A rotina começava a voltar, como prometera ao Dr. Edwards reduzia as horas de trabalho e apenas ir para as urgências quando era necessário e não para fazer horas extra. O final de mais um turno começava a aproximar-se estava desejosa de ir para casa e ficar no sofá a ver os filmes que passavam na televisão embrulhada numa manta quentinha após uma saborosa refeição pré-feita.

– A Dr. já pensou em fazer uma especialização em pediatria? – perguntou-me Donna quando acabei de me despedir de uma criança que apresentava sinais de varicela.

– Nunca tinha pensado nisso, para ser sincera sempre quis ser uma cirurgiã mas depois acabei por ficar em clínica geral. – admiti enquanto caminhava a seu até ao balcão principal.

– Devia reconsiderar tem tanto jeito com as crianças.- sorriu. – Pelo que vejo já acabou o seu horário, não tem mais pacientes.

– Obrigada Donna. Então vou arrumar as coisas e preparar-me para ir para casa. Tem uma boa noite. – disse e voltei a caminhar até ao meu gabinete.

Coloquei os papéis todos em ordem e desliguei o portátil que guardei cuidadosamente na mala, despi a bata e pendurei-a no cabide junto à porta e pousei o estetoscópio na mesa.

– Noc noc. Posso?

– Sim, Damon podes entrar. – afirmei enquanto pegava nas minhas coisas.

– Também já vais para casa?

– Sim, estou mortinha por ir para casa. – disse.

– Então podemos ir juntos. – sorriu.

– Vamos então? – e ambos saímos do meu gabinete e caminhamos lado a lado até ao parque de estacionamento onde Damon deixara o seu carro.

O caminho até casa foi silencioso não por falta de assunto mas mesmo por cansaço, notava-se claramente no nosso olhar, subi os degraus à frente de Damon que ficara a guardar o carro na garagem e deixei a porta entre aberta do meu apartamento depois de entrar e descalçar os sapatos para ficar mais confortável.

– Isto é um convite? – ouvi-o perguntar na soleira da porta.

– Talvez. – disse sorrindo.

– Hum, gosto disso. – disse aproximando-se e rodeando-me como de costume a cintura.

– Queres jantar comida pré-feita e nada saudável? – perguntei fazendo-o dar uma gargalhada perfeita para os meus ouvidos.

– Como poderia recusar? Tu sabes que comida nada saudável é o meu ponto fraco. – brincou.

– Óptimo, porque não queria jantar sozinha. – admiti.

– Eu só vou tomar um banho e tirar esta roupa do trabalho e volto logo logo para te acompanhar, ok?

– Fico à espera. – e beijei suavemente os seus lábios antes de Damon ir até sua casa.

Optei por colocar a comida no forno e ir tomar um duche também, precisava de retirar o cheiro a éter do meu corpo, passados alguns minutos sai do chuveiro e sequei o corpo vestindo uns leggings e uma camisola de malha larga e umas meias mais grossas para andar descalça.

– Voltei. – ouvi Damon dizer passados alguns minutos de eu retirar a comida do forno.

– Mesmo a tempo. – sorri reparando que Damon vestia umas calças de fato de treino e uma sweat.

– Yummy. – disse retirando com o dedo um bocado de lasagna do prato enquanto se dirigia para o sofá onde ambos nos sentamos a ver televisão enquanto comíamos.

Assim que acabei de comer fiquei a observar Damon que ficara vidrado numa cena do filme mais emocionante enquanto levava o garfo à boca, sorri ele mesmo assim era tão perfeito aos meus olhos, decidi desviar a minha atenção para o filme e ajeitei-me no sofá colocando os pés em cima dele, que Damon logo fez questão de colocar em cima das suas pernas logo após pousar o prato na mesa de café. À medida que o filme avançava a distância entre nós diminuía, logo repousava a minha cabeça no seu peito enquanto era abraçada por Damon.

– Daqui a nada adormeces. – sussurrou.

– Não me apetece ir para a cama. – afirmei num suspiro.

– Percebo, mas amanhã vais lamentar as dores nas costas. – sorriu.

– Só se vieres comigo. – pedi e agradeci mentalmente por as luzes estarem a média luz não mostrando o vermelho estampado na minha cara.

– Vem daí, hoje vou ser a tua almofada pessoal. – brincou levantando-se e pegando-me ao colo de surpresa que me fez dar um pequeno grito que se tornou em risos rapidamente.

Damon era o perfeito gentleman, pousou-me delicadamente na cama e beijou-me o nariz deitando-se de seguida a meu lado onde esperou que eu me colocasse novamente apoiada no seu peito que eu fiz mal apaguei as luzes.

– Boa noite. – sussurrei antes de sentir um beijo delicado nos meus lábios.

– Dorme bem.

*

Os dias passaram e por fim sexta-feira chegara, hoje segundo Damon iríamos jantar fora, ele escolheria um restaurante e passava por minha casa para me ir buscar por voltas das nove horas da noite, por outras palavras hoje seria o nosso primeiro encontro a sério. Escusado será dizer que os nervos não me largam.

– Dr. Rachel está tudo bem consigo? – perguntou-me Donna quando me viu na sala dos médicos a brincar com a caneta enquanto esperava pelo café.

– Sim, está. Isto já passa. – disse tentando disfarçar.

– Parece nervosa. Tem a certeza?

– Ok, Donna vou te ser sincera. Digamos que hoje tenho um encontro, primeiro encontro em anos! – expliquei. – E os nervos começaram a aparecer, principalmente agora que já faltam apenas duas horas.

Donna apenas sorriu antes de falar.

– Bem me parecia. Quase que aposto quem é o sortudo. – disse fazendo-me corar. – Não se preocupe, vai correr tudo bem. Quer um conselho? – assenti. – Saia uns minutos mais cedo e tome um bom banho de imersão vai ver que relaxa num instante, e este café nem pense em tomá-lo só lhe vai causar mais nervos. – sorriu e pegou no café saindo da sala.

– Obrigada Donna.

Logo que sai do hospital fui para casa, onde tal como a minha amiga enfermeira chefe me aconselhara tomei um banho relaxante, não demorando muito para ter tempo de me arranjar e escolher a roupa mais apropriada. Enrolei um toalha no corpo e outra no cabelo, mal sai da banheira, após secar a pele passei um hidratante e vesti a roupa interior.

– Vejamos o que temos aqui. – disse para o meu armário enquanto procurava a roupa.

Optei por uma saia preta justa, uma blusa branca e uns botins pretos e para me proteger do frio um casaco de fazenda cintado. Pintei os lábios ligeiramente avermelhados, coloquei um eyeliner e o rímel, o cabelo após secá-lo passei o ferro e deixei algum ondulado.

Faltavam apenas dois minutos para as nove horas e ouvi a campainha tocar, automáticamente sorri e vesti o casaco pegando na carteira e nas chaves de casa.

– Hey. – disse logo abri a porta.

– Uau, estás fantástica. – elogiou observando-me de cima a baixo.

– Obrigada, também não estás nada mal. – sorri.

– Pronta?

– Sim, vamos.

Os poucos nervos que restavam do banho desapareceram assim que entrei no carro e vi o sorriso espelhado no rosto de Damon, ele guiou pelas ruas de Londres e parou perto de um restaurante numa zona que nunca tinha visitado.

– Chegamos. – sorriu.

Ambos saímos do carro e adentramos o local onde nos guiaram até à nossa mesa, só por si o ambiente já evocava o romance, velas na mesa, luzes a média luz, alguns casais espalhados pela sala e o aroma no ar lembrava-me uma viagem que fizera a Itália.

O empregado logo voltou com os menus e apontou os nossos pedidos, voltando minutos mais tarde para entregar o vinho tinto que Damon pedira.

– Um brinde à nossa noite. – disse sorrindo com um brilho diferente no olhar.

– À nossa noite. – sorri juntando os copos.

Após a nossa comida ser entregue, ambos começamos a comer roubando por vezes algum bocado do prato um do outro, trocamos vários sorrisos cúmplices e o tópico da conversa por vezes fazia-nos rir, sem dúvida que este era um primeiro encontro muito diferente daquele que tivera com Sam,mas deixemos essas lembranças de lado.

Mal terminamos o jantar, Damon fez questão de pagar a conta mesmo depois de eu dizer que preferia dividir.

– Que tal um caminhada? – questionou-me.

– Adorei a ideia, principalmente porque adorava poder ver o mar mesmo sendo noite. – admiti após ouvir as ondas do mar ao longe.

Caminhamos lado a lado em direcção à praia que não se encontrava muito longe do sítio onde nos encontrávamos, quando dei por mim estávamos num passadiço sobre o mar.

– Adoro este cheiro a maresia. – disse ao fim de alguns minutos a contemplar o reflexo da lua no mar.

– Somos dois, já não vinha aqui a algum tempo. – disse encostando-se ao corrimão com as costas. – Ainda bem que escolhi trazer companhia.

– É assim tão boa? – brinquei.

– A melhor. – afirmou prendendo o seu olhar no meu.

– Concordo. – sorri.

Levemente Damon passou a sua mão no meu rosto para depois me beijar lenta e delicadamente concluindo o beijo com pequenos.

– Acho que devia pedir-te uma coisa.. – sussurrou ainda com os seus lábios encostados aos meus.

– Pede.

– Gostarias de tornar isto que nós temos oficial e exclusivo?

– Hum... Sim, gostava. – admiti ao fim da alguns segundos criando um sorriso que nunca vira na cara de Damon.

– Muito gostas de me fazer sofrer. – brincou, abraçando-me mais perto.

– Nem sabes da missa a metade. – provoquei, trincando ligeiramente o seu lábio que logo se aproveitou para me roubar mais um beijo.

Ficamos mais alguns minutos no passadiço e depois retorna-mos ao carro onde seguimos viagem até casa de Damon, que segundo ele era a minha vez de servir de almofada para ele.

É, a minha vida começava agora a retomar os eixos, tanto a nível profissional como a nível amoroso, que mais poderia eu desejar a não ser que assim continuasse durante longos meses.