Chained escrita por Hillary McKarter


Capítulo 11
Capítulo 11 - Playing With Fire


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem =D



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            Ao longo de todos os seus 15 anos, Merida nunca sentira tanto tédio quanto em sua aula de História. A voz da professora soava como chiados de um rádio estragado em seus ouvidos toda vez que ela voltava a ler o livro em voz alta e como se não bastasse não se tratava de nenhuma guerra ou algo interessante que envolve-se ação e coragem. Os momentos que ficara acordada, Merida ouvira falar alguma coisa sobre os gregos e voltara a dormir. Não estava acostumada com a rotina daquele lugar. Desde pequena tivera a maior parte de seus ensinos em casa com um professor que sua mãe contratava e, às vezes, com o tio Laius, que era um antigo amigo da família. Mesmo assim, não era como se Merida não conhecesse como uma escola funcionava.

Devido a uma pequena crise financeira que ela, seu irmão e sua mãe passaram nos últimos cinco anos, Merida estudara em um colégio público com Hans mesmo odiando o local devido as pessoas que viviam estranhando seu cabelo e sua personalidade durona e transparente. Fora a primeira vez que Merida realmente vira como o mundo era cruel e as pessoas, falsas e interesseiras. Hans tentara defende-la vez ou outra, mas a garota sempre insistia em se meter em confusão como uma forma de liberar a raiva que aquele lugar detestável a fazia sentir. Ora ia para a diretoria por ter quebrado o nariz de um, ora por ter matado aula com uma turma mais velha. Ela não conseguia ficar parada. As provas a aborreciam assim como as constantes esperanças de sua mãe em vê-la trazendo amigas para casa. No final, a garota aprendera que a melhor maneira de sobrevivência em um colégio era simplesmente não chamar a atenção e não se envolver. Principalmente em um colégio como Bradowell High onde tinham aula de manhã e, ainda por cima, a tarde (Merida não se conformava em ter que perder suas tardes estudando) e a maioria de seus colegas de classes pareciam metidos e filhinhos de papai.

Merida virou o corredor enquanto ouvia o sinal tocar incessantemente. Já era tarde, quatro e meia aproximadamente quando a aula finalmente acabou trazendo alívio para a ruiva. A garota correra até um armário que lhe deram durante o intervalo e tacara sem nenhuma preocupação todos os livros que alguma empregada doente colocara em sua mochila na noite anterior. Suas costas agradeceram a mochila vazia que trazia agora. A ruiva estava passando em frente ao banheiro masculino quando sentiu um forte empurrão jogá-la para o lado. Seu corpo colidiu com o chão frio e ela sentiu um grupo de olhos observá-la com tom de indiferença, medo e susto. “Ótimo!” pensou. Primeiro dia e ela já fizera o que mais evitara a manhã inteira. No entanto, uma voz em meio a multidão, ou melhor, uma voz bem ao lado dela tirou-a de seus próprios pensamentos em quase um instante.

—M-Me desculpe. Eu não....

Merida virou o olhar e viu um garoto cabeludo olhá-la assustado. Seu rosto era composto por um conjunto de sardas em cada bochecha e seu corpo era tão magro que ela quase podia ver algums ossos nas mãos sujas que tocavam o chão. Ele assim como ela estava caído desajeitadamente no corredor, mas entre eles, o garoto era de longe o mais assustado. A ruiva pensou por um instante que fosse dela, mas notou que seus olhos constantemente viravam-se para trás a procura de alguém e que seu cabelo estava levemente molhado nas pontas.

—SOLUÇO! – um berro foi ouvido atrás da porta do banheiro. O garoto gemeu com aquilo.

—Com licença. –disse o tal Soluço com um sorriso fraco pra Merida enquanto se levantava as pressas.

No entanto, antes que ele pudesse se firmar novamente no chão, a porta se abriu e um grupo de três garotos surgiu pisando firme no piso.

— Nós ainda não acabamos! – disse um cara baixinho e musculoso que parecia ser o líder do grupo. – Peguem ele!

Soluço tentou correr, mas um outro rapaz mais alto e, aparentemente, mais veloz o pegou pela gola da blusa enquanto um outro mais gordinho e medroso corria até ele para pegar suas mãos. As pessoas que antes viam a cena voltaram a andar como se nada estivesse acontecendo. Merida não aguentou ver aquilo. Eles estavam quase violentando o menino na frente de dezenas de alunos e nenhum sequer parecia correr para chamar algum responsável. Seu coração pesou e sua mão fechou-se esmagando seus dedos com a raiva que sentia. Merida sabia como o bullying poderia ser uma coisa terrível independente se fosse com uma menina ou com um menino, mas se tinha alguma coisa que ela mais detestatava naquilo tudo eram as pessoas que só ficavam vendo ou ignorando a cena. O grupo estava levando novamente Soluço para o banheiro enquanto o magricelo gritava pedindo ajuda e socorro. A ruiva levantou-se num pulo e pegou o sapato chique e refinado que sua mãe comprara para ela ir a escola. Levou menos de um segundo para tal chiqueza atingir a cabeça do líder do grupo. Tudo então ficou congelado. Os garotos que seguravam Soluço congelaram assim como o próprio garoto magro. Aparentemente ninguém havia desafiado sabe-se quem quer que fosse aquele idiota que se voltava agora para Merida. Assim que a viu, o moleque riu atraindo mais atenção para ela de olhares curiosos. Pela primeira vez naquele dia, a garota não se importou.

—Parece que você tem uma heroína, Soluço. –disse o líder. – Quem diria que sua namorada iria ter que te defender hein? – Ele começou a gargalhar assim como os amigos.

Merida olhou-o séria e intransparente.

—Talvez se sua mãe tivesse te dado leite ao invés de drogas, você não teria que bater em garotos para fingir que é o macho alfa dos idiotas. – disse Merida por sua vez.

O líder não pareceu gostar daquilo, pois parou de rir e começou a olhá-la furioso.

—Talvez eu devesse bater em meninas então.

Merida deu de ombros e sorriu.

—Por que? Precisa provar que é uma menininha agora?

O garoto musculoso enfureceu-se mais ainda com aquele comentário e correu - sem sequer pensar direito - na direção de Merida. Ela desviou num simples movimento, pois sabia que àquela velocidade ele não iria conseguir parar ou virar fazendo-o colidir com a parede do outro lado em instantes. “Brutalhões” pensou a Merida “é só você queimar todo pavio deles e já está lidando com idiotas”. Ela virou-se para os garotos que seguravam Soluço e olhou-os enraivecida. O gordinho rapidamente se afastou, mas o mais alto demorou um pouco e a garota teve que mostrar o punho para ele finalmente soltar o menino. A ruiva pegou Soluço pelo punho e correu com ele em meio a multidão tentando ignorar as palavras feias que saiam da boca do líder. O plano naquele momento era se afastar, porque Merida sabia como lidar com a situação até um certo ponto que terminava quando tornavam-se três contra uma, algo que até aquele momento sequer o líder tinha pensado em fazer. Que maravilha de primeiro dia de aula! Sua mãe a mataria quando descobrisse que perdera seu sapato numa briga. Ela poderia ter terminado como havia planejado: sem inimigos, sem brigas, sem idiotas. Mas pelo visto aquele só seria o começo de mais um inferno. Porém, o que a garota ainda não havia percebido era que mais uma coisa ela havia adquirido ao se arriscar numa luta contra imbecis: havia ganhado a admiração de um garoto preso em sua mão que corria com ela provavelmente aterrorizado e cansado, mas também muito aliviado por dentro.

—*_*_

“O número chamado não está disponível no momento.” Ouviu a Rainha de Gelo cerrando o pulso em desespero. “Por favor, tente mais tarde para...” Seus dedos tocam na tela do aparelho e encerram a chamada.

Elsa, pela milinésima vez naquele dia, tentara ligar para o celular de seu pai, mas aparentemente ele estava extremamente ocupado, pois sequer Lydia, sua secretária, estava atendendo as suas ligações. A garota estava terrivelmente assustada e incomodada com toda cena que Hans fizera naquela manhã. Seu coração ainda batia acelerado e um pressentimento ruim estava atormentando-a desde o momento que o intervalo acabará dando retorno às aulas. Todos os momentos que ela olhava agora para o rosto de Hans na sala revivia sua expressão assustadora de quando ele ainda estava caído no chão. As palavras cheias de ódio, o sorriso malicioso, os olhos flamejantes, tudo voltava a sua mente como se ainda estivessem acontecendo. Elsa finalmente percebera como todas as expressões que tinha visto até aquele momento de seu meio- irmão não se comparavam a sinceridade que ele mostrara a algumas horas atrás. E isso era o que mais amedrontava a Rainha de Gelo por trás da expressão firme e distante que demonstrara no restante das aulas.

Agora o dia estava finalmente chegando ao fim e Elsa já se encontrava na limusine enquanto esperava seus irmãos para voltar para casa. Aparentemente, as ruas estavam lotadas naquele horário fazendo não apenas a Rainha de Gelo não encontrar uma justificativa para ir antes para casa e obrigar outro motorista vir buscar Anna e os outros, como não também o seu orgulho intervir querendo mostrar para Hans que ela não se curvaria diante dele por medo ou insegurança.

A garota discou novamente o número e quando o colocou ao lado do ouvido pequeno que tinha voltou seu olhar para a escola vendo Merida andando apressada e, surpreendentemente, sem um dos sapatos ao lado de um garoto até um pouco menor do que ela. Assim que viu o carro, Merida voltou-se para o garoto e pareceu conversar algo sério. Elsa ao ver a cena veio-lhe um pensamento horrível em sua cabeça. Um pensamento que ela jamais havia pensado antes e que agora a apavorava mais ainda: Até quanto Merida e Judith sabiam sobre o plano doentio de Hans? E se elas mesmo estivessem o ajudando a atingí-lo?

“O número chamado não está disponível no momento.” De repente, tudo fez sentido para Elsa e aquilo lhe veio como um terrível pressentimento. Ela sentiu um medo inacréditavel por seu pai. Ele estaria em perigo agora, por isso não atendia suas ligações. Judith estava fazendo questão daquilo. E Merida... Merida não tinha a mesma idade que Anna? Elas estavam na mesma sala? Aquilo faria todo o sentido agora. Três alvos para três flechas. Elsa não podia acreditar a coincidência que aquilo agora tinha para ela. Como poderia ter sido tão cega. Ela já deveria ter percebido assim que descobrira a verdadeira natureza de Hans. Talvez se não tivesse sido tão egocêntrica poderia ter prevenido tudo isso de acontecer. Hans a estava distraindo enquanto as outras faziam o mesmo com o resto de sua família.

De repente, a porta do carro se abre e Elsa sente um arrepio passar por todo seu corpo. Merida senta-se a sua frente e pega o celular mexendo-o distraidamente. O que ela estava tentando fazer? Filmá-la no carro e mandar esse vídeo para Hans? Fingir que não sabe de nada para conquistar sua confiança? Elsa sentia que poderia estar pirando naquilo tudo, mas a lembrança do que Hans falara para ela a pertubavam da mesma forma que a lembrança de Anna após o incidente.

“Só acaba quando todos nós estivermos no chão”

Elsa tremeu e sem pensar direito acabou abrindo sua boca para falar pela primeira vez com sua meia-irmã.

— O que Hans quer com tudo isso?

Merida estava pegando seus fones de ouvidos quando congelou com aquela frase. Seus olhos se moveram da mochila para Elsa em segundos e o espanto era tão claro como a luz do dia.

—O que? O que você disse?

O desastre já estava feito. Elsa já abrira a boca e revelara o que sabia. Não tinha como voltar pra trás. Apenas continuar.

—Hans. O que ele pretende conseguir machucando a mim e a Anna? Eu não entendo. Não entendo sequer porque você está aqui. – Suas mãos voltaram-se ao meio num movimento comum de nervosismo. Elsa sabia que sua voz tremia e ela parecia implorar, mas Merida parecia ser um pouco mais compreensível que Hans e isso ela esperava que fosse verdadeiro. -Nós não fizemos nada. Não roubamos dinheiro, não destruimos a vida de ninguém, nem sabotamos ninguém para ter o que temos. Se eu e Anna somos ricas, isso é por causa de nossos pais que trabalharam duro. Por favor, entenda que se vocês querem justiça tentem isso de uma maneira justa. Há leis nesse país e uma corte. Por isso não machuquem nossa família, por favor.

Quando Elsa terminou ela viu o olhar de confusão nos olhos de Merida como se aquilo fosse a primeira vez que ela estivesse ouvindo algo parecido. Ela estava chocada por ver Elsa pedindo nervosa por um favor? Nervosa por ter sido descoberta em flagra graças ao irmão? Ou.... Ou ela simplesmente não fazia ideia do que estava acontecendo?

—Meu irmão quis te machucar? – perguntou Merida espantada.

Elsa não sabia que estava acontecendo e antes que pudesse responder, ela assustou-se com o movimento bruto e súbido de Merida abrindo a porta.

—O QUE DIABOS AQUELE RETARDADO PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?!

—Pare! Aonde você vai? –disse Elsa levantando a voz.

Merida olhou-a incrédula, mas voltou a se sentar e fechou a porta. Elsa viu que a ruiva tentou ver se o motorista estava no carro e ao notar que Julius estava lá fora virou para a meia-irmã séria, mas determinada.

—Hans tem agido estranho nos últimos meses. Ele sempre parece sério quando fala sobre vocês e Filipe, principalmente, Filipe. Eu não sei. Ele nunca me fala nada, mas sempre olha enfurecido quando o assunto são os Mendes. Nem nossa mãe consegue acalmá-lo.

—Por...Por que está me contando isso? – disse Elsa confusa. Por que Merida estava desmascarando o irmão se ele era seu aliado?

Merida abriu um pequeno sorriso triste e respondeu olhando para o chão:

—Porque eu sei quem é Hans. Eu vivi dez anos com ele desde que fomos adotados e nunca o vi tão... tão... eu não sei... perturbado. – O sorriso desapareceu e agora a ruiva conversava olhando fixamente para Elsa como se a estivesse estudando. – Ele tem ficado estranho o tempo todo agora. Dizendo coisas estranhas que eu jamais pensaria que ele diria. Dando carona para sua irmã. Eu implorei umas duzentas vezes para conseguir fazê-lo me levar para um supermercado naquela moto. E foi só essa vez. Ele não é o irmão que eu conheço e por isso eu me afastei tanto dele.

Elsa olhou incrédula para Merida. Não fazia ideia de que Hans poderia por dentro ser uma boa pessoa. A maneira como aquela menina ruiva da mesma idade de Anna falava sobre ele era cheia de compaixão e carinho, um amor fraterno que Elsa em seu passado compartilhara mais publicamente com Anna. Então por que.... por que ele estava tão mudado?

—Você quer dizer.... que não sabe o que se trata todo o plano dele? – perguntou Elsa surpresa. – Nem sua mãe? Ela não sabe que Hans fica assim quando o assunto é meu pai?

Merida deu de ombros.

—Eu não sei. E duvido que nossa mãe também saiba. Ela vive com a cabeça nas nuvens sonhando acordada e raramente nota algo. Além disso, o trabalho a consome desde que ela foi rebaixada a psicologa e médica de idosos. O nome cirurgiã é ainda quando ela estava no ínicio da carreira, mas Hans sempre a convence de usá-lo. Nunca entendi como ela conseguiu conhecer seu pai, mas pelo visto tem um dedo de Hans ai também.

—Você acha que ele a forçou a casar com meu pai?

—Eu acho que ele criou toda a cena para apresentá-los. E pelo visto não foi por amor a nossa mãe.

Elsa não conseguia compreender aquilo. Por que Hans iria tão longe ao ponto de fazer até a própria mãe se envolver inconscientemente em um esquema tão doentio? Agora ela sabia que se o que Merida dissera fosse verdade, o alvo principal não era ela ou Anna, mas sim Filipe. Alguma coisa fizera Hans odiá-lo ao ponto de querer se vingar. Ela só não conseguia pensar no que. Era tão confuso tudo aquilo. Tão estranho.

A porta novamente se abre e Hans e Anna entram sorrindo no carro. O rapaz nota o olhar enraivecido de Merida e finge não entender. A meia-irmã de Elsa cruza os braços e olha para Elsa.

—Foi bom conversar com você, Elsa. Espero que você saiba que meu irmão é tão irritante como parece.

—Awn, vocês estavam falando de mim. –disse Hans com um som que saira mais falso do que a Rainha de Gelo jamais imaginara.

—Espero que Elsa não tenha contado sobre a vez que eu cai em frente ao escorregador. – riu Anna. - Foi tão constrangedor e engraçado. Foi em um domingo e....

Enquanto a caçula continuava a contar e rir, Elsa olhou para Hans friamente com as pernas cruzadas, mas tudo o que conseguiu de resposta foi um sorriso e um aceno do meio-irmão. Ele estava tentando enganá-la novamente. Mas aquilo não adiantava mais. Ela acreditava nas palavras de Merida e sabia do perigo que ela e Anna corriam em confiar em Hans. Por trás dos olhos verdes, Elsa ainda via a chama de ódio que o rapaz tinha e sabia que ela não se apagaria tão rápido como fizera em algumas ocasiões. Pela primeira vez, a Rainha de Gelo viu que estava, assim como Hans, brincando com fogo, mas que naquela partida, apenas um poderia sair queimado. E Elsa, com certeza, faria de tudo para não ser ela.


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Notas finais do capítulo

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