que poderia me acontecer.

Ficar presa com uma pessoa pela eternidade? Fala sério.

Então, agora, nesse momento, saber que o Seth teve um imprinting comigo... Era a pior coisa que já tinha me acontecido!

Graças a Deus que foi um pesadelo.

“Seth está preocupado com você.” Edward me informou, me entregando um copo de água, enquanto Carlisle verificava minha pulsação. 

Ah, ótimo. Então não foi um pesadelo? Beleza.

PUTA QUE PARIU!

“Então... Oh Deus!” busquei ar,minhas mãos tremendo o copo. Edward tomou ele das minhas mãos, me olhando extremamente confuso.

Balancei a cabeça e olhei no fundo dos olhos de Edward.

“Me escuta. O assunto é sério.” Ele assentiu. Respirei fundo. “ Você sabe que ele é um lobo. Então sabe do negócio do imprinting?”

Ele assentiu, meio triste. Talvez achasse que eu ia dar um pé na bunda nele para ficar com o Seth. Mas como eu ia dar um pé na bunda dele? Nós nem estávamos juntos! Ou será que...

“Bem, ok, lá vem a bomba:ele teve um imprinting comigo!”

Edward continuou me olhando.

“E...” ele falou,seus olhos ainda encarando os meus.

Ô raciocínio lento...

“E daí o que é que eu faço?”

Ele pareceu meio estupefato.

“Fica com ele.” Ele murmurou, nervoso.

Isso ia ser difícil.

“Mas eu não gosto dele!” exclamei.

Ele sorriu enviesado.

“Então aí está sua resposta.”

Ai,ai.

“Mas eu não posso mandar ele pastar! Isso ia acabar com ele! A pessoa que tem um imprinting vive por esse ser! Ele vai se matar se eu acabar com ele!” eu sussurrei com medo de Seth escutar. Espero que ele esteja em um lugar um pouquinho longe.

Quando disse “se matar” a expressão de Edward ficou quase dolorida,como se ele já tivesse feito esse sacrifício por alguém.

Sei.

“ Então você se preocupa com os sentimentos dele?” Edward perguntou, saindo da sua posição agachada e se assentou do meu lado.

“Lógico!” murmurei. “Ele é o meu melhor amigo! E...” parei bruscamente.

Edward levantou uma sobrancelha, esperando eu concluir a frase. Não falei nada, apertando minhas mãos.

“Sim?” ele perguntou,quebrando o silencio.

“ Ele faz parar a dor.” Gaguejei.

“Como assim,Amanda?”

Suspirei, meu estomago dando cambalhotas desconfortáveis.

“ Eu sinto uma dor no peito,dor da perda, sabe? E quando eu o beijo, tudo some. Não me lembro de nada: meu nome, meus pais, minha vida. Parece que eu estou afogando e lembrar dos meus pais fosse a minha menor preocupação. Com você...” parei de novo.

Ele parecia surpreso,como se por essa ele não esperava.

“Como assim comigo?”

“ Com você é diferente. Quando estou com você eu não me sinto afogando. Eu me sinto viva.Eu me lembro de tudo: de mim, dos meus pais. Sei que eles morreram, mas a dor não vem.Só vem uma saudade gostosa... Eu...” e eu não consegui falar.

Ele se levantou do banco, andando rápido e falando para mim:

“Siga seu coração.”

Ha.Como se isso fosse fácil.

Respirei fundo e me virei para um Carlisle que assistia a cena mudo que nem múmia.

“Onde Seth está?” perguntei juntando minha fala muda.

“Vá reto.”

Acenei com a cabeça, abrindo a porta impetuosamente. Minha respiração era apressada e meu coração batia errático. O que é que eu ia falar para ele?

Corri desesperada na direção em que Carlisle me apontava. Tropecei algumas vezes, mas cheguei até um Seth bastante surpreso.

“Ei...Que cara que é essa?” ele perguntou,parecendo meio perturbado.

“ Eu... Seth... Hum...” não conseguia falar.

E a cara não era a das melhores. Parecia que ele ia vomitar.Ou ia ter um ataque cardíaco fulminante. Eu sei que ele não estava nada bem.

“Você... você...Ai meu Deus!”

Eu não podia fazer isso com ele!Não podia, simplesmente, não podia!Ele ia morrer se eu o abandonasse! Não podia ser tão má a esse ponto. Eu só tinha uma alternativa...

“Não Seth... Eu só vim falar que eu te amo.” Murmurei tentando parecer sedutora.

O sorriso que apareceu no seu rosto parecia mais forte do que o sol.Mal pude respirar quando ele me pegou nos braços e me beijou, me deixando afogar lentamente em rumo ao torpor.

E, sem pedido, sem aviso prévio, eu estava presa. Presa em uma cela que só uma pessoa tinha a chave. Mas naquela hora,eu não conseguia pensar em mais nada.