Em Meus Olhos escrita por Gabriel Golden Fox


Capítulo 4
Aviso de uma Mãe


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, desculpa a demora! Fiquei sem inspiração por um tempo, mas tá ai!

Música para escutar: "Kill and Run" - Sia



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Minha mãe, Marina Candor, é mais que uma mãe zelosa. Ela é um tipo de “mãe coruja”. E quando eu estou com problemas, como agora, ela vira uma “mãe ursa”. Para aqueles que não sabem, existe uma grande diferença entre uma mãe coruja e uma mãe ursa. A mãe coruja faz de tudo para que o filho fique seguro, protegido entre suas asas. Do tipo que ainda dá carinho na sua cabeça, não quer que você cresça. A mãe ursa não é tão diferente assim, ela só é mais liberal. Mas o que a torna diferente é que quando um filho está em apuros ou em situação de perigo, ela luta para defendê-lo, nem que tenha que ficar na frente de alguma arma. Mas em relação a minha mãe, ela é os dois. Fiquei com medo do que poderia vir em breve. Ela só precisou vir para a escola pouquíssimas vezes, quase nunca, quando eu passo mal ou é reunião de pais e mestres. Fiquei imaginando ela chegando de várias formas, fazendo todo tipo de feição. Imaginei ela quebrando tudo, xingando todo mundo, ou até mesmo apenas me pegando pelo braço e indo embora. Ou então, ela estando furiosa (pra não dizer “puta da vida” comigo) por ter saído do trabalho por alguma merda que eu fiz.

De qualquer forma, eu estava sentado perto da sala da direção, esperando a “fera” chegar. Ela chegou. Estava me procurando com os olhos preocupados. No mesmo instante, eu abaixei minha cabeça, para que ela não se preocupasse com o meu olho que agora estava bem esquisito. Mas não adiantou muito, porque ela se abaixou para ver meu rosto pouco machucado.

– Lucas. Você está bem? O que ouve meu filho? – ela perguntou, num tom leve de aflição.

– Um garoto me bateu, mãe. Mas eu tô bem. É só um machucado. – respondi.

Meu rosto ainda doía e ardia pelos machucados. Fiquei coma consciência pesada em relação ao que eu fiz, mas não contei para ela. E nem precisava...

– Lucas, é sério! Eu vi o que aconteceu com a quadra! O que foi que aconteceu?

Eu estava nervoso. Comecei a sentir um grande frio na barriga e uma vontade estranha de chorar. Não gosto de mentir para a minha mãe. E nem sempre consegui fazer isso. Sinto que não irei sobreviver caso eu minta para ela, ou se não for verdadeiramente sincero.

– Estavam batendo em mim e no Thiago. Quando eu vi o estado dele, no chão, gritei para que parassem, e ai... Todo mundo começou a sair do chão... Como se uma onda estivesse levando eles... – eu não parava de chorar por alguma razão. No fundo, fiquei feliz por aquela gente hipócrita que não nos ajudou em nada terem se machucado. Mas acho que senti um pouco de remorso pelo George e o Igor. Ainda estava de cabeça baixa, quando minha mãe disse:

– Lucas... Levante a cabeça.

– Mãe, essa coisa de “mantenha a compostura” ou “não fiquei triste, mantenha a cabeça erguida” não funciona no momento, okay? – eu disse no tom mais respeitável possível, para que ela não entendesse aquilo como uma resposta grosseira. Mas aí é que ela foi mais clara no que se tratava...

– Filho, eu preciso ver o seu olho. Quero saber como ele está.

Um arrepio subiu pelo meu corpo. Do tornozelo até os ombros. Será que ela saberia o que aconteceu com meu olho?

Não pensei muito e logo levantei minha cabeça. Não sabia como meu olho estava, mas minha mãe ficou um pouco chocada. E o mais estranho é que, de alguma forma, ela já sabia que aquilo iria acontecer. Sei disso porque estava bem nos olho dela.

– Ah, Senhora Marina! Que bom que veio. Poderia conversar comigo, só por um tempinho? – disse a diretora, aparecendo na porta de repente. Ela estava preocupada comigo (ou com medo de mim), e se mostrava um tanto fraternal, mais que o normal. Deve ter sido por causa de minha mãe. Mas minha mãe disse:

– Desculpe, mas ele não está se sentindo bem e eu preciso voltar pro meu serviço! Vim aqui apenas para apanhar ele. Podemos conversar por telefone ou eu poderia vir aqui amanhã, já que é minha folga...

A diretora persistiu que ela ficasse e desse uma explicação do que ela acha que aconteceu de um jeito gentil e cuidadoso, mas minha mãe era mais flexível nas desculpas para ir embora. Aquilo nem durou um minuto e a diretora nos liberou. Porém...

– Lucas! Devido às circunstancias, acho que amanhã não terá aula, por motivos de luto... – a diretora me disse num tom calmo e firme.

Eu concedi com a cabeça pelo ombro.

O caminho que tenho que percorrer da minha escola até o terminal de ônibus daquele bairro dura quase vinte minutos andando. Correndo deve durar só dez minutos. Aprendi a contar o tem do caminho ouvindo minhas músicas, lembrando-se do tempo que elas duravam e juntar quantas delas eu escutei. Mas naquela noite a rua estava quase vazia, o que aumentava os riscos de assalto. Se bem que, depois do que eu fiz ninguém seria idiota o suficiente para me abordar.

– Mãe... Você sabe o que aconteceu comigo, ou com o meu olho? – perguntei de repente para ela, já que andávamos sérios por um bom tempo.

– Lucas, eu não sei o porquê, mas eu acho que seu pai apareceu hoje em casa... Ele disse que coisas estranhas estavam para acontecer com você hoje, e que como prova do que ele estava falando, me mandou verificar os seus olhos. Ele me avisou que estariam de cor irregular no hoje...

Eu não sabia o que dizer ou como reagir a aquilo. Quero dizer, meu cérebro travou no momento em que ela disse que meu pai apareceu hoje na minha casa dizendo sobre os meus dons!

– Espera ai, mãe! Como assim, você acha que o meu pai apareceu em casa? – eu disse meio confuso e com raiva.

– Lucas, eu já te disse várias vezes! Eu já fiquei com tanta gente antes de você nascer que... – ela iria continuar, mas preferi interromper. Não queria ter a imagem de minha mãe como uma vadia em minha mente.

– Ah, para! Poupe-me os detalhes! Já entendi. Você ia pra farra e...?

– E foi numa dessas aventuras que eu conheci seu pai. Saímos por um tempo, mas ele nunca me disse o nome dele. E quando aconteceu, ele sumiu no dia seguinte. Nem pude dizer o quanto eu gostava dele. E eu gostava bastante. E hoje, ele apareceu de repente em casa, me disse o que eu acabei de lhe contar e assim que eu me virei por um segundo, ele desapareceu novamente.

Ela estava com um olhar disperso. Sempre olhando para frente, atenta na rua, mas ao mesmo tempo, se perdia em suas lembranças. Demorei longos anos para absorver alguma coisa de seu passado, e justo hoje ela me fala isso. E foi que eu me lembrei:

– Mãe! Por acaso meu pai tem a cor dos olhos diferentes?

– Por acaso sim! O olho direito é verde e o esquerdo é azul!

– Caramba! Então eu sei quem é o meu pai! É um homem chamado Robson. É Robson alguma-coisa, não me lembro de certeza o sobrenome. Ele me disse que em breve eu mudaria, ficaria com os olhos diferentes...

– E isso está se concluindo hoje! Como você...? – eu já sabia qual a pergunta.

– Eu estava indo pra escola, de ônibus, quando ele sentou do meu lado. Foi há uns dez dias atrás.

– Então é ele mesmo...

Ficou um curto silêncio assustador, até que eu disse:

– E agora? O que acontece, mãe?

– Bem, eu acho que esperamos. Mas filho escute bem. Tente controlar os seus poderes. Pelo dano que foi feito na escola, acho melhor você evitar problemas...

– Mas eu não sei o que eu fiz! Ou como eu fiz aquilo, mãe!

– Só tente ser você mesmo, Lucas. Antes de tudo isso, é claro.

Senti um peso no coração, um sentimento de culpa. Quero dizer, como ser normal? Eu já não me sentia normal antes, e agora eu terei que fingir que nada daquilo aconteceu? Como eu vou voltar para a escola na segunda sem ter medo de que todos me linchem? Eu deixei o valentão da escola paralitico da cintura para baixo. Imagine o que eu posso fazer com o resto do pessoal? Como eu vou me normalizar? Não sou mais um mesmo. O antigo Lucas Candor, na visão dos alunos, se foi. Se é que eles sabiam quem eu era. Agora um novo aluno prometia voltar.


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