Hollow Spirit - Tudo termina onde começou escrita por SEPTACORE


Capítulo 4
Você pode confiar em alguém que se suja comendo frango.




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No dia seguinte, Michael acorda antes mesmo de seu despertador tocar. Ele sai da cama e anda pelo quarto escuro, onde seus amigos e Matheus dormem. Abre a cortina e vê que o dia ainda não amanheceu. Resolve se adiantar e tomar banho, antes que os outros acordem e vire um caos. Ele toma um banho longo, pensando nas coisas que ouvira no dia anterior. Tinha a vontade de pegar um travesseiro e sufocar o irmão até que o mesmo morra, mas algo fazia lembrá-lo de que ele se arrependeria.

Resolve se trocar e desce para tomar café antes de todos acordarem. Corre pelos frios corredores do orfanato e, no escuro, acaba esbarrando em uma garota, a mesma garota que ele odiava por alienar o irmão, mas que agora não se importa mais, nem com ela e nem com Matheus.

O que você está fazendo acordado a essa hora? - pergunta Naty.

Não é do seu interesse - responde Michael.

Se está pensando em fugir...

Se eu estivesse pensando em fugir, não seria do seu interesse mesmo assim. A garota respira fundo, prestes a dar uma lição de moral, coisa que Michael detestava.

Olha, pode não parecer, mas eu... - ela começa, mas para de falar após Michael dar as costas e sair andando. Já no quarto, Matheus é o primeiro a tomar banho, se arrumar e etc. Está ajustando a blusa no espelho quando nota a figura de um menino atrás. É André.

Onde está Michael? - pergunta ele.

Não sei e não quero saber; - responde Matheus, amargamente. Ele estaria preocupado se não tivesse visto Michael bater a porta, mas mesmo assim não demonstra qualquer sentimento. E também não dá a mínima pro que os novatos pensam.

Mas ele não é seu irmão? - pergunta André.

Não. Ele não é. - responde Matheus, friamente. Ele sai do quarto, batendo a porta ferozmente.

Ao chegar ao refeitório, Matheus escolhe ficar em uma mesa distante onde uma garota loira come sozinha Essa garota é Julia Ele senta, sem cumprimentar ela ou algo apropriado para fazer quando se encontra alguém. Eles comem, os minutos vão passando, mais crianças vão chegando e ela sem querer derruba a geleia na mesa, fazendo com que olhassem para ela.

Desastrada. Pior que o Michael. - diz Matheus.

Oi? Eu não ouvi direito. Essa é uma frase bem apropriada para quem parece estar casado com uma ampulheta velha. Ela diz.

Ficar com uma ampulheta é melhor do que olhar pra essa sua cara. Matheus diz e percebe que tem mais pessoas olhando. O que foi? Perderam algo?

Se quiser, derrubo isso na sua cara. A mão é minha. A geleia foi entregue em minhas mãos, e não na sua. Se cair, eu limpo, não preciso de babá, e nem preciso de você pra me chamar de desastrada. Julia se levanta e sai. Todos começam a rir e sussurros ecoam pelo refeitório.

Julia 1, Matheus 0. Um garoto sussurra com o outro e começam a rir. O ódio de Matheus só cresce.

Michael descera junto com André e Tiago, como sempre, tomaram seu café e foram a caminho da escola. O dia estava frio e as ruas estavam movimentadas como nunca estiveram antes. Ao passar por uma praça, a mesma praça que Michael passara quando conhecera Felipe, ele avista nada mais nada menos, que o próprio Felipe.

Podem ir à frente. Michael diz a André e Tico, eles assentem e caminham para a escola. Michael vai até onde ele estava sentando, e de fininho se aproxima dele.

E aí, broto de bambu, tudo beleza? Ele fala, ou melhor, grita sentando-se ao lado de Felipe que no mesmo tempo se levanta.

Oi, pare de me chamar assim. Felipe fala secamente.

Ta bom, mas você está mais magro de que antes, precisa comer, hein! Diz Michael .

Se eu tivesse aonde comer, eu comeria, pode ter certeza. Diz Felipe .

Se você vier comigo, você poderá comer tudo que quiser. Fala Michael esperançoso.

Ir para onde? Está louco? Fala Felipe indignado.

Para o Orfanato, lá é um ótimo lugar, e você terá onde morar. Diz Michael.

Não, lá não é um lar, lá é uma prisão, e eu gosto da minha vida aqui. Diz Felipe.

Gosta? Você mal tem onde dormir e comer. Michael fala se levantando.

Eu sou feliz aqui. Felipe fala.

Sim eu sei, mas lá você seria muito mais. Lá você teria amigos. Michael fala

E você acha que eu não sou feliz sem amigos? pergunta Felipe

Não acho nada, só acho que quando temos alguém para confiar, é bem melhor. Michael fala.

Mas eu não preciso confiar em ninguém, as pessoas sempre vão embora, sempre nos decepcionam. Felipe fala voltando a se sentar, e colocando seu Megazord ao lado.

Às vezes temos que aprender a perdoar, e nos perdoar. Michael fala, e pega o Megazord do Felipe, o que por milagre não reclama.

Eu não tenho que perdoar ninguém. Felipe fala olhando para Michael, e no mesmo momento toma o brinquedo da sua mão. Eu já falei para não pegar nele.

Desculpa. Mas Felipe, sabe, eu tenho um irmão, que não é meu irmão. Na verdade é, mas não aceita, ou não quer, só que eu sei que ele não é assim, mas a vida o deixou assim. Michel fala abaixando a cabeça.

Então por que não larga a droga do orfanato e passa a morar na rua assim como eu? Felipe fala, entusiasmado.

Não, eu fiz uma promessa, e vou cumprir ela, e também não quero sair do orfanato, lá eu tenho amigos. Michael fala. E então percebe que já começou a escurecer. Nossa como as horas passaram. Preciso voltar para o orfanato, tem certeza que não quer vir junto? pergunta Michel.

Se eu for para lá, terá frango? Felipe pergunta em um tom irônico.

Frango? Isso e muito mais. Michael fala brincando.

Então eu vou. Fala Felipe. Mas será que vai ter espaço para mim?

Se não tiver, eu te enfio debaixo da cama. - Michael fala.

Será que vai caber? E terá espaço para o Megazord? Fala Felipe, e então os dois começam a rir. Então, vamos?

Partiu. Michael fala, e os dois começam a caminhar em direção ao orfanato.

A lua. Felipe exclama.

O que tem a lua? pergunta Michel curioso.

A lua esta sorrindo para mim. Felipe fala e Michael ri, mesmo achando que Felipe tem algum tipo de problema. Chegando ao orfanato, as consequências seriam severas, já que Michael não foi à aula. Ao chegar com um garoto, que segundo as outras pessoas, era um estranho, Michael foi até a sala da diretora. A mesma estava bufando de raiva.

Eu recebo a notícia de que o senhor não foi à escola. Ela diz colocando a mão na testa. Olha Michael, eu estou tentando fazer com que você fique bem e seja adotado logo, mas você precisa cooperar comigo, por favor.

Diretora, eu encontrei alguém. Ele diz. Ele morava na rua, seu nome é Felipe, ele não come há dias, eu não podia deixá-lo sozinho na rua. A expressão da diretora mudou e mandou chamá-lo.

Onde estão suas coisas? A diretora disse a ele.

Sou só eu. Ele diz. Só eu e o Megazord. Ele sorri.

Em questão de horas, Felipe fora estabilizado no mesmo quarto que Michael.

Não foi tão ruim, foi? Michael diz e ele sorri. Então ambos seguem ao refeitório.

Michael e Felipe chegam ao refeitório, onde várias crianças comiam de tudo. Eles decidem se sentar ao lado de André e Tico, e por mais que Felipe não queira socializar, Michael o obriga.

Oi - dizem André e Tico, ao mesmo tempo.

Olá - responde Michael, mas Felipe resolve ficar calado, e começa a virar o Megazord nas mãos.

É o garoto que chegou? - pergunta André.

Não, sou o garoto que ia chegar semana que vem, mas quis adiantar o trabalho. - Diz Felipe, ironicamente. Ele larga o Megazord e começa a comer frango frito que por sinal, estava delicioso a ponto de Felipe se sujar todo. Fazia tempo que não comia e parecia um porquinho. Os garotos, que comem lasanha, olham estranhos para as mãos sujas de Felipe.

O que foi? Vão falar que não se sujam comendo frango? - Diz Felipe. Eles começam a rir incontrolavelmente, e acabam fazendo o mesmo depois.

Matheus se senta longe de todos. O dia fora o pior dia do mês para ele, tirou nota baixa em matemática, brigou com uma garota e Naty havia sumido o dia inteiro. Mas logo ela aparece se sentando á sua frente.

Oi. Ela diz.

Oi? Ele pergunta. Você sumiu o dia inteiro, você sabe que você á ÚNICA nesse lugar que eu quero por perto. E você some, quer dizer que, posso te excluir dessa lista que só tem você?

Eu estava estudando, Math. Ela diz. Me desculpa, mas as provas estão chegando, e... Matheus estava tão desesperado, mas não demonstrava. Ele continuava aquele garoto frio e que não precisa de ninguém, mas por dentro estava precisando de alguém ao seu lado, alguém que cuide dele, mas ele era orgulhoso demais para admitir isso.

Quando o banquete acabou, Matheus e Naty sentaram no saguão, e como sempre, Math deitara no colo de Naty.

Sabe, eu amo ficar assim, com você. Naty disse. Mas você precisa se abrir comigo. Eu sou mais que uma amiga pra você.

Naty, eu estou sempre precisando de consolo, eu só não demonstro, mas eu sou orgulhoso demais para pedir consolo. A única pessoa que eu sei que pode me consolar é você. Eu costumo me sentir fraco, e com frequência deixo de atender as minhas expectativas. Eu sou grosso o tempo todo, eu vou continuar assim, as pessoas me aceitando ou não, esse é o Matheus.

Eu continuo amando esse Matheus. Naty diz e Matheus sorri.

A noite correra bem, Matheus estava bem, o que não acontecia em dias. E Michael estava feliz por Felipe. Em meio ao caos, quando Michael sentiu a maciez de sua cama, foi como um presente. O dia fora corrido, quando olhara pro lado e vira que o relógio marcava meia noite, ele se lembrou, hoje ele estava completando treze anos.


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Notas finais do capítulo

momento feels com naty e math, scr



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