Melinda levava a aeronave o mais rápido que podia, sob o olhar preocupado de Maria Hill. Pelo tom de Samantha, ela já havia gasto o último neurônio são naquele lugar estranho. Maria permanecia imóvel no assento do co-piloto e May nem ao mesmo tentou falar alguma coisa; sabia onde aquela mente estava estagnada naquele exato momento.

* Washington D.C. – seis anos atrás.

– Você está louca se acha que eu vou deixar você sozinha hoje. – Hill conferia sua bolsa, uma última vez antes de sair de casa apressada.

– Por Deus, Maria! Não precisa fazer disso um evento!

– É claro que precisa, Samantha – a morena dava duas voltas na chave antes de dirigir-se ao sedan prateado. – E isso é um evento... Literalmente!

– Sim, eu estou indo ter um bebê! Wow! – ela narrou irônica. – A cada instante, milhares de mulheres ao redor do mundo passam por isso, Maria. Não é uma exclusividade minha.

– Como pode falar isso?!

– Só estou sendo realista com os fatos.

– Mas é o seu filho.

– Que vai crescer sem o pai...

– Mas com uma mãe maravilhosa.

– E uma tia babona. – a loira deixou um sorriso escorregar de seus lábios.

– Isso mesmo – Maria sorriu, emocionada. – É assim que se fala. Agora... Vou ter que desligar, tô no carro.

– E daí? – Samantha exibia a enorme barriga na janela do apartamento. – Qual o problema com isso?

– O problema?! O problema foi que eu emprestei o carro pra minha irmã mais nova na semana passada e ganhei três pontos na carteira como recompensa!

– Mas eu nem bati o carro...

– Não foi preciso, Miss Impossível.

– Desliga logo e vem pra cá, então. Já estou começando a ter contrações!

– Sério?! – Maria ligou o carro sem se importar com o celular. – Tô correndo pra aí agora!

– Brincadeira, Hill. – Samantha gargalhou do outro lado da linha, fazendo Hill soltar um palavrão, indignada.

– Isso não é hora pra brincadeiras, Samantha!

A morena respirou fundo e desligou o celular, pronta para se dirigir à casa da irmã. Desde que soubera da gravidez de Samantha, Maria Hill tornara-se a pessoa mais responsável do mundo, como se ela mesma estivesse esperando o bebê: dirigia calmamente, havia parado de tomar bebidas alcóolicas e depois que Sam atingiu os seis meses de gravidez, Hill decidira colocar outro agente no seu expediente nos fins de semana. Samantha achava tudo aquilo um baita exagero da parte dela, mas não reclamou muito, afinal, era um bom momento para se aproveitar ao lado da única família que ela tinha.

A história de Alan não estava muito longe da história de Samantha dentro da S.H.I.E.L.D.

Uma linda jovem de 24 anos que trabalhava na CIA e fazia algum bico como Agente Secreta da S.H.I.E.L.D. Essa costumava ser Samantha até conhecer um dos melhores cadetes da Academia de Operações da turma de Maria Hill.

Jonathas Farro era o exemplo de pontualidade e disciplina de sua turma. Seus cabelos loiros eram um pouco mais escuros do que os de Samantha e estavam sempre muito bem cortados, fazendo um par perfeito com seus olhos escuros divinamente hipnotizadores. Precisou apenas de duas saídas com os amigos de Hill para que Samantha estivesse completamente atraída por ele. Lindo, inteligente, divertido... Ele era sem dúvidas o pacote completo. Infelizmente, para ela, a vida não costumava ser muito cuidadosa com os seus sentimentos.

(...)

– Aqui estamos novamente.

Loki e Hela apareciam nas sombras, atrás de um prédio abandonado, provavelmente para cumprirem mais uma etapa de seu plano vil.

– É aqui mesmo? – Hela deu um giro lentamente, analisando o lugar e fazendo seu manto negro criar uma pequena névoa escurecida ao redor deles. – Não me recordo desta parte.

– Como se atreve a questionar minha inteligência?! – Loki repreendeu a filha e voltou seus olhos para o prédio. – É claro que é aqui! A única diferença é que estamos atrás da casa, não na frente.

Os dois caminharam lentamente até a entrada da casa e observaram o movimento por alguns instantes. Estava muito claro para eles fazerem alguma coisa a respeito do garoto.

– Hela, pode nos dar um pouco mais de escuridão? Um ato como este precisa de um fundo sombrio... E não dessa luz exagerada! – ele olhava o sol com desgosto.

– Claro que posso.

Ela levantou as duas mãos e girou algumas vezes, até que as nuvens cobrissem o sol de forma tenebrosa. O tempo esfriou de repente e começou a ventar muito ao redor. Um pequeno garoto que aparentava os seus seis anos de idade apareceu junto a uma das janelas da casa, assustado com a mudança repentina que se instaurava sobre a vizinhança.

– Ih, vai chover de novo!

O garotinho fechou o zíper de seu casaco roxo dos Vingadores e correu para o quarto, se escondendo debaixo das cobertas e levando consigo o resto de cereal que havia na caixa. O cenário ao redor, causaria espanto em qualquer observador: Uma enorme mancha de chocolate mal enxugada do piso de madeira; cereal, biscoitos, salgadinhos e toda espécie de comida espalhada por todos os cantos do quarto [e da casa]; televisão e videogame ligados, uma porção de brinquedos espalhados por toda a casa e uma mini pistola com balas de borracha. A casa toda cheirava a leite e chocolate e a pior parte era que se Samantha chegasse naquele exato momento, o máximo que ela conseguiria fazer seria rir da bagunça que Alan fizera e do modo como o menino tentou arrumar a casa. Um cheiro desagradável de sujeira misturada com amaciante de roupas que ela daria qualquer coisa pra sentir naquele momento.

– Está ótimo assim. – Loki observava a casa, preparando-se para invadir – Vamos ver se com o garoto em nossas mãos aquela tola terá coragem de tentar nos enganar novamente.

Loki caminhava em direção à porta a passos lentos como se quisesse apreciar cada momento daquela emboscada. Ele não chamaria atenção para um ato tão bobo, afinal, ele estava guardando todo o glamour para a festa de abertura, quando ele finalmente teria o controle sobre os Nove Reinos. Ele fechou os olhos e já estava a abrir a porta quando algo o atingiu. Algo apressado.

– Não vê por onde anda, ô ceguinho! – O homem que o atingira gritava enfurecido enquanto ainda corria, provavelmente fugindo de alguma enrascada.

– Do que me chamou? – Loki voltou-se para ele e o rapaz parou, com a respiração pesada de tanto que havia corrido. – “Cego”?

– Sim, cego. – O jovem aproximou-se dele e exibiu sua expressão de superioridade, como se exercesse algum poder sobre ele. – Andando por aí com os olhos fechados... Cego!

– Bem se vê que não me conheces.

– E não estou interessado, se quer saber. – ele deu as costas, mas Loki se transportou para a frente dele, o barrando.

– Gostei de você.

– Você não faz o meu tipo, meu chapa. – ele o olhou com tédio. – Nem com a ajuda desse vestido horrível...

– Você... – Loki deu uma risada. – No que você trabalha?

– Eu não vou te dizer.

– Olha... Chega de joguinhos. Você estava fugindo de algo, de alguém... Você fez algo muito errado, não foi?

– Isso não é da sua conta.

– Você passou no teste.

– Que teste?! – ele estava começando a perder a paciência. – Você é louco?!

– Vou te oferecer um emprego comigo, rapaz. Seus serviços seriam muito bem-vindos na minha unidade. Você tem o espírito que minha equipe precisa.

– Um emprego? – ele baixou o tom de voz. – Que tipo de emprego?

– Daqueles que você ganha muito, sem fazer perguntas.

– Muito quanto?

– Quanto você conseguir gastar.

Ele pensou por um instante. Quais seriam as chances disso acontecer? Mas ele não estava numa boa posição para recusar dinheiro. Não poderia recusar aquilo de nenhuma maneira.

– Tô dentro.

Loki bateu palmas e sorriu, passando o braço sobre o ombro de Hela, a trazendo para perto de si.

– Como é o seu nome?

– Jacob – ele passou a mão pelos cabelos negros, meio sem acreditar naquilo. – Jacob Nicholas Ward.

– Muito bem, Jacob. – Loki chamou com os dentes cerrados. – A sua primeira missão está dentro daquela casa. O garoto – ele aproximou-se do ouvido de Jake, pronunciando lentamente. – Traga o garoto para mim.