Depois de muitos minutos se encarando, Sofia quebra o silêncio.

– Eu não vou te contar, Miguel! Não insista!

– Ora, por que não?

– Porque você não acreditaria em mim...

– Se eu perceber que é verdade, claro que irei acreditar em você! Eu sou seu melhor amigo, você deveria ter mais confiança em mim.

– É algo difícil de explicar! – berrou ela.

– Sabe o que eu acho? Que você está me enrolando! Que nem daquela vez em que você furou minha bola de futebol, e ficou insistindo em fugir do assunto.

– Você ainda lembra disso? Nós tínhamos onze anos!

– Eu adorava aquela bola de futebol! – disse.

– Você nem sabia jogar! Aliás, você não sabe até hoje! Você é péssimo em qualquer esporte!

– Você está fugindo do assunto de novo! Conte-me logo!

Depois de um longo suspiro, ela começa:

– Bem, no dia em que caí no lago, eu vim parar exatamente aqui, nesse pedaço de terra. Está vendo aquela pequena caverna? Então, eu entrei lá e vi um fio de luz. Comecei a tirar as pedras que estavam na frente, achando que iria voltar para a estrada. Mas, acabei parando em um lugar chamado Narem. Lá tem sereias, duendes, centauros e fadas carnívoras. Entre muitas outras coisas esquisitas. Lydia, a rainha deles, me deu um mapa pra quando eu quisesse voltar a visitá-los, e é isso que estou fazendo – explicou.

Sofia dissera tudo isso relativamente rápido, e Miguel demorou alguns poucos segundos para processar tudo. Logo em seguida, encarou os olhos da amiga, com uma feição assustada e nervosa.

– O que foi agora? – perguntou ela.

– O pior de tudo é que você está falando sério...

– Claro que estou! Agora, se não quiser acreditar, sinta-se à vontade para ir embora!

– Você tem certeza do que viu?

– Claro que tenho! Eu não sou nenhuma maluca.

Por alguns minutos, Miguel pareceu pensativo, olhando pra lá e pra cá. E, do nada, um sorriso se formou no seu rosto.

– Está bem, eu quero conhecer este lugar!

– Não sei, talvez eles não gostem se eu levar você lá. Sabe, podem querer nos matar!

– Eu sei que não vão! Vamos! – disse ele indo pra caverna.

– Seu maluco! Deixe ao menos eu ir na frente e perguntar se você pode entrar comigo!

E assim, Sofia removeu cuidadosamente as pedras, ainda com medo da reação de Lydia e dos outros. Logo, ela estava em Narem. Eles estavam lá, exatamente como no dia anterior. Sofia forçou um pequeno som de tosse com a garganta e um centauro percebeu sua presença. Todos os outros a viram também, alguns acenaram felizes. Outros, principalmente os duendes, a lançaram olhares de reprovação. E, em seguida, Lydia apareceu: radiante e bela. Só que dessa vez, não surgiu do lago, e sim da Vila dos Centauros. Aproximou-se da menina.

– Você voltou! É uma honra recebê-la novamente.

– Olá, Lydia! Bem, eu queria te dizer uma coisa...

– Pode dizer, querida.

– Hoje eu trouxe um amigo. Sabe, eu tive de contar, ele é meu melhor amigo... – Sofia encarou a rainha com certo temor.

– Sem problemas. Adoramos receber novas visitas. Só peço que não espalhe muito...

– Ah, tudo bem! Eu só tenho ele de amigo mesmo! – disse sorrindo.

– E onde ele está?

Sofia chamou Miguel que estava do lado de fora. Os olhos dele brilharam no momento em que viu o primeiro pedacinho de Narem. Lydia se apresentou a ele, e Sofia foi encarregada de lhe mostrar Narem, já que a rainha estava ocupada com os centauros.

O primeiro lugar que Sofia mostrou a ele, foi o Vale dos Duendes. Os serezinhos continuavam tão chatinhos como antes, parecia que eles nunca mudariam.

– A “Humana de palha na cabeça” voltou, e ainda trouxe o amigo “Graveto” com ela! Esses humanos são tão insolentes! – disse um deles virando a cara.

– Não liga. Eles são assim mesmo – disse ela.

– Está bem. Vamos “Palha”, você ainda tem muito o que me mostrar.

– Vamos, então! “Graveto”...

E assim, juntos, eles exploraram Narem por um bom tempo. Até que, depois de tanto se distraírem, lembraram-se que tinham de voltar para a casa. Mas, no caminho para o centro de Narem, algo aconteceu. Um lampejo rápido passou por cima de suas cabeças, mas pouco se assustaram. Aliás, era um mundo mágico, o que de ruim poderia acontecer?

– Eu deixei minha mochila perto da Vila dos Centauros. Eu já volto! Me espera aqui – gritou Sofia se afastando do amigo.

Mas, Miguel era curioso e continuou andando. Até dá de cara com o Vale das Fadas. Era tudo muito escuro, mas ele conseguiu distinguir um pontinho pequeno e brilhante em meio ao escuro. Agora estava mais perto, era tão lindinha, não parava de brilhar. O garoto se sentiu encantado, e o estranho ser começou a chamá-lo. Mesmo sem vontade, era como se algo o empurrasse para perto da fadinha. Ele estava bem perto, agora faltava apenas um passo...

– Miguel! – a voz de Sofia o despertou.

Ela o puxou pelo o braço, e o empurrou para longe do lugar.

– Olha só! Nunca mais chegue perto daqui, está me ouvindo!

Suas mãos trêmulas seguravam o rosto do amigo, estava quase arrancando a cabeça dele, de tanta angústia. Ele apenas concordou com a cabeça, depois que ela tirou as mãos dele.

Voltaram para o lago, e despediram-se de todos. Seguiram as instruções do mapa, e no meio do caminho, Miguel repara em alguma coisa.

– Ei, olha só!

Sofia o seguiu. Subiram em um pequeno declive, e acabaram em um lugar espetacular. Era como um pequeno monte. A vista era linda, um horizonte, e as estrelas brilhando no céu. A grama era bem fofinha, e a brisa era relaxante.

– Devemos dar um nome – disse ela.

– E qual seria?

– Que tal... Sonho Azul? Sabe, esse lugar é um verdadeiro sonho, vamos combinar. E como só poderemos vir aqui à noite, daí o azul do nome. Entendeu?

– Entendi. Então, está feito. Sonho Azul será o nosso segundo lugar preferido! – disse ele sorrindo.

– Está feito!

E voltaram para casa. Miguel seguiu para a sua, deixando Sofia à porta de sua casa. Ao deitar, Sofia não parava de pensar em Narem e no dia que passara com o amigo. E agora, ela tinha certeza, Narem era ainda melhor quando ele estava com ela.