Em Meus Olhos escrita por Gabriel Golden Fox


Capítulo 3
O Surto na Escola


Notas iniciais do capítulo

Algo muito estranho está para acontecer com o Lucas!

Música para escutar: "Empire" - Shakira



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Estou na minha querida e amada classe (só que não) na minha adorada e perfeita escola (mais uma vez, só que não) como sempre. É dia 15 de maio. Temos trabalhos adoidados, semana de provas chegando, e está uma correria aqui. Estou estudando sobre a Segunda Guerra Mundial, considerada a pior de todas. Minha professora de História é rígida, mas também é muito simpática. Uma mulher simples, de nome simples, sempre com o cabelo como rabo de cavalo, aparência que mostrava um pouco de cansaço e exaustão, e ao mesmo tempo ela mostrava que era forte e bem profissional apesar da vida corrida. Ou seja: ela tinha filhos. Não sei se eu serei pai um dia, não pensei exatamente o que vou fazer da minha vida, o que não é muito a essa altura das aulas! De repente, toca o sinal do recreio toca. Pego meu sanduiche de frango empanado e fui direto para o refeitório. O refeitório da minha escola não é muito grande, e tem noites que não cabem todos os alunos ali, então outros comem no chão do lado de fora, como pedreiros com suas marmitas de ovo frito e feijão preto (que estereótipo clássico, né). Sem falar da comida que parece que é daquelas feitas em prisões. Com aquela gororoba junta com a do dia anterior. Que nojo! Parecem aquelas sobras de comida que alguns donos dão para seus cães. É bem assim! As cozinheiras, porém, conseguem acertar a mão na comida umas três vezes por semanas. Esses dias, tivemos batata frita com carne de panela muito bem temperada. Fiquei horas na fileira gigantes que não parava de ser furada por outros alunos babacas e impacientes. Mas hoje eu e meus amigos não precisamos disso. Fomos fazer um piquenique na quadra, como se ali fosse o lugar mais limpo no mundo e estivéssemos ao ar livre sentados na grama. Ou seja, dar uma ostentada, fingindo que somos americanos. Tínhamos rocambole de chocolate (que eu comprei na padaria), algumas bolachas recheadas (trazidas pelo Leandro), duas garrafas de suco (uva e laranja, trazidos pela Clarissa e o Thiago) e uns cupcakes de baunilha e morango (feitos pela talentosíssima Analice). Uma das vantagens de ser um membro do grupo Plutão é isso: Não seremos incomodados por ninguém. A quadra fica lotada bicicletas, já que não temos a matéria de educação física no período da noite. Então, se não for para fazer bagunça, ela está liberada. E como ela estava deserta desta vez, fizemos o piquenique acontecer. Sabe minha gente, hoje eu olho para os meus amigos com outros olhos. Sem eles, eu não seria nada. Sempre fui o mais tímido da escola, o caladão, o frígido. E quando eu os conheci me senti mais vivo, mais feliz e completo. É uma pena eu ter me afastado deles tão de repente. Na verdade, afastado não é a palavra certa para descrever o que aconteceu. A palavra certa seria “desaparecido”.

Estávamos cinco integrantes do Plutão, comendo sossegadamente e conversando até que George, o Gigante, que estava jogando bola por perto, a chutou tão forte e tão longe, que atravessou as grades da quadra e foi em nossa direção. Na mesma hora, a bola atingiu atrás da cabeça de Clarissa, que bebia um copo de suco de uva. Foram gotículas de suco para todo lado e em nossos uniformes. Olhamos feio para ele e seus amigos brutamontes, que riam sem parar. Deve para ver os dentes amarelados deles.

– Aí, seus idiotas! Não pode jogar bola aqui na escola e vocês sabem disso! – Clarissa gritou para eles.

Sim, aquilo era verdade. A quadra era usada apenas pelo período da manhã e da tarde, para fazerem as aulas de educação física. E como a noite não tinha mais esse luxo de ter essa matéria (que até hoje eu não sei o real motivo), jogar nela e do lado de fora durante o recreio era proibido, com risco de perder a bola. E como eles eram “os fora da lei” da escola, desobedeciam a essa regra sempre que tinham chance. A supervisão da escola fica meio fraca durante o recreio.

– Cala a boca, nerd! – um dos amigos de George gritou.

– Não pode jogar bola no período noturno e vocês sabem disso! Então não joguem mais aqui, ouviu?! – gritou Thiago. Pra quê que ele foi falar isso...

– Ou o que? Você vai me bater? – disse George.

– Gente, já deu! Já chega, tá bom? – eu disse tentando separar calmamente os dois.

Eu sabia que iria rolar sangue pelo chão caso George fosse bater em alguém... Só não esperava que fosse o meu! Quando eu tentei impedir a briga entre George e Thiago, George me deu um soco que quase fez minha cabeça girar e se quebrar. Cai duro no chão, como um pedaço de pau. Aquilo foi tão inesperado e doloroso. Senti o gosto de sangue e ferrugem em minha boca. Um pouco daquele líquido rubro saiu lentamente de meus lábios. Ele me olhava de um jeito maligno, como um psicopata satisfeito com o estado da sua vítima no chão. Ele sorria como o gato risonho de “Alice no país das maravilhas”. Chegava a ser assustador. Thiago ficou tão pasmo quanto as garotas, que deram gritos agudos de pavor. Sentia meu rosto doendo muito. Eu só queria ficar ali e chorar, mas eu devo ter caído com tudo, pois até meu corpo doía. O que me restou foi gritar de dor. Era dor para todo lado. Eu sentia meu olho inchar. Os outros alunos chegaram no momento que as garotas gritaram. Todos vidrados e animados por uma briga, que eles achavam ter certeza que o vencedor seria o George. ACHAVAM que sabiam. Foi aí que as coisas fugiram do controle. Ou melhor, eu sai do meu controle.

Quando eu levantei lentamente minha cabeça para ver o que estava a minha volta e dos dois garotos que brigavam perto de mim. Nada. Nada adiantou. Minha visão estava embraçada. Mas hoje eu entendo que eram todos os estudantes com celulares em mãos, gravando a briga que rolava no chão entre George e Thiago. As minhas três amigas? Não sei onde estavam. Devem ter empurrado elas. E as três devem ter ido pedir ajuda a algum coordenador. Levantei-me graças a algum estudante, não me lembro de quem fosse. Só me lembro de ver Thiago no chão, se defendendo de George e de mais três comparsas dele. Aquilo me deixou tão apavorado, me deixou com tanto pânico e ao mesmo tempo, revoltado, com uma quantidade enorme de ira saindo pelas minhas lágrimas. O que fiz? Simples! EU GRITEI!

– LARGA ELE, SEU MONSTROOO!

Nesse momento, eu devo ter desencadeado de algum jeito meus poderes. George e seus amigos foram jogados pelo ar, como se tivessem sido puxados por cabos de aço, tipo quando alguém vai fazer bungee jumping. Mas no caso deles, era como se cada um fosse puxado por essas cordas, cada um por um lado, ou se fossem atropelados por um carro em alta velocidade. Eles voaram para fora da quadra, da mesma forma que a bola de futebol penetrou nela. E os outros alunos, ao mesmo tempo, foram jogados para trás. Todos ao mesmo tempo, como numa fileira de peças de dominó. Dois dos garotos que voaram bateram nas gigantescas e grossas colunas de concreto que sustentavam o teto da quadra. Um deles era George. E o mais estranho é que os vidros das janelas de algumas salas quebraram. Tudo isso aconteceu em menos de 10 segundos durante o meu potente e prolongado grito, que fazia o chão tremer como num terremoto (não que eu saiba como é um terremoto). Foi como um tsunami tivesse passado por ali, mas era de vento! Quando abri os olhos, todos estavam caídos e confusos, não só pelo susto, mas pelos celulares terem pifado. Alguns estudantes ficaram com os tímpanos estourados. Todos me olhavam assustados. Eu também estava surpreso comigo mesmo. No chão, debaixo de meus pais e alguns metros contínuos de distância, havia rachaduras grandes, pareciam raízes de árvores. O que tinha acontecido comigo? Ou melhor, com eles? Ou ao meu redor? Eu estava tão confuso e com muito medo de mim mesmo. Thiago se levantou surpreso, os alunos começaram a recuar e dizendo para que se afastassem. Clarissa, Analice, Leandro e a diretora chegaram e ficaram espantados com a situação da quadra. George e seu amigo do lado de fora, muito feridos. Só ouvi os gritos de George, menos o do outro. Eu não sei o nome dele. E depois desse dia, continuo sem querer saber, porque ele morreu. Tinham duas manchas de sangue nas colunas. Eu mesmo fui ver como eles estavam, e George chorava muito. Não só pelo amigo, mas também porque ele não sentia suas pernas.

– Não pode ser... Como eu fiz isso? – eu pensei em voz alta.

– Lucas. Você está bem, cara? – perguntou Thiago, tão machucado quanto eu e George e mancando em minha direção.

Eu não tinha resposta alguma para a pergunta dele. Só sentia meu rosto doer e provavelmente, eu ganharia um olho roxo, mas eu me preocupava mais era com Thiago, com a cara toda vermelha e corta. Os estudantes ficavam horrorizados com o corpo morto no chão, mas não conseguiam parar de ver. É nesse momento que as pessoas começam a revirar algumas coisas do baú, por exemplo, de como ele era na classe, quem realmente se importava com ele. Fico enojado com isso. Não com o corpo em si, mas com a falsidade e falta de bom senso das pessoas tem com os recém-mortos. Isso me enoja, e muito. Quando eu apareci, os estudantes recuaram mais e mais, com medo de mim. Eu não planejava nada daquilo. Eu nem sabia como eu fiz aquilo. Eu estava com medo de mim mesmo, de fazer algo parecido novamente. Me senti como um bruxo e os jovens em minha volta me julgassem à forca pelos meus atos “paranormais”. Eu vi o crânio daquele menino aberto. Uma enorme poça de sangue se formou no chão de terra e pedra. Minha vontade era de chorar. Chorar muito. Matei alguém pela primeira vez. Sem nenhum motivo ou com qualquer questão real de mata-lo. Eu me arrependi só por ter gritado ou de querer bater em George, que foi levado dali com urgência.

– Você matou o Igor! – disse uma garota chorosa, que chegava a sair lágrimas e coriza pelo nariz. Igor! Então esse é o nome dele.

– Eu não sei como isso aconteceu, eu juro! – falei chorando, o mais sincero que eu consegui – Eu só queria ajudar meu amigo!

Não me lembro direito o que eles diziam, mas ficaram espantados com o que eu aparentemente fiz. Estavam todos gritando, confusos e com medo. Mas nenhum deles teve a decência de me escutar. Não perguntaram se eu estava me sentindo bem. Com exceção de Thiago e meus amigos, claro. Eles ficaram do meu lado o tempo todo. A diretora pedia provas, fotos, gravações, mas os celulares de ninguém funcionavam. Só sei que saímos mais cedo, porque veio tudo quanto é viatura. Veio SAMU, polícia, um enorme pandemônio. Mas eu ainda não sabia o que era aquilo. Até que...

– Lucas... Não olha agora, mas seu olho tá esquisito – disse Analice, com uma cara de suspeita.

– O que? Como assim? Tá com o seu espelho aí? – perguntei. Ela confirmou.

Seria um milagre ela não estar com um espelho pequeno no bolso, já que ela é muito vaidosa consigo e usa o espelho não só para espiar uns garotos mauricinhos, quanto como cola em prova. Mas nesse dia, eu acho que preferiria não ter visto meu olho esquerdo: Uma parte de estava da mesma cor de sempre, castanho escuro, mas tinha uma linha azul claro que dividia minha cor de costume com a cor violeta.

– Merda... – eu pensei.


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Notas finais do capítulo

Em breve, teremos mais!!!