Hollow Spirit - Tudo termina onde começou escrita por SEPTACORE


Capítulo 22
O desastre de 1970.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/485472/chapter/22

Álvaro e Jay estavam à procura de Letícia desde cedo, e quando a encontraram, não gostaram do que viram. Exatamente em frente ao chafariz, Letícia e Luiz estavam se beijando, e aquilo era demais para Jay.

– Mas o que está acontecendo lá? – pergunta Jay a Álvaro.

– Eles... Eu não creio – responde Álvaro, ele não estava acreditando no que vira.

– Nem eu - diz Jay, e naquele momento, ela sai em direção a eles e ao chegar lá, empurra Luiz para dentro d'água.

– Você é maluca, Jaimara? - diz Luiz, praticamente gritando após se levantar de dentro do chafariz, completamente molhado.

– Talvez, agora se afaste dela, você não a merece, principalmente de tudo que fez a ela – diz Jay.

– Não vou deixar de amá-la por causa do que vocês falam, por favor - retruca-o.

– Luiz, vamos sair daqui. Ignora isso - diz Letícia, tentando puxá-lo para outro canto.

Álvaro e Jay não acreditaram no que presenciaram. Os dois estavam chateados, muito chateados. Eles nunca imaginariam que Letícia faria algo assim com eles. Os dois ficaram no jardim até mais tarde nesse dia, Letícia voltara depois de algumas horas e se aproximara deles.

– Oi – ela diz, sem respostas. – Vocês podem me responder? – ela diz, já com raiva.

– Agora você volta, não é?! – Jay diz. – Depois de ficar com o seu namoradinho e deixar os seus amigos de lado, você volta, como se nada tivesse acontecido.

– Como tu és trouxa, Letícia – Álvaro diz. – Sabes o tanto de mal que ele fizestes a ti e ainda continua atrás dele como uma cachorra.

– O fato de vocês não me apoiarem em nada já diz muito – Letícia diz. – Nunca lhes peço nada, mas eu sempre quis ter o apoio de vocês.

– O meu você não vai ter, desculpa – Jay diz. – Por mais que eu seja sua amiga, eu quero teu bem. E ele não é o seu bem.

– Eu nem sou mais seu amigo – Álvaro diz. – Estou muito magoado, muito. Eu não quero mais ver você – ele se levanta. Jay, por um momento, pensou em ficar, mas logo se juntou a ele.

– Você me decepcionou – Jay diz e os dois saem. Letícia, por um momento, se sentiu sem chão, vendo dois dos seus três melhores amigos indo embora.

– Você vai sentir falta dela? – Jay diz, quando estavam chegando à frente da porta da Eruptidus.

– Mesmo que eu sinta falta dela, não vou admitir porque ela não merece que eu admita – mente Álvaro.

***

– Então acabou? – Luiz pergunta.

– Não existe mais “eu e você” há tempos – Letícia diz.

– Nada dura pra sempre, nada – ele diz.

– Nós dois somos a prova viva – Letícia dá um sorriso irônico, e sai.

***

André abre os olhos calmamente. Está deitado em sua cama, no dormitório 013 da irmandade Dazer. João Coelho ronca na cama ao lado e a cama que deveria estar ocupada por Felipe, está desocupada. Vai ver o amigo ainda não dormiu, ou dormiu em outro lugar.

Os raios de sol não penetram no quarto por conta da pesada cortina preta, e André agradece por isso.

Ele nota uma anormalidade no quarto: a quarta cama, que deveria estar desocupada, tem malas e mochilas cheias de roupas e pertences. André ficou louco pra saber quem é o novo colega de quarto, então resolve descer para procurá-lo.

Ao chegar à sala, encontra o de todo sábado: uma zona, com garrafas vazias, pizza na janela e coisas fora do lugar. Há dessa uma pessoa dormindo: é o Fê, que está deitado no sofá com uma faca pequena na mão. Como ela foi parar lá? André não sabe e não quer saber.

Ele ouve passos no corredor. Olha pra trás e vê sua irmã, Ana, toda descabelada.

– Você está horrorosa - diz André.

– Bom dia pra você também - responde ela.

– Bom dia - diz um garoto aparecendo na porta da cozinha.

Ana arruma seu cabelo enquanto o garoto loiro que usava um boné vermelho com a inicial "M" sorri.

– Meu nome é Max - diz ele. - Sou novo aqui.

– Percebi. Sou André, um dos seus colegas de quarto.

– Sou Ana. Sai da frente que estou com fome.

Ele dá passagem pra Ana, que vai direto à geladeira.

– Ela é assim com todos os novatos, não se sinta especial - diz André.

– É. Gostei da recepção.

– Arre, a pizza acabou - Ana retorna da cozinha. - Acho melhor começarmos a arrumar, o reitor vai vir aqui agora à tarde.

– Ok - diz André. - Vou acordar o povo.

André sobe, e Ana fica na companhia de Max e Felipe.

– Não é melhor acordá-lo? - diz Max.

– Boa sorte - diz Ana.

Max pega um copo de água sobre a mesa e atira no rosto de Felipe.

Em uma fração de segundo, a faca que estava na mão de Felipe passa raspando por Max e fixa na parede.

– Você baba enquanto dorme - ri Ana, enquanto Felipe estrala o pescoço.

– Perdeu a noção do perigo? - diz ele para Max. - Não se pode acordar alunos da Dazer. Principalmente se for com água e se um deles estiver com uma faca.

– Desculpa. Prazer, Max.

– É... Tanto faz. Vou para o meu quarto - Felipe anda em direção à escada. - Já volto para ajudar, Aninha.

– Ok. Corra se quiser tomar banho, pois André vai chamar geral - diz ela.

– Não preciso. Já tomei.

Ele desaparece na escuridão da escada, enquanto seus passos fazem os degraus de madeira ranger.

***

Todo atrapalhado e carregando apenas cinco malas, Beto anda lentamente em direção à irmandade Vebnus, na qual escolheu para ficar.

Ele vê uma estrela e um óculos há mais ou menos 200 metros de distância, e já não aguenta mais andar.

– Ei, precisa de ajuda? – pergunta uma garota alta e de pele bronzeada, com olhos grandes e cabelos negros.

– Por favor.

Ela pega duas de suas malas, e Beto sente um alívio ao andar mais rápido.

– Me chamo Roberto - diz ele -, mas me chame de Beto.

– Me chamo Linna. Mas pode me chamar de Lyn.

– Ok, Lyn.

Eles chegam rapidamente à irmandade, e Beto fica surpreso ao saber que Lyn também pertence a esse lugar.

– Bem, vamos entrar - diz ela.

Beto a segue e ao entrar, se depara com uma sala típica daquelas de filme. Estava vazia, a não ser por uma menina de cabelos cacheados e óculos desenhando no sofá.

– Beto, essa é a Vick. Vick, esse é o Beto - diz Lyn -, aluno novo.

– Olá - diz ela -, seja bem vindo.

– Obrigado.

– Vick, pode ajudar o Beto a levar as coisas lá para cima? Preciso sair.

– Claro - diz ela, pegando a bagagem e guiando Beto pela casa.

Lyn deixa a casa, andando apressadamente, pois deve estar atrasada. Ela marcou de se encontrar com alguém no galpão abandonado. Esse alguém era Jean, seu atual namorado.

– Saudades de você - diz Jean, beijando Lyn, assim que eles se encontram.

– É. Também estive.

Eles se beijam por um tempo, depois Lyn se afasta pra dizer:

– As coisas não estão bem por aqui. Há pessoas brigando sem parar. Como está sua universidade?

– Nada bem. Roubaram nosso pato, que era nosso mascote e amuleto dos jogos, e agora fomos eliminados. Todos estão arrasados.

Lyn percebe algo estranho quando Jean menciona a palavra "pato". Ela tem certeza de que ouviu algo sobre roubar um pato nessas semanas.

– Ah, quase me esqueci - diz ela -, uma das irmandades está organizando uma festa, e ficarei feliz se você for.

– Sim, eu venho.

– É festa a fantasia. Não precisa de nada exagerado.

– Ok.

Ela o beija, e depois se afasta devagar.

– Preciso ir agora, então te vejo amanhã às 21h em ponto aqui.

– Estarei esperando.

Ela vira as costas e volta apressadamente para a sua irmandade.

***

– Brasil e Croácia – Jay diz.

– Aí, porra – Ana diz. – Brasil na veia, Croácia na cadeia.

– Hahaha, só que não – Lyn diz.

– Brasil, pra que torcer pra isso? – Victor diz.

– É o teu país, animal – Letícia diz.

– E daí?

– E dai que é o teu país, e torcendo pra outro país não muda o fato de você ser um babaca.

– Hulk podia fazer um gol com a bunda, seria memorável – Ingrid diz.

O jogo começou, de um lado, torcendo pelo Brasil, estava: Felipe, Letícia, Ana, Jay, Barbara, Paulo e Ingrid. Do outro lado, torcendo pela Croácia, estava: Luiz, Linna, Victor e Vitória.

–CHUPA BRASIL – Linna diz. – Vai Croácia.

– Esse povo podia parar com essas vuvuzelas – Vitória diz.

– E enfiarem no cu – Felipe completa.

Depois de alguns minutos, o Brasil já havia feito dois gols.

– CHUPA! – Paulo gritou.

– Eu chupo – Jay diz e começa a ri.

– Eu disse pra vocês! – Barbara diz. – Aqui é Brasil, caralho.

–Vocês sabiam que uma das maiores causas de morte precoce é o vacilo? – Felipe disse se referindo aos brasileiros que estavam torcendo pela Croácia.

– Sim, porque vacilão morre cedo – Letícia e Ana em uníssono.

– Que roubo, você viu aquilo?! Brasileiro é tudo ladrão mesmo – Lyn diz.

– Nossa, falou a americana – Ana diz. – Querida, aceite os fatos. Aceite que o timezinho que você estava torcendo perdeu.

– Querida, se você não viu, o juiz roubou.

– Ah, agora é o juiz?! – Ana diz. – Pelo amor de Deus, não culpe a copa pelo nosso país ser essa merda que ele é.

– Enquanto está tendo copa, os hospitais estão nessas situações.

– Queria mudança? Protestava antes da copa – Lyn se calou.

– Não se faz copa com hospitais – brinca Felipe.

***

Jay estava voltando para o dormitório, quando ela esbarra em alguém.

– Uou, olhe para onde anda Felipe – Jay fala passando a mão no ombro.

– Olha você, não tenho culpa de você estar na minha frente – Felipe retruca.

– Quem esbarrou em mim foi você, se quiser te dou o número da minha oftalmologista.

– Não estou no clima de brigar com pessoas mimadas.

– Vem aqui que eu te mostro quem é mimada, idiota.

– Se eu for você não aguenta.

– Idiota, sai da minha frente – Jay fala tentando ficar do tamanho de Felipe, o que é impossível.

– O corredor é grande, não tem só aqui para passar.

– Mas é aqui que eu quero passar, se você não percebeu.

– Então passe por cima de mim – Felipe fala com cara de sarcasmo.

– Arre, não sei como eu ainda te tolero – Jay fala passando do lado de Felipe lhe dando uma ombreada.

– Sabia que não ia aguentar – Felipe fala e Jay apenas o olha com um olhar mortal – Eu sou foda – ele cochicha só para ele. E sai com um largo sorriso nos lábios.

***

– Ok, gente, todos reunidos. Eu sei que vocês são de outras irmandades, mas o que eu vou falar aqui é coletivo, então prestem atenção, caso contrário, foda-se – Dani diz e todos a olham. – Como poucos sabem, a Dazer está organizando uma festa fantasia...

– Ninguém liga – a voz de Fray vem um pouco atrás.

– Cala a boca – Dani disse e os amigos de Fray vaiaram o mesmo. – Então, falei com uma loja de fantasias e hoje está liberado para todos os alunos alugarem suas fantasias. E, a decoradora está chegando para decorar...

– JURA? – Ana Moreira grita, alguns alunos da Mercure começam a rir, Jay sobe com raiva em cima do palco.

– Aos alunos da Mercure, já que se acham os engraçadinhos, vamos trazer um circo invés de uma festa – Jay disse e o silêncio reinou.

– Bom. Quem quiser ir á festa, aluguem. Tentei ser educada, mas não dá com vocês – Dani diz saindo.

***

Fê estava correndo pra irmandade quando vira uma coisa branca no jardim, ele a pega e logo vê que é uma mascara do Jason e uma ideia para sua fantasia vem à cabeça.

– Você vem, Fê? – Ana pergunta.

– Já tenho roupa, aninha – ele diz.

– Espera, tu foi sem a gente?

– Não, já tenho. Só isso – ele ri marotamente e Ana sai junto com Letícia, Stefani e Jay.

Vários alunos de todas as irmandades foram até a loja naquele dia. A dona da loja ficara muito feliz porque finalmente conseguiria uma boa grana.

– O que tem pra nós? – Stefani pergunta, estava junto com Gabriela e Virgínia.

– Ai! Eu tenho uma linda, pra vocês três! – ela sai correndo entusiasmada. – Vocês três são tão pequeninhas, vai ficar lindo – ela entrega, então, três fantasias de Smurf.

– Smurf? – Virgínia pergunta.

– Vistam! Vistam!

Lá dentro do provador, a roupa coube perfeitamente em Stefani, mesmo ela sendo menor do que Virgínia.

– Ficou grande – Gabriela diz.

– Grande? – gargalha Stefani.

– Não pode ser – Virgínia diz rindo.

– Calem a boca – Gabriela diz. – Só prender um pouco aqui, olha.

– Não dá Gabi. Está muito folgado – Gina diz e as duas caem na gargalhada de novo.

***

– Olá, garotos bonitos – um dos atendentes abordara Tico, Áxel, Arthur, Paulo e Americo.

– Olá, procuramos fantasias – Paulo diz.

– Jura, Paulo? – Tico diz ironicamente.

– Eu quero ir de Batman – Áxel diz.

– Você não é o Batman – Americo diz.

– Sou sim, você nunca me viu no mesmo lugar do que ele – Áxel diz.

– Vou dar uma olhada nas fantasias, eu sou bem chato pra escolher – Paulo diz andando e olhando as fantasias. – OLHA ESSA FANTASIA DE PRISIONEIRO, PRONTO, ESCOLHI.

– Aqui a do Batman – ele diz. – Então, prisioneiro mesmo? E vocês?

– Eu quero ser capitão de alguma coisa – Arthur diz.

– Temos capitão da marinha.

– Nossa, que broxante, cara – Americo diz.

– Eu quero – Arthur diz, não dando a mínima para o que Americo disse.

O atendente fora buscar as fantasias, Tico e Americo ficaram pensando em algo.

– Tico e Teco? – Paulo pergunta rindo.

– Não – Tico diz.

– Vocês são travestis, que tal irem de Janete e Valéria? – Arthur diz.

– Cara, você presta pra alguma coisa – Paulo diz.

– Eu presto pra muitas coisas, se é que você me entende.

– Sai fora.

– Tá me chamando de travesti? No! No! Segura meu poodle, Traveco – Americo diz, os outros gargalham, mas Americo logo pede a fantasia.

***

Jay, Ana e Letícia estavam decidindo suas fantasias, Letícia já havia decidido ir de Cafetão Mulher e Jay de Jasmim.

– Eu vou de Aladim – Alj diz, do fundo.

Ana estava pegando sua fantasia de diaba, quando foi surpreendida por um garoto fantasiado de Freddie.

– 1, 2... Freddie vai te pegar... 3,4... Fecha bem o quarto... 5,6... Segura sua cruz... 7,8... Fique acordado... 9,10... Não durma nenhuma vez – o garoto, que era Athos, canta para Ana.

– Nossa, que medo – ela diz. – O garoto dos meus sonhos.

– Ou de pesadelos – Letícia diz.

– Literalmente – Jay diz.

– Oi, Ana – Athos diz.

– Oi, Athos – ela diz. – Vai de Freddie? Awen, fascinante.

– Sim, e você?

– Diaba – ele se assusta e logo ri.

– Awn, a garota dos meus sonhos.

***

Andriele estava atrás de uma fantasia que condissesse muito com o que ela realmente era chamada, portanto foi atrás de algo como elfo ou gnomo. Andriele, Barbara, Brenda, Bruna, Clara, Erica e Hanna estavam juntas dessa vez e todas estavam procurando suas fantasias. Barbara optou por cowgirl, Brenda por Cleópatra, Bruna por ursa, Clara por palhaça, Erica por Pucca, Hanna por mulher gato.

– Você é literalmente uma palhaça – Hanna diz para Clara.

– E você não é nem um pouco gata – Clara diz.

– Não vamos nos estressar hoje, crianças – Erica diz.

– Tenho a mesma idade que a sua – Hanna diz.

– Vocês prefiram que eu vá de Ternura ou de Animada? – Bruna diz.

– Hã? – Brenda diz.

– Ok, agora fala minha língua – Barbara diz.

– São os ursinhos carinhosos, gente! – Bruna levanta as duas fantasias e indica qual é qual.

– Ternura – Clara e Erica dizem ao mesmo tempo.

– Vai de ternura mesmo – Brenda diz.

– Tudo decidido? – e atendente pergunta.

– Sim.

***

Ingrid encontrara Americo no meio do caminho, ela ainda não havia decidido sua fantasia, mas o rapaz a ajudara a escolher.

– Você quer ficar bonita? – ele pergunta.

– Eu sou bonita – ela diz.

– Não, digo, mais bonita – ele ri. – Vai de Alice no país das maravilhas, porque você é uma maravilha pra mim.

– Nossa, Americo – ela diz rindo. – Eu não preciso de fantasia para ser uma maravilha.

– Não precisa mesmo, mas seja fofa uma vez nessa sua humilde vida.

– Fofa só minha mão na tua cara – ela diz, mesmo assim, pegara a fantasia de Alice.

***

Todos os alunos voltaram para a universidade antes do anoitecer. Alguns Dazers não dormiam de forma alguma, Felipe brincava com a sua fiel faca, Sté chutava o tapete e Ana bebia um pouco de Redbull.

– Redbull te dá asas – Letícia canta quando vê Ana tomando Redbull.

Jay e Alj estavam deitados no sofá, Alj sobre o colo de Jay, mas Jay percebera que Alj estava inquieto.

– O que foi? – ela pergunta.

– Nada – sua perna mexia freneticamente.

– Desembucha Aljarilla – ela diz.

– Ok – ele se levanta. – Gente, eu descobri um porão aqui na Dazer.

– E o que isso tem de ruim? – Dani pergunta.

– Que tal irmos lá? – Bah diz.

– Não sei, é arriscado – Alj diz.

– E por acaso fazemos coisas que não são arriscadas? – Jay diz.

– Vamos lá – Felipe diz. – Por que não disse antes, Alj?

– Sei lá.

– Espera, não podemos ir todos, pode ser uma armadilha ou trote da Mercure – Felipe diz. - Alj vai, eu, Ingrid e Sté.

Os quatro saíram seguindo até o porão. O lugar era escuro, tinha sujeira e teia de aranha por todo o lado. Alguns ratos passaram pelo pé de Ingrid, a mesma não ligou. Stefani iluminava com uma lanterna, e lá do fundo do porão, avistou três caixas.

– Olhem só – ela diz. – Caixas – Alj estava se aproximando.

– Calma, pode ser uma armadilha – Felipe diz.

– A vida é feita de armadilhas, vai deixar de viver por isso? – Alj diz, Felipe o encara, vai até as caixas e pega uma.

– Eu e os meninos pegamos, Sté. Você é menor que a caixa se duvidar – Ingrid diz e pega uma das caixas, Alj faz o mesmo. Os três sobem para o salão em silêncio.

– E então? – Dani diz.

– Um fantasma? – João diz.

– Uma armadilha da Mercure? Espancaram-nos? – Bruno pergunta.

– O que são essas caixas? – Bah pergunta.

– Achamos lá em baixo – Alj diz.

Felipe joga as caixas no chão, perto de Alj.

– Abre ai, machão – ele diz e Alj o encara.

Alj abre e vê várias fotos, redações, várias folhas com datas e coisas que haviam acontecido na mesma. Parecia uma espécie de diário.

– O que foi? – Letícia pergunta.

– Parece uma espécie de diário, sei lá – ele vira a folha. – São anotações, várias delas. Dizendo coisas do tipo, por exemplo, escutem essa.

24 de julho de 1970.

Hoje os alunos da Dazer ultrapassaram o limite da bondade. Em um só dia, eles conseguiram ajudar a arrecadar dez mil reais para o orfanato Armada de Dumbledore, o reitor ficou muito feliz. A Mercure, por um momento, tentou atrapalhar isso, mas eles não sabem que, por mais que eles tentem, a bondade sempre vence.

Emilly Oushen.”

Parece que, a Dazer já foi uma irmandade boa, ou coisa do tipo, olhem essa foto, parece uma aula de educação física, e atrás diz: Aula educativa dada aos menores infratores pelos alunos da Dazer. Gente, será que, éramos tipo a Eruptidus em 1970? – pergunta Bah, mostrando a foto para eles.

– Caralho, sério? – Ana se aproxima. – Mano, como assim? Deixa-me ver – ela leu uma carta. – Gente, escutem essa.

“26 de novembro de 1970.

A festa beneficente, que na verdade, não foi beneficente, acabou em desastre. Os alunos da Mercure, juntamente com aqueles que se dizem zueros da Eruptidus, inventaram de colocar algumas bombas de mentira, assustando a presidente Morroy, a mesma desmaiou. Mas o pior não foi isso! Eles quebraram todos os objetos que seriam leiloados na festa. Eu, como representante da Dazer, nunca vi vergonha pior. Nós sempre fomos um exemplo para todas as irmandades, por que nenhuma delas seguem o nosso exemplo? Obs.: A Vebnus, talvez, siga.

Emilly Oushen”

Acha uma foto dessa Emilly Oushen, por favor – Jay diz.

Alj procura na caixa por alguns minutos, e acha uma foto. A menina era loira, usava uma beca e sorria radiante. Atrás da foto dizia: “Estou formada! Após mudanças drásticas na faculdade, estou formada!”.

Mudanças drásticas? – Stefani pergunta.

– Não sei disso também não – Alj tenta procurar mais sobre a tal mudança drástica, mas não encontra nada.

Dani entrara ofegante, mas uma coisa: ela não estava sozinha.

– O que essa garota está fazendo aqui? – Letícia diz.

– Calma, gente. A Lais pode nos ajudar – Dani explica.

– Pode nos ajudar o caralho – Letícia, que não gostava de Lais, protestava.

– Calma, Leti – Ana diz. – Por que a trouxe aqui, Dani?

– Porque ela sabe a história da Dazer.– Dani diz.

– Sabe?

– Sei – Lais diz, sua voz irritante ecoa pelo salão.

– Diz logo porque não sei se vou aguentar sua voz por muito tempo – Letícia diz.

– Leti! – Jay e Stefani dizem ao mesmo tempo.

– Ok, não sei como vocês encontraram isso, mas era algo confidencial e nunca deveria ter sido encontrado.

“Essas caixas estavam guardadas no porão da Dazer desde 1974, quando Emilly Oushen sofreu um assassinato. Aí vocês se perguntam: o que houve com ela? Ninguém sabe. A reviravolta veio por ai, vários alunos, depois da morte de Emilly, tornaram a Dazer a pior irmandade. Alguns alunos, na época, achavam que tudo havia sido culpa do povo da Mercure. Que na época, era como se fossem os Dazers hoje. Emilly foi encontrada morta no banheiro do 3° andar.”

– Mas não há banheiro no terceiro andar – Bruno diz.

– Não há mais! Eles fecharam para sempre o banheiro. Quem iria querer ir a um banheiro que uma garota foi morta?

– Eu – Ana diz. – Seria louco.

– Como ela foi encontrada morta?

– Ela foi brutalmente assassinada sabe-se lá pelo que ou por quem. A mesma foi mutilada e sua cabeça foi encontrada dentro do vaso.

– CANIBAIS, MAL POSSO VER SEUS MOVIMENTOS – Alj diz.

– Todos ficaram horrorizados na época, em 1970 ninguém nunca havia imaginado uma morte dessa forma. Ainda mais em uma universidade tão popular como essa. A universidade de Hollow Spirit esconde muitas coisas, principalmente a sua história. Na época, a universidade faliu. Todos os pais tiraram os filhos e colocaram na universidade vizinha.

– Mas tem uma foto dela se formando, Laís – Alj diz. – Quando você se forma, vai embora da universidade, não é?

– Sim, Aljarilla. Foi exatamente no dia em que ela se formou. Depois da cerimônia, foi à festa. Todos comemoravam e Emilly foi ao banheiro. Dizem que, Emilly, tinha uma só amiga. Mas ninguém sabe quem foi essa amiga. Ela não voltou, desde então.

– Então quer dizer que a Dazer virou o que é hoje por causa de um assassinato? – Bah pergunta.

– Tecnicamente, como eu disse, foi mais uma revolta por causa do assassinato.

– Cara, eu nunca imaginei a Dazer sendo Eruptidus ou Vebnus – Stefani diz.

– Nem eu – Fê pergunta. – Naquela época, eles tinham facas? – ele pergunta entusiasmado.

– Não, Felipe – Laís diz e ri.

– Espera! Como tu sabe de tudo isso?- Ana pergunta.

– Minha avó estudou aqui. Ela era conhecida da Emilly Oushen. Foi quem a encontrou morta.

– Seria legal conversar com ela – Dani diz.

– Minha avó não bate muito bem da cabeça. Depois do acidente ela piorou. Deixou a faculdade e foi para um internato, lá conheceu o meu avô, e ele a convenceu que não era louca. Tiveram a minha mãe, mas minha avó piorou de novo e dessa vez, foi pra um asilo. Onde ela vive até hoje. Caso queiram a visitar, é o asilo Hollow Spirit.

– Tudo se chama Hollow Spirit nesse lugar? – Jay pergunta.

– Ela vai estranhar um pouco no início, principalmente quando vocês falarem que estudam aqui. Ela vai ter um tipo de dejavu, mas ela é uma boa pessoa.

– Obrigada, Laís – Dani diz. Laís sorri e sege para a porta da irmandade.

– Espera Laís. Atrás dessa foto diz que a universidade sofreu mudanças drásticas, que mudanças foram essas?– Ana pergunta.

– Ah, na época receberam novos alunos. Foi ai que começaram a mudança. A Eruptidus na época era tipo a Mercure. E ela começou a receber alunos inteligentes. A Mercure era tipo a Vebnus e começou a receber alunos zueros e brincalhões. A Vebnus era tipo a Mercure e recebeu novos alunos bonitos e amorosos. A Dazer, vocês já sabem... Bem, a única que não havia mudado era a Dazer, e depois do que houve, ela mudou.

– Obrigada novamente – Dani diz e Laís sai do salão.

– Podíamos investigar isso – Felipe diz.

– Sherlock Holmes – Ana diz.

– É sério, Aninha – ele diz. – Encontrar o assassino de Emilly Oushen. Esse nome até parece aqueles de filme de terror.

– Seria legal encontrar, mas já estamos em 2014. Faz mais de 40 anos, o assassino já deve ser um velho gagá – Bah diz.

– Ou, será que ela se suicidou? – Stefani diz.

– Claro, ela se suicidou e depois jogou a cabeça no vaso – Jay diz. – Achei que por você ser pequena, você seria inteligente, rata.

– Sai daqui – ela diz a empurrando. – Foi só um palpite.

– Existem vários palpites – Dani diz. – Queria muito descobrir, mesmo. Mas como a Bah disse...

– Não escutem a Bah – Ana diz. – Se formos até o asilo, quem sabe a velha lá tem informações que ela nunca disse pra neta dela.

– Mas ela é doida, Ana. Vai que ela te ataca – Bruno diz.

– Eu sei – ela diz –, mas algo me diz que aquela velha sabe de algo.

Felipe toma toda a atenção quando tira um facão de dentro da almofada.

– Que isso? – Ana diz.

– É uma faca de cortar cana. Peguei na cozinha. Faz parte da minha fantasia.

– Vai cortar cana, é? – Letícia diz.

– Claro, ou você acha que a cana é a Demi Lovato pra se cortar sozinha? – ele diz e todos caem na gargalhada.

***

Todos já haviam subido, mas Ana e Barbara não estavam com nem um pingo de sono. As duas estavam pensativas, e não conseguiam se concentrar em nada.

– Sabe, eu nunca pensei que sentiria falta dele – Ana diz.

– Eu também sinto falta do meu – Bah diz. – Um pouquinho a cada segundo.

– Eu achei que iria superar fácil... Mas é bem mais difícil do que eu pensei.

– A vida é assim, uns vão, outros ficam – Bah disse e Ana abaixou a cabeça, uma lágrima caíra dos seus olhos.

– Mas por que ele não pôde ficar? – ela pergunta. – Eu nunca imaginei que, eu, Ana Luisa, estaria chorando desse jeito.

– Ninguém é de ferro, você pode ser a durona, mas existe um coração mole ai dentro.

– Não existe não.

– Existe sim, cavala – Bah diz. – Se existe em mim, por que não em você?

– Bah, você estuda psicologia, é mais fácil pra você aconselhar alguém, eu não sei fazer nada disso. Eu simplesmente dou um foda-se pra tudo – Ana diz. – E eu ainda não acredito que ele me deixou.

– “Aquele que nos amam nunca nos deixam de verdade”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hollow Spirit - Tudo termina onde começou" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.