Percorria o terminal do aeroporto de Heathrow à procura dele, daquelas duas esferas azuis e dos seus cabelos negros e tal como prometera encontrava-se em pé distraído a olhar para as pessoas que iam passando a seu lado, vestia uma camisa de flanela vermelha e preta e trazia o chapéu que teimava em roubar ao Dr. Zack sempre que este o levava com ele, deduzi, portanto, que ele tivesse vindo diretamente do hospital ter comigo.

– Hey. – disse baixinho mas o suficiente para ele desviar a sua atenção para mim.

– Hi. – disse abrindo o seu sorriso que parecia mais perfeito. – Pensava que me tinhas abandonado aqui ou que eu tinha chegado atrasado. – brincou enquanto me colocava uma madeixa atrás da orelha.

– E eu pensei que esse chapéu pertencia ao Zack. – provoquei.

– Pertence, mas sabes que eu adoro pegar com ele. – justificou-se.

– Sei. – sorri. – Levas-me a casa?

– Claro, love. Mas antes tens aqui um donut para comeres, deduzi que estivesses com fome. – sorriu entregando-me um saco e pegando nas minhas malas.

Caminhei lado a lado até ao seu carro, onde me sentei no lugar de passageiro e comi o meu doce favorito enquanto esperava por Damon que colocava as malas no carro. Logo depois de o fazer, sentou-se ao meu lado e sorriu-me pressionando o acelerador iniciando assim a marcha até ao nosso prédio.

– Ufa, já não estou habituada a subir estes degraus todos. – disse fazendo-o rir quando chegamos ao nosso piso.

– Alguém comeu doces a mais no Natal. – brincou.

– Nem me fales, a minha mãe só me metia comida à frente! – exclamei enquanto abria a porta.

– Well, à primeira vista estás igual ao ano passado. – sorriu manhoso.

– Obrigada. – sorri dirigindo-me ao quarto onde larguei as malas em cima da cama, mais tarde guardaria a roupa no sítio apropriado, caminhei de novo até à sala onde Damon se encontrava a ver uma revista qualquer que estava na mesa de café.

– Então e agora vais trabalhar? – perguntei sentando-me ao seu lado com as pernas por cima das suas.

– Tenho mais três horas antes de começar o turno.

– Então ainda dá tempo para jantares comigo. – afirmei. - Assim matas as saudades de encomendar comida.

– Estava a ver que nunca mais dizias isso. – disse em tom de brincadeira pegando logo no telemóvel.

– Tonto. – ri.

– Comida asiática? – assenti. – Ok, agora vai tomar um banho e vestir algo mais confortável enquanto eu coloco a mesa e encomendo o nosso jantar. – disse batendo-me levemente nas pernas o que me fez levantar e ir para o quarto de banho.

Liguei o chuveiro e escolhi o pijama levando-o logo comigo, após tomar o duche e vestir-me sequei levemente o cabelo e prendi-o num coque com ligeiras madeixas soltas.

– Voltaste mesmo a tempo. – ouvi-o dizer enquanto fechava a porta depois de receber a entrega.

– Yummy, estou esfomeada. – disse fazendo-o sorrir.

Ambos sentamo-nos nos respectivos bancos do balcão da cozinha, retirei os pauzinhos e abri a caixinha de noodles que Damon me entregara momentos antes. Conversei com ele sobre o seu Natal e sobre a festa de Ano Novo, pelos vistos tinha sido tão boa como a minha.

– É verdade tenho uma coisa para ti. – disse batendo com a mão na testa após me ter lembrado do presente que lhe comprara em NY. Corri até ao quarto e procurei nas malas, acabando por encontrar um presente com um bonito laço verde à sua volta. – Aqui está. Feliz Natal atrasado. – disse rindo.

– Obrigada. – agradeceu e desfez o nó do laço abrindo de seguida para logo se rir.

– Achei que merecias um desses chapéus visto que festejaste comigo mesmo não estando lá na passagem de ano novo. – expliquei o porquê de lhe oferecer um chapéu da Nívea azul que nos entregavam na Times Square para a contagem decrescente.

– Agora sinto que estive lá mesmo. – sorriu. – Obrigada.

– De nada. Agora tira esse chapéu do Zack e coloca o meu presente sim, venho já. – disse voltando ao quarto com um igual ao de Damon e com a máquina fotográfica. – Sorri. – e ambos fizemos pose e eu tirei uma fotografia.

– Só mesmo tu para te lembrares de uma coisa assim. – brincou. – Mas eu também me lembrei de ti apesar de não ser tão original assim. – e entregou-me uma caixa com um laço vermelho, o qual desfiz logo que pude e vi uma t-shirt que tinha a bandeira de England e dizia “I love british boys” o que me fez automáticamente sorrir.

– Como é que sabias? – fiz um ar de surpresa.

– Ora eu tenho os meus “conects”. – disse sorrindo de lado aproximando-me dele com a sua mão na minha cintura.

– Tenho que ter cuidado contigo. – sorri rodeando o seu pescoço com os meus braços.

– É melhor mesmo. – disse avaliando cada gesto que fazia com aquelas duas esferas azuis que me atraiam tanto, até que nos beijamos delicadamente, finalmente que saudades!

– Não tens que ir trabalhar? – disse entre pequenos beijinhos.

– Hum hum, mas ainda posso ficar mais uns 5min. – disse roubando-me outro beijo.

– Tonto, vai lá. – disse despedindo-me dele já na porta.

– Vemo-nos amanhã. Boa noite. – disse sorrindo de lado, depositando um leve beijo na minha testa.

– Até amanhã.- sorri e fechei a porta suspirando depois.

*

Acordei já passavam das onze da manhã, felizmente este era o meu último dia de férias por isso não havia problema de acordar tão tarde, levantei-me da cama e dirigi-me à cozinha onde preparei um pequeno-almoço tardio. Comi a ouvir a música ligeira da televisão e depois aproveitei e desfiz as malas colocando grande parte da roupa para lavar devido a estar amassada e impossível de usar, arrumei o quarto e vesti uma roupa mais casual para ir fazer umas compras, alisei um pouco o cabelo e coloquei um pouco de perfume, saindo de casa passado alguns minutos. Caminhei até à paragem de autocarro mais próxima onde passava o bus que me podia levar até ao mercado, por sorte mal tinha acabado de chegar ao local o bus estava a chegar, entrei e paguei o bilhete sentando-me de seguida num lugar.

Quando cheguei ao mercado, peguei na lista de legumes, frutas e carne necessárias e comecei a escolher nas mais variadas bancas o que queria e por vezes os comerciantes impingiam-me a compra de certos produtos que eu recusava.

Após comprar tudo o que necessitava voltei para casa e arrumei tudo no devido lugar na cozinha, olhei o relógio e já passava das duas da tarde, por isso resolvi fazer uma refeição ligeira e ver um pouco de tv até ser interrompida pelo meu telemóvel.

– Estou?

– Filha, disseste que me ligavas quando chegasses, estava a morrer de preocupação!

– Desculpa mãe, mas mal cheguei a casa fui para a cama estava exausta.

– Não tem problema, já te alimentaste como deve ser?

– Sim mãe. – sorri, só mesmo a minha mãe para me perguntar algo assim.

– O teu pai manda beijinhos também, só hoje é que vamos voltar para Upper East Side.

– Fizeram bem em aproveitar essa casa, manda-lhe um beijo meu também.

–Será entregue, agora vou desligar. Vê se te cuidas e nos vens visitar mais vezes. Amo-te querida!

– Vou tentar. Também vos amo muito. – despedi-me e desliguei a chamada voltando a atenção para a tv onde passava uma série.

*

– Bom dia! – cumprimentei Donna quando cheguei ao hospital para o meu primeiro dia de trabalho.

– Dr. Rachel bem-vinda. Espero que tenha passado um bom Natal com a família. Matou as saudades todas? – perguntou.

– Sim, todinhas. Houve algum paciente meu que precisasse de alguma coisa?

– Não, apenas as consultas diárias. Aqui tem os seus pacientes de hoje. – disse entregando-me os ficheiros.

– Obrigada. Até já. – e caminhei em direção ao meu gabinete.

– Psst. – ouvi. – Já nem se diz bom dia, por aqui?

– Desculpa Damon, nem te vi. – sorri.

– Não tem mal. Vais começar agora o teu turno?

– Yep, pelos vistos tu estás a acabar o teu. – disse e ele assentiu.

– Parece que já não vou ter companhia para o almoço. – afirmou enquanto entrava atrás de mim no meu gabinete.

– Fica para uma próxima. – afirmei pousando os ficheiros na mesa assim como a carteira e sendo logo rodeada pelos braços de Damon.

– Que tal um jantar no próxima sexta-feira? – disse observando-me.

– Às 9h? – perguntei.

– Combinadíssimo. – sorriu e beijou-me levemente. – Bom trabalho.

– Obrigada e bom descanso. – disse brincando e deixando-o ir embora.

Despi o casaco de fazenda e vesti a bata branca atendendo logo de seguida o meu primeiro paciente do ano e iniciando a rotina de mais uma semana no hospital de London, onde eu começava a amar cada vez mais trabalhar.