Em Meus Olhos escrita por Gabriel Golden Fox


Capítulo 2
Um estranho ao seu lado


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo! Espero que você goste, caro leitor. Enjoy!

Música para a leitura: "Human Behaviour" - Björk
"Clint Eastwood" - Gorillaz



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Meu nome é Lucas Candor. Sou brasileiro, do estado de São Paulo. Vivo especificamente na cidade do litoral, Guarujá. Tenho 16 anos de idade, acho que tenho aproximadamente um e 65 de altura, tenho olhos castanhos, cabelos bem negros, pele pálida, algumas sardas nas maçãs do meu rosto e, pelo jeito, eu sou diferente do resto da sociedade. Pra você pode parecer mais uma história sobre um garoto que se sente desajustado do resto da humanidade. Daqueles filmes americanos de jovens que querem se encaixar no meio estudantil, do tipo que sofre bullying, aquele clichê todo. Bem, não é por ai que minha história se encaixa. Eu só comecei a me sentir assim muito mais tarde.

O que dizer sobre a minha vida? Ah, não sei ao certo. Ela era bem normal. Sim, ela ERA normal! Minha rotina básica consiste em ir para escola de segunda à sexta, à noite. Estou no terceiro ano do ensino médio. Enfim, eu acordo, escovo os dentes, tomo meu café da manhã, dou uma breve mexida na internet, depois eu almoço, dou uma mexida mais demorada na internet desta vez, e vou para a escola. Antigamente eu ia para o meu curso de inglês antes da escola. E lá, tenho cinco aulas durante quatro horas. A escola não é exatamente agradável, mas não chega a ser totalmente insuportável. O pessoal de lá era bem feliz, amigáveis (pelo menos 70% deles), nunca arranjei nenhuma briga ou confusões com nenhum deles. Sempre evitei valentões, os bagunceiros do fundão, as patricinhas, nem com os nerds eu me atreveria a zombar. Quero dizer, eles são inteligentes e podem bolar uma humilhação muito bem bolada, ou até mesmo ficarem com muita raiva e botar pra fera seu lado mais primitivo de agressividade e se mostrarem mestre em boxe. Sem falar das patricinhas. Os batons delas podem ser uma espada do Star Wars. Nunca se sabe.

Calma, ainda me sobraram pessoas para fazer amizade. Eu fico no grupo que se resume basicamente assim: “eles estão aqui apenas para preencher espaço”, ou até mesmo “eles são apenas mais um grupo de amigos na escola”. Pois é, somos os esquecidos, os excluídos. Eu nos nomeei como Plutão. Se você esteve congelado no tempo durante anos e séculos, ou nunca viu televisão, leu um jornal, ou se quer pegou num livro de ciências, Plutão não é mais considerado um planeta atualmente, simplesmente por sem muito pequeno comparado aos outros planetas. É o nosso caso. Somos não exatamente os esquecidos ou excluídos, só não somos totalmente definidos num grupo só. Sendo assim, somos basicamente figurantes, num mundo cheio de estrelas do pop e do rock. O grupo Plutão consiste de apenas cinco pessoas: Analice Cunha do 3º ano C, Clarissa Oliveira do 2º ano A, Leandro Ferreiro do 3º ano A, Thiago Augusto do 2º ano D e eu, Lucas do 3º ano B.

Mas como eu disse antes, lá nem tudo é um caos, mas também não era nenhum país das maravilhas. Meu problema não é exatamente com as matérias, e sim com os professores. Alguns bem chatos ou meio molengas pegaram minhas matérias preferidas, ou as que eu precisava recuperar do ano anterior. Pelo menos minha nota nem sempre foi menos que Seis. Ou melhor, Cinco. O que foi? Eu não disse que era um aluno exemplar! Nem que era o mais inteligente! Enfim, eu sempre achei que a vida fosse cheia de filosofias. Mas a matéria de filosofia nunca foi tão chata, ou menos filosófica. O professor Ricardo só passa textos e mais textos para lermos e interpretarmos. Poxa, eu queria mesmo era que ele parasse a sala para ficarmos filosofando sobre a vida, sobre a música, sobre a arte! Mas o professor Ricardo não possui a menor moral com a classe. Ninguém respeita sua presença, ou sua matéria. Não que eles sejam ignorantes ou algo assim. Bom, pelo menos não sempre. É que o professor Ricardo é muito mole, parece que fumou tanto baseado que sua “vibe” não contagia ninguém! Está sempre muito calmo e até onde sei, ele é vegetariano. Não me lembro de um dia se quer que ele tenha conseguido colocar ordem total na classe. Mesmo assim, puxo um papo interessante com ele. Mas com a bagunça geral da classe, nossas conversas são bem breves. E de repente, quando reparo, tem gente jogando cartas, outros mexendo no celular ou escutando música pelos fones de ouvido, e o pessoal do fundão gritando e cantando desafinadamente.

Ele é apenas um dos muitos professores que não me cativam. Não entendo e não gosto de matemática ou física, que é pior ainda, não desenho bem na aula de artes, sou um porre em educação física e um dia, na aula de química, eu acho que vou botar fogo em todo mundo. Tipo assim, líquido verde com líquido laranja é igual a uma bomba nuclear! Não digo que é culpa deles, talvez seja eu. Sempre exigente demais. Ou esperançoso demais. Já me ferrei muito por isso. Confio rápido demais nas pessoas, que em breve, me magoam e eu quebro a minha cara no chão, de tanta humilhação e vergonha. Tenho colegas na minha sala, não amigos. Quero dizer, tenho só uma aluna que eu converso bastante sobre filmes e música chamada Alana. Ela é bem legal e bonita. Já emprestei um livro pra ela e em troca, ela me emprestou um filme. Mesmo ele sendo muito ruim, agradeci de qualquer jeito, pois já teria um filme a menos para comprar pra mim em breve! Mas é claro, tem sempre um aluno babaca em qualquer sala de aula. No meu caso, seria o George Silva, ou Gigante, que é como o pessoal o chama, porque ele tem quase dois metros de altura. Não, ele nunca encostou um dedo em mim, só umas provocações básicas por mês, mas nunca passou disso. Gente desse tipo só quer aparecer e merece ser ignorado, por isso mesmo irei poupar mais detalhes desnecessários sobre ele, porque o foco sou eu!

É dia 5 de maio. Mais um dia normal de aula. Estou primeiramente em casa, me arrumando para pegar o ônibus para ir para a escola. São 17h30min da tarde e é esse o horário que eu preciso estar no ponto de ônibus. Já estou pronto. Chequei umas três vezes a mochila, pra ver se eu não me esqueci de nada. Botei meu perfume favorito, coloquei meu casaco vermelho com uma touca que fazia eu me sentir um fora da lei.

– Lucas! Está com o cartão da condução?! – gritou minha mãe da cozinha.

– Sim, mãe! E desta vez eu tenho certeza! – respondi.

É que ouve uma vez que eu perdi o ônibus porque não estava com o tal cartão no bolso. Aí eu voltei pra casa, minha mãe reclamou um bocado por isso, peguei o ônibus mais tarde, e mesmo tendo quase chegado atrasado, cheguei correndo até a escola. Minha mãe é bem “gente boa”. É, obviamente, a melhor pessoa que eu conheço. Entre as coisas que eu mais amo, ela está em primeiro lugar, em seguida vem chocolate, filmes, música e correr. Não sei onde meu pai está. Minha mãe disse que eu me pareço muito com ele. Mas isso eu irei contar mais para frente. Então lá estou eu, indo o mais rápido que eu posso para chegar logo ao ponto de ônibus.

Assim que cheguei, o ônibus estava a dez segundos de mim. Logo dei o sinal para ele parar, e fiz o procedimento de sempre: Entrei, peguei meu cartão, passei na maquininha de condução, e entrei pela catraca. Todos os lugares estavam ocupados, menos dois bancos, por sorte. Prefiro ficar na janela. Gosto de ver a cidade e tocar uma música no fundo. Isso se eu estivesse com o meu celular. Fui roubado. E com a música, eu aprendi a contar o tempo de viagem do ônibus! O trajeto demora no mínimo 30 minutos, com as paradas dos passageiros. Na ida é de boa, isso é, sem lotações, mas quando eu volto para casa, e pego último ônibus para o meu bairro, lota de pessoas de faculdades e mães com seus pirralhos catarrentos, que choram como sirenes. Agora está tudo bem. Peguei meu local preferido, o dia estava bom, o pôr-do-sol fazia com que o céu tivesse três cores, aumentando ainda mais a impressão de que o céu estava em chamas. Depois de passar por vários pontos, o ônibus finalmente parou. Sabia que a próxima pessoa que entrasse iria sentar do meu lado. Por dentro, eu torcia para que fosse alguma garota bonitinha, ou alguém que não fosse tão estranho.

Para minha surpresa, sentou do meu lado um rapaz de uns vinte anos, bem alto (se bem que qualquer um é mais alto que eu... como eu sofro por ser baixinho). Tinha cabelos loiros bem dourados, pele branca levemente bronzeada, era bem forte e vestia uma blusa branca, uma jaqueta de couro preto, calça jeans, botas de couro bem negras e, o que me deixou muito intrigado, óculos escuros da marca Ray-Ban. Ele se acomodou sutilmente, quase que bem silencioso. Estava com uma daquelas mochilas de uma alça só longa, daquelas que vão do ombro até o joelho. Ele tinha um visual bem moderno e descolado, e inspirava confiança. Mas eram aqueles óculos escuros que me intrigavam. Por que ele os usava tão tarde? O sol estava forte, mas não era para tanto. Ele estava levando com ele uma daquelas maletas de professores ou advogados. Mais uma coisa que me deixou curioso em saber quem ele era. Ele parecia aquele tipo de pessoa que você quer conhecer, ser amigo, ou do tipo “eu quero ser ele”. Mesmo assim, fiquei na minha, quieto. Depois de ler a verdadeira história de Chapeuzinho Vermelho, eu definitivamente não irei falar com estranhos. Mas aí, ele se virou para mim e disse:

– Você é da escola Santos Drummond?

Meu coração parou por um segundo com o susto. Foi o tom de voz grave dele, eu acho. Se bem que a pergunta dele já tinha como resposta um sim, porque eu estava com o uniforme cinza e azul escuro. Fiz que sim com a cabeça. Ele deu um sorriso discreto. Daqueles fechados, sem mostrar os dentes, quase tímido.

– De que sala você é? – ele perguntou mais uma vez. Aí eu comecei a ficar meio assustado. Acho que não consegui esconder minha desconfiança e deixei-a “escapar” de leve pelo meu rosto. Mas na boa, aquilo foi um puta susto! Mesmo assim, eu continuei quieto, e evitei olhar nos olhos dele. Ou melhor, para o rosto, porque os olhos dele estavam sendo escondidos pelos óculos. Senti, não sei como, ele sorrindo. Como se minha cara de medo e desconfiança fosse engraçada. Sinceramente, ela não era. Pelo menos não pra mim! Eu não sou bonito, ou não bonito para o padrão de beleza das pessoas desse planeta, mas não é motivo para rir de mim assustado. Não dava para ver pelo vidro do ônibus (que começou andar por um caminho meio bruto, o fazendo sacudir bastante) por causa dos raios de sol. Mesmo assim, ouvi-o dando uns risos contidos e para dentro, bem baixinho.

– O que foi? Está com medo de mim? – o homem disse com um ar sedutor e misterioso, bem mais sorridente agora, mostrando seus dentes perfeitos e brancos como pérolas.

Cansei de me passar como frágil, e falei logo de cara:

– Não devo falar com estranhos... Simples assim.

– Acabou de fazer isso, sabia? – ele disse sorridente.

Agora ele estava começando a me irritar! E eu não podia dizer mais uma palavra para me defender, senão ele diria que eu estaria falando com estranhos de novo. Mais uma vez, não escondi minha raiva e meu medo dele. Ele percebeu que estava sendo um grande incomodo para mim, então ele disse tirando os óculos escuros:

– Me desculpe. Mesmo. Sou Robson Rangel. E o seu? – seu tom de voz, antes irritante e provocante, agora era sereno e fraternal.

Além de sua incrível beleza, outra coisa que me assustou nele foram seus olhos, afiados como adagas. A íris dos olhos era de cores diferentes. O direito era verde-acinzentado, e o esquerdo, era azul-marinho. Não consegui segurar minha emoção e quase gritei:

– Ai meu Deus! Seus olhos!

Algumas pessoas que estavam perto de nós me encararam. Ele ficou um pouco incomodado.

– Shhh! Não precisa gritar. Pelo menos não aqui, e não agora.

– Mil desculpas, é que eu acho lindas as pessoas com heterocromia nos olhos. E o seu caso é o dos mais bonitos que eu já vi. Com todo respeito, senhor.

Ele arregalou os olhos e sorriu. E desse sorriso, saiu outra gargalhada.

– Senhor? Jovem, por favor. Eu tenho 23 anos, não é para tanto. E você ainda não me disse o seu nome.

– Ah, desculpe. Lucas. Lucas Candor. E sim, eu estudo na escola que você disse. Quero dizer, eu estou com o uniforme. Por que eu o usaria, se não for para ir estudar? – eu disse num tom sarcástico.

Ele deu um breve riso, um bem curto e grave, e disse em seguida.

– Tem razão. Mas nunca se sabe. Quero dizer, e se você não estudasse mais lá, mas mesmo gostasse desta camiseta? Ou vai ver todas as suas roupas estão sujas e essa foi a única que restou. Já pensou nisso?

Nem precisei responder. Minha cara de “espere ai, preciso processar essas informações” falou por si própria. Voltei a encarar os olhos dele, que me fascinavam.

– O lado bom é que não somos mais “estranhos”, né? – Robson disse.

– Engraçadinho... – senti uma necessidade de fazer uma pergunta para ele, que fiz sem pensar duas vezes – Me diga uma coisa. Você sofreu muito preconceito com seus olhos?

Ele respirou fundo, ficou um pouco mais sério, pensou um pouco, olhou meio desconfiado para mim e disse:

– Na verdade, sua pergunta possui duas respostas. Tem uma resposta bem curta que se resume entre “sim” ou “não”, e outra bem detalhada e longa, que não só responde a sua pergunta, mas também o fato de eu me sentar justamente ao seu lado neste ônibus e, principalmente, ela irá responder uma pergunta que você fará para sim mesmo muito em breve. Mas essa resposta longa é tão bizarra, tão absurda e tão inacreditavelmente impossível, que eu duvido muito você acreditar no que disser, já que seus olhos ainda não ficaram iguais aos meus. Então, qual delas você quer?

As palavras de Robson me assustaram bastante, não vou negar. Principalmente porque ele ficou me encarando seriamente, e o tempo todo, enquanto dizia aquilo. Como assim, meus olhos ainda não ficaram iguais aos dele? Quando percebi, o percurso do ônibus ainda estava no meio do percurso.

– Já estou chegando à minha escola. Tem como você resumir a segunda resposta?

Então Robson pareceu preocupado, impaciente, ficou olhando em volta. Parecia aflito, quando voltou a olhar para mim muito mais sério, e foi aí que a coisa mais louca que eu já vi na vida apareceu em seu olho esquerdo: antes, sua íris era azul, agora era cinza-prateado. Ele continuou bonito, mas era assustador! Aquilo mudou nos meus olhos. E pra variar, Robson notou minha cara de assustado.

– Meu olho mudou de cor, não foi? – ele num tom impaciente e exausto.

Confirmei com a cabeça. Ele enrijeceu os lábios, como se aquilo fosse alguma coisa ruim. Eu não fazia ideia do que esse tal de Robson era naquele momento, e com toda certeza, preferiria que ele se mante-se como um estranho para mim. Mais um estranho que se senta ao meu lado no ônibus, sem dizer uma palavra. Mas aí, eu parei e pensei: seja o que for, eu com certeza irei acreditar em qualquer merda que ele disser. Porque depois disso, pra mim, Papai Noel existe!

– Acho que se for pra eu encurtar a resposta, eu diria a frase mais clichê de todas: Você é diferente do resto das pessoas, Lucas. Você tem dons especiais.

Não só pensei como eu disse sendo totalmente irônico e debochado:

– Sério mesmo? Eu to num daqueles programas de pegadinhas? Porque, meu Deus do céu, vocês andam sem a menor criatividade! Ou é tanta, que chega a ser ridícula! Onde é que estão as câmeras?!

Beleza! Eu retiro o que eu disse. Mas ele deveria ter começado de outro jeito. Quero dizer, eu não vou acreditar em alguém que falou que sou “anormal” como se estivéssemos num livro de fantasia! Pra onde vamos agora? Hogwarts? Nárnia?! O Monte Olímpo ou o Acampamento Meio-Sangue? Nem sei se eu estou em alguma saga.

– Você já notou em como seu corpo mudou? – disse Robson, ainda bem sério. Eu esperava que o que eu disse anteriormente fosse o fazer rir. Acho que não deu certo. Mas agora ele veio com a velha história de “seu corpo está mudando”. Eu sei, seu bocó! Eu tive aulas de ciências no ensino fundamental! E fiquei ouvindo todo tipo de pergunta idiota sobre sexo e órgãos genitais durante um ano inteiro!

– Além da puberdade, não. Nada. Sinto-me deslocado da humanidade, mas não no sentido “anormal”.

– Lucas, para de graça! Isso é sério! – Robson me interrompeu tão de repente, e num tom tão alto, que eu fiquei quieto na mesma hora. Fui longe demais. E foi nesse momento, que o olho esquerdo dele ficou negro. Não só a íris, mas o olho todo.

– Não. Nada de estranho ou “não natural” aconteceu... – falei meio rouco, pelo espanto.

– Desculpe... Mas o que eu preciso dizer é que você pode... Você pode ter poderes, tipo um super-herói. E eu também tenho.

– Qual é o seu? Além de mudar a cor do olho...

– Não é exatamente um poder. Meu olho muda de acordo com minhas emoções, como você mesmo notou – o olho dele agora voltou ao tom de azul-marinho – Eu consigo rastrear qualquer tipo de mutante, como eu...

Ele ia dizer mais alguma coisa, que eu, já sabendo exatamente o que era, o interrompi:

– E é por isso que você que você está aqui do meu lado? Neste momento? Está me dizendo que eu sou um mutante e não sei disso? – eu falei meio revoltado.

– Calma, eu só descobri meus dons aos 16. Como você vai descobrir em breve...

Eu não sabia no momento como tirar sarro daquilo. Ele falou de uma forma tão convincente, que todo que eu consegui pensar foi: Qual será o meu superpoder?

– E você tem noção de qual dom especial eu terei? Ou tenho?

– Não – Robson disse meio frustrado, e depois, logo ficou animado –, mas eu sei qual escala, ou classe, essa pessoa pertence. Não que isso seja um poder, mas é algo que eu criei. Eu sou de escala 1. Classe baixa. Não tenho exatamente uma função, como ataque ou defesa. Mas me alegra em dizer que sou um hacker muito bom. E meu irmão, Gregório, que está na Amazônia, consegue manipular a terra e a fauna. Ele está protegendo e preservando as árvores.

Okay, eu gostei desse Gregório. Usando seus poderes de forma responsável a favor da natureza. Mesmo assim, era bom demais para ser verdade que tudo aquilo estava acontecendo comigo. Estava só o momento em que o ônibus passasse em algum buraco, me fizesse bater om força a cabeça, perceber que aquilo tudo era um sonho, e ter, só pra contrariar, um pouco de baba no meu ombro. Mas não, isso não aconteceu. Que bom!

– Droga! Vou ter que descer – eu disse frustrado.

– Eu sei. Eu também. Terei que ir para Santos. Sinto que tem alguém de nível 3 por ai. Preciso conhecê-lo.

Robson parecia alguém bem otimista, energético. Estava bem ansioso. Seu olho esquerdo ficou com cor de topázio quando ele disse aquilo. Ele pegou a maleta, abriu ela, e tirou dali um saquinho velho e bege. Depois, me mostrou em minha direção, pedindo para eu abrir a mão.

– Se um dia você achar alguém que possa absorver matéria e manifestar isso em sua pele, dê isso para essa ela... Foi um prazer em conhecer você, Lucas Candor.

Robson sorriu para mim, de forma fraternal, esperou o ônibus parar no terminal, onde eu iria descer e foi o primeiro em meio as poucas pessoas dali que saíram. Eu fui o último. Mesmo assim, eu tinha mais uma pergunta. Por sorte, ele se esqueceu dos óculos escuro no banco.

– Robson! Espere! Tenho só mais uma pergunta!

Ele se virou para mim, espantado.

– O que foi? – ele perguntou.

– Bem, primeiramente, você esqueceu isso – eu devolvi os óculos – e segundo... Vai doer muito? Quando os poderes chegarem?

Ele me encarou por um tempo. Parecia um olhar de adeus. Estranho, muito estranho foi aquilo. Então ele finalmente falou:

– Sim. E bastante. Mas depois você vai pegar a manha. Grandes coisas acontecem somente com pessoas grandiosas. E eu sinto que você pode se tornar um grande garoto em breve, Lucas. Mas faça a coisa certa. Tudo bem?

Acho que nem Gandhi poderia pensar numa frase tão linda como aquela. Eu confirmei com a cabeça, determinado a usar meus poderes de forma correta. Então Robson me devolveu o seu óculos escuro e continuou:

– Fique com você. Irá precisar em breve.

Depois, ele pegou o caminho que muitas pessoas pegam para ir em direção a catraia para Santos. Mas ai ele gritou apontando para trás de mim:

– Meu Deus, Lucas! Cuidado! Olhe!

Assustado, eu olhei para trás. Só havia carros em movimento e alguns ônibus chegando e transportando pessoas. Estranho. O que de tão assustador tinha aquilo. Mas aí, eu senti um vulto forte atrás de mim. Achei que fosse o vento. Depois do susto, me virei para onde Robson estava, e ele simplesmente desapareceu. Nada aconteceu de anormal comigo, ou com meu corpo. Depois que conheci o tal Robson, comecei há ficar um pouco paranoico com meu corpo e meus olhos. Mas eu estava com medo de encontrar um membro a mais no meu corpo ou sei lá. Quero dizer, vi um artigo na internet esses dias que dizia que existem nos Estados Unidos que um em cada 5,5 milhões de homens tem DOIS PÊNIS! Com apenas (como se esse apenas fosse bom ou fizesse diferença) mil casos registrados. Sinceramente, eu não sei se isso é algo bom ou ruim, mas eles deveriam entrar para a indústria pornográfica. Iriam fazer um baita sucesso e ficariam podres de ricos. Vai ver eu esteja maluco. Vai ver o verdadeiro poder desse tal Robson seja hipnose, telepatia, lavagem cerebral ou talvez, ele seja um belo de um mentiroso. Mas e aqueles olhos? Como ele fez aquilo? Pelo menos foi assim que eu fiquei pensando durante uns 10 dias.


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Notas finais do capítulo

Em breve, teremos o capítulo 2!