Hollow Spirit - Tudo termina onde começou escrita por SEPTACORE


Capítulo 6
Por que não eu?




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Michael não conseguia achar palavras para descrever o que sentia na hora em que recebera tal notícia. Já se imaginava junto a sua nova família, brincando com seus novos irmãos e uma nova vida ao lado de Matheus. Mas o que ele não sabia é que somente ele seria adotado.

– Isso é um sonho? – Ele pergunta sorrindo.

– Parece, não é? Bem, chega a ser, pois tu serás adotado pela família mais rica de Hollow Spirit. – A diretora disse e os olhos de Michael se arregalaram e sua felicidade acordou os demais garotos presentes no quarto.

– O que houve? – Matheus pergunta.

– Seu irmão! – A diretora exclama. – Ele será adotado. – O sorriso no rosto de Michael desaparecera.

– Espera, o Matheus irá também, né? – Ele pergunta.

– Bem, o casal quer apenas um. – Ela diz consultando a prancheta.

– Então não vou! – Berra Michael. - Ficarei aqui, com meu irmão. E só sairei daqui com ele, você querendo ou não, ele é uma parte de mim. – Completa, abaixando o tom de voz.

– Michael, você queria tanto uma família e agora recusa? É muita ingratidão.

– Eu quero uma família, porém, ao lado do meu irmão.

– Vou fazer o que puder. – A diretora diz e sai rumo à sua sala.

– Aconteceu algo? – Diz Luiz com a voz de sono, seu sono era tão pesado que nem o berro de Michael o acordara.

– Nada demais. – Matheus diz se levantando e catando algumas roupas no chão. O quarto encontrava-se bagunçado como nunca, sujo como nunca e cheio como nunca. Todas as camas que um dia nunca foram preenchidas, hoje estavam cheias. Era até bom ver o dormitório cheio daquela forma, mas se encontrava mais sujo do que nunca. – Ok, chamem os garotos, vamos arrumar isso daqui se vocês quiserem continuar vivendo.

Luiz deita novamente, todavia é acertado por uma almofada em cheio. Michael descera para o saguão atrás dos demais garotos, e logo avistara Augusto, Danilo, Tiago e Felipe.

– Bom dia. – Augusto diz.

– Bom dia. – Danilo diz.

– Bom dia. – Augusto diz novamente.

– Hoje sai às notas. – Tiago diz e suas bochechas ficam mais vermelhas.

– André sai da enfermaria hoje também, ao menos uma notícia boa. – Felipe diz e se senta juntamente com seu Megazord.

– As notas? – Danilo diz.

– Sim, da nossa escola, mas como vocês vieram de outra escola, as notas estarão na nossa escola. À tarde podemos ir lá buscar. – Tiago diz.

– Gente, é o seguinte, o quarto está MUITO sujo. Teremos de nos juntar para arrumá-lo, porque não sei se vocês sabem, mas não tem quem arrume, apenas nós. – Matheus diz.

– Ui, mandão. – Augusto diz.

– É sério. – Michael diz. – Vamos até a sala de limpeza e pegamos o que precisamos, por favor, não façam bagunç... – antes mesmo que Michael pudesse continuar, Augusto e Danilo já se levantaram correndo até a sala de limpeza.

– Você vai mesmo os deixar fazer isso? – Luiz pergunta. – Vão estragar a metade da sala. – Michael corre atrás deles e Matheus avista Naty.

– Bom dia. – Ela sorri e ele se senta ao lado dela. – Como vai? – Math estava pensando em como seria sua vida longe de Naty, agora se arrumara com seu irmão, mas Naty era a dona do seu coração, e ele não suportaria ficar longe dela.

– Ótimo... – Ele diz com a cabeça baixa.

– Há algo que você queira me falar? – Naty diz.

– Não... Na verdade, há sim. – Matheus se vira pra ela e segura sua mão. – Será difícil para mim, mas eu não posso evitar, eu e Michael seremos adotados. – Naty arregalou os olhos. – Não é certo, porque de primeira, somente Michael seria, mas agora talvez sejamos nós dois... Eu te amo muito pra ficar longe de você. – Ele abaixa a cabeça e lágrimas escorrem do rosto de Naty.

– Eu já estava esperando por isso, é de se esperar o tempo todo. – Naty encosta sua cabeça no ombro de Math. – Mas eu não estava preparada pra isso, não agora.

– Nem eu. – Diz Math, abraçando Naty.

A tarde fora fria, e não era o tempo. Matheus amava Naty, e ele só percebera isso agora, tarde demais. Ela era a única que conseguia provocar sentimentos confusos em Matheus, ela sabe como lidar com ele, quais palavras usar, ela sempre sabe e ela tem sido a força, para ele.

Michael pegara todos os pertences, e isso vai de uma luva até um detergente. Poderia ser um esquadrão de limpeza, mas eram só garotos normais. Ao entrarem no quarto, fora como entrar em um chiqueiro.

– Isso tá realmente sujo. – Danilo cata algumas roupas.

– Não tá sentindo? Isso é catinga, catinga pura. – Augusto diz e todos riem.

– Primeiro recolhemos tudo, depois lavamos o chão. – Matheus disse e deu uma vassoura a Augusto, Danilo, Luiz e Michael.

– E o que você vai fazer? – Michael pergunta. – Folgado.

– Eu e Felipe vamos lavar o banheiro.

– Eu, Felipe e o Megazord. – Corrige Felipe.

E assim, eles começam a faxina, houve alguns momentos de palhaçada. Augusto escorregara com tudo batendo sua bunda no chão, enquanto Danilo brincava de voar com sua vassoura, quando toda a sujeira havia sumido e tudo brilhava, eles deitaram na cama com tudo, como se estivessem voltando da guerra.

– Eu já posso casar. – Luiz diz.

– Eu não sinto minha bunda. – Augusto diz.

– Eu não sinto minhas pernas. – Danilo diz.

– Você caiu, eu não.

– Está tudo pronto. Agora nós vamos até a escola buscar nossas notas. – Felipe diz e todos seguem até a escola, as garotas foram liberadas também, e no caminho, Augusto conversava com Julia.

– E você costuma ser grossa desse jeito sempre? – Ele diz.

– Eu só sou grossa com quem merece. – Ela diz.

– Eu não mereço né? – Ele faz uma carinha fofa e ela o encara se virando, fazendo com que Luiz e Felipe dessem risada.

– Eu acho é pouco. – Isadora diz. – Acho que nosso “casamento” pode acabar nesse momento.

– Não! Por favor! – Ele se ajoelha e todos riem, foi como em um filme, mas ele chorava de mentira.

– Vamos, Isa. – Bruna diz. – Augusto é mais rodado que a catraca lá da escola.

Chegando a escola todos pegaram seus boletins, a expressão de Matheus e Michael fora de felicidade, mas a de Augusto fora de derrota. No caminho de volta, Matheus fora andando com Naty.

– Matemática? – Ele diz.

– 9,8.

– 9,9. – Ele diz. – Chora!

– Nossa! Só um décimo, idiota. – Ela sorri. – Inglês?

– 8,9.

– 9,9. – Ela diz. – CHORA! - Ele gargalha e passa sua mão sobre o ombro de Naty. Do outro lado da rua se encontrava Julia, Bruna, Elizangela e Isadora.

– Aquele garoto do outro lado da rua, ele é um grosso, estúpido e idiota. – Julia diz.

– O Math? – Elizangela diz.

– Sim, é tão grosso e estúpido, e eu gosto dele mesmo assim. – Ela diz com a cabeça baixa.

– Você gosta dele? – Bruna pergunta.

– Ele foi um grosso comigo no refeitório e eu não pude deixar de revidar, mas sabe... Eu gosto dele. Não sei por que, mas ele me encanta de uma forma extraordinária. – Ela diz. – Mas acho que é só uma queda, ele namora a Naty.

– Se ele é grosso e estúpido então ele não merece alguém como você. Ele mudou muito, quando digo muito, é muito mesmo. Me disseram que ele mofava no quarto e hoje ele sai e fala com todos.

– Tudo dará certo, é sempre no momento certo, sabe. – Bruna diz. – Eu falo como mais velha, é como se eu fosse a mãe de vocês.

O caminho pareceu longo por causa da conversa, mas os meninos não deixavam de fazer zoeira.

– Você soube do André, né? – Felipe diz. – A diretora disse que ele estava na enfermaria, mas na verdade ela só disse aquilo porque a Julia estava presente.

– Ele não está na enfermaria? – Michael pergunta.

– Ele foi adotado. – Felipe diz e abaixou a cabeça. Ao chegarem ao orfanato, todos foram até o saguão, conversarem, lerem, brincarem. Quando Matheus é chamado na sala da diretora.

– Me chamou, diretora? – Ele diz.

– Sim, sente-se. – Ela diz. – Bom, conversei com os pais, passei sua ficha e a de Michael, tentei convencê-los a adotar os dois, mas eles mudaram de ideia, e querem apenas você. – Os olhos de Matheus arregalaram na maior intensidade possível, seu coração parou por um momento, foi como receber a notícia da morte de alguém. Ele ser adotado e seu irmão não. Como seria daqui pra frente? Como seria ficar longe dele?

– Diretora, por favor.

– Sinto muito, Matheus. Arrume suas coisas. Eles buscarão você mais tarde.

Matheus saíra da sala com o coração batendo mais forte do que nunca. Ele não sabia como iria dar a notícia para Michael e sair na porta rumo à nova família. As coisas não pareciam ser verdade.

Ao chegar ao saguão, Naty veio em sua direção.

– O que aconteceu?

– Eu... Eu... – Ele diz. – Eu fui adotado, eles estão vindo me buscar. – Naty desabou e o abraçou em meio ao choro.

– Eu esperava por isso, você sabe. Eu escrevi algo, leve com você. – Ela estava soluçando e foi até o dormitório enquanto Matheus criava coragem de dar a grande notícia a Michael.

– O que ela queria? – Ele brincava com a ampulheta. – Eu achava que não tinha nada de interessante nessa ampulheta, mas ela te prende.

– É, e eu era o chato da história, né? – Matheus diz. – Bem... Michael, eu vou ser adotado. – A ampulheta cai da mão de Michael e ele o encara.

– Mas, e eu? – Ele diz.

– Ela falou com o casal, mas eles querem apenas um, e escolheram a mim.

Michael estava destruído por dentro, mas as lágrimas não caiam de forma nenhuma, ele ia perder uma parte dele, que era Matheus.

– Vou arrumar minhas coisas. – Matheus saiu rumo ao dormitório, o silêncio continuava a reinar, porém, chegando lá, as lágrimas desceram, desceram com vontade, como se não existissem mais motivos para ele sorrir, realmente não existia. Foi como perder as forças e não saber para onde elas foram. Foi como chegar a um lugar sem saída.

Quando arrumara suas coisas e descera, deu de cara com Naty, seus olhos estavam inchados e trazia consigo um papel.

– É a frase que me resume nesse instante. – Ele pega o papel. – Não leia agora, guarde contigo. – Os dois se sentaram no saguão e Naty colocara a cabeça no ombro de Matheus. Michael estava do outro lado, parecia que a ficha não caía.

– Lembra daquela frase que eu te disse ontem? Que de todas as histórias de amor que eu conheço, a nossa é a favorita porque existe uma amizade mais do que verdadeira? – Matheus assentiu. – Você não vai esquecer isso, vai? – Ela chora novamente.

– Não vou não. – Todo o peso vem sobre Matheus, ele queria chorar, mas não saía nada. Alguns minutos se passaram, ele se despedira de todos os garotos e garotas, a diretora viera chamá-lo com duas palavras que estragaram a sua vida.

– Eles chegaram. – Ela disse. Naty viera juntamente a Michael. Ao chegar lá, um homem alto, loiro, olhos verdes – seria o pai – recebe-o com um sorriso, a mãe, baixa, cabelos ruivos, olhos castanhos sorri ao ver o novo filho. Mas Michael e Naty não podiam ultrapassar a porta.

– Se cuida. – Naty não parava de chorar. – Eu te amo.

– Ei, não chora, sabia que cada vez que você chora uma fadinha morre? – Ele sorri e se aproxima dela. Foi automático, foi como se cada célula do corpo de Matheus e Naty quisessem o mesmo naquele momento, foi uma sensação de finalmente, como se tudo já estivesse resolvido e se o tal clichê de não ver nada a sua volta tivesse acontecido, foi único, quando os lábios de Matheus se tocaram com o de Naty, parecia infinito, e foi quando eles perceberam que já era amor antes de ser. – Eu também te amo. – Matheus olhara para Michael, ele sorria por ver o momento de amor dos dois, mas era um sorriso falso. Ele não estava nem um pouco feliz.

– Se cuida, irmão. – Michael sorria, mas ele queria chorar.

– Logo estarei junto a ti novamente, eu te prometo. – Matheus sorri e abraça seu irmão.

– Vamos? – A diretora diz e Matheus segue a frente, dando oi para os que seriam seus pais daqui pra frente. Quando entrara no carro e vira o orfanato se perder de sua vista ele deixou as lembranças pra trás, como um ano novo.

Ele não sabia, mas o papel que Naty dera a ele havia caído, era o único sinal que ele teria de Naty com ele, mas caiu e agora ele não teria nada. Mal sabia ele que lá havia escrito a frase que resumia a vida de Naty naquele momento.

“Ele foi embora, e isso era uma coisa para qual eu não estaria pronta, nem em 53 dias, nem em 53 anos, nem em 53 séculos.”


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