Parecia que os meses passaram rápidos demais. Em um momento eu estava nos braços de Seth e no outro o Natal tinha chegado. A neve que caía lentamente na janela do meu (ainda compartilhado) quarto me arrepiava. As aulas tinham voltado e era Edward que me levava para a aula. Seth me buscava e passávamos as tardes em La Push.

Eu não tinha aprendido a amar Seth. Longe disso. Eu achava mais penoso mentir para ele a cada dia que passava, mas eu tinha que fazer isso. Era para salvar sua vida frágil. E isso era um saco.

Já Edward. Ah, Edward.Eu o adorava. Tínhamos virado unha e carne durante todos esses meses que passamos dividindo o mesmo quarto (Esme estava com dificuldade de escolher a cor do meu quarto verdadeiro). Nos divertíamos vendo filmes, saindo para a floresta, cozinhando e estudando. Ele tinha virado meu melhor amigo. Um melhor amigo que eu queria muito me embolar na grande cama no nosso quarto.

De qualquer modo, a família estava uma maravilha. Esme era delicada e exigente, mas tinha um espírito de mãe. Carlisle se divertia com meus comentários sobre várias coisas diferentes (eu gostava de ler os diversos e antigos livros que tinham na casa) e passávamos horas discutindo esses temas. Alice virou uma espécie de melhor amiga (como ela tinha dito) e sempre me levava às compras- coisa eventual. Jasper era diferente, meio caladão e tímido, mas me ensinou Krav-maga.

Mas,Rose e Emmet... Não tinha comparação. Rose tinha colocado todo o seu sentido materno em cima de mim (ela não podia ter filhos, como Carlise me informou). Ela tinha virado uma mãe,cuidando da minha alimentação, saúde e bem-estar. O jeito como ela me olhava, como se eu fosse um milagre, um pequeno milagre, me lembrava muito da minha mãe. E isso me confortava. Emmet era um brincalhão. Fazia minhas tardes sem Edward parecerem uma festa. Ele fazia o máximo para eu me divertir, além de dar um apoio inimaginável por causa das besteiras que eu constantemente fazia. Ele tinha se tornado algo como um pai. E isso também me deixava feliz.

Mas algo estava errado nesse pequeno mundo mágico. Como não notar que eles não comiam? Que podia escutar seus sussurros durante toda a noite? Como serem tão jovens (seus 18 anos, 20 e poucos para Carlisle e Esme) casados e formados? Como terem peles tão incomumente frias? E olhos tão dourados? E eles falavam... falavam como se tivessem vivido muitos anos antes...

Ótimo, eu pirei. Isso não podia acontecer, certo? Certo?

“Amanda?” Edward me chamou na porta do quarto. Hoje era o último dia de aula antes do Natal e mais uma vez ele me levava para o colégio. Peguei a mochila caída do meu lado e desci com ele as escadas escorregadias de gelo em direção ao seu volvo prata maravilhoso.

E lógico que eu tinha que cair. Estava preparada para meu corpo tocar o chão frio, mas antes mesmo que meu corpo envergasse, mão frias me seguraram.

“Porra,você é rápido!” exclamei absorta.

Ele parecia assustado.

“Hum,muitos anos de treinamento físico.”

Era agora que eu ia tirar essas dúvidas. Esperei ele ligar o carro e partir pela estrada branca.

“Quanto tempo exatamente?”perguntei tamborilando os dedos.

" De que?" ele perguntou, manobrando o carro com calma.

"De treinamento fisico." respondi, ajeitando meu cabelo.

“Alguns anos.” Ele murmurou, a voz soando nervosa.

“Quantos anos?”

Ele começou a ficar nervoso.

“Não me lembro, Amanda.” Ele parecia mais pálido do que o normal.

“Hoje você também não tomou café da manhã.Por que você não come?”

“Porque não tenho fome.”

Nossa, isso estava bastante complicado. Mudando de assunto.

“Alice e Rose não são muito jovens para serem casadas?”

“Elas não são tão jovens quanto parece.” Ele respondeu, apertando a velocidade. As manchas de árvores estavam mais borradas do que o normal. Íamos chegar mais cedo em La Push do que o previsto.

Última tentativa.

“Sua pele é muito fria...Já procurou um médico?”

“Não preciso.” Ele bufou apertando o pedal.

“Por que?” perguntei nervosa, vendo as primeiras casas se aproximando.

“Porque eu não preciso.”

“Você não precisa porque sabe o que você tem ou porque...”

“Adeus, Amanda.”

Tínhamos parado em, frente ao colégio pequeno mas muito bom.Minhas amigas que já reconheciam o carro de Edward me acenavam que nem loucas.Ótimo.

Saí raivosa do carro,batendo a porta com força. Aleezah deve ter percebido meu estado de humor.

“Você está bem?” ela perguntou baixinho,em um abraço. Ela acha que minhas mudanças de humor eventuais era devido à morte dos meus pais. Era verdade, em parte. A maior parte da minha raiva rotineira era das minhas frustrações com Edward.

“Então,problemas no paraíso?” Adolpha perguntou, vindo em direção a nós com seu bando de seguidoras sem cérebro. Ela é a pessoa que eu menos gosto.Ah não. Leah está na frente.

“Paraíso?” perguntei me virando para ela.

“É, aquele gostoso que te deixa aqui todo dia. A gente sabe que você está traindo Seth. Com aquele ali.”

Ah, quem me dera.

“Eu acho que sua fonte de informações anda meio furada.” Respondi baixinho,olhando com força para seus olhos.

“Ah, não.Nosso informante é de primeira mão.” Ela lançou um risinho para suas amigas comparsas. Se bem que eu não possa chamar aquelas piranhas de amigas. Elas são um bando de interesseiras.

“Nosso? Então é um homem?” perguntei, meio nervosa. Quem é?

“Sim, e você conhece muito bem. O nome deve ser familiar: Ace. Ace Mitchel.”

Ah não. Não mesmo.

“O que é que ele te contou?” respirei fundo esperando a verdade nua e crua.

“Ele me contou...” Adolpha revirou os olhos, como se fosse óbvio o que ela ia contar. “... que você e ele se embolaram na sua festa de 15 anos quando você namorava Sloan Davis.”

Eu não acredito que aquele canalha contou isso para Adolpha. Logo ela! Adolpha Brock, a maior fofoqueira, encrenquinha e barraqueira que eu já vi na minha vida. Tirando a Leah.

“Então parece que ele não te contou a verdade.” Parei um pouco, com um risinho no rosto. “Então sua ida para a cama com ele não deu lucros... Você devia pedir sua virgindade de volta. Ah,esqueci,você não tem ela há algum tempo.”

Ela riu para mim,como se soubesse de algo mais.

“Ele também contou para mim...”ela parou analisando minha expressão fria. “... que ele te comeu todinha no mesmo dia. E a única coisa que você sabia fazer era gemer o nome dele...”

Então Poppy Yates começou a gemer o que seria uma imitação minha:

“Ohhhh Ace, não para, não parrraaaa!”

Todas riram em sua volta,deliciadas com a imitação péssima.

“É, se fosse para procurar um mentiroso, acho melhor procurar Ace mesmo. Ele tem uma fama .”

Ela riu,com aquele sotaque que adquiriu depois de morar 5 anos com a avó em Montana.

“Querida,só você não acredita nisso. Vai ver que estava muito bêbada para lembrar.” Ela parou,olhando no fundo dos meus olhos. “ Só você se engana com essa fama de boa moça.  A gente sabe como você é suja e pervertida.”

Ela se virou teatralmente junto com a gangue. Meu corpo se arrepiou de raiva, meu coração batendo furiosamente. Como ela podia falar assim comigo?

“Ora sua piranha!” gritei para ela. “Você não me conhece! Quem é você para falar isso de mim?” Vociferei, me aproximando dela,largando a bolsa no chão.

Ela não respondeu,me olhando com aquele maldito ar superior. Finalmente ela falou.

“Vem, me bate. Se você é mulher mesmo.”

Respirei três vezes, controlando o fluxo da raiva. Quando estava menos nervosa, olhei feio para ela,controlando o choro.

“Vê se para  de se intrometer na vida alheia. Ao invés disso porque você não vai dar mais um pouco para o Ace? Ele precisa contar mais mentiras cabeludas para você.”

E saí com o choro contido no peito e uma vontade louca de dar um soco nela.