Hollow Spirit - Tudo termina onde começou escrita por SEPTACORE


Capítulo 8
Saí de Nárnia, desculpa sociedade.


Notas iniciais do capítulo

Depois de ficar até as 4 da manhã escrevendo esse cap, ele saiu mais cedo do que imaginávamos djealdjeka mas é isso ai, ele está mto



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– Até a esquina, que tal? – Era primavera, tá, mas quem disse que eu não poderia apostar uma corrida com a minha melhor amiga? Tecnicamente, minha melhor cavala amiga, já que, ela consegue ser pior do que eu há alguns anos atrás. Eu posso ter mudado um pouco, talvez eu tenha melhorado, mas a saudade dentro de mim continua a mesma. Eu posso estar prestes há fazer dezessete anos, mas eu tenho um coração de criança de cinco anos. – Vai, Chatonilda.

– Ah, toma vergonha na cara, Matheus. – Ela só me chamava de Matheus quando a coisa estava realmente séria. – Você tem quase dezessete anos na cara, eu tenho cara de quem tem disposição de correr? – Ela posiciona a mochila nos dois braços. – É... Eu tenho. – Ela saiu correndo, ela era do tipo trapaceira e chata, e eu realmente não conseguia alcançá-la. Mas como ultrapassar uma trapaceira?

– Além de chatonilda ainda é uma trapaceira. – Digo ofegante chegando até a esquina onde ela estava parada me encarando com uma cara de deboche.

– Eu só não vacilo, chatonildo. – Ela pega a mochila e se vira.

– TÁ ME CHAMANDO DE VACILÃO, É ISSO?! – Digo e ela ri. Era meio difícil a fazer sorrir, estávamos passando em um momento meio que de crise. Eu estava com muitas saudades do orfanato e tudo que me cercava trazia lembranças. E por mais que eu tentasse lidar com isso, eu não conseguia. E eu me recorria a Bah, mas ela também não está muito bem. – Ela mora sozinha com a mãe e a irmã, e ultimamente elas andam brigando muito, e quando tento ajudá-la sempre acabo recebendo patadas. Mas eu não consigo desistir. E nem pretendo. – É meio como se fosse uma metáfora, a Bah seria o pássaro e a trancam na gaiola, mas pensam que ela sempre vai cantar na mesma intensidade, mas nunca é assim.

– Você é um vacilão, que tipo de pessoa tira zero em uma prova fácil dessas? – Ela diz se referindo a prova de história. Eu realmente fui um babaca, mas eu não estudei e faltei no dia da explicação.

– Eu.

– Você deveria passar mais tempo estudando invés de ficar fazendo esses planos o dia todo. – Eu odeio que Barbara toque nesse assunto. Esses planos são minha vida, eu não poderia simplesmente desistir.

– Na última vez em que tocamos nesse assunto não foi nada agradável, você se lembra? – Digo fazendo a relembrar a única briga que tivemos, ficamos uns dias sem nos falarmos, mas não aguentamos.

– Eu toco no assunto que for do meu interesse. E eu estou tentando falar com você sobre isso há tempos.

– Só que isso não vai acontecer, Barbara. – Eu estava ficando com raiva e isso não era certo.

– Ok, Matheus. – Ela diz pegando sua mochila e dando as costas. Ela morava cinco casas da minha e não dava para não acompanhá-la. – Para de me seguir, eu não quero a sua companhia. Você não confia na sua melhor amiga, vai confiar em quem? – Ela deu as costas sem ao menos esperar uma resposta.

Hollow Spirit era uma cidade muito monótona, para mim. Todas as casas eram iguais e os parques sempre eram ocupados pelas mesmas pessoas. Eu mudei de caminho dessa vez e fui pelo centro. O centro era a parte mais bonita e diferente de lá, as lojas tinham outdoors brilhantes, e há essa hora, o sol estava se pondo e os outdoors estavam ligados. Era realmente lindo, talvez uma réplica BEM pobre de New York. Michael adoraria vir aqui e ver essa maravilha, talvez seja só falar nele que eu me sinto pior do que já estou. A saudade anda me consumindo de uma forma muito grande, e nada coopera para que eu melhore. Tudo me lembra de Michael, esses outdoors, essas lojas de skate, ele adoraria ver isso. As lojas de rosas, o cheiro forte quando passo ao lado, isso me lembra do cheiro de Naty, como eu sinto falta daquele cheiro. – Estou a quatro anos da minha vida recusando convites de garotas, meus amigos acham que eu sou gay, mas eu só estou à espera da mulher da minha vida. – Ah, e eu não posso esquecer todas essas lojas de brinquedos, as vitrines estão repletas de robôs que me lembram o Megazord de Felipe. Mas se eu consegui viver quatro anos sem eles, eu consigo viver mais, mas é claro que eu não consegui sozinho. Fiz amigos por aqui, amigos que me ajudaram a superar. – Mesmo eu não superando isso nunca. –

Americo é um deles, eu o conheci dias depois de conhecer a Barbara – e mais uma vez me lembrei de que estamos brigados. – Ele é meio safado, meio não, MUITO. É tão nerd quanto eu, mesmo sendo um rebelde, mas segundo a Sra. Devil ele é o mais inteligente da classe. Segundo eu, isso tudo é uma farsa só porque ele tem uma cabeça grande. A vantagem de se estar no 2° ano do ensino médio é que você é conhecido na escola. – Mas na Spirit School as coisas são diferentes. – As piores coisas sempre acontecem para os veteranos. Tecnicamente, os calouros acham que mandam na escola, mas ninguém foi lá pra dizer o contrário á eles, então ficou por isso mesmo.

Quando cheguei a casa e pude abrir a porta, já fui surpreendido por gritos.

– MATHEUS... BLAKE! – Os berros da minha mãe me assustaram de uma forma sinistra.

– Eu estou vivo.

– Você buscou o seu irmão? – Ela disse olhando o relógio. Puts, eu esqueci o Google, como pude? Prevejo-a chamando-me de irresponsável.

– Claro, mãe! – Menti. – Ele foi comprar um sorvete e eu vim deixar a mochila, mas já vou lá buscar ele na sorveteria. – Corri na primeira oportunidade, antes mesmo dela responder. Corri uns cinco quarteirões e quando cheguei á frente da escola dele, lá estava ele, sozinho.

– Demorou. – Ele disse se aproximando.

– E aí, moleque. – Disse passando a mão na cabeça dele e ofegando.

– Você veio correndo? – Ele disse. – Me deixa adivinhar, você esqueceu de me buscar e mentiu pra mamãe.

– Já pode ser cartomante.

– O que é cartomante? – Ele diz. – Como o Google faz falta. – Andamos pelo centro e me olhei no reflexo de um carro, minha testa parecia suja.

– Minha testa está suja? – Perguntei.

– Você pode me emprestar o seu celular? – Ele disse e fiquei confuso.

– Claro. – Entreguei a ele. – Mas, minha testa está suja? – Me aproximo dele e vejo a aba do Google aberta e lá escrito: “A testa do Matheus está suja?” – Você tem algum tipo de problema. – Digo e o empurro para o lado tomando o celular de sua mão.

Andamos alguns quarteirões, eu estava exausto por correr e torcendo para que ele não contasse nada a mamãe. Quando cheguei em casa, Google me olhava com uma cara de psicopata, mas fui surpreendido por um folgado no sofá – Esse folgado era Americo. – Ele era tão folgado que mamãe já haviase acostumado com essa folga.

– Você sempre avisando quando vem pra cá. – Digo com ironia.

– Só tiro a perna se ir ao forró comigo. – Há dias ele está tentando me convencer a sair com ele, mas sei que ele está armando alguma.

– Você não vai desistir mesmo? – Digo sentando. – EU NÃO VOU.

– Você é muito grosso, Sr. Blake. – Ele estava sério. – Só te digo uma coisa, os humilhados serão os exaltados. –Ele diz e dou uma risada.

– Só vou se me prometer que não me empurra pra nenhuma garota. - Digo.

– Eu sei que você não gosta da fruta, não precisa esconder, irmão. Se quiser, acho mais da banana pra você. – Jogo uma almofada nele e me levanto, fui até a cozinha, lá estava a minha guerreira. Que cuidou de mim como ninguém cuidou, e que me deu o melhor nos últimos quatro anos.

Eu não me lembro da minha mãe verdadeira, mas eu gostaria muito de conhecê-la. Eu praticamente nasci no orfanato e não me lembro de absolutamente nada. Mas minha mãe, Deise, foi mais que uma mãe, foi um anjo.

– O pessoal tá vindo pra cá. – Americo diz da sala. – Olá, tia Deise.

– Olá Memerico.

– Que pessoal? – Eu disse.

– Stefani, Triza, Lyn, Sara e Barbara. – Esse era o nosso grupo, somos rodeados de mulheres e sortudos por isso.

Stefani é a anã do grupo, ela é a menor de todas, embora seja uma das mais velhas. Ela é muito legal e sempre me ajuda quando preciso, é melhor amiga de Americo e eu tenho minhas duvidas em quesito: Eles se pegarem. Triza é uma fofa, ela é engraçada e consegue me fazer rir facilmente, mas é tão lenta quanto Lyn. Lyn é tão lerda e às vezes isso irrita a mim e á Barbara. – Por sermos os menos pacientes do grupo. – Tudo devemos explicar á ela, mas ela é legal, apesar disso. E por fim, Sara. Ela é encantadora, é a nossa Portuga do grupo, ela veio de Portugal e seu sotaque é amável, assim como ela. Ela é realmente muito encantadora e eu amo falar isso.

– A Barbara não vai vir.

– Por quê?

– Porque estamos brigados.

– De novo? – Ele diz abrindo a geladeira.

– Pega a geleia. – Digo. – Sim, de novo.

– Ela vai vir mesmo assim. – Ele diz me entregando a geleia.

– Você acha mesmo? Barbara Milk Baptista? Conhecendo ela como EU conheço, ela não põe o pé aqui em casa até eu pedir desculpas.

– E se por, vai ser dando coice em todo mundo. – Concordo rindo e a campainha toca.

– Eu abro. – Mamãe diz e eu termino de fazer os pães.

– Sua mãe me chamou de Memerico. Se quiser me chamar de outra coisa também. – Americo malicia. – Mas falando sério, como eu queria estar no seu lugar quando os lábios dela tocaram sua bochecha.

– Você não tem jeito.

– Concordo. – A voz de Stefani ecoa pela cozinha. – Oi migs. – Ela diz ficando na ponta do pé para alcançar a bochecha de Americo. É engraçado porque ela bate meio que na barriga dele.

–Oi meninas. – Digo vendo que Barbara não apareceu. É... Eu realmente a conheço.

– Ei, o que está fazendo? – Lyn diz.

– Pão com geleia. – Digo rapidamente.

– Que? – Ela diz.

– Pão, sabe Lyn. Aquele que você coloca no forno, ele assa e vira essa maravilha aqui. – Mostro a ela. – E geleia, é uma coisa dos deuses que eu não sei como é preparada.

– Entendi, bocó.

– Vocês homens não conseguem concluir nada que estão a fazer. – Sara diz pegando a bandeja em que eu estava tentando cortar os pães.

– Barbara não quis vim por motivos de: Matheus. – Triza diz curta e grossa e o silêncio pairou.

– Gente vocês são nojentos. – Stefani diz quebrando o silêncio.

– Já está tudo pronto. – Sara diz.

– A comida é o mais importante. – Triza diz.

– Vamos ver o que? – Lyn diz.

– Filme. – Americo ironiza e ela bate nele.

– Harry Potter. – Stefani diz.

– Apóio. – Triza diz devorando os sanduíches. – To indo pra sala.

O resto da tarde fora fria, o vento que vinha do norte estava mais forte do que nunca e trazia consigo uma chuva enorme. Eu não ligava muito pro tempo, já que estava ao lado dos meus amigos, mas eu estava sentindo falta da minha chatonilda, e sessão de filmes sem ela, não é uma sessão de filmes de verdade.

***

Os anos no orfanato passaram rápido, mais rápido do que eu imaginei. Segundo Naty, isso passaria lentamente como os sermões da diretora Gabrielle, mas passou tão rápido que nem vimos. O tempo passou, mas a saudade não. É estranho, eu, Michael Blake, admitir uma coisa dessas, mas eu sinto falta dele, sinto muita falta. É estranho ter aguentado quatro anos longe dele e por isso me sinto um vencedor. Naty também, eu nunca imaginei que ela aguentaria tanto tempo longe dele. Ela está bem, firme e forte. Mas não é a mesma Naty de quatro anos atrás. Aliás, ninguém é o mesmo de quatro anos atrás. As coisas estão diferentes.

Chegaram pessoas novas, pessoas que hoje são essenciais na minha vida, e que me ajudaram, em meio a tanto caos, a tentar ser feliz novamente. – Ana é uma delas, ela foi o motivo da minha felicidade nos últimos dois anos, ela é a garota mais carismática e idiota que já conheci na minha vida, ninguém consegue sorrir de uma maneira tão estranha como ela consegue, e ninguém tem aquele senso de humor ridículo que ela possui, mas que sempre me faz rir. Nenhuma outra garota consegue me prender tanto só com o olhar, como ela faz. E ela consegue ser louca na mesma intensidade que eu, o que é realmente perfeito. No começo, brigamos e nos estranhamos, mas agora eu não me imagino sem ela. – Letícia também chegou. – Ela é legal, consegue me entender e gosta das besteiras que escrevo. – Ela e Luiz estão juntos há alguns meses. Ela não era a garota que ele sempre sonhou, ele nunca foi o garoto que ela imaginou pra ela. Nenhum dos dois é um exemplo a seguir, mas por algum acaso do destinose tornaram perfeitos um para o outro. E eu amo eles juntos, eles batem em uma frequência só deles, e é realmente muito difícil de explicar.

POV NARRADOR.

O saguão estava cheio, estava tudo da mesma forma, os mesmos grupos, as mesmas pessoas e aquilo estava ficando chato para Tico. Ele queria alguém pra conversar, alguém que ele confiasse, mas não havia ninguém. Ele tinha tanta coisa pra falar, tantas ideias, mas era realmente difícil de lidar. Ao andar pelos corredores sem ter pra onde ir, deu de frente com a diretora Gabrielle.

– Olá, Tiago. – Ela sorri. – Posso ajudá-lo?

– Não... – Ele diz e antes que ela voltasse a andar ele fala. –Pensando bem, pode sim.

– O que houve?

– Nada, eu só quero conversar. – Ao chegarem à sala, Tico disse tudo que precisava ser dito, disse como se sentia diferente dos outros garotos e de como ele queria que fosse diferente. Tiago era homossexual, e por medo, não se sentia seguro em falar isso a todos, mas esse medo estava no fim e logo tudo se resolveria. Ao dizer tudo a diretora, fora como um peso perdido. Ele não era um pecador e ele não iria morrer por causa disso, ele era um garoto, como qualquer outro, ele ama da mesma forma que todos amam e isso não muda o fato de nada.

Quando as semanas se sucederam e todos já sabiam de Tiago, ele se sentia bem e livre. Mas segundo Michael, ele não deveria se sentir livre.

– Tico, as pessoas não estão acostumadas com isso, e na maioria das vezes acham estranho. – Michael diz a Tico enquanto estão sentados no saguão.

– Michael, se você soubesse o quanto de garotos do orfanato que vieram falar comigo pela minha, digamos, coragem. – Ele diz. – E como eles têm a vontade de fazer o mesmo, você não estaria falando isso.

– Mas tem gente que não está interessada nisso, Tiago. Você tem que entender que aqui há pessoas que gostam, mas outras que não. Eu não quero falar que eu não quero que você fale sobre namorar pessoas do mesmo sexo, só que esse assunto é muito delicado para alguns, é um assunto novo. – Tiago ficara encabulado com essa de Michael. E ele vira que nada é fácil, a vida terá essa coisa de preconceito por onde você passar, e mesmo que você tente viver sem isso, não é possível. Quando chegara ao quarto, antes mesmo de entrar na porta, ouvira uma conversa.

Tiago beija rapazes. – A voz parecia de Danilo. – Podemos criar uma música.

Tico beija rapazes. – Augusto diz. – Eu prefiro Tico mia na sala, Tico mia no banheiro.

– Vou criar a música e todos vão cantar. – Aquilo fora demais para Tico e quando ele entrou no quarto, os dois o encararam.

– Eu escutei tudo isso, tá? Olha Danilo. Você não tem intimidade nenhuma comigo pra fazer esse tipo de brincadeira. Eu sou como você, cara. Eu amo que nem você, e não é porque eu amo alguém do mesmo sexo que eu vou ser diferente. – Tiago diz, ele realmente estava se sentindo mal.

– Desculpa Tico. Eu achei que...

– Achou errado. – Ele diz friamente e sai em direção ao saguão. A cabeça de Tico estava a mil, ele não conseguia processar nada e nunca imaginaria que seria dessa forma. Ele sempre achava que as pessoas iriam reagir bem a isso, mas pelo visto, parece que não.

Tico estava deitado no saguão, quando Letícia se aproximara dele, as coisas não estavam indo bem para os dois, mas eles poderiam tentar ajudar um ao outro.

– Oi tico. – Ela diz.

– Olá Leti. – Ele diz. – Dia ruim também?

– Péssimo. Mas o que houve?

– Estão reagindo pior do que eu pensei. Danilo queria fazer uma brincadeira de mau gosto comigo. “Tico beija rapazes” e estava pensando em uma música. Sabe... Eu me senti muito zoado. E ainda veio o Michael falar que ninguém está acostumado com isso. – Tico deitara no colo de Letícia e conseguira dizer tudo.

– Existirão algumas pessoas que não estarão acostumadas, Tico. É normal. Mas para alguns, na verdade, para mim, você é único, você é corajoso e forte. Você continua sendo o Tico de sempre e você não mudou nada.


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