Embaixo da Pele escrita por Ca_Dream


Capítulo 8
Libertação


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Olha só quem voltou aos domingos? Esse capítulo é super decisivo na história então corram pra ler. Beijos e vejo vocês semana que vem.



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Erik andava pelas passagens secretas da ópera. As imagens do baile vívidas em sua mente. Ele não tinha feito nenhum show. Não tinha entregado as partituras de Don Juan. Nem falado com Christine. Não tinha desaparecido em meio a fumaça e fogo.

Muito pelo contrário.

Tinha dançado a noite toda. Conversado. Se divertido. Ele e Elise tinham ficado juntos madrugada adentro, mesmo quando todos começaram a ficar cansados e uns poucos convidados se retiravam para voltar para casa.

Teria sido apenas mais uma noite comum na vida de um jovem se a vida que Erik levava pudesse ser chamada de normal. Nunca tinha aproveitado essa sensação. Geralmente ele era perseguido por seu rosto. Por sua monstruosidade. Ninguém lhe tratava com o mínimo de cortesia.

No entanto, a noite tinha sido incrivelmente prazerosa.

Sua mente divagava. Entre as duas moças mais bonitas da festa. Elise e Christine.

Elise era incrivelmente doce. Ela era tão pura. E ela o amava. Tinha conseguido algo que nem mesmo sua própria mãe fora capaz de fazer. Amá-lo. Sabia que ele não era o que ela merecia. Ela não merecia esse monstro. Essa alma podre e condenada.

Elise era diferente da maioria das moças da sua idade. Na verdade, podia dizer que ela era diferente de qualquer um. Ela era gentil com ele. Por nenhuma razão aparente. O máximo de bondade que recebera nesse mundo fora quando Antoinette o ajudara a fugir dos ciganos.

A moça era incrivelmente bonita e de longe se notava que sua educação vinha de boa família. Tinha gosto por música e literatura. Nunca incomodava ninguém. Parecia fazer questão de não dar trabalho. Elise não tinha medo dele. Tinha visto seu rosto. Não tinha gritado, não tinha corrido. Agira como se um rosto deformado fosse a coisa mais natural do mundo.

Nunca negou que gostava dos momentos que passavam juntos. Era um fato. Ela aplacava sua solidão. Fazia sua vida um pouco melhor. Lhe trazia felicidade. Qualquer homem teria que ser louco para não se apaixonar por ela.

Mas ao mesmo tempo não podia esquecer Christine.

Seu anjo. A razão pela qual criava sua música. Suas almas estavam de alguma forma entrelaçadas. Era algo que não se podia apagar. Vivera anos ensinando a menina. Observando enquanto ela se transformava em uma mulher.

A voz dela. A música dele. Uma combinação perfeita.

A única forma em que um anjo e um demônio trabalhariam juntos.

Havia se apaixonado desde a primeira vez que a ouvira cantar. Tinha consolado a menina através dos anos. Fingindo ser o anjo das promessas de seu pai. A enfeitiçando. Elevando seu espírito.

O poder da música é algo inexplicável. A arte criada pela musicalidade era capaz de eternizar o que era efêmero. Erik e Christine viveram anos doando-se um ao outro. Mesmo sem perceber.

Mesmo que custasse em admitir. Erik sabia.

Já tinha tomado a sua decisão.

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Christine se revirou na cama. De novo e de novo. Não conseguia dormir. Por alguma razão sua mente não conseguia se aquietar. Puxou os lençóis e se levantou. Decidida a sair.

Abriu a porta do quarto devagar. Raoul estava de guarda, adormecido em uma cadeira. Ele insistia em nunca deixá-la sozinha. Desceu as escadas, tentando fazer o mínimo de barulho possível.

Sabia onde queria ir.

Chamou um cocheiro e entregou-lhe um saquinho com moedas.

–Para onde? – o homem perguntou.

–O cemitério. – respondeu. Voltou para o hall enquanto o homem preparava os cavalos. Pegou sua capa, a noite estava fria demais.

Entrou na carruagem. Sem notar que o cocheiro já não era mais o mesmo homem.

–Para o túmulo de meu pai, por favor. – Christine passou o caminho inteiro quieta. A cabeça cheia de pensamentos e lembranças dos últimos anos.

Assim que chegou ao portão do cemitério, percebeu que uma camada considerável de neve se formava no chão.

Entrou, caminhando por entre as lápides e as estátuas gélidas de anjos que sombreavam a noite.

Havia neblina devido ao tempo frio. Em alguns pontos era quase impossível enxergar o chão através da névoa. As cruzes em todos os lugares pareciam tornar o cenário ainda mais deprimente.

Seu pai havia prometido que lhe enviaria o anjo da música.

Continuou andando enquanto a neve caia ao seu redor. Não estava preocupada com o frio agora.

Christine havia sido visitada pelo anjo da música. É verdade. Ele havia criado sua voz e elevado seu espírito. Hoje, ela não sabia no que seu anjo havia se transformado.

Chegou ao túmulo de seu pai, onde o nome de sua família estava eternizado no mármore.

As lembranças de sua infância retornaram com força. Seu pai tocando violino para ela. Dizendo que um dia ela se tornaria Prima Donna de uma ópera famosa. As apresentações. As histórias do norte que eram contadas para ela e Raoul.

Tudo acabou rápido. Sua felicidade se esvaiu. Seu mundo tinha sido despedaçado. Tudo acontecera ao mesmo tempo quando seu pai se fora. Se ao menos pudesse ouvir a voz dele mais uma vez. Mas sabia que isso nunca aconteceria.

Seu pai. Seu mundo.

Ele estava sempre em seus sonhos. Tinha passado anos sem fim se derramando em lágrimas. Por que não podia simplesmente deixar o passado morrer? Estava na hora de acabar com essas lembranças.

–Me perdoe papai.

Ela precisava de força. Estava na hora de dizer adeus.

Ouviu passos, logo seguidos por uma voz melodiosa.

–Pobre criança, tão perdida, tão solitária. Precisando de minha orientação.

–Anjo ou pai? Amigo ou fantasma? Quem esta aí, olhando?

–Esqueceu-se do seu anjo? – ele surgiu na frente dela, coberto por uma capa preta.

Ela virou-se para o outro lado. Querendo correr, escapar dele.

–Christine, por favor, espere.

Ela estacou no lugar, apertando as mãos contra o peito. Sem saber o que fazer.

–O que você quer? – falou olhando na direção dele.

Erik engoliu em seco.

–Eu vim aqui para pedir o seu perdão. – Christine entorpeceu. Ele viera fazer o quê? – Nunca foi minha intenção assustá-la ou machucá-la. Sei que minhas ações foram abomináveis. Eu estava enlouquecido pela raiva e pelo ciúme.

Ela olhou para ele, espantada. Não podia acreditar no que estava acontecendo. Deu alguns passos na direção dele.

–Eu não devia ter mentido para você. Nem tentado enganá-la fingindo ser o anjo que seu pai prometeu que viria. Mas não me arrependo da música que fizemos juntos. Você foi a inspiração para que eu pudesse fazer as melodias em minha cabeça ganharem uma voz. Mas eu nunca deveria tê-la forçado a nada. Nem a me servir. Nem a se apaixonar por mim.

Ele parou por um instante.

–Eu sei que não mereço. Mas será que você pode me perdoar?

Christine permaneceu em silêncio. Esse era o homem que ela conhecia. Bondoso, gentil. O mesmo homem que havia cantado canções de ninar para ela, esperando que suas lágrimas secassem. O mesmo homem que havia ensinado tudo o que ela sabia. Que havia realizado seu sonho de subir ao palco e cantar.

–É claro anjo. É claro que eu perdoo você. – ela segurou as mãos dele. Pode jurar que viu um sorriso passar pelo rosto de Erik. – Mas por quê? Por que agora?

–Meu coração pertence à outra. – foi sua resposta.

Ouviu o trote de um cavalo. Virou-se bem a tempo de ver Raoul se aproximando. Olhou ao redor. Erik não estava mais lá. Tudo o que encontrou foi neblina.

–O que você achou que estava fazendo? – a voz de seu amado era preocupada. – Não devia ter vindo sozinha. – ele a ajudou a subir no cavalo. – Está tudo bem?

–Sim, está tudo bem. Na verdade, nada nunca esteve tão bem como agora.

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Elise entrou no hall da ópera, desamarrando sua capa. Como o dia tinha amanhecido menos frio aquela manhã, resolveu ir dar uma volta no parque. Era domingo e ela não tinha nada para fazer.

–Elise? – Christine a chamou. – Posso falar com você por um instante?

–É claro. – respondeu.

–Em particular. – a soprano continuou.

–Vamos para o meu quarto. Lá teremos mais privacidade.

Elise abriu a porta de seu quarto, esperando Christine passar. A outra se sentou em sua cama, ajeitando a saia do vestido. Sentou-se ao seu lado.

–Raoul me contou por quem você está apaixonada. – Christine foi direta.

–Ele fez o que? – Elise teve que se conter. Não acreditou que o amigo pudesse fazer aquilo. Era melhor que Raoul não cruzasse o corredor com ela.

–Não foi culpa dele. – a outra se apressou em dizer. – Ele parecia tão atordoado depois de falar com você no baile. E eu insisti até que ele me contasse. Mas não foi disso que eu vim falar. – ficou em silêncio.

–O que você quer me dizer, Christine? – a bailarina lhe abriu um sorriso maroto, como uma criança que tinha aprontado alguma.

–Eu vim agradecer. Por você ter feito algo que eu não consegui. Você o salvou Elise. Você salvou o meu anjo. – não entendeu. Do que ela estava falando? Não tinha salvado Erik de nada. – Obrigado por isso, Elise.

–Christine, eu... – foi interrompida pela animação da outra.

–Mais uma coisa. – ela puxou a corrente em seu pescoço, mostrando um anel. – Raoul e eu vamos nos casar. Prometa que vai estar lá no dia.

Elise sorriu.

–Não perderia por nada nesse mundo.

Elise observou Christine sair do seu quarto. Ela parecia não poder se conter em sua própria felicidade. Balançou a cabeça. Aquela conversa não tinha feito o menor sentido.

Resolveu tirar suas dúvidas com a única pessoa que seria capaz de lhe responder. Erik.

Abriu a passagem do espelho. Era a primeira vez que entrava ali desde a noite do baile. Como ele tinha aparecido e falado com ela, tinha certeza que ele não se esconderia dessa vez. Caminhou pelos túneis escuros.

–Erik? – como sempre, ele estava sentado em frente ao órgão.

–É bom ver você por aqui Elise. – sabia que ele a tinha ouvido chegando pelos túneis.

–Christine veio fala comigo.

–E?

–Veio falar sobre você.

–E?

–E ela disse que eu salvei você. Não entendi nada. Erik, do que ela estava falando?

Ele se levantou, gesticulando para que ela sentasse em um dos sofás. Elise obedeceu e ele tomou um lugar ao seu lado.

–Eu falei com Christine. – ele começou. – Eu pedi perdão a ela. Por tudo o que tinha feito. Elise, eu a libertei. – Erik falou. Tinha quase certeza de que era ele o ganhador da liberdade.

–Você a deixou ir? – Elise perguntou espantada. – Por quê?

–Por você. – ela balançou a cabeça sem entender. – Ouvi sua conversa com Raoul. – Elise sentiu que o ar lhe faltava por um segundo. Será que todo mundo sabia dessa conversa?

–Por que você fez isso por mim? Por pena? – os papéis haviam se invertido. Agora era ela que o acusava de ter pena.

–Não, claro que não. – Erik se apressou em dizer. Ele segurou as mãos dela nas dele e Elise tremeu. – Você me fez ver que o que eu sentia por Christine não passava de obsessão. Seu amor me libertou.

–Eu não entendo. – ela sussurrou. Seu cérebro parecia congelado. Ela tinha que estar entendendo errado.

–Elise, eu estou dizendo que amo você. – um silêncio do tamanho de um abismo se seguiu. Tudo pareceu parar de se mexer. Só havia o ar e nada mais.

Ela o beijou. Não foi mais do que um leve encostar de lábios. E mesmo segundos depois, ele não correspondeu.

Elise se afastou. A cor vermelha se intensificando em suas bochechas. Ele não a tinha beijado. Que tolice a dela pensar que ele teria se apaixonado por ela.

–Me desculpe Erik. Eu não deveria... – ela se levantou do sofá, virando-lhe as costas. Tinha certeza. Ele ainda amava Christine.

Erik ficou paralisado por um momento. Sem palavras. Sua cabeça rodopiava ao mesmo tempo em que tentava absorver o que tinha acontecido. Elise o tinha beijado. Ninguém nunca o havia beijado antes.

Como que saindo do torpor, ele caminhou até ela, buscando sua mão. Ela virou-se lentamente para ele. Assim que seus olhos se encontraram, ele viu os dela marejados por lágrimas. Como doía ver aquele rosto angelical coberto por lágrimas.

–Eu tenho que ir. – ela tentou se livrar do aperto dele, mas a mão firme em suas costas a impediu de se mexer.

E ali, no subterrâneo de Paris, o Fantasma da Ópera a beijou.


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Notas finais do capítulo

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