Capitulo Treze

(As pessoas que querem seguir as regras, muitas vezes precisam se sacrificar. É assim que tem que ser. Disciplina.).

Nova Ordem – Manual das Leis

A chuva caia lá fora. E eu não conseguia parar de chorar. Claro que minha vida tinha mudado bastante. Mas mesmo assim, eu errara feio. Eu estava tão confuso comigo mesma. Não sabia o que fazer. Antes de entrar aqui, minha vida estava tão normal. Não tinha perdido nada, e muito menos minha amiga. O que estava acontecendo comigo?

Ouvi passos. Talvez Felipe tivesse se arrependido e voltado. Mesmo assim ele me magoara, não iria falar com ele. Preparei-me para outro confronto, mas só o que vi foi uma menina de estatura média. Cabelos castanhos na altura dos ombros, e óculos redondos.

– Liz – disse Camila – o que aconteceu?

Ela veio correndo até onde estava, e me ajudou a levantar. Com certeza eu devia estar horrível. Pois, ela olhou-me com medo, mas depois percebi preocupação. Ela me abraçou e Faísca relinchou em sinônimo de alegria. Sentamos nos banquinhos que havia perto do estábulo de Faísca.

– Vocês discutiram? – disse ela.

– Sim – enxuguei uma lágrima que começou cair – eu o magoei profundamente.

Camila pareceu refletir sobre minhas palavras.

– Ele gosta de você é isso? E ficou chateado de vê-la com Thomas?

– Exatamente. – não a olhei nos olhos, enquanto pensava no que falava brinquei com de mexer os pés – ele pirou. Eu não sei o que sinto Camila.

– Liz – disse ela – você precisa se decidir. O que acontecerá se você ganhar? Se você gosta de Felipe, e casada com Thomas. A vaca vai pro brejo.

Comecei a rir com seu modo de falar. Camila tinha um vocabulário em seus conselhos que me fazia rir, não importava a situação.

– Eu sei – disse eu – eu preciso de tempo. Mas isso é algo que não temos aqui. Estou querendo chorar a tanto tempo. Moldei algo que não se parecesse comigo. Tenho tantos mistérios...

– E alguma vez te deixei sozinha? Elisabeth – disse ela em tom severo – somos amigas. Vamos desvendar isso juntas. Custe o que custar.

Abraçamos-nos e eu sabia que enquanto perseverasse, e tivesse minha amiga comigo, eu venceria todos os desafios. Custe o que custasse.

–//-

Dormi feito uma criança. Estava tão cansada. Tudo aqui parecia um sonho, mas ao mesmo tempo um pesadelo. Eu não gostava de Carmela, mas admirava sua postura. Estava confusa com Thomas, e Felipe também zoneava bastante minha vida.

Aos poucos fui levada de meus pensamentos e me transportei para um lugar...

O vestido que eu usava era lindo. Os espelhos ao meu redor faziam com que tudo parecesse mais majestoso. Meus cabelos eram de um louro tão suave que resplandeciam meus olhos. Perai, cabelos louros? Olhos Claros?Eu estava querendo ser a Barbie?

Olhei meu reflexo no espelho e tudo o que vi não era eu. Mas sim uma mulher linda. A classe que eu (ela), tinha era perfeita. Tudo em mim (ela, se encaixava e se moldava perfeitamente.

– Lucinda – aquela voz fez meu corpo vibrar – todos estão te esperando meu amor.

Eu me virei e deparo-me com Victor Salazar parado na porta desse salão. Ele olhava-me com amor, ternura, mas também com sensualidade. Eu estava tentando não gritar Eca por querer beijar o pai de Thomas. Mas graças a Deus isso não aconteceu.

– Estou pronta – minha voz saiu perfeitamente aveludada – Vamos.

Descemos as escadas juntos. Agora pude perceber que ele estava muito bonito, aliás. Fomos a uma porta e chegamos a um belo salão de jantar. Tudo estava tão bem arrumado. Ali pude ver tantas pessoas, minha amigas que casaram com chefes do estado. Colegas de Victor, e até mesmo seu melhor amigo Cristian.

Quando chegamos todos fizeram inúmeras reverências, e Cristian piscou para mim...

Eu acordei com vontade de gritar. Camila dormia muito bem. Notei que estava suada. O que estava acontecendo? Fui até minha gaveta e peguei o livro proibido da Rainha. Aquilo me deu um calafrio, eu sabia que meu sonho tinha algo haver com aquilo.

Sentei na cama e fechei as janelas. O livro estava naquela biblioteca por algum motivo. Abri e logo o sobressalto me fez pirar. Tinha me esquecido que o nome da Rainha era Lucinda. Ou seja, o sonho com certeza foi real. Será que eu estava louca? O que aquilo significava? Eu sei que tinha que ler o livro, mas, estava tão sem tempo. Minha vida era uma zona agora. Não tinha nem tempo para organizar meus sentimentos. Qual é?

Fui até a gaveta e coloquei o livro. Eu o leria depois de descobrir algumas coisas. Peguei um papel que havia em cima da cômoda de Camila e anotei os acontecimentos do sonho. As lembranças já estavam começando a sumir, e eu precisava que o sonho esquisito ficasse registrado. Anotei sobre o bizarro salão de jantar, e sobre o tal Cristian.

– Acho que é tudo – sussurrei pra mim mesma.

Camila se mexeu e eu me congelei feito uma estatua. Contaria isso para ela depois que descobrisse algumas coisas. Os mistérios estavam ligados demais. Por algum momento pensei que fosse tudo armação da Ordem, mas eles não sabiam disso. Claro que não. Seria muita sacanagem. Ser adolescente já é difícil. Pelo amor de Deus, e esse lance de casamento e tals, já dava muita coisa para pensar.

Deitei-me de novo e fiz uma pequena prece para que não sonhasse nada de novo. Se tudo ajudasse, pelo menos uma vez queria ter uma noite tranqüila.

–//-

O café da manhã foi tão tranqüilo. Senti-me em casa. Oi? Elisabeth você precisa de um tratamento psicológico. Aqui nunca seria sua casa. Nem em vinte milhões de anos.

Havia um grande aviso no salão dizendo folga. Eu quase não acreditei e podia jurar que havia uma pegadinha. Mas logo Carmela surgiu e disse que tomássemos café da manhã que o dia seria de descanso. Até que ela não era tão ruim. Até os vilões chiques podiam ser legais. Às vezes.

–Liz – disse Camila – você esta estranha. Ainda é pelo lance de ontem?

Tomei mais uma xícara de chocolate quente.

– Aconteceu uma coisa estranha – disse eu – sonhei um sonho muito estranho.

Contei tudo para ela. Desde o fim da primeira prova que fui à biblioteca e encontrei o livro proibido. E até a leitura e o nome da mãe de Thomas ser Lucinda. E o sonho estranho. Camila ofegou.

– Quando nossas vidas vão ser normais? – disse ela – isso é inexplicável. Você nunca a viu. Como pode ter sonhado sendo ela? Isso é bizarro.

– Totalmente – disse eu.

Enquanto começávamos a conversar, todos pararam. Achei que fosse Thomas entrando com Victor, mas logo me enganei. Um homem de cabelos castanhos jogado aos olhos e muito bonito adentrou o salão. Eu tentava não me apavorar. Mas ao mesmo tempo ele me fascinava de alguma forma, uma forma estranha e bizarra.

– Meninas – disse Carmela – esse é Cristian. Chefe de estado e programador das provas de vocês. Ele passará dois meses conosco. Recebam-no bem.

Eu sabia que o conhecia. Minha cara com certeza foi ao chão. Minhas mãos começaram a soar. Minha cabeça começou a doer. Cutuquei Camila que estava babando pelo o cara.

– Camila – disse eu – preciso falar com você...

– Fala – disse ela olhando para o tal Cristian ainda.

– Se eu fosse você eu não olhava muito para esse Cristian não – disse eu.

– Por quê? Olhar não tira pedaço.

Tentei soar calma e falei o mais baixo possível.

– Eu não olharia para ele porque ele estava no meu sonho. Ele era o cara que piscava para tal Lucinda.

– Não brinca! Porra. – a soltou sem querer – quando vamos apenas voltar ao que éramos?

Olhei para a mesa e ele olhava todas nós. Algo nele não se encaixava. O que realmente estava acontecendo naquele lugar afinal?

– Inferno – arfei.