Estou deitada no chão frio daquela sala escura. Totalmente sozinha.

Corrigindo: Estou acompanhada por ratos, alguns seres asquerosos que não conheço e a poça de sangue que forma em volta da minha barriga.

Aquilo era o que tinha ganhado por amar alguém.

~FLASHBACK ON ~

Desde a nossa primeira noite junto, eu e Haymitch não trocamos mais nenhuma palavra. Um protegendo o outro apenas com o silêncio.

Aqueles próximos Jogos foram torturantes. Não só porque eu sabia que logo os rebeldes voltariam, mas porque não podia olhar para Haymitch. Eu sabia demais sobre os planos dos rebeldes e a Capital tinha conhecimento disso.

Precisava me manter viva.

Enfim, os anos se passaram arrastando e não podia fazer nada para evitar isso. Mas na Edição 74 dos Jogos Vorazes... eu sabia que aquele seria um ano diferente. Era onde revolução iria começar.

Assim que Katniss Everdeen se voluntariou para salvar a irmã dos Jogos, vi que aquela menina seria o símbolo. Ela tinha coragem, força e um ódio muito grande pela Capital. Eu podia ver a raiva no seu olhar. Ela era a faísca perfeita.

Antes mesmo dos Jogos, sabia que Katniss logo se tornaria a representação daqueles que queriam lutar contra a Capital. Quando desafiou os Idealizadores com aquela flecha, que atravessou em cheio a maçã o porco, já podia ver em Haymitch um olhar brilhante e sonhador. Era ela a escolhida por quem os rebeldes tanto esperavam.

Durante os Jogos Vorazes isso ficou ainda mais claro, a cada flechada, cada atitude, cada homenagem... aquele fogo nos Distritos e na Capital aumentavam.

Mas foram as amoras que deram o começo a aquela loucura. As amoras-cadeados. Aquela era a flechada fatal que Katniss deu no Snow e em toda a Capital. A amora representava a fúria, a vingança, a própria revolução. Aquela era a chama viva que queimaria toda Panem.

Cinna, o estilista que também participava daqueles planos rebeldes, ajudou ainda mais colocando um nome na menina: Katniss Everdeen, a garota em chamas. Que logo passou a ser chamada de Tordo.

Na Edição 75 dos Jogos, o Massacre Quartenario, foi quando o "incêndio" se infestou por todo país.

A volta do D13, os Distritos mostrando sua fúria, O Tordo... Assim que aquela flecha destruiu o campo de forças, o caos do lado de fora começou a aparecer. Naquele instante, já ouvia gritos de medo na rua.

Eu também gritei, porque sabia que, naquele momento, Haymitch poderia ter sido pego.

Corri para arrumar minhas malas, tinha que fugir dali. Mas já era tarde demais. Minha porta foi arrombada e fui arrastada a força até um prédio onde ficavam as salas de torturas.

E o pior é que não era só eu que estava ali. Antes de ser jogada naquele quarto escuro, onde passaria os piores dias da minha vida, reconheci alguns rostos. O corpo do defunto de Cinna exposto no meio do prédio, que parecia servir de exemplo para os recém-chegados. Johanna Manso, que participou do Massacre Quartenario. E, meu Deus, Peeta Melark.

Assim que me jogaram na sala, as sessões de tortura começaram. Eles passaram dias me fazendo perguntas, eu me recusava responder, então me torturavam lentamente. Só paravam quando eu já estava a beira da morte. Tinham que me manter viva para conseguirem as respostas.

Quantos métodos de tortura foram usados? Não sei.

Eram dias confinada, em um frio imenso ou um calor insuportável. Me colocavam em câmaras de um gás tóxico horrível. Me machucavam com instrumentos diversos. Eu passava dias sem comer, nem beber. Queria que eu morresse aos poucos.

Quando desistiram de ganhar respostas usando tortura física, começaram usar outro método: A tortura mental. O plano da Capital era distorcer tudo o que eu lembrava, tornar tudo horroroso e me fazer odiar Katniss e os rebeldes. Assim, quem sabe, eu poderia me tornar uma boa aliada.

No entanto, para a surpresa deles, continuei viva e calada. A revolução apenas começou.

~ FLASHBACK OFF ~

Minha mente ainda estava sob efeito da última injeção que aplicaram em mim. Alucinações passavam a toda hora pela minha cabeça. Cenas dos Jogos passados, Katniss torturando meu pai e matando Haymitch a sangue frio, bombardeios em Distritos por culpa dos rebeldes... estava ficando cada vez mais fora de mim

Tinha tomado um rancor enorme por Katniss e pelos rebeldes. A Capital distorceu meus pensamentos a ponto de me fazer querer assassinar cada um deles. Se queriam que eu tivesse raiva mortal daquelas pessoas, eles conseguiram.

Só não esperavam que suas injeções e líquidos estranhos tornasse tudo tão real. Assim que abriram a porta para a segunda dose da injeção, enxergo Katniss no lugar do homem que iria aplicar em mim aquele "veneno".

Uma fúria invade meu corpo ao ver ela ali. Pego a seringa que foi esquecida ali pela última pessoa que me visitou, ainda tinha um pouco do liquido dentro dela, e injeto na veia de seu pescoço. Como foi pego sem aviso, o homem/Katniss não teve como reagir e desabou no chão.

Saio correndo dali. Uma vez ou outra, aparece algumas pessoas tentando impedir minha fuga, vejo todas elas como Katniss ou como um rebelde, ataco novamente, injetando o liquido em alguma parte aleatória do seu corpo.

Minha sorte é que, nesse mesmo dia, o Distrito 13 programou uma invasão nesse prédio, para libertar aqueles que estavam sendo torturados e salvar Peeta.

Eu fui resgatada, junto com todos, e levada para um centro medico. Ainda estava sob efeito do “veneno”, então relutei muito. Isso até eu apagar após os remédios que me forçaram a tomar, cai num sono profundo.

Não queria saber para onde iam me levar, eu estava livre daquelas sessões horripilantes. Quem sabe, eu pudesse me vingar. Ou talvez reencontrasse Haymitch. Mesmo com aquele ódio constante, eu não consegui esquecer dele...

Eu mal sabia como essa historia iria acabar.