Ao abrir a porta da sua nova casa – ou melhor, mansão – Matheus fica boquiaberto com a grandiosidade. As paredes vão de um vermelho vinho á um azul púrpuro, os quadros dourados possuem pessoas e paisagens em seu centro, dando um ar de medieval idade ao seu novo lar. No centro da sala, três poltronas vermelhas acolhem uma mesa cheia de bugigangas. As prateleiras da parede esquerda são de vidro e ficam a uma altura razoável das incríveis janelas que ali estão. Sua atenção volta para a mulher que mais cedo ou tarde, iria chamar de mãe. – Ela era uma mulher muito esbelta, usava um terno vermelho e seus cabelos presos em um penteado.

– Se gostou disso, espere até ver o quarto – diz seu novo pai, que até então o chamava de Sr. Mason. Matheus para, confuso, e começa a observar as coisas ao seu redor. Ainda não acreditando nas coisas que via.

– O que está esperando, querido? - Diz sua nova mãe. Ele se dirige à enorme escada e sobe sem pressa para o segundo andar. Vira em um amplo corredor e entra no quarto cuja porta é azul com bolas de futebol. De acordo com sua lógica, Matheus supôs que aquele talvez não fosse seu quarto, já que, de acordo com os Mason, ele tinha um irmão. Andara mais um pouco e vira outra porta, dessa vez era de madeira e a maçaneta brilhava com ouro. Ao entrar no quarto, fica mais estupefato do que quando chegou à sala. Pra começar, a parede e o teto são decorados com estrelas e foguetes, há prateleiras e prateleiras de brinquedos, televisores e vídeo games. Também há livros e um skate de que Michael ia gostar muito. Michael. Mal chegou a casa e já sente saudades de seu irmão.

– E aí, gostou? – Pergunta seu pai.

Matheus não gosta muito de futebol, nunca ligou para vídeo games e brinquedos, levando em conta que não sabe andar de skate. Se o quarto tivesse livros, mapas e coisas do tipo ele ficaria bem mais satisfeito, porém não pode ser mal agradecido, então mente:

– Claro.

***

No Orfanato de Spooderith, a escuridão tomava conta, e dessa vez, não era o tempo. Michael e Naty não conversavam com ninguém, e não conseguiam expressar o vazio que se encontrava dentro deles. Michael deita em sua cama e olha para o local que antes ficava a cama de Matheus, a qual fora retirada já que ninguém a ocuparia. Embora tenha dado mais espaço no quarto, Michael preferia-o com Matheus.

– Cansei de ficar sem fazer nada, falou. - Diz Felipe, abrindo a porta de seu armário.

– Vai pra Nárnia? - Ri Michael.

– Não, vou atirar pedras com estilingue.

– Você não tem mesmo o que fazer.

– Julia não fala comigo, você espera o que?

– Que peça desculpa a ela? – Michael diz imitando a voz dele.

– Eu não vou pedir.

– Orgulhoso.

– André foi adotado e ela me culpou por isso, você acha mesmo que devo pedir desculpa?

– Sim, ela é mulher, você não entende as mulheres? Elas ainda dão uma chance pra você se desculpar. Ah, eu amo as mulheres. – Michael diz sonhador se jogando na cama.

– Agora eu quero realmente ir pra Nárnia. – Felipe diz se jogando no guarda-roupa fazendo Michael rir.

***

Matheus pode explorar o quarto vendo cada canto e curtindo a imensidão que se encontrava. Seu closet era do tamanho do quarto do orfanato, ele tinha apenas poucos pares de roupas e não ocuparia nem um terço de todo o closet. Ele estava ali, na mansão. Mas seu pensamento estava mais que longe dali e isso foi interrompido por um som alto vindo do quarto ao lado, ele não ligara, mas sua mãe aparecera no quarto o chamando para apresentá-lo ao seu novo irmão.

– Mattheus, esse é o Matheus seu novo irmão. – Matheus fizera uma cara de confuso. Aquilo dera um nó enorme na cabeça de Matheus, ter um irmão com o mesmo nome? Olhara para o lado e lá estava, um garoto com o cabelo castanho claro e os olhos escuros, aparentava ter uns oito anos e se encontrava no computador.

– Olá. – Ele diz sorrindo e se vira ao computador abrindo o Google e escrevendo “Por que o Matheus tem o mesmo nome que o meu?”. De início, Matheus achara aquilo tudo uma loucura. E pensou consigo mesmo que o tal garoto poderia ser um maníaco do Google, mas logo riu de sua atitude.

– Olá, Google.

– Eu e o Google temos uma relação bem antiga, o que você está insinuando? - Mattheus diz se levantando e ficando em frente a Matheus, fazendo uma pose como se fosse bater em Matheus, mas logo depois começou a rir.

– Nada. – Ele ri. – Eu só quero te chamar assim, posso?

– Claro. - Diz ele dando de ombros e voltando ao computador.

***

Felipe estava ansioso, mas não era pra fazer algo, em si. Mas sim porque a pressão de se desculpar com Julia estava sendo cobrada de todos os meninos, não só de Michael.

– Vai lá, aproveita que ela está sozinha. – Danilo diz.

– Só você e ela, ela e você. É o momento certo. – Augusto diz.

– Eu, ela e o Megazord. – Ele diz e engole em seco. – Eu não vou fazer isso.

– Ah, vai. – Luiz diz.

– Você tem duas opções: Ou você pede desculpas ou você pede desculpas. – Michael diz. Felipe pensa, demora um pouco, mas logo cede e se aproxima de Julia com seu fiel Megazord. A mesma fingia estar mexendo no caderno, mas ela estava esperando as desculpas de Felipe fazia um tempo. É... Realmente não dá pra entender as mulheres.

Felipe se aproximou de Julia, se sentando ao seu lado, ela se mexeu só para fingir não notar sua presença.

– Oi Ju! – Sem respostas. – Bem, eu queria pedir desculpas por ter mentido sobre o André pra você. – Sem respostas. – Você não vai responder mesmo?

– O que? Não escutei direito. – Ela diz com ironia.

– Você escutou sim. – Ele diz se levantando. – Bom, eu ao menos tentei. – E saiu com raiva.

– E aí? – Michael diz.

– É por isso que eu gosto apenas do meu Megazord. – Ele sai esbarrando em Michael e os demais garotos. Todos se olharam meio encabulados e foram para o saguão.

– O QUÊ?! – Augusto grita.

– O que foi? – Danilo pergunta.

– Só tem um toddynho. – Ele diz. – E a Julia está se aproximando!

– Olá garotos. – Bruna diz sendo seguida por Isadora.

– Oi Bruna. – Luiz e Danilo dizem juntos. Augusto se aproxima da mesa e pega o toddynho, mas Julia se aproxima.

– Bem, desculpa, mas esse aí é o meu toddynho. – Ela diz.

– Você não vai querer discutir comigo, né? – Ele diz. – Eu sou o Augusto, minha querida. Eu sou o rei do toddynho e não há outro por aqui.

– Ok, rei do toddynho. Mas esse daí é o meu.

– Julia, eu tenho um tamanco plataforma da Azaléia, e olha, eu não to a fim de jogar ele na sua cara. – Ele diz se virando com o toddynho e saindo. Julia ficara com raiva porque estava de olho naquele toddynho desde o inicio da tarde.

***

O dia já estava ficando tedioso lá dentro, por mais que a casa fosse grande, não tinha muita coisa pra fazer, e o que tinha Matheus não se interessava. Decidiu sair no quintal. As casas de Hollow Spirit eram todas iguais e as ruas eram paralelas. Matheus correu pela rua, mas o que ele não percebeu, foi que uma outra pessoa estava vindo de bicicleta. Os dois se chocaram, Matheus saiu voando e ralou o braço, a garota que estava na bicicleta caiu e ralou os joelhos.

– Ai meu Deus, olha por onde anda! – A garota diz se levantando. – Nem com proteção eu me protejo, olha, vou te falar. – Ela olha para ele.

– Oi, desculpa, eu não te vi, eu... Eu... Ai, me perdoa! – Ele se perde em meio às palavras.

– Fique relaxado! Sua morte só será lenta e dolorosa. – Ela diz.

– Meu nome é Matheus. – Ele sorri.

– O meu é Barbara. – Ela sorri de volta. – Você me fez um machucado no joelho, obrigada.

– E você me fez um no braço, obrigado.

– Mas foi você quem se meteu no meio da rua, você me parece cego.

– Nossa, mas você é uma chatonilda mesmo, hein?!

– E você é um chatonildo.