- Recomeçando escrita por HungerGames


Capítulo 13
Capítulo 13




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/483119/chapter/13

Os segundos que nós ficamos nos encarando parece se paralisar, ele se mantém na nossa frente e seu olhar não desvia da Katniss, enquanto ela me olha nervosa.
– Não me diga que eu perdi a festa? - a voz alta e animada que me faz desviar atenção dele, Johanna entra e vem em nossa direção, ela está em um vestido vermelho curto realmente chamativo, ela chega até nós– Reunião? - ela pergunta já entrando no nosso meio, ninguém responde apenas olhares são trocados novamente – Katniss Everdeen! - ela fala se virando pra Katniss mas dessa vez diferente das outras ela parece mais simpática – E então? Quais as novidades? - ela pergunta enquanto olha para ela de cima a baixo.
– Nenhuma! - Katniss responde com a voz baixa.
– Ah qual é, em um ano nada aconteceu? Não acredito! - ela reclama e da as costas para Katniss – E você garotão? Vai abrir o jogo? - ela pergunta sorrindo maliciosamente.
– Não tem nada pra contar! - eu afirmo e ela faz uma careta.
– Caçador... O tempo te fez bem! Aliás depois desses dois - ela fala nos indicando com a cabeça – Você é a grande sensação do momento! - ela fala enquanto passa a mão pelo braço dele, ele sorri.
– Vocês vão ficar em pé ai até quando? - a voz do Haymitch nos alcança.
– Eu preciso falar com você! - Gale avisa a Katniss antes de se virar e sair junto com Johanna, Katniss me olha assustada, eu puxo sua cadeira e ela se senta, eu também me sento dessa vez ao lado do Haymitch e tenho que segurar minha vontade de explodir aqui mesmo, quem ele pensa que é pra aparecer depois desse tempo e agir como se nada tivesse acontecido? Ele não tem esse direito, ele não pode me tirar ela agora, não depois do que nós começamos a criar juntos, eu percebo o olhar dela em mim e a olho de volta, ela ainda está preocupada mas tenta parecer normal, talvez se eu não a conhecesse tão bem eu acreditaria, ela coloca a mão dela sobre a minha e dá um leve aperto, eu forço um sorriso. Novas conversas se iniciam, pessoas das quais eu já nem me lembro o nome nos colocam em todos os assuntos possíveis, nós respondemos fingindo o mínimo de interesse possível, mas ninguém parece notar ou se importar com isso, os pratos começam a ser servidos e o próprio Cheff vem anunciar que o prato principal será em homenagem a Katniss, cozido de carneiro, risos e comemorações são feitas mas nem mesmo essa notícia conseguiu desfazer o humor preocupado dela, a comida estava realmente muito boa mas eu apenas comi por obrigação, não consigo esquecer o fato que Gale esta aqui nos olhando e que já deixou claro que quer conversar com a Katniss, pelo visto ela também não consegue esquecer isso já que por duas vezes eu a vi olhando na direção dele, ela logo disfarçou mas eu vi. Depois que a sobremesa é servida o clima de descontração aumenta ainda mais, pessoas que já se conhecem riem umas com as outras, uma música começa a tocar no fundo e aqueles que não se envergonham ou já estão bêbados demais se levantam e começam a dançar no meio do restaurante, Haymitch finalmente não conseguiu se segurar e já está com uma garrafa de vinho só pra ele, mas não posso negar que ele realmente tentou se segurar durante o jantar, Effie aparece animada como sempre.
– Vocês estão muito quietos! - ela recrimina a mim e a Katniss.
– Nós viajamos por doze horas! - eu relembro mas não é o suficiente para convencê-la.
– Será que a gente pode ir embora? - Katniss pergunta sem tentar esconder seu desânimo.
– Mas já? - Effie parece decepcionada.
– Vamos! Você dança comigo - Johanna aparece me puxando.
– Não, não! Eu tô bem aqui! - eu tento me soltar dela, ela coloca as mãos na cintura e me encara.
– Eu não saio daqui até você se levantar - ela anuncia.
– Ela não vai desistir, eu espero aqui com a Effie! Vai logo, por que eu quero ir embora! - Katniss fala depois de lançar um olhar para Johanna – apenas uma dança! Você tem cinco minutos! - ela fala com a voz firme e por trás do cansaço ela parece com certo ciúmes também, eu me levanto e Johanna encaixa o braço no meu, a música não é lenta mas também não muito rápida, graça a algumas coisas que Effie nos ensinou eu consigo não ficar parado, ao contrário de Johanna que parece saber exatamente o que está fazendo, já estava começando a me divertir quando eu olho na direção da Katniss, Gale está parado na frente dela, enquanto Effie ri de alguma coisa que ele diz, Katniss está séria e então Effie sai, deixando eles dois sozinhos, eu me paraliso e mantenho minha atenção neles, Katniss parece falar alguma coisa mas está olhando para outro lado, eles começam o que parece ser uma discussão, eu já estava saindo do meio dessas pessoas e indo até la quando um mão me segurou.
– Melhor você esperar! - Haymitch fala enquanto segura meu braço, eu me viro pra ele.
– Esperar o quê? Ele levar ela? - eu pergunto sem me importar com nada ao redor.
– Relaxa garotão, ele só leva ela se ela quiser ir! - Johanna aparece do meu outro lado e essas palavras que me assustam.
E se ela quiser ir?
Eu volto a olhar pra eles que continuam no mesmo lugar, Gale encosta no braço dela que recua rapidamente,nossos olhares se encontram, Haymitch continua a segurar meu braço mas Johanna já não está por perto, ela me olha nervosa e tenta sair mas ele a segura pelo braço e fala algo, eu tento ir até ela mas Haymitch continua me segurando também.
– Eu não vou deixar você ir lá pra vocês terminarem o que começaram no trem! - ele avisa e eu o olho com raiva, mas não insisto em me soltar por que eu também não quero nenhum escândalo, quando eu olho novamente Katniss já está a poucos passos de mim e Gale continua parado no mesmo lugar olhando para ela.
– Será que a gente pode ir embora? - ela pergunta assim que nos alcança, Haymitch finalmente solta meu braço, eu apenas concordo com a cabeça.
– Você vai com a gente? - eu pergunto pro Haymitch.
– Vou! - ele concorda e nós saímos do que virou uma pista de dança e vamos em direção a saída, Effie aparece.
– Já tem um carro esperando vocês! - ela avisa sorridente.
– Obrigada! Você também vai? - Katniss pergunta e ela concorda, saímos do restaurante e dois carros estão a nossa espera.
– Eu e Haymitch vamos em um, você e Katniss no outro - ela explica como se nós não entendêssemos, eu abro a porta pra Katniss que entra e eu vou logo em seguida, começamos nosso caminho, eu me mantenho olhando pra janela mesmo sentindo o olhar dela em mim, eu não desvio os olhos do lado de fora nem por um segundo, eu sei que ela esperava que eu a olhasse de maneira calma e tranquila mas acontece que eu não estou calmo muito menos tranquilo, eu poderia mentir como eu já fiz outras vezes mas agora eu me dou o direito de pensar em mim primeiro, chegamos ao hotel, eu desço, dou a volta e abro a porta dela, ofereço minha mão apenas por educação, ela aceita e me olha.
– Obrigada! - ela fala com a voz medida, eu balanço levemente a cabeça e evito seu olhar, o carro do Haymitch e da Effie chega.
– Amanhã temos o almoço com a presidente e a noite o programa do Ceasar! - Effie anuncia.
– Você não pode ficar quieta por um minuto? - Haymitch bufa mas é ignorado, chegamos ao andar da Effie e ela sai nos desejando boa noite, dois andares a cima Haymitch sai sem se despedir, ficamos apenas eu e Katniss mudos e afastados, quando a porta do elevador abre eu indico que ela saia primeiro e ela o faz rapidamente, entramos no apartamento e Katniss vai até o sofá e começa a tirar as sandálias.
– Você não falou nada desde o restaurante! - ela fala com voz baixa e receosa.
– Não tinha o que falar - eu digo e passo por ela seguindo o corredor até o quarto, eu entro e tiro o casaco deixando-o pendurado em uma cadeira, tiro meus sapatos e acabo de tirar a blusa quando ela entra no quarto, diferente de outras vezes ela não exita e entra assim mesmo.
– Eu vou tomar banho! - eu anuncio virando as costas e indo para o banheiro.
– Eu não queria falar com ele! - ela fala de forma clara, eu paro no caminho e me viro pra ela.
– Por quê? - eu pergunto e ela parece confusa.
– Como assim por quê? - ela não entende.
– Por quê você não queria falar com ele? - eu faço a pergunta completa e ela ainda parece não entender.
– Peeta eu não tô entendo! Como assim por que? Ele matou minha irmã! - ela fala com rancor na voz.
– Ele...não...matou...a...Prim! - eu falo devagar e alto, ela me encara surpresa – Ele não a matou! Você não pode culpa-lo por algo que ele não fez! - isso parece realmente pegar ela de surpresa, a última coisa que ela esperava era que eu defendesse ele, mas não é o que eu estou fazendo, eu apenas quero deixar as coisas claras– Você tá culpando ele por algo que ele não tem culpa! Todos que sabiam o que ele sente por você sabem que ele jamais faria isso! - eu complemento e ela parece paralisada – Se isso é o que você tem contra ele você não está sendo justa! - eu termino e me viro de novo pra o banheiro.
–Eu não estou sendo justa? -
ela pergunta alto – Eu? Ele montou aquela armadilha sim, e depois ele me largou sozinha enquanto eu tinha que superar! - ela fala irritada e cada vez mais alto.
– Esse é o ponto Katniss! - eu me viro também irritado, ela me encara – Você não tem raiva só pelo acidente, você tem raiva por que ele te abandonou, aliás não é raiva, é magoa! E você só se magoa com quem você ama! - eu falo tentando manter minha voz sem falhar mas a última frase é difícil de ser dita, por que é verdade e Katniss com certeza está magoada com ele.
– Você não sabe do que você tá falando! - ela fala irritada mas com a voz baixa.
– Eu? - dessa vez sou eu que repito com a voz alta – Ou será que é você? Me diz um motivo pra você não querer falar com ele que nao seja essa culpa idiota que você joga nele? - eu pergunto olhando nos olhos dela e vendo ela vacilar.
– Por que você tá fazendo isso? - ela pergunta com a voz cansada.
– Por que eu preciso saber! - eu respondo também cansado – Você o ama? - eu pergunto sem desviar os olhos dela, mas ela desvia o olhar do meu, não existe coisa pior que essa sensação – Era isso que eu precisava saber! - eu falo com a voz falha e me viro por que não consigo mais olhar pra ela.
– Você não pode tá falando sério! - ela continua e sinto ela se aproximar de mim mas não me viro – Eu tô aqui com você e você só sabe questionar tudo!Isso deveria bastar! - ela fala e eu nego com você cabeça, passo minhas mãos pelo cabelo e respiro fundo antes de me virar de novo.
– Só que não basta! - eu falo olhando ela nos olhos – Não mais! Bastava antes, mas agora vendo você desse jeito só com a presença dele eu não posso ignorar isso! - eu falo com calma – É ele que você ama - eu sinto minha garganta fechar quando eu digo essas palavras, ela se afasta de mim irritada.
– Para de falar isso! - ela grita com raiva – Eu não o amo! - ela afirma – Eu não quero saber nada dele, não quero! Será que é tão difícil você entender isso? - ela continua falando alto demais – Você deveria estar contente com isso! - ela fala mas parece se arrepender e me olha meio receosa.
– Só que eu não estou contente! - eu afirmo – Eu não quero ser sua última opção! Eu não quero que você me aceite por que tá magoada demais com ele pra assumir o que sente! Eu não quero que você se conforme comigo, que se sinta obrigada a estar comigo e principalmente... eu não quero você infeliz! - eu falo tudo que precisava pra ela entender meus motivos, eu não aguento mais saber que ela está comigo apenas por estar, eu quero que essa realmente seja a escolha dela, mas isso não é verdade e eu não posso mais ignorar, no momento que eu falo isso é como se um filme estivesse passando na minha mente, todas as vezes que nós atuamos para câmera, do modo como ela me olhou na segunda arena quando eu tentava convencê-la a viver, a maneira como ela disse precisar de mim, todas essas imagens aparecem mas junto com elas vem a cena que Snow me mostrou dela e Gale se beijando, vem também todas as imagens confusas e misturadas dela rindo de mim, não apenas imagens mas as vozes confirmam isso, gritando na minha cabeça que tudo era mentira, tudo era um plano dela pra me matar, eu tento resistir a isso mas é forte demais, eu preciso sair daqui antes que seja tarde.
– Eu tenho que sair daqui! - eu não sei se digo isso ou se apenas penso, mas eu já estava passando por ela quando ela me segura.
– Onde você vai? - ela pergunta preocupada mas as vozes continuam e não me dão tempo de respondê-la, eu tento bloquear colocando as mãos em cada ouvido mas a voz insiste.
– Mate-a ou ela vai matar você! - a ordem é clara e eu tento ignorar, mas já é tarde demais, eu perco o controle do meu corpo e da minha mente.
POV Katniss
Peeta está com as mãos no ouvido, seus olhos cerrados e eu não entendo o que está acontecendo.
– Peeta! Você tá bem? - eu pergunto preocupada mas só entendo o que está acontecendo tarde demais, ele levanta o rosto e no lugar dos olhos azuis que me passam segurança eu encontro suas pupilas dilatadas, seu olhar transborda de ódio e eu sei que esse não é o Peeta que eu conheço.
– Sua desgraçada! - ele fala entre os dentes e isso me surpreende mas a surpresa maior vem quando ele agarra meus braços e me joga no chão, eu caio com força, minha cabeça bate na cama e eu sinto uma pontada forte que faz minha vista escurecer, eu tento me levantar mas ele me agarra de novo – Sua bestante nojenta, assassina! - ele fala com raiva, o rosto próximo demais do meu e o que mais me assusta é o modo que ele fala, cheio de ódio, é como se ele me enxergasse de verdade –Você quer me matar não é? - ele pergunta me sacudindo, eu tento me livrar mas suas mãos me apertam com força.
– Peeta, calma! Não é real! - eu tento trazê-lo de volta mas é inútil, ele solta uma risada.
– Você acha que eu sou idiota Everdeen? - ele pergunta mas até mesmo sua voz é diferente, antes que eu respondesse ele me joga no chão de novo, minha cabeça bate no chão frio e um sentimento de pavor começa a me tomar.
– Peeta, para! Você não quer fazer isso! Calma! - eu peço tentando não gritar mas desesperada.
– Eu vou te matar Everdeen e dessa vez ninguém vai te ajudar! - ele ameaça e vêm pra cima de mim, eu consigo rolar meu corpo e sair dele, então me levanto do chão e tento sair do quarto mas ele agarra meu cabelo com força, eu paro e recuo meus passos, ele mantém o aperto e eu agarro sua mão tentando soltar, ele me olha com nojo e ira.
– Sempre tentando me enganar não é? - ele fala com o rosto próximo do meu – Você ia pra onde? Ia atrás dele... Atrás do Gale? - ele me pergunta com seus olhos me examinando – Você ia chamar ele pra me matar? - ele continua.
– Não! Eu nunca ia te matar! Nunca! - eu falo urgente.
– Não mente pra mim! - ele grita e me encosta com força na parede – Não mente pra mim - ele fala lentamente sua boca quase encostando na minha, se esse fosse o verdadeiro Peeta eu não resistiria e o beijaria mas ele não é e tudo que eu consigo sentir é medo– Você me tirou tudo! Minha família, meus amigos... Mas o que você quer de mim? - ele me pergunta com a voz baixa mas com raiva.
– Eu sinto muito! - eu falo sinceramente, por que eu realmente sinto por isso, por ele ter perdido tanto.
– Você não sente nada! Por ninguém! Voce não tem coração, sua bestante nojenta! - ele fala e isso me atinge mais do que qualquer coisa que ele poderia dizer, isso é cruel mas é o que ele de alguma forma pensa – É por isso que eu vou te matar! - ele afirma e suas mãos encontram meu pescoço, apertando-o com toda força, eu tento me soltar mas ele é forte demais, eu o empurro com as mãos no peito dele mas ele não se move, eu começo a me desesperar, o ar já está difícil de ser encontrado e eu sinto cada vez mais força em seu aperto mas eu me recuso a morrer assim, não vou deixar isso acontecer desse jeito, a morte não me preocupa, na verdade ela seria até certo ponto bem-vinda mas eu me recuso a deixar que isso aconteça através das mãos do Peeta ou melhor deste monstro que está na minha frente, eu sei que o verdadeiro Peeta jamais faria isso mesmo que ele realmente me odiasse, por isso eu luto não por mim mas por ele, eu o arranho e tento de todas as formas me debater, gritar já não é mais uma opção eu mal consigo respirar, então reunindo minhas últimas forças eu chuto entre suas pernas, a dor o faz me soltar e se curvar, eu escorrego e caio sentada no chão tentando respirar, ele está xingando apoiado na mesa, eu me arrasto pra fora do quarto sem conseguir ficar em pé, eu estou me recuperando quando ele sai do quarto, eu forço meu corpo a se levantar e consigo antes que ele me alcance, eu estico meu braço pra que ele não me alcance.
– Peeta, espera! - eu peço com voz rouca e a garganta dolorida, ele me olha me examinando – Não faz isso! Você não é assim! Por favor, volta Peeta! Volta! - eu peço mas ele ri.
– Você não desiste não é mesmo!? - ele debocha e vem até a mim eu recuo alguns passos até encostar em uma mesa no corredor, eu levo minhas mãos até o peito dele.
– Peeta não! - eu insisto mas as mãos dele pegam meu pescoço de novo.
– Acabou Everdeen! - ele sussurra no meu ouvido enquanto eu aperto minhas unhas na sua mão, eu sinto que acabou, que é assim o meu fim, nas mãos dele e o pior é saber que ele não quer isso de verdade, que quando ele voltar a si irá se culpar e Snow mesmo morto terá ganho de novo, por isso minhas mãos procuram por algo e eu agarro o vaso que está na mesa, com muito esforço eu junto minhas forças e acerto a cabeça dele, os cacos de vidro e a água que estavam no vaso se espalham entre nós e eu sinto um ardor no meu rosto e nas minhas mãos mas ele se solta de mim, eu caio no chão sem ar, sem força, minha garganta queima e por instinto coloco minhas mãos no pescoço ele está quente e dolorido eu continuo caída e quando eu o olho ele também está caído com a mão na cabeça, uma parte minha se sente mal por ter feito isso mas outra sabe que tinha que ser feito, ele estava descontrolado, eu tento me sentar me preparando para encara-lo mas quando ele me olha eu encontro o verdadeiro Peeta mas ele está completamente transtornado.
Fim do POV Katniss
A pontada na minha cabeça me traz de volta a realidade, cacos de vidro estão espalhados pelo chão e quando eu passo as mãos no cabelo também acho alguns cacos e acabo cortando minha mão, a dor física não é nada comparada a dor que eu tenho ao olhar Katniss caída no chão, os vidros estão por toda parte e eu não preciso de muito para ligar os fatos. Eu surtei e não consegui sair do quarto a tempo.
– Peeta! - a voz dela me desperta, sua voz é baixa e rouca, ela está com seu vestido sujo e molhado, seu cabelo despenteado e um corte está sangrando bem acima da sua sobrancelha, ela se arrasta ate a mim e eu não consigo desviar meus olhos do machucado dela, o pescoço dela também está vermelho e é tudo culpa minha. Eu não posso suportar tê-la machucado, eu me sinto a pior pessoa do mundo, como eu tive coragem de fazer isso? Eu sou um monstro e isso acaba de ficar claro pra mim. Quanto mais longe eu estiver será melhor pra ela.
Antes que ela me alcance eu me levanto, sinto minha cabeça latejar mas me mantenho firme e sigo o caminho saindo do corredor.
– Peeta! - ela me chama mas eu a ignoro, não posso vê-la nesse estado sabendo que eu sou o culpado. Saio do apartamento e entro no elevador completamente desnorteado, eu tento me lembrar do que aconteceu mas é como se eu tivesse apagado tudo, a pior coisa é eu não ter nenhum controle do meu corpo, eu olho no espelho e vejo as marcas, meu peito e meus ombros estão arranhados e vermelhos, as marcas da unha dela estão no meu corpo me mostrando o quão longe eu devo ter ido, o ardor disso não é nada quando eu penso no que eu posso ter feito pra ela se defender desse jeito, eu não sei pra onde vou mas eu não posso voltar pra lá, também não posso deixá-la sozinha, por isso vou até a única pessoa que mesmo com nossas diferenças sempre está por perto, a porta do elevador abre, o corredor está vazio e eu paro em frente a porta com número 1010, aperto a campainha algumas vezes e nada, não suporto esperar e soco a porta.
– Será que um homem não pode dormir um... - ele para a frase quando me vê – Não me diz que você foi atrás dele! - ele me recrimina com um olhar acusatório, mas então ele olha para os arranhões no meu peito e no meu braço, seus olhos se arregalam – Ele não tem unhas grandes! O que aconteceu? - ele pergunta preocupado.
– Ela tá machucada - é tudo que eu consigo dizer – Fui eu! É tudo culpa minha - eu assumo a culpa completamente desnorteado, ele parece ainda mais preocupado e apreensivo – Eu...eu não sei o que aconteceu! A culpa é minha! - eu falo desesperado, ele me puxa pra dentro do apartamento.
– Não adianta se culpar agora! - ele avisa – Onde ela tá? - ele me encara.
– No apartamento! Fica com ela - eu peço e ele concorda já saindo preocupado.
– Fica aqui! - ele fala já fechando a porta, quando ele sai eu sinto toda a pressão, cansaço e desespero me atingir, eu olho ao redor e também não suporto ficar aqui, já estava com a mão na porta quando me olhei de novo, eu estou sem camisa e descalço, eu volto e procuro por uma camisa, pego um sapato que estava perto da porta, saio e mesmo sem saber pra onde ir entro no elevador, a porta se abre na recepção e eu continuo parado olhando pra fora, a porta já ia se fechar de novo quando eu resolvo sair.
– O senhor deseja alguma coisa? - a voz simpática me assusta, eu me viro e a encontro atrás do balcão com um sorriso, eu ainda estou confuso– O senhor está procurando alguém? - ela pergunta novamente sorrindo, eu nego com a cabeça tentando pensar para onde ir, eu sigo até a porta que se abre quando eu me aproximo, eu saio e paro olhando a rua vazia e silenciosa, eu olho para os lados tentando escolher um, então um carro para na minha frente e uma figura animada e possivelmente bêbada sai.
– Peeta! - ela grita alegre e vem até a mim, Johanna acaba de chegar ainda mais agitada que o normal – Vocês saíram cedo! - ela reclama batendo no meu braço, ela parece perceber minha cara – O que aconteceu? - ela pergunta me encarando.
– Nada! - eu minto.
– Onde você vai? - ela insiste.
– Dar uma volta! - eu falo olhando para a rua.
– Uma da manhã e você vai dar uma volta? - ela pergunta sem acreditar – Onde que tá a garota? - ela para com as mãos na cintura, e eu mais uma vez vejo a cena de Katniss caída no chão machucada, esse pensamento me perturba.
– Eu tenho que ir! - eu aviso já saindo mas ela puxa meu braço.
– Eu sei do que você precisa! - ela anuncia me parando e eu olho duvidando – Anda, vem comigo! - ela tenta me puxar mas eu continuo parado – Vem logo! - ela exige e eu acabo cedendo, nós entramos no hotel de novo mas dessa vez ela segue para o lado oposto do elevador para um porta de vidro que eu não tinha notado, a porta se abre quando nós nos aproximamos e uma espécie de restaurante está a nossa frente, mesas vazias, poltronas e alguns sofás estão espalhados pelo meio do salão, ela me puxa pela mão até um canto, apenas dois homens o ocupam, o lugar é um bar, eu paro quando alcançamos o espaço.
– Não acho que é uma boa ideia! - eu falo repensando isso.
– Se você pudesse se ver agora também acharia uma boa ideia - ela fala puxando um banco e se sentando – Anda, senta! - ela exige e eu me sento ao seu lado – Eu sei do que você precisa! - ela avisa e chama um garçom, faz o pedido e ele se vai – Então, o que aconteceu? - ela pergunta curiosa, eu não falo nada apenas observo a quantidade de garrafas nas estantes a nossa frente – Foi por causa do caçador? - ela insiste e o homem volta com dois copos, coloca-os sobre o balcão e se vai, ela empurra um copo pra mim, eu o pego e observo seu conteúdo, um líquido amarelado com duas pedras de gelo, eu sinto o cheiro e é de algo forte, eu devolvo o copo.
Isso não é uma boa ideia! - eu falo desistindo, ela pega o copo e me oferece de novo.
– Bebe logo! Pior que você tá não fica! - ela garante com um sorriso irônico, eu vacilo e volto a pegar o copo, talvez ela tenha razão, eu a encaro e ela sorri vitoriosa, então ergue seu copo batendo no meu e bebe, eu respiro fundo antes de virar o copo de uma só vez, o líquido que desce parece queimar e corroer minha garganta, eu coloco o copo no balcão e tento me acostumar com essa sensação, ela ri.
– Mais um! - ela pede e o homem aparece de novo.
– Não! - eu nego e ela me ignora pedindo mais dois copos que logo aparecem cheios de novo, ela indica pra que eu beba, por pior que seja eu aceito, o ardor e a queimação parecem ainda maior e a cara que eu faço é inevitável, ela me observa e espera que eu me recupere.
– Pronto, agora pode falar... - ela fala enquanto se vira pra mim.
–Eu não quero falar! - eu afirmo.
– Não precisa! Com certeza tem a ver com Katniss e Gale! Eles estão juntos? - ela pergunta diretamente e eu me surpreendo.
– Não! - eu respondo rápido mas depois paro quando me lembro do início da nossa discussão – Ainda não! - eu falo mais baixo.
– E o que você vai fazer? - ela questiona.
– Não tem nada que eu possa fazer! - eu falo tentando me conformar.
– Vai lá e quebra a cara dele! - ela sugere rindo.
– Isso não é opção! E é melhor assim! – eu tento me convencer.
– Então ele rouba sua namorada e você não faz nada! - ela se exalta.
– Ele não tá me roubando ela! - eu garanto – Ela nunca foi minha de verdade! - eu admito com a voz baixa encarando o copo na minha frente.
– Então você realmente tá na merda - ela fala com seu humor de sempre e sorri – Mais uma? - ela pergunta e eu concordo.
– A última! - eu alerto e ela sorri satisfeita, nós viramos mais um copo e eu já sinto minha cabeça rodar.
– Acho que você tem que partir pra outra então... - ela fala normalmente como se fosse simples – Aquela garota lá no treze que era sua amiga? - ela sugere.
– Delly? - eu pergunto confuso.
– Acho que é! É uma loira que sempre estava sorrindo... Nossa, ela era irritante! - ela fala revirando os olhos.
– Ela é minha amiga! - eu falo descartando a ideia.
– Melhor amiga que inimiga! - ela fala rindo.
Johanna ainda bebe outro mas eu me nego, já tenho problemas demais pra lhe dar, sem falar que ainda tenho que resolver o que fazer, mesmo assim continuo no bar com ela, quase uma hora depois nós saímos e voltamos pra recepção, Johanna precisa se escorar em mim para conseguir andar, eu a arrasto até o elevador.
– Qual seu andar? - eu pergunto sem saber que número apertar.
– Oito! - ela fala rindo e apertando o número seis.
– É oito ou seis? - eu pergunto mas ela só ri, eu abro o elevador de novo e o seguro com um braço enquanto o outro a mantém de pé, eu coloco a cabeça pra fora.
– Você sabe o quarto dela? - eu pergunto a recepcionista que me olha confusa – Johanna Manson! - eu anuncio e ela parece entender.
– Quarto 8010! Oitavo andar! - a mulher responde sorrindo.
– Obrigado! - eu libero a porta e aperto o número oito, Johanna solta palavras sem sentido enquanto ri de seu reflexo no espelho, chegamos ao andar dela e eu tenho que arrasta-la.
– O cartão? - eu peço e ela ri– Johanna, o cartão pra abrir a porta! - eu peço e ela abre uma bolsa pequena que carregava e deixa tudo cair no chão, eu me abaixo pra pegar mas minha cabeça também gira, eu junto as coisas, pego o cartão, passo na porta e ela se abre, Johanna entra aos tropeços, eu a levo para dentro, ela se joga no sofá e gargalha alto antes de apagar, eu vou até o quarto pego um lençol e coloco por cima dela que já parece morta pro mundo, eu saio e fecho a porta, volto pro elevador e quando ele se abre na cobertura eu paro encarando a porta, coloco minha mão no bolso e como eu não troquei de calça um cartão está nela, eu respiro fundo antes de abrir a porta, a sala está vazia e silenciosa, eu fecho a porta lentamente e paro olhando em volta, descarto qualquer possibilidade de ir para o quarto com Katniss e como sei que não irei dormir também descarto o quarto ao lado, então eu vou para o único lugar que me resta, eu subo as escadas e quando abro a porta vejo que o terraço continua tão lindo quanto antes, as flores estão espalhadas por toda parte, o céu ainda parece uma pintura visto daqui, a lua ilumina cada canto, eu paro olhando a visão, a cidade toda parece adormecida, o silêncio só é quebrado pelo som do vento frio que aparece me trazendo de volta a realidade, o motivo que realmente me trouxe aqui. Cada vez que eu penso nisso, que eu tento imaginar o que eu fiz com ela eu me odeio mais ainda, eu a machuquei, podia ter feito algo pior e eu nunca me perdoaria por isso, é óbvio que isso nunca daria certo, eu jamais deveria ter insistido nessa história, ficar comigo é como sofrer um risco constante e eu não posso mais ignorar isso, não posso arriscar a sua vida ao meu lado, hoje ficou ainda mais claro que ela não deve ficar comigo, eu devo aceitar isso, o problema é que é terrivelmente difícil e doloroso abrir mão de quem se ama, antes de tudo isso, dos jogos, era mais fácil me conformar mas depois de tê-la tão perto de mim, de sentir sua boca, seu calor, de saber o que é acordar e ver seu sorriso, se torna impossível esquecê-la, a dor disso me atinge e eu não me seguro mais, sentado no chão eu faço a única coisa possível no momento, eu me entrego a dor e choro, sem reservas e sem vergonha, apenas choro, a minha opção já está clara, eu devo deixar Katniss, deixar que ela siga a sua vida segura, pra isso eu devo estar longe dela, eu abraço minhas pernas e afundo meu rosto nela, as lágrimas continuam a descer e eu não as evito, eu continuo sentado abraçado as pernas, olhando o céu estrelado até que a porta abre, os passos lentos se aproximam de mim e mesmo sem olhar eu sei quem é, ela se aproxima e se senta ao meu lado, eu continuo olhando o céu.
– Eu estava te esperando! Te procurei e não te achei! - sua voz é baixa e um pouco receosa – Você tá bem? - ela pergunta e um riso nervoso me escapa, de todas as coisas que eu estou "bem" não é uma delas – Eu estava preocupada com você! - ela complementa e sua mão vai até meus cabelos, ela passa os dedos nele de forma preocupada.
– Eu quero ficar sozinho! - eu falo mesmo que minha vontade fosse nunca me separar dela, mas eu já tomei minha decisão, ela retira os dedos de mim.
– Você não tem que ficar sozinho! -
ela garante – Esquece aquilo! - ela pede e eu me viro pra ela, um pequeno curativo está na sua testa, sua mão também está enfaixada e seu pescoço está com uma macha vermelha.
– Não tem como esquecer isso! - eu falo passando os dedos pelo seu machucado, ela segura minha mão.
Não foi sua culpa! - ela me garante.
– Isso não muda nada! - mesmo que a culpa não tenha sido minha ainda assim ela se machucou e correu risco.
– Já passou! - ela fala com a voz firme ainda segurando minha mão, eu puxo minha mão e volto a olhar pra frente.
– Eu quero ficar sozinho! - eu peço novamente e dessa vez ela respira fundo e se levanta, os passos dela saem tão lentos quanto chegaram e quando ela sai eu afundo minha cabeça entre os joelhos novamente, por mais que eu saiba que esse é o melhor ainda é horrível, alguns minutos passam e os passos reaparecem, Katniss entra trazendo cobertores e almofadas, ela os joga ao meu lado, eu a olho, ela abre um cobertor no chão, se senta e coloca as almofadas por cima, ela se deita e me entrega o cobertor extra, eu pego ainda surpreso com essa atitude, ela se aproxima o máximo de mim e me olha, ela parece cansada e logo pega no sono, eu a observo e meus dedos acariciam seus cabelos, descem e eu os passo lentamente sobre seu rosto, ela dorme meio inquieta, se mexendo e sussurrando algo que eu não entendo. As horas passam e em algum momento eu pego no sono, quando abro os olhos o sol começa a nascer, essa imagem consegue amenizar o que passou e me dá coragem para o que ainda virá, eu olho para o lado e Katniss não está mais aqui, eu me levanto e desço as escadas, vozes vem da sala de refeições, Haymitch e Katniss estão a mesa e eu desconfio que ele tenha dormido aqui, o café esta servido mas eles estão olhando alguns papéis, ele param quando me percebem.
– Essa camisa é minha! - Haymitch anuncia quando me olha, Katniss o olha reprimindo.
– Eu vou devolver! - eu aviso.
– É claro que vai! - ele confirma e afasta os papéis e começa a se servir – Consegui uma reunião hoje com a presidente, meia hora antes do almoço! - ele avisa.
– Boa sorte pra vocês! Eu não posso ir! - eu falo e caminho para sair.
– Por que não pode ir? - Katniss pergunta surpresa.
– Eu realmente não posso! Mas estarei no almoço! - eu respondo e não dou tempo de mais perguntas, sigo o corredor entro no quarto e pego minha mala a arrasto para o quarto do lado e quando entro tenho certeza que Haymitch dormiu aqui, a cama está bagunçada e coisas estão fora do lugar, tomo um banho demorado e me visto, saio do quarto, a mesa do café ainda está exposta, eu pego um sanduíche e uma fruta, não há ninguém por perto, eu saio, chego a recepção e peço um carro que pudesse me levar até meu destino, logo aparece, chego no meu destino, na recepção eu nem preciso de identificação, todos sabem quem eu sou, informo o que desejo e depois de alguns minutos ele aparece.
– Peeta! - ele fala se aproximando.
– Dr. Aurelius! - eu o cumprimento com um aperto de mão.
– Eu não sabia que você viria aqui! - ele fala surpreso.
– Eu preciso falar com o senhor! - eu falo com a voz tensa e ele me leva ate seu consultório, nos sentamos e antes que eu possa falar ele inicia com suas perguntas tradicionais para avaliar meu estado e só então ele me pergunta qual era a minha urgência.
– Eu preciso saber se existe alguma chance de me livrar dos flashes seguindo esse tratamento que eu estou? -eu pergunto o mais direto que consigo.
– Peeta, nós já conversamos! O tipo de telessequestro que você sofreu... - ele começa a falar mas eu o corto.
– Sim ou não? - eu exijo uma resposta clara– Eu sei de tudo isso mas é sim ou não?
Ele respira fundo parecendo querer adiar isso.
– Não! - ele finalmente responde eu sinto a última gota de esperança escorrer – Mas você já teve muitos avanços... - ele tenta consertar.
– Mas, eu nunca serei o mesmo não é? - eu falo o que ele tenta melhorar.
– Nada é garantido! - ele assume com suas voz baixa mas tentando parecer otimista.
– Era isso que eu precisava saber! - eu falo me levantando e esticando a mão pra ele.
– Não desanime agora! Lembre, tem dias ruins mas também tem os bons! - ele repete sua frase favorita, eu concordo e ele me acompanha até a porta, saio do consultório um pouco antes do almoço, depois de pedir informações decido seguir a pé até sede da presidência que me disseram ser próximo, a cada passo que eu dou pessoas acenam e sorriem, mesmo com a cabeça explodindo eu tento parecer simpático, como me disseram não demora muito e eu alcanço a sede, novamente não preciso de identificação, logo sou guiado para um salão onde já estão algumas pessoas, entro e reconheço poucas pessoas e me lembro o nome de menos ainda, eu procuro por Haymitch e Katniss e não os encontro, logo um homem se aproxima e se apresenta iniciando uma conversa sobre política que eu tento apenas escutar e concordar na esperança que ele desista de falar mas ao invés disso outras pessoas aparecem na conversa, alguns minutos depois eu consigo me livrar deles, Katniss e Haymitch entram no salão, ela está com um macacão justo de gola que tampa seu pescoço, sua mão ainda está enfaixada e ela deve ter escondido o corte na testa com maquiagem, seu olhar encontra com o meu rapidamente e depois de falar algo com o Haymitch eles vem na minha direção.
– Oi! - ela fala avaliando meu humor.
– Oi! - eu respondo sem conseguir desgrudar os olhos da sua mão enfaixada, ela parece perceber e coloca a mão para trás – Como foi a reunião? - eu pergunto tentando pensar em outra coisa e também interessado já que Katniss queria tanto o projeto social.
– Muito bom! A presidente aprovou a ideia, o governo enviará ajuda com comidas e até algum dinheiro - Katniss parece se animar um pouco.
– Não é muito! - Haymitch resmunga.
– É o suficiente! - ela corrige e ele sai dando as costas para nós dois, eu olho enquanto ele se afasta tentando evitar olhar para Katniss.
– Como que você tá? - ela pergunta, eu a olho nos olhos e posso ver que ela realmente está preocupada.
– Eu vou ficar bem! - eu falo tentando parecer otimista – Como que você tá? - eu pergunto também preocupado com ela.
– Se você ficar do meu lado eu também vou ficar bem! - ela responde me olhando nos olhos, tento não deixar as palavras dela me atingirem, eu desvio meu olhar e depois volto a olha-la, quanto antes esclarecer as coisas melhor.
– A gente tem que conversar - eu falo e ela me olha assustada mas antes dela falar, uma mulher se aproxima se apresentando e puxando conversa, mesmo com Katniss não desviando o olhar de mim a mulher continuou falando, eu vejo quando Gale entra no salão ele cumprimenta algumas pessoas e nos encontra, ele para na mesa de frente para nós, Katniss segue meu olhar e o encontra nos observando, ela parece engolir em seco e se aproxima de mim, a mulher se despede e sai, Katniss permanece ao meu lado e então Johanna entra no salão, ela vem até nós com uma cara não muito boa.
– Minha cabeça está explodindo! - ela anuncia apertando a cabeça com as mãos.
– Você não é única! - Katniss garante tentando não olhar na direção dele.
– Eu sei que não! - ela fala rindo e me olha me dando uma piscada – O que foi isso? - ela pergunta puxando a mão da Katniss que está enfaixada.
– Nada demais! Um vaso quebrou! - ela fala nervosa e me olha rapidamente, a presidente é anunciada, entra e todos a saúdam, ela agradece a presença de todos, fala mais algumas coisas, cumprimenta um por um e só então o almoço começa a ser servido, quando acaba mas algumas palavras, alguns avisos e se encerra, Johanna aparece ao meu lado.
– Foi por isso que você tava daquele jeito! - ela fala me avaliando, eu não preciso mentir pra ela por isso concordo com a cabeça, ela me lança um olhar de compreensão, o que é raro se tratando dela.
– Será que nós podemos ir? - Katniss pergunta quando se aproxima de mim.
– Eu preciso falar com você! - Gale aparece ao lado dela que leva um susto e me olha.
– Eu não tenho nada pra falar com você! -
ela responde e vem para o meu lado.
– Vocês deviam conversar! - eu opino e tanto Gale quanto Katniss me olham surpresos– Vocês tem muito a falar! - eu completo, ela me olha como se não acreditasse que eu disse isso, então seu olhar muda, ela olha para o Gale.
– Tudo bem! - ela concorda e sai andando na frente, Gale me lança um olhar curioso antes de segui-la, eu fico parado tentando me convencer que esse é o certo, eles irão conversar, se entender e eu vou ter que me acostumar com isso, eu sei que nunca irei esquecê-la mas terei de me acostumar com sua ausência, eu encontro Haymitch e ele diz que irá ficar mais um pouco então eu sigo meu caminho para o hotel, entro no apartamento e vou direto para o meu quarto, entro no banheiro dessa vez eu coloco a banheira pra encher e fico nela por muito tempo, saio quando meus dedos já estão enrugados, eu coloco uma calça e olho no espelho as marcas ainda vermelhas no meu peito e no meu ombro, passo meus dedos por elas e saio do quarto me jogando na cama e tentando não pensar em nada acabo dormindo, eu me espreguiço ainda de olhos fechados não querendo abri-los e encarar a realidade mas quando eu os abro sou surpreendido, Katniss está sentada em uma poltrona me olhando, ela está abraçada as pernas e não desvia o olhar do meu, eu pisco algumas vezes para confirmar o que estou vendo e me convenço que é verdade, eu passo as mãos pelo rosto e pelo cabelo e ela continua fixa em mim, eu a olho de volta.
– Você trocou de quarto! -
ela fala com a voz baixa.
– É melhor! - eu confirmo enquanto me sento na cama, ela nega com a cabeça e vem até a mim, ela se senta na cama de frente pra mim e me olha de uma maneira diferente, suas mãos passam pelos arranhões no meu corpo e eu estremeço ao toque dela, não importa qual seja minha decisão quando ela se aproxima todo meu corpo e meu coração são dela, suas mãos escorregam pelo meu ombro.
– Eu não queria ter feito isso! - ela fala olhando as marcas.
– Você fez o certo! A culpa é minha! - eu assumo e ela me olha nos olhos.
– A culpa não é sua! Nunca mais fala isso! – ela fala com a voz firme – Eu fiquei preocupada com você ontem, você sumiu! - ela confessa.
– Eu precisava dar uma volta! - eu digo e ela concorda, seus dedos vão até meu cabelo, contornam meu rosto e eu prendo minha respiração.
– Eu sei o que você tá pensando e você está errado! - ela fala com a voz firme e me olhando nos olhos antes que ela termine as vozes altas no corredor fazem-na parar, ela olha as horas – Deve ser a Effie, o programa é daqui duas horas - ela fala decepcionada.
– Melhor você ir! -
eu falo e saio da cama, estico a mão pra ela e ela também se coloca de pé.
– A gente se vê daqui a pouco? - ela pergunta.
– Claro! - eu falo com a voz firme, eu nunca a deixaria na mão num momento como esse, ela sai e eu continuo no quarto, depois de um tempo Flavius e mais uma mulher entram no quarto eles estão responsáveis por me arrumar, eu tomo banho, eles fazem a maquiagem, meu cabelo e ouve uma pequena discussão se cortariam mais ou não, no final eles mantiveram o que já estava, me entregam a roupa em uma cabide e eu a visto, quando me deixam olhar no espelho eu me surpreendo, estou de branco, calça, blusa, terno e sapato mas a diferença é no terno que traz desenhado o tordo dourado do broche da Katniss, ele pega metade do meu terno, toda sua lateral e um pedaço da minhas costas, eles amam a roupa e elogiam a si mesmos, sou liberado e nós vamos para sala esperar por Katniss que aparece alguns minutos depois e ela está como diria a Effie, fabulosa, eu me levanto e ela sorri quando vê minha roupa, eu sorrio de volta, ela também está de branco, um vestido até o joelho que também tem um tordo dourado na sua frente e escorregando pela lateral do seu corpo, seus cabelos estão soltos e ondulados, caindo sobre os ombros e se espalhando sobre seus seios, a marca do pescoço parece ter sido apagada e por um momento eu penso se não foi um pesadelo mas não foi, ela vem até a mim.
– E então? - ela pergunta olhando pra si mesma.
– Você está linda! - eu falo com certeza e olhando ela que cora rapidamente mas se recompõe.
– Você também está lindo! - ela garante e sorri timidamente, Effie aparece nos alertando do horário e saímos, encontramos Haymitch na recepção e vamos para o estúdio, somos levados para um camarim e aguardamos, o programa começa e nós acompanhamos pela televisão, como somos a atração da noite temos de aguardar o momento certo, Gale também é entrevistado e perguntas sobre seu trabalho no Distrito dois e suas viagens aos outros distritos são feitas e respondidas de forma técnica porém animada, as coisas seguem normal até a última pergunta.
– Gale, diga-nos o que todos queremos esclarecer... Você e Katniss Everdeen, nossa garota em chamas, são ou não são primos? - Ceasar faz a pergunta e todos se calam para ouvir, eu mesmo paro, Gale olha pra frente, respira fundo e olhando pra câmera ele responde.
– Não! Nós não somos primos - ele garante e suspiros surpresos são soltos até mesmo de Ceasar.
– Então qual sua relação com ela? - ele pergunta e eu me preparo para ouvir.
– Amigos! - ele fala dando de ombros.
– Amigos? - Ceasar não parece convencido.
– Sim, antes mais do que agora! - ele complementa – Nos apresentaram como primos mas nós sempre fomos apenas amigos, essa é a verdade! - ele explica e as pessoas parecem surpresas.
– E você sente algo a mais do que isso? - Ceasar pergunta e eu olho para Katniss e só então percebo sua expressão, ela está normal, como se já esperasse por isso, ela me olha ainda sem demonstrar muito, eu volto a olhar pra televisão confuso.
– Admiração, orgulho... Ela tem o amor de um país inteiro! - ele fala e todos concordam, Ceasar aceita a resposta e se despede dele, a plateia aplaude forte e ele sai.
Uma mulher toma o lugar dele e ela deve ser alguma celebridade por aqui, quando termina nós somos chamados, nos posicionamos e entramos no palco com uma gritaria nos recebendo, sorrimos, acenamos e tomamos nossos lugares, é como se uma cena antiga estivesse sendo recriada, todas as pessoas estão nos olhando atentas a cada palavra e movimento nosso; Katniss sorri e me olha apreensiva, eu coloco minha mão sobre a dela e lhe dou um leve aperto, eu sei o quanto ela fica nervosa nessas ocasiões e eu não consigo ignorar meu instinto de protegê-la. Ceasar inicia elogiando nossas roupas, falando sobre o tordo que foi o símbolo da revolução e que hoje é a imagem que está espalhada por todo país assim como nossos rostos.
– Agora eu quero saber de vocês como é viver nessa nova Panem? - ele pergunta e Katniss me olha deixando que eu responda.
– É realmente satisfatório! A mudança era necessária e eu acho que chegou no momento certo, o tempo de ver nossas crianças caminhando pra morte e manter nossos braços cruzados tinha acabado! - eu falo e um silêncio cresce, por mais que as coisas tenham mudado aqui ainda é a Capital, eles nunca se importaram com isso, os jogos eram um divertimento.
– No nosso distrito pessoas passavam fome e morreram por não ter o que comer, agora finalmente essa não é mais uma regra, embora ainda tenhamos dificuldades as famílias conseguem ter pelo menos o mínimo! - Katniss fala séria como se quisesse confronta-los.
– Mas, mudando de assunto, agora nós queremos saber como anda a vida do nosso casal favorito! - ele fala olhando pra plateia que ri e confirma, ele volta a nos olhar e Katniss me lança um olhar nervoso mas disfarça com um sorriso e mais uma vez eu me sinto voltando no tempo onde eu tinha que mentir e fingir uma vida que não tínhamos mas acontece que hoje as coisas mudaram, não tem mais o peso da ameaça sobre nós, porém eu também não posso expô-la dessa maneira.
– Nós estamos bem! Ainda nos acostumando com nossas rotinas! - eu falo sem entrar em detalhes.
– Ah nós queremos saber mais... - ele insiste– Gale acabou de sair daqui e ele nos deixou bastante ... Intrigados quando disse que vocês não são primos! Isso é verdade? - ele pergunta pra Katniss que me olha antes de responder.
– Sim, é verdade! - ela afirma olhando diretamente para a plateia – Isso foi alguma mentira inventada! Nós éramos apenas amigos e companheiros de caça! - ela anuncia sem se importar em esconder o fato de caçarem ilegalmente.
– E você sabia disso Peeta? - ele pergunta com suspense.
– Sabia! Sempre soube! - eu confirmo e ele espera eu dizer algo mais mas eu não digo.
– E você não se importou? - ele insiste em me fazer falar.
– Não! - eu falo e de certa forma é verdade, o que sempre me incomodou era ele ser apaixonado por ela.
– Gale é um rapaz muito bonito e sendo amiga dele vocês nunca tiveram algo a mais que amizade? - ele pergunta o que praticamente todos devem estar se perguntando e exatamente o que tentaram evitar na época dos jogos.
– Não! - ele responde com urgência e me olha.
– Então seu grande amor é mesmo o Peeta? - ele pergunta e ela continua me olhando, ela já ia responder quando eu tomo a frente, não posso deixar ela mentir mais uma vez, eu não aguentaria vê-la fingindo tudo de novo e caso ela resolvesse falar a verdade eu não suportaria ouvi-la dizer que ama o Gale, por isso sou eu quem respondo.
– Acho que você está assustando ela Ceasar! - eu brinco rindo e ele ri de volta assim como todos, ela força um sorriso mas eu sinto ela me olhando – Acho que as respostas já foram dadas e temos assuntos mais atuais você não acha? Como por exemplo... A festa amanhã! - eu sugiro e ele concorda rapidamente mudando de assunto como se nada houvesse acontecido, ele fala sobre a festa e a expectativa e solta algumas piadas e logo nosso tempo acaba. Nós saímos do palco e Effie está nos esperando pra nos guiar até o camarim, Haymitch está lá comendo o lanche que foi preparado.
– Ainda temos que ficar aqui? - eu pergunto cortando Effie que me olha surpresa, geralmente é Katniss quem faz isso.
– Não, já podemos ir! - ela anuncia e nós saímos do camarim, já estávamos no fim do corredor quando Gale aparece, ele e Katniss quase dão de frente um no outro, eles se olham e apenas se cumprimentam com um balançar de cabeça, eu começo a ficar curioso sobre o que eles conversaram e isso aumenta quando ele se aproxima de mim.
– Parabéns! - ele fala quando aperta minha mão, eu o olho confuso e ele apenas me da um sorriso fraco antes de seguir o seu caminho, eu olho pra Katniss e ela mantém o rosto sem expressão, nós seguimos para o carro e fazemos nosso caminho em silêncio, Effie e Haymitch se despedem de nós no elevador, chegamos ao apartamento, eu vou até o sofá e me sento, Katniss senta ao meu lado.
– Por que você não me deixou responder? - ela pergunta virada pra mim.
– Eu achei que fosse melhor assim... Enfim, você pode mudar a resposta amanhã, só pensei que talvez vocês quisessem... - eu começo e ela me para.
– Vocês quem? - ela pergunta me encarando.
– Você e Gale! - eu falo.
– Você ainda não entendeu não é? - ela pergunta sem acreditar, eu a olho sem dizer nada – Não existe Gale! E não o amo! Quantas vezes eu tenho que repetir? - ela pergunta claramente.
– Você ainda está magoada... - eu tento falar mas ela me impede.
– Não tem magoa, não tem raiva! Eu...não...o...amo! - ela pausa – Isso não tem nada a ver com a explosão! - ela garante – Tem a ver com você! - ela fala com a voz firme, eu a olho tentando entender – Eu não sei e não quero mais viver sem você, sem saber que você tá do meu lado, sem seus olhos, sem dormir junto de você! Não dá! Eu preciso de você como eu nunca precisei de ninguém antes - ela declara e eu me paraliso com suas palavras, parece irreal mas está acontecendo – Ver você se afastando de mim me fez perceber a única verdade que eu sei... - ela pausa e nossos olhares se bloqueiam – Eu te amo! - ela abre um pequeno sorriso– É você que eu amo Peeta, eu não sei quando isso começou, mas eu sei que hoje eu não posso mas negar ou esconder , eu te amo como eu jamais pensei amar alguém! - ela fala e uma lágrima escorre do meu rosto, eu esperei muito tempo por isso, ouvir essas palavras dela sem ser por obrigação e sim uma escolha mas agora eu não acho que eu seja o melhor pra ela, meus dedos passam no seu rosto e eu não consigo esconder minha preocupação – Eu sei o que você tá pensando mas não é verdade! - ela afirma – Você é o que eu quero e preciso! O que aconteceu ontem foi ruim, mas não foi culpa sua, esses somos nós agora e eu sei disso! Mesmo assim eu escolho você por que não existe outra opção pra mim! - ela fala fortemente decidida e então junta a boca na minha, eu correspondo ao beijo afastando qualquer outro pensamento, eu a tenho aqui nos meus braços e essa foi uma escolha dela, nada pode abalar isso, o modo como ela me beija me mostra sua necessidade e eu não tento esconder a minha, eu a seguro pela cintura e escorrego seu corpo colocando-o debaixo do meu, nossas línguas estão misturadas e cada vez mais urgentes, o beijo é profundo e intenso, quando eu afasto nossos lábios já estamos se ar.
– Você me ama! Real ou não real? - eu pergunto com nossos rostos próximos demais, ela abre um sorriso sincero.
– Real! - ela afirma sorrindo e me beija novamente confirmando sua resposta e quando isso acontece eu sei que eu jamais me sentiria assim. Só existe uma verdade, ela me tem completamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pediram e eu fiz. . . Capítulo GIGANTE pra vocês'
Espero que gostem e obrigado pelos comentários...
Continuem acompanhando'



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "- Recomeçando" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.