Lembranças escrita por Natalia Beckett


Capítulo 69
Coincidence


Notas iniciais do capítulo

Oi florzinhas e cravinhos!
Desculpa se demorei, mas realmente, esse é o maior capítulo já postado.
Pensei seriamente em dividir ele e assim tornar a leitura mais confortável. Porém, acredito que a divisão deixaria os capítulos desconexos.
Peço desculpas se o tamanho do capítulo atrapalhar a dinâmica de alguém. Prometo que nas próximas vezes eu procuro dividir e deixar o capítulo menor.

QUERO USAR O CAPSLOCK PARA AGRADECER A LINDA FLOR, MARIAH SILVA, POR TER RECOMENDADO A FIC! E QUE LIIIIINDA RECOMENDAÇÃO! MUITO OBRIGADA FLOR! ESTOU RADIANTE DE ALEGRIA!


Bom, agora, quem estiver com disposição de ir em frente, eu garanto que vai ter surpresas ao longo do caminho.

Boa leitura gatinhos e gatinhas. ;)



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Sou despertada pelo cheiro de café que invade minhas narinas. Demoro em me dar conta do que aconteceu comigo ontem e por que eu estou largada na cama de uma forma incomum. Não demora muito para tudo se encaixar e o sonho me tornar a mente. Junto com a lembrança do sonho, lembro-me do livro na última gaveta. Levanto sem vontade e sem pensar muito vou direto para o banheiro. Já de banho tomado encontro meu pai na sala, acompanhado de sua xicara de café e seu jornal.

– Bom dia, Bela Adormecida! – Ele me aborda.

– Bom dia. Dormi tanto assim? – Questiono fingindo não entender.

– Bom, digamos que dormiu mais que o normal. Vai dar dez horas... Você dormiu bem? – Ele questiona me encarando e pousa o jornal no canto esquerdo da mesa.

– Sim... – Respondo e tentando disfarçar, já me direciono a cafeteira com a caneca em punho.

– Eu não vi você chegar ontem... Não chegou muito tarde, chegou?

– Não, cheguei um pouco depois das dez... Você estava dormindo em frete a televisão. Não quis incomodar. – Disse me sentando a mesa e me direcionando as torradas.

– É eu me lembro de não ter visto o resto do filme. Bom... – Ele diz se levantando. –... Você já tomou banho... Tem programação para hoje?

Não... Mas eu queria ficar em casa. – Fiz cara de preguiça. Na verdade eu queria ficar sozinha.

– Em casa? Em pleno verão? De jeito nenhum! Hoje eu não preciso ir ao escritório. Temos então que fazer alguma coisa. – Ele sugeriu animado. Nem parecia o mesmo cidadão de ontem.

– Pai... Eu queria ficar em casa... – Voltei a pedir.

– Katie... – Ele voltou a se sentar na cadeira. – Tudo isso é novo, eu sei. Muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, mas é preciso se reerguer. Vamos dar uma volta com seu velho pai? Espairecer. – Ele pede com carinho e olhos pidões. Eu o observo como quem analisa muito bem a proposta. Antes de dar meu veredicto, eu arqueio a sobrancelha.

– Tá bom, você venceu... – Ele sorri e eu o acompanho.

– Ótimo! Vou arrumar algumas coisas. Quando estiver pronta me avise.

– Aonde nós vamos? – Pergunto com a boca cheia de torrada.

– Coma com calma. – Ele me alerta. – Ponha algo despojado. Estou pensando em ir até o aquário.

– O aquário? – Perguntei em tom de crítica.

– Sim! Por quê? Algum problema?

– É em Coney Island... – Respondi triste.

– Por isso mesmo quero ir lá. Para nos lembrar do momento feliz, já que o triste não se pode esquecer. – Ele sorriu timidamente e se dirigiu até seu quarto. Terminei meu café e logo segui para meu respectivo quarto. Coloquei um short jeans, uma blusa gola V e sandálias de verão. Não me sentia segura com a opção do passeio, mas acreditava que algo bom poderia ser extraído disso.

Logo eu estava pronta e junto com papai nos dirigimos até o aquário. Não posso negar que é um passeio relaxante e estar no aquário me remete a infância. Observar as crianças e seus encantamentos pelos peixes desfilando no aquário é uma forma de recarregar as baterias. Acho engraçado como elas reagem a cada nova espécie que os olhos delas observam. Mamãe me trazia aqui quando eu era bem pequena. Papai costumava nos observar numa curta distância e no final do passeio ele me comprava um belo sorvete em uma das barracas disponíveis, próximas da saída do aquário. Essas lembranças me faziam sorrir sozinha, involuntariamente. Papai olhava atentamente para os peixes e fechava o cenho como quem visse algo incorreto. Eu o encarei por um breve momento, se possível daria um dólar pelos pensamentos que ele carregava.

– Veja só... – Papai apontou com o dedo indicador, timidamente, para a direção de uma plaquinha informativa. – “Curiosidade importante” – Ele disse em tom de narrador. – Aquário pequeno deixam os peixes mais agressivos...

– Então quem quiser ter peixinhos precisa alugar um espaço igual ao aquário de Nova York, não é? Pode ser mais seguro. – Sorri sapeca.

– Realmente! Melhor e mais econômico criar um gato. – Papai sorriu e entrou na brincadeira.

– Mas gatos têm problemas de soltar pelos por todo canto. Que tal criar uma calopsita?

– Para depois colocar no anúncio do jornal de animais desaparecidos? Não, não, não... – Caímos na gargalhada.

– Até hoje me pergunto como as pessoas denunciam como animal desaparecido um passarinho... Eles têm asas... Os donos deviam saber previamente disso. – Caminhamos conversando besteiras até a saída do aquário. Pelo deck de Coney Island íamos de encontro às barraquinhas de comidas.

– Assim como quando menininha, você vai querer sorvete de chocolate com muita calda de cereja? – Ele perguntou se aproximando da velha barraquinha de sorvetes que costumávamos vir quando eu era criança.

– Acertou em cheio! – Sorri amplamente. Papai parou por um tempo apenas me observando. – O que foi? – Perguntei carinhosamente.

– Você parece muito com sua mãe. – Ele falou baixinho. Meu semblante entristeceu um pouco.

– Isso é algo bom ou ruim?

– Como assim? Bom ou ruim? Disse que você parece muito com sua mãe e isso tem que ser algo lindo. Muito bom! – Ele respondeu com afinco.

– Eu quero dizer para o senhor... Ser parecida com minha mãe é bom ou ruim para o senhor? – Ele pausou por um momento, encarou o nada e voltou a olhar para mim.

– Será que você é realmente a minha filha? – Ele perguntou sério. Eu me assustei.

– Como assim? – Perguntei assombrada.

– Porque você até que poderia ter puxado só um pouquinho o seu pai, mas sua mãe não deixou nada para mim... Você saiu igualzinha a ela. – Ele então sorriu e eu relaxei ao ver que era mais uma brincadeira. – Eu acho que vou pedir meu sorvete com sabor de limão e amendoim...

– Exótico, não? – Perguntei fazendo careta de repulsa.

– Eu não falei nada sobre seu “chocolate com muita calda de cereja”... – Ele falou dando de ombros.

– Ok! – Dei-me por vencida e instantes depois nós devoramos os sorvetes e sua casquinha.

Voltamos para casa ainda claro. A intenção do papai, após o almoço, era de fincar raízes no sofá e ver filmes até o anoitecer. Mas para mim não, eu não estava com cabeça para isso. Não que o passeio não tenha sido bom, lembrar-se da mamãe e da infância num mesmo cenário, até que foi “confortável”. Não falamos sobre o assunto e acho que talvez nem seja melhor falar. Ela se foi e o culpado nunca foi achado. Eu escolho todos os dias não pensar sobre isso, mas sempre que me esforço para não pensar, eu me lembro. Peço licença ao papai e digo que preciso dormir um pouco, desculpa para ir ao meu quarto e não ser incomodada. Era assim desde quando eu era pequena.

Esparramo meu corpo em cima da cama. O suor que brota em minha testa torna essa posição incômoda. Resolvo sentar, mas algo me agonia. Sinto tédio, mas não sei como resolver. Não estou no clima de escutar música, muito menos de procurar algo na internet. Talvez ler algum gibi... Mas eu já li todos... Quem sabe reler?... Não... Droga! Eu preciso me distrair. Eu... Eu precisava da Lanie. Por incrível que pareça ela seria a única que saberia identificar o motivo do meu “tédio” e me tirar dele simultaneamente. Sem dúvidas ela era e sempre será minha melhor amiga. Agora eu não posso mais considerar isso. Eu estraguei tudo. Quantos relacionamentos eu irei estragar devido as minhas atitudes e pensamentos? Sem dúvida há algo de errado nisso. Eu! Eu estou fazendo algo de errado. Lembro-me da Lanie dizendo durante a discussão que ela não vai ser a amiga que acata tudo que eu penso, pois isso não é ser uma melhor amiga. Talvez ela realmente estivesse certa... Preciso de alguém que realmente mostra onde estou errada e que não apenas aponte meus erros, mas me ajude a sair deles. Quer saber? Eu não vou ficar aqui nesse quarto, trancada, em pleno verão de Nova York. Eu vou atrás da Lanie. Ela precisa me escutar!

Estou parada em frente à entrada do prédio dela há cerca de 30 minutos. Eu liguei para ela umas 2 vezes, mas ela não me retornou nem me respondeu. Eu estou com medo de não ter argumentos suficientes para convencê-la de que estou realmente arrependida. Mas também acho que estou dando uma de ridícula ao achar que ela não irá me ouvir. Eu conheço a Lanie há anos, ela vai me ouvir, mesmo que não concorde com o que eu irei dizer. Tomo coragem e me dirijo ao prédio.

– Apartamento dos Parish’s, por favor. – Informo ao concierge.

– Com quem deseja? – O homem de voz grossa e com bigode me questiona.

– Com a Lanie, é a Kate. – Aguardo por uns instantes e ouço a permissão para subir. Faz muito tempo desde a última vez que vim aqui. O concierge não era o mesmo. Em poucos minutos estou de frente para uma Lanie com a porta aberta e um olhar indagador a me encarar.

– Entra. – Ela diz abrindo passagem. – Vamos ao meu quarto, minha mãe está na sala com umas amigas.

– Ok. – Eu apenas a segui. Ao entrar no quarto, pouca coisa havia mudado. Sentei em um puff próximo a janela e Lanie se acomodou na ponta da cama.

– Então, o que a trouxe aqui? – Ela pergunta naturalmente.

– Preciso me desculpar com você. – Ela para de me encarar por um momento. O olhar dela se dirige para as suas próprias mãos e então volta a me encarar. – Eu não ando no meu melhor momento e acabei depositando em você coisas que não te envolvem. Não fui a melhor amiga que costumava ser e nem tenho sido, mas... Eu quero mudar isso, Lanie. De verdade! E eu posso dizer que brigar com você foi algo muito ruim. Nunca fizemos isso antes, mas brigar me fez ver coisas que antes eu não estava vendo. Então... – Busquei ar. – Eu percebi que você foi minha melhor amiga mesmo quando não pretendia ser. Mas também percebi que EU não fui a sua melhor amiga. Eu realmente sinto muito por isso, Lanie. Desculpas por ter dito o que eu te disse. – Aproximei-me dela e lhe dei um tímido sorriso. – Podemos ser amigas novamente? – Lanie me olha com um olhar mais brando, mas ainda questionador. Posso ouvir o suspiro alto que ela dá.

– Olha, garota, você não merecia...

– Lanie...

– Me deixa falar! – Ela ordena. Eu engulo seco.

– Ok.

– Você faz o que quer e você não ouve ninguém. Você é uma grande teimosa! – Ela diz em alto e bom som. Ela descarrega em mim e eu me sinto no dever de escutar tudo e mais um pouco. Eu mereço... – E eu sinceramente não sei como eu pude ser sua amiga por todos esses anos. – Ela suspira novamente e faz uma pequena pausa. Eu apenas a observo. – Você está certa, Kate. Você está num péssimo momento, mas eu estou sempre aqui e escolhendo te apoiar. Eu escolho te apoiar sempre! Mas não posso fazer isso quando todas as suas escolhas enveredam para o caminho errado. Não posso ser sua amiga assim... – Ela se aproxima de mim e segura minha mão direita. – Você pode até pensar que as coisas que peço, ou arquiteto, para você fazer, são apenas por motivos de meu interesse, mas não é! Não é isso, Kate! Longe de mim!

– Eu sei. – Sussurro.

– O problema é que eu tenho a mania de ver o que você nunca vê. – Ela sorri timidamente. Eu retribuo. – Poxa vida, garota! Você também é minha melhor amiga! Quando preciso você sempre me ouve e me empresta seu ombro. Posso não necessitar tanto de conversar, mas esses pequenos atos seus, me dão a energia que eu preciso para resolver meus problemas. Mas não é porque eu demando menos da sua atenção, que você tem menor importância. Somos como irmãs... – Ela se levanta e fica em pé diante de mim. Com um gesto facial me convida a também ficar de pé. Eu obedeço.

– Sim, como irmãs. – Eu repito.

– Irmãs brigam, mas sempre fazem as pazes. – Ela fala.

– Espero que sim... – Resolvo brincar. Quem sabe descontrair um pouco o clima tenso.

– Espera que sim?! – Ela pergunta indignada.

– Nem eu, nem você temos irmãos. Então, se irmãs sempre brigam, eu espero sinceramente que elas sempre façam as pazes. – Eu sorrio amplamente e continuo. – Apesar de que acho que o ideal é nunca brigar, para nunca precisar fazer as pazes. – Sorrio sapeca.

– Você não vale nada, não é garota? – Lanie pergunta gargalhando. A gente se abraça.

– Ai que bom que ficamos bem... – Digo esbanjando felicidade.

– Eu não iria aguentar ficar sem te perturbar. Nem ficar sem ser perturbada por você! – Nós gargalhamos.

– Com certeza! – Respondo entre sorrisos. Abraçamo-nos de novo e do nada, Lanie se separa e diz animada.

– Vamos comemorar! – Ela sai andando pelo quarto.

– Como assim? – Pergunto tentando fugir da situação.

– Vamos sair! É verão, garota! Temos mil lugares para ir!

– Lanie, fala a verdade, você queria sair e não tinha com quem ir, não é? Eu sou a única que aceito suas loucuras! Admite!

– Ah... Tá, tá... O que é que tem demais? Amiga também é para essas coisas... – Ela diz abrindo o closet.

– Aonde você quer ir que te deixou tão animada?

– Advinha? – Ela pergunta e do nada capta um cabide de dentro do closet. Um belo vestido amarelo, tomara que caia e de curto comprimento. Eu a olhei de forma incrédula.

– Sério?!

– O quê? Qual o problema? Não gostou? – Ela me olhou espantada.

– Lanie, eu não vou para um nightclub!

– Ah, girl! Por favor! Não aceito recusas. Como você mesmo disse você é a única que aceita minhas loucuras. – Ela fez cara de pidona. Eu a encarei com a sobrancelha arqueada.

– Lanie... – A chamei com tom de repreensão.

– Olha! Eu tenho dois ingressos VIP’s. Não quero ir com um carinha que tenho saído há um mês e meio. Essa pessoa tem que ser você. – Ela sorri amplamente e louca para me convencer.

– Lanie, não pira, tá legal? Eu não quero ir.

– Mas por quê? VIP é sinônimo de espaço reservado. Não vai ser nada tumultuado.

– Não é por causa disso...

– Eu comprei esse vestido só pensando nessa noite de hoje na Pacha.

– Lanie...

– Ah, vai! Você vai agora me dar a desculpa que não está na vibe... Beleza, eu posso até acreditar, mas não aceito! Você também não queria ir à pizzaria, mas confessa que você se divertiu!

– Sim, foi divertido, mas daí sair de uma pizzaria para uma nightclub. É um grande passo. – Falei e me joguei na cama dela.

– Kate, vai ser divertido, eu prometo. Também prometo que não vou te deixar lá sozinha. – Ela comunica pidonha e se deita ao meu lado.

– Você sabe que prometer “não me deixar sozinha” é uma missão impossível para você dentro desse vestido, não é? – Ela me encara com o olhar bandido.

– Então nós temos que correr e arrumar um vestido para você que cause a mesma impressão, não é? – Eu revirei os olhos.

– Essa é a questão. Eu não quero causar nenhuma impressão.

– Isso é impossível, girl! – Ela gargalhou. – Você? Invisível? Nem que te vistam de burca!

– Lanie!

– Ok, ok... – Ela diz se recuperando da gargalhada. – Mas não adianta... Você sabe que vai comigo... Não importa o que aconteça.

– O que a gente não faz por uma “melhor amiga”... – Falei dando-me por vencida e revirando meu corpo para a direção oposta da Lanie.

– EU SABIA! – Ela grita e sacode as pernas fazendo toda a cama balançar.

– De que horas vai ser isso? – Disse sorrindo. Eu sabia que ia ser encrenca, mas eu queria pagar para ver. Isso tudo só para depois dizer a ela que “eu avisei”.

Lanie me passou todas as informações. Eu a convenci que tinha um vestido “ideal” para a ocasião e evitamos assim a ida às compras. Informei ao papai que dormiria na casa da Lanie, assim tive carta branca para voltar a qualquer hora que fosse. Lanie estava tão eufórica que estava me assustando e antes mesmo do relógio marcar 22 horas, Lanie já me ligava inquieta, perguntando se eu não ia chegar a casa dela logo. No meio dessa confusão e tentando ganhar tempo, eu questionei o porquê dela ganhar esses ingressos. Lanie tem uns caminhos estranhos de conseguir benefícios, mas esse até que foi mais cabível. Ela ganhou os ingressos numa competição da universidade, antes das férias de verão. E só podia mesmo ser algo promocional, porque quem é a pessoa responsável que frequenta nightclubs em um dia de domingo? Nesse caso, nem eu, nem a Lanie, somos responsáveis. Estamos de férias. É verão. Estou rindo sozinha.

Acabo me atrasando 5 minutos e encontro uma Lanie a beira de um infarto ao entrar no apartamento dela.

– Fica calma. Eu só vou arrumar o cabelo e a maquiagem. O vestido tá aqui. – Falei entregando a ela a bolsa.

– Garota! Anda logo. Estou precisando de ajuda! – Ela diz enquanto sacode o delineador líquido na minha frente.

– Eu te ajudo. Relaxa. – Digo sorridente. – Ainda faltam 3 horas para a hora limite de entrada.

– Hora limite! Eu não sou garota de hora limite! – Ela diz cruzando os braços.

– Ok, relaxa. Vamos nos arrumar. – Digo tentando a fazer relaxar.

Dentro de uma hora e meia, eu e Lanie estávamos prontas. A mãe dela pareceu não se incomodar diante a euforia da Lanie. Eu estranhei. A Lanie sempre disfarçava suas saídas para a mãe. Perguntei para ela se estava tudo bem por ali, ela me disse que atualmente a mãe dela está mais preocupada e atordoada com a volta súbita do pai da Lanie na vida delas. Então a senhora Parish estava meio que anestesiada e isso não era de todo mal, como a própria Lanie disse. Lanie também não parecia preocupada. Ela me disse que a vida é muito curta para se preocupar com coisas que não tem hora para chegar e nem se sabe quando irá, de fato, acontecer.

Meu vestido deixou Lanie animada. Ela estava confiante que nós iríamos arrasar na Pacha. Eu não queria ir, estava escrito isso no meu rosto, mas nada iria provar para Lanie o quanto eu estava sem vontade. Salto fino, vestido gola V profunda e comprimento até metade da coxa. Lanie disse que esse era o look perfeito. Eu sei o quanto ele é perfeito... Perfeito para chamar a atenção de caras com caráter duvidoso. Justamente, tudo o que eu menos queria. Essa seria uma noite trabalhosa e a meu ver, nada satisfatória.

Os ingressos VIP’s garantiram para nós uma entrada menos demorada e uma vista privilegiada da pista de dança. Além de um acesso muito mais bacana para as opções do bar. A casa estava cheia, não era uma noite qualquer, era a data de um evento. Evento que para mim era como qualquer outro, mas esse era uma espécie de comemoração do verão quente de Nova York. O símbolo de cereja em nossas pulseiras de identificação deixava claro, a marca do local, além do cheiro que dominava todo o ambiente. Isso me passou uma ligeira sensação de agrado. Era um cheiro familiar e o meu preferido. As músicas eram todas em ritmo de eletro e eu confesso que senti falta disso após meses escutando música grunge. Eu não deveria me sentir assim, mas o ritmo trazido pelo alto som fazia meu corpo mexer involuntariamente e isso era bom.

Lanie sugeriu uma bebida. Ela berrava no meu ouvido para que eu escutasse. Eu aceitei e fui junto com ela até o bar. Barman descolado, com tatuagens sedutoras, fazia um vai e vem com a coqueteleira que deixaria até o mais hábil em mixologia de boca aberta. Era um local legal, não podia negar isso. O jogo de luzes deixava o ambiente muito mais atrativo. No bar recebemos a informação que poderíamos ser servida no andar do camarote. Open bar a noite toda. Lanie sorriu sapeca e passou a me carregar, me puxando pela mão, para a parte de dança ainda dentro da área VIP. Lá mesmo, antes de embalarmos na dança, um garçom identificado com um chapéu colorido, entregou bebidas já antes solicitadas. – Foi rápido. – Disse a Lanie.

Ainda com drinks em mãos, eu e Lanie não conseguíamos ficar paradas. A música realmente era contagiante, o DJ estava de parabéns. Alguns caras nos olham famintos, mas a concorrência é cruel. Lanie opta por se fazer de difícil, eu disse a ela que isso era uma boa opção para sair com uma boa aquisição na noite. Por mais que eu não queira, eu ainda me lembro das saídas com a Madison. Fazer essas jogadas era de praxe. Saímos da pista para mais uma rodada de drinks, que por sinal, estavam maravilhosos e gelados. Vendo o movimento da pista aberta, Lanie não resistiu e após insistir muito, aceitei ir com ela até lá.

Nossa! Muita gente. Quando digo muita, eu realmente quero dizer MUITA! Faz muito tempo que não entro numa pista cheia assim. Da última vez a minha identidade era pra lá de adulterada. A música fervilha a galera. Meninos e meninas dançam sensualizando e alguns se esfregam entre si. Reviro os olhos. Isso não é algo agradável de ver. Ainda mais quando você está sozinha. Outros garotos e garotas estão chapados demais para sensualizar e se limitam a pular e colocar as mãos para cima. Lanie já está com o quarto drink em menos de duas horas e ela está na fase de “rindo a toa”. – Eu já posso me preocupar ou ainda é cedo? – Pergunto alto para mim mesma.

Sinto alguém passar a mão pela minha cintura. O sujeito para em frente a mim e ele tenta, eu disse tenta, dançar sensualmente. Eu me preparo para ouvir uma piada estúpida ou um animal que pretende ir direto ao ponto. Tenho que pensar rápido, isso pode ser horrível, mas também pode ser divertido. Tenho que saber até que ponto eu consigo ir. Isso é um teste? É, pode ser. Eu o observo em desafio. Acho que ele já está bêbado, pois já vamos para o quinto minuto e nada de ele falar alguma coisa. Ele até que não é feio, mas a minha paciência não está a das melhores. Lanie está dispersa e dança com um garoto que também não está no melhor estado. Algo me alerta para sair dali. Desvio do menino e tento ir em direção a Lanie, mas o tal garoto dançante me puxa delicadamente pelo braço e sussurra em meu ouvido uma pergunta.

– Meu nome é Ben. Qual o seu nome? – Eu o encaro com a sobrancelha arqueada. O menino de cabelo castanho bagunçado e músculo tímido me encara inseguro.

– Kate. – Falo e imediatamente me desvio de suas mãos.

– Vo... Você... Você quer alguma coisa? Uma bebida, um aperitivo, eu? – Ele sorriu nervoso. Eu ri timidamente.

– Olha, você parece um cara legal. – Gritei próximo ao ouvido dele. – Mas hoje não é seu dia de sorte comigo. – Disse dando as costas e indo novamente em direção a Lanie.

– Não sou um cara que depende da sorte. Eu posso te provar isso. – Ele sorri sedutor.

– Você não entendeu. Eu quis ser educada, mas resumindo, hoje eu não estou no clima. Não vai rolar... Então é só, ok? – Respondi e sai em direção a Lanie.

– Ah! Que isso? Nem um beijinho... – O cara vem atrás de mim. Eu ando rápido em direção a Lanie que agora parece ter se distanciado.

– Cai fora! – Eu respondo no meio da multidão. Já próxima a Lanie eu a chamo. – Lanie!

– Ah! Vamos dançar girl! – Lanie está pra lá de altinha. Vejo que ela já está com outro drink em mãos.

– Lanie, não acha que a gente poderia voltar pra área VIP agora? Quem sabe pegar algum aperitivo. Beber de estômago vazio não dá muito certo. Você mais do que eu sabe disso. – Eu sussurro em seu ouvido.

– Eu não estou bêbada! – Ela grita. – Ainda... – Ela sussurra e cai na gargalhada.

– Fala sério, Lanie! Tem um babaca querendo meu “beijinho”... Qual é? Vamos voltar pra área VIP. Por favor!

– Não sabe se livrar de um carinha?! Qual é digo eu não é Kate? – Ela fala rindo da minha cara.

– Tá legal! Quer ficar aí? Eu te deixo sozinha, depois não fique me ligando para saber onde estou. – Dei as costas e sai em direção para onde estávamos antes.

–Espera! Ai como você é teimosa! – Lanie me segue emburrada.

– Assim está melhor. – Digo a ela. Assim que chegamos próximo ao sofá do lounge, nos sentamos e descansamos nossas pernas dançantes.

– Nossa! A noite mal começou e estou mortinha. Devia ter colocado saltos mais baixos... – Lanie reclama.

– Agora é tarde para se arrepender. Vamos pegar algo para comer?

– Eu já fiz minha refeição... – Ela fala sapeca.

– O quê?!

– Você ficou lá dançando com um carinha lento. Eu fui “trabalhar” girl. – Ela explica como se fosse algo muito natural e eu não seguro a gargalhada.

– Você, hein! Ninguém te segura!

– Estou só começando. – Ela diz sensualizando.

– Sei, sei...

– E você? Nada?! – Ela pergunta incrédula.

– Eu não sei Lanie... Não estou correspondendo aos olhares. Acho que não consigo fazer isso. Não mais.

– Puxa vida, garota. Você precisa se soltar. – Ela pensa um pouco e engata. – Vou pegar para você o drink que eu bebi. Foi tiro e queda!

– Eu não vou solucionar isso com bebida! Ainda mais depois do que aconteceu em Stanford!

– E vai solucionar isso como? – Ela me olha e eu sei exatamente o que ela quer dizer. Eu engulo seco. – Eu não preciso dizer, não é? – Ela fala delicada. – Mas ambas sabemos que não vai ser fácil assim. E já que ele não está aqui, Kate, você precisa seguir em frente. Se esse é o seu desejo, ficar longe dele, então siga! – Eu a encaro por um momento e concordo positivamente com a cabeça.

– Ok. Você está certa, Lanie. – Respiro fundo e solto o ar com segurança. – Qual foi o drink que você pegou e foi “tiro e queda”? – Sorrio para ela sugestivamente.

– Eu vou pedir! – Ela ri vitoriosa e vai até o bar. Resolvo ir até a beira do lounge e observar a pista sempre lotada. Estou suada e movimento o cabelo querendo arrumar uma forma de me refrescar. Estou perdida em pensamentos vazios e ao mesmo tempo tentando me dar coragem para seguir em frente como a Lanie falou. Em menos de três minutos vejo uma mão oferecer um drink em minha direção e uma voz aveludada preenche o ambiente.

– Um drink para a bela dama e uma dança – Ele diz oferecendo a mão direita. – pelos seus pensamentos. – Sim, ele é um cara bonito. Uns vinte e dois anos, alto, cabelos ligeiramente cacheados e um olho de uma cor incrivelmente verde. Um moreno que eu arriscaria dizer que trabalhava como modelo. Ele se veste bem e isso o faz ganhar um ponto. Ao me virar para ele, vejo uma Lanie sorridente ao fundo. Segurando o tal drink ela brinda com o ar. Posso ler os lábios dela: – Vai fundo, garota! – Eu sorrio em sua direção e logo em seguida para o cara que me observava atentamente.

– Kate. – Estendo a mão para a sua. Cumprimentamo-nos sedutoramente.

– Jack. – Ele sorri sedutor e me entrega o drink.

– Obrigada. – Sorrio ainda no jogo. Ele me olha instigado.

– Muito cheio lá embaixo. Já se aventurou? – Ele puxa assunto.

– Estou com uma amiga, ela me convenceu. – Eu disse com tom de arrependimento.

– Então podemos riscar a opção dança?

– Podemos. – Ri e timidamente dei o primeiro gole no drink. – Uh... Cerejas. – Identifiquei.

– Gostou?

– Gosto de cerejas. – Digo sugestiva.

– Sabe... A cereja ela tem um significado. É a fruta que simboliza a juventude, simpatia, pureza, sensualidade, amor. – Ele fala tudo isso sensualmente e se aproxima de mim devagar. Ele sabe jogar. Eu apenas o encaro. Ele é realmente sexy e sem perceber eu estou mordendo meus lábios inferiores e o aroma de cereja passeia em meus lábios. – Achei que esse drink iria combinar com você. – Ele finaliza e me entrega um sorriso encantador.

– Você é confiante. – Sorrio e timidamente ponho parte do meu cabelo atrás da orelha. – Funciona sempre? – Resolvo atiçar e passeio meus dedos sobre o copo do drink. Faço cara de sapeca. Estou o desafiando.

– Ok! Admito! – Ele ri com ar brincalhão. E de repente retorna a ser sexy. – Estou te observando faz um tempo e fiquei me perguntando que tipo de bebida você iria gostar. Acho que acertei. – Ele realmente é bom e isso está ficando interessante, mas tem algo que parece me travar. Eu me sinto nervosa e não é por causa dele, mas sim pelo que pode acontecer se isso continuar e se eu vou conseguir ir adiante com o Rick ainda nos meus pensamentos. Eu sorri para ele.

– O que você faz? – Mudo o assunto. Droga! Eu demonstrei insegurança. Agora já era.

– Tento persuadir uma garota que sou um cara legal e a convenço a ficar comigo. – Ele faz a piada e eu não consigo segurar a risada. – E você?

– Degustadora de drinks de cereja. – Eu e ele começamos a rir abertamente.

– Eu sou estudante de engenharia. Estudo em Stanford.

– Sério?! – Digo sorridente.

– Sim. Sério. – Ele sorri questionador.

– Eu estou no primeiro ano, mas futuramente, direito em Stanford. Assim espero.

– Ah, não acredito! Sabia que te conhecia de algum lugar... – Ele disse me analisando. – Esse cabelo... O olhar marcante... Não é fácil esquecer esses detalhes depois de te ver. – Sorrio timidamente. Ele se aproxima. É uma primeira tentativa que eu sem pensar, desvio.

– Você não vai beber? – Pergunto e dou mais um gole no drink de cereja. Ele sorri malicioso.

– Realmente, falha minha deixar uma mulher como você beber sozinha. Desculpa. – Ele chama o garçom e rapidamente pega uma bebida. – Um brinde? – Eu o olho e silenciosamente pergunto o motivo. Ele prossegue. – As doces coincidências. – Eu sorrio mais uma vez. E tocamos as taças.

– Eu preciso ir ao banheiro... Incomoda-se de me aguardar um instante? – Pergunto. Eu preciso respirar, preciso decidir por minha conta se continuo ou não. Ele me analisa intensamente e responde.

– Sem problemas, não tem risco de nos perdemos. – Meu olhar é indagador e ele completa. – As coincidências estão ao nosso favor. – Ele pisca e isso me faz sorrir. Viro as costas e vou a caminho do banheiro.

Após usar o banheiro, eu estou parada de frente a pia. Garotas seminuas, muito bêbadas e algumas desorientas, circulam num intenso vai e vem. Outras estão caídas em alguns boxes enquanto amigas tentam as levantar. Eu não estou concentrada nisso, eu apenas me observo no espelho. Eu respiro fundo e não consigo achar respostas como supostamente eu esperava obter. Tem um cara me esperando lá fora. E eu tenho quase certeza do que ele espera de mim assim que eu sair daqui. Qual é o meu problema? O cara é lindo! O Jack é engraçado e bonito. Em outras ocasiões essa conversa nem teria a necessidade de durar o tanto que está durando. Sinto minha cabeça fervilhar e eu nem sei onde a Lanie se meteu. Não que eu precise do aval dela, mas conversar agora seria uma boa saída.

Kate! Acorda! Ele não é o Rick, não será o Rick e tudo é diferente! Relaxa, respira fundo e siga em frente. Você precisa ir em frente! É uma ordem! O Rick está seguindo em frente, faça o mesmo! Passado é passado!

Essas frases de efeito não estão saindo como planejado. Droga! Eu vou sair daqui desse banheiro e vou beijar o Jack. É isso! Vou beijá-lo. Se o beijo for ruim eu paro por aqui. Mas se for bom... Bom, se for bom... Eu não sei! Talvez eu saiba na hora. Caras bonitos não necessariamente beijam bem, não é mesmo? É um risco a se correr. Eu vou tentar.

Saio do banheiro com decisão tomada e vejo o Jack acenar para mim lá ao lado do bar. Caminho até ele. Tento ser sexy, mas sem exagero. Olho para os lados e percebo que a Lanie sumiu. Isso me preocupa e muito. Ela não está num estado normal. Sem contar que ela deve ter bebido o drink “tiro e queda” duas vezes!

– Oi. – Jack me cumprimenta casualmente.

– Oi, desculpa a demora. Muita gente dentro do banheiro. – Digo timidamente.

– Tudo bem. – Ele desliza a mão no meu rosto e põe meu cabelo atrás da minha orelha. – Já te disse que te acho linda? Mesmo que isso soe clichê... – Ele se aproxima.

– Não... – Eu não sei se meu não foi referente à pergunta sobre a “linda” ou se não para o que ele estava prestes a fazer.

– Acho que vou te beijar agora... – Ele fala sussurrando bem próximo aos meus lábios. Sua outra mão agora apoia meu rosto. Minha face está entre suas mãos e estou destinada a beijá-lo. Nossos lábios se encostam e vagarosamente o beijo se inicia. Estou lutando contra o tremor que me toma. É como se eu estivesse ficando pela primeira vez, na festa da escola e escondida dos meus pais. Não é uma situação confortável e inevitavelmente eu começo a fazer comparações com o beijo que eu e Rick costumávamos trocar. Não é igual. Em nenhum sentindo, nenhum movimento... Não é igual. Ele tenta aprofundar, mas eu escapo por mais alguns segundos. Suas mãos passam a deslizar em minha cintura e até nesse momento eu lembro a maneira como as mãos do Rick me tocavam e o arrepio que isso me causava. Eu estou me esforçando e sinto como se isso fosse um castigo. Ele aprofunda, não posso mais o enrolar. Definitivamente eu confesso que ele beija relativamente bem, mas o fato de não ser o Rick aqui nesse momento, faz o beijo maravilhoso ser algo ordinário. Sinto que o Jack se esforça e isso está me matando por dentro. Ele quer provar que é irresistível, que é poderoso e ele realmente é, mas não para mim. Eu começo a tentar me separar. Forço uma falsa necessidade de ar. As mãos dele apertam minha cintura enquanto sua boca se afasta da minha. Eu devo estar louca. Porque eu não consigo ir adiante? O cara é incrível, simpático, lindo e tem pegada... Mas...

– Desculpa... Eu te disse que vim com uma amiga. Eu preciso saber onde ela está e...

– Tudo bem. Liga para ela. Ela está com alguém? Se quiser podemos todos marcar de sair daqui juntos, se quiser comer alguma coisa... – Ele sugere.

– Eu vou ligar para ela. – Falo sem dar mais informações.

– Eu te espero linda. – Ele sorri agora muito mais sedutor.

Afasto-me do bar e tento a primeira chamada. Cai direto na caixa postal. O barulho não favorece e aceno para o Jack informando que irei procurar um local mais silencioso. Ele concorda com a cabeça e eu vou para o outro lado do espaço lounge. Tento mais uma vez e nada. Mais uma vez e começa a chamar. Lanie atende após a quinta chamada.

– Lanie!

– Oi... – Ela diz arfando.

– Tá tudo bem?

– Garota, tá tudo ótimo e você tá atrapalhando...

– Quê? Onde você está?!

– Acho que do outro lado do lounge...

– Eu estou do outro lado.

– Tem uma espécie de “cantinho”... Eu estou sentada aqui. O Nolan já foi. – Ela gargalha.

– Lanie, por favor, né? – Caminho até o local dito por ela. Avisto uma Lanie descabelada e arrumando o vestido. – Você precisa se recompor e a gente precisa dar o fora daqui.

– O quê? Estou tão mal assim? – Ela pergunta com voz alterada pela bebida.

– Péssima! E o carinha que estava comigo agora parece querer outro lance e eu não estou disposta. Vamos logo!

– Qual é garota? Você precisa se soltar! Por isso esse estresse todo sabia? – Eu a ajudo a levantar.

– Vamos ajeitar isso no banheiro. – Caminho com ela apoiada em mim.

– O Nolan... Ou era o Noah... Ah! Que seja! Ele já me arrumou... Se é que me entende... – Ela gargalha. Visivelmente ele passou da conta nos drinks. Eu reviro os olhos. – Sabe garota, eu li num artigo da universidade... – Ela soluçou. –... Falta de sexo causa estresse.

– Lanie, dá para ficar em silêncio. Entra ai. – Falei mostrando a porta do banheiro. – Lava esse rosto, faz alguma coisa. Eu vou dispensar o cara e volto pra te pegar.

– Vai! Vai... – Ela disse entrando no banheiro. Dirijo-me até o Jack.

– Ei. – Ele me rouba um beijo rápido, não tenho como fugir.

– Fala gata. – Ele fala sussurrando.

– A gente vai ter que parar a noite por aqui. – Comunico como quem sente muito sobre o ocorrido.

– Tudo bem com a sua amiga?

– Ela bebeu demais. Não posso deixar ela sozinha. Ela estava em maus lençóis do outro lado do lounge. Preciso levar ela em casa.

– Quer carona? – Ele é gentil.

– Não, tudo bem. Moramos perto. – Ele põe a mão no bolso.

– Pega meu cartão. Liga. A gente pode marcar de se ver depois.

– Tudo bem. – Pego e retribuo com o sorriso. Viro-me para retornar ao banheiro, mas Jack me puxa pelo braço. Agora com mais liberdade, abruptamente ele me rouba mais um beijo. Ele exibe sua sensualidade e eu admito que isso foi divertido... Mas isso não vai me fazer ligar para ele depois dessa noite.

– É sério... Ligue. – Ele sorri sedutor e me acena um tchau. Vou direto para o banheiro. Lanie me avisa de dentro do box que está tudo bem. O banheiro está cheio e eu aviso que irei esperar por ela do lado de fora.

Logo ao lado, do banheiro masculino, meninos saem e soltam piadas desconexas para mim. Eu ignoro, mesmo que ao fundo eu tenha vontade de socar cada um. Eles saem do banheiro fazendo barulho. Uns estão bêbados demais e acompanham a música cantando fora do ritmo na saída do banheiro. Eu disfarço tentando não ser notada e permaneço imóvel, encarando o chão. Vejo quatro pernas bambas, que andam em conjunto e esses pares são acompanhados de vozes cantarolando uma velha música que destoava de todos os demais. Quero levantar a vista, mas acho que isso vai me fazer liberar uma bela risada e do jeito que outros atiçados estão... Isso não iria dar muito certo.

– EI! DAMIAN! ESPEREM POR MIM! – Um garoto franzino sai do banheiro correndo. Pelo visto ele está atrás dos garotos a cantarolar. Levanto levemente o olhar para observar o cara deixado para trás. – VOCÊ TAMBÉM CASTLE! NÃO SE FAÇA DE SURDO!

– Castle?! – Pensei comigo mesma. Sinto meu coração disparar e em questão de segundos minha respiração para. Sinto uma dor fina atingir minha cabeça. Tento respirar fundo, mas é em vão. Meu peito desce e sobe velozmente. Sinto meu corpo gelar. Eu levanto a cabeça e encaro os rapazes mais a frente. – É ele. É ELE... Deus! – Eu tento me manter em pé. Já não sei se permaneço ali ou entro para me esconder no banheiro. Sinto meu estômago revirar. Ele está de costas, mas eu sinto como se ele pudesse me ver. Eu não sei o que fazer e tudo gira tão rápido que me sinto travar. O ar não chega mais aos meus pulmões. Sinto uma súbita falta de ar... Não acredito que estou prestes a desmaiar novamente. Tento me segurar na parede e me apoiar de alguma forma. É em vão. Sinto tudo rodar mais veloz ainda e pouco a pouco meu corpo apaga.

(...)

– KATE! KATE!


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Notas finais do capítulo

E agora?
Quem chama uma Kate desmaiada?
Kate desmaiou novamente e dessa vez foi graças a grande quantidade de álcool ingerida de estômago vazio em conjunto do susto de ver Rick no mesmo espaço que ela.
Acho que esse capítulo terminou com uma pergunta muito mais importante que o anterior. Ainda não foram respondidas as dúvidas sobre o comportamento do tio Jim e também não vimos a Kate abrir o livro do Rick. Porém agora, não sabemos quem está a acudir a pobre Kate.
Essas coincidências da vida... O que será que o futuro próximo aguarda para a Kate e para o Rick?

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