Embaixo da Pele escrita por Ca_Dream


Capítulo 7
Baile de Máscaras


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Mais uma vez, mil desculpas pela demora em postar. Não se preocupem. Agora estou com mais tempo livre e poderei voltar a escrever. Espero que o tamanho do capítulo recompense vocês.
Ps: é agora que as coisas começam a mudar.



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–Como assim você não vai ao baile? – Meg falou um pouco histérica.

Elise suspirou, encarando o teto de seu quarto. Sabia que a loira não deixaria o assunto pra lá.

–Você tem que ir. Todos vão comemorar. São três meses de paz. E é noite de ano novo. – ela parecia indignada.

Elise continuou a encarar o teto, as palavras de Meg se fixando em seu cérebro. Três meses de paz. Todos vão comemorar. Afinal, nenhum outro acidente tinha acontecido dentro da ópera. A figura do Fantasma não tinha voltado a aparecer. Ele agora não era nada além de uma terrível lembrança. Chegava a ser irônico. A causa da alegria de todos, era também, a causa de seu sofrimento.

Três meses. Nenhuma notícia de Erik. Nem mesmo o vislumbre de sua sombra em um corredor. O homem tinha desaparecido. Exatamente como um fantasma faria. Elise tinha retornado ao covil. Repetidas vezes. Mas sempre encontrava o local vazio.

Parecia um jogo de esconde-esconde sem fim.

Também tinha trocado outras cartas com sua tia Isabelle. Assegurando-lhe que tudo estava bem. Acalmando-a. Dizendo que poderia esperar o tempo que fosse. Que ela não devia viajar antes de estar completamente recuperada. Que devia esperar o bebê crescer um pouco. Viagens de navio eram perigosas para crianças.

Tudo isso era verdade.

Mas sabia também que não podia simplesmente ir embora agora. Tinha que ver como essa história ia acabar.

–Elise? Elise? – Meg a cutucou. Despertando-a de seus devaneios.

Ela se levantou na cama, sentando-se ao lado da amiga.

–Me desculpe. Acho que estava sonhando acordada. – a bailarina balançou a cabeça em desaprovação. Como se achasse que ela tinha perdido juízo.

–Por que você não vai ao baile?

Elise apenas deu de ombros.

–Não estava muito animada para isso. Além do mais, eu não tenho um vestido. – a maioria de suas roupas tinha se perdido no incêndio de sua casa. E ela nem tinha se preocupado em comprar um novo guarda- roupa.

–Mas você não poderia ter pedido dinheiro a sua guardiã? Ou ter feito um vestido você mesma.

Teve que concordar com a cabeça. Meg era esperta demais.

–Não quis incomodar minha tia com besteiras. E eu posso até ajudar a consertar os figurinos, mas criar uma roupa de gala do nada não é tão simples. Além do mais, já está muito em cima da hora. O baile é daqui a dois dias.

–Você é inacreditável, sabia? – Meg disse se levantando da cama. Elise teve que rir. – Vamos, mamãe quer que busquemos alguns mantimentos na cidade. Para a festa.

As duas vestiram suas capas, deixando o cômodo. Não voltaram à ópera até horas mais tarde. Quando retornou ao seu quarto naquela noite, Elise encontrou uma surpresa esperando por ela, em cima da cama.

Uma rosa vermelha. Sem nenhum bilhete. E uma caixa cor de marfim. Pegou a flor, absorvendo seu perfume. Sorriu. Ao menos um sinal de vida. Seus olhos recaíram sobre a caixa. O que Erik teria deixado para ela? Pegou a caixa e a abriu.

Dentro havia um vestido. E uma máscara.

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Finalmente era noite de Ano Novo. O espírito de todos estava preenchido de esperança sobre os novos dias que iriam surgir. A paz acalentava a todos. Sem momentos de tormenta, o que restava era seguir a vida com os amigos e entes queridos.

Naquela noite, havia gente demais na Opera Populaire. Para todo canto que se olhasse, haviam grupos de pessoas fantasiadas e mascaradas.

O baile estava animado. A música e o riso ecoando pelas paredes, sendo ouvidos por todo o salão. Elise desceu as escadas, olhando ao redor. Casais dançavam alegremente no meio do saguão. Rodopiando sem parar. Alguns poucos bêbados tropeçavam para lá e pra cá. Determinados a consumir o vinho inteiro na festa.

Quando chegou ao último degrau, Elise segurou a máscara em frente ao rosto. A máscara não tinha nenhum elástico ou fita, então ela não podia simplesmente colocá-la no rosto. Ela devia ser segurada por uma haste de metal em sua base.

Elise tinha se tornado mais um rosto de papel encoberto do mundo.

Em meio ao mar de sorrisos e as diferentes tonalidades de vermelho, dourado e roxo, algo branco a abraçou.

–Não acredito que você veio. – Meg se afastou, examinando-a. – Onde você conseguiu o vestido?

–Foi um presente de última hora. – respondeu com o máximo de verdade que podia.

–Elise, você está deslumbrante. – ficou meio sem jeito pelo comentário. Quando tinha sido a última vez que recebera um elogio como aquele?

–Ora, Meg. Olhe só você. Vai acabar roubando o coração de todos os rapazes da festa.

As duas riram. Mal tiveram oportunidade de notar o casal que se aproximava.

–Olhe só quem temos aqui. – Raoul falou. Elise se virou para ele, abraçando o amigo. Meg e Christine ficaram de braços dados, conversando.

–Eu não sabia que você viria.

–Eu não vinha.

–O que acha de uma dança? Pelos velhos tempos.

Elise se virou para Christine.

–Você se importa?

–É claro que não. – a outra respondeu com um sorriso amável.

–Por favor, leve-a daqui antes que ela se enfurne em algum canto pelo resto da noite. – Meg falou, fazendo os quatro rirem.

Raoul e Elise se encaminharam para a pista de dança.

Ele colocou a mão na cintura dela e ela apoiou uma das mãos no ombro dele. Dançaram como fizeram tantas vezes nos jantares e festas de seus pais.

Elise finalmente falou.

–Como está Christine?

Ele a olhou nos olhos antes de responder.

–Melhor. Ainda um pouco abalada. Mas, melhor. – dançaram até que ele continuasse. –Ela parece tão assustada. Tudo o que ela me conta. Eu mesmo não consigo acreditar às vezes. Essa história de fantasma... Não parece real.

Será que ele achava que Christine estava ficando louca?

–Ele é real. – Elise falou. Sua voz era tão séria que eles pararam de dançar assim que as palavras deixaram a sua boca.

Raoul a encarou antes de puxá-la para um dos poucos terraços vazios da ópera. Não queria que sua conversa fosse ouvida por ninguém.

–O que você dizer com ele é real? – o rosto dele tornou-se sombrio. – Elise, você o encontrou? Você o conheceu?

–Sim.

–E o rosto dele? A máscara?

–Raoul, não me pergunte mais do que eu posso responder.

Ele andava de um lado para o outro, atordoado. Absorvendo cada informação. Finalmente parou em frente à Elise, apertando seus ombros.

–Aquele monstro, ele tentou machucar você?

Ela se desvencilhou dele.

–Não, Raoul. Ele não tentou me machucar. E ele não é um monstro.

–Do que você está falando? Aquele homem é completamente insano. Ele é um monstro.

–Por que ele não é bonito? – a acidez na voz dela o fez recuar um passo. – É isso, não é? Christine o viu.

Só podia imaginar quando teria acontecido. Teria sido antes ou depois de ela própria ter visto o rosto de Erik?

Elise respirou fundo, tentando se acalmar.

–Você conhece o monstro. Eu conheço o homem. Você não conhece o coração dele. Mas eu sim.

–Elise o que você está dizendo?

–Eu o amo, Raoul. – ela baixou os olhos por um momento antes de voltar a encarar as íris azuis. – Estou apaixonada pelo Fantasma da Ópera.

Ela virou-lhe as costas, indo em direção ao apoio da varanda. Olhou para o céu. Milhares de estrelas brilhavam, mas a lua não podia ser vista. Raoul caminhou até ela, parando ao seu lado.

–Ele realmente ama Christine. Sei que pode não parecer. Mas ele ama. Às vezes eu queria que ela tivesse se apaixonado por ele. – ela segurou as mãos do amigo. – Não me leve a mal, Raoul. Não estou querendo destruir a sua felicidade. Mas eu sei que ele precisa de Christine para se feliz. Você é jovem, bonito e rico. Poderia ter qualquer mulher no mundo.

–E você? – a voz dele saiu em um sussurro. A única vez que tinha visto tanta tristeza nos olhos de Elise, fora quando tinham falado sobre a morte dos pais dela.

–Eu? Iriam embora para Londres. Seguiria com a minha vida. Provavelmente me casaria com algum inglês de boa família. Mesmo sabendo que nunca poderia me esquecer dele.

Os dois ficaram em silêncio.

–Volte para sua Christine. – ele parecia hesitante em querer deixá-la. – Eu preciso de um momento sozinha. – Elise sorriu para o amigo.

Ao menos um deles merecia ser feliz nessa história.

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Máscaras em todo lugar. Erik achava isso uma grande hipocrisia. Não foram eles que tiveram que passar a vida escondidos por trás de uma máscara.

Desviou de mais um grupo de bêbados. Não gostava de sensação de estar em meio a tanta gente. Tinha se acostumado a passar a vida na solidão. E agora, estava perdido na multidão.

Não gostava da ideia do baile. Mas aquele seria o cenário perfeito para a sua atuação. Aquela seria a noite em que iria surpreender a todos. Pobres tolos. Achando que tinham se livrado dele.

Vasculhou o salão, atentamente. Procurando Christine. E ao mesmo tempo, querendo encontrar Elise. Será que ela viria?

Elise o tinha procurado diversas vezes no covil. E ele tinha se escondido dela. Não queria ver ninguém. Estava dilacerado demais pela dor da traição de seu anjo.

A única coisa de que precisava era de sua música.

Finalmente achou o que procurava.

Christine conversava e ria animadamente com Meg. Os cachos sempre perfeitos. O vestido rosa fazendo-a parecer uma princesa. Sua beleza era espantosa.

Buscou ao redor. Onde estava àquele almofadinha que ela chamava de namorado?

Praticamente engasgou. O que Elise estava fazendo dançando com Raoul? Mal podia acreditar que eles fossem amigos.

Os dois pararam de dançar abruptamente. Raoul saiu arrastando Elise pelo salão. Indo em direção a um dos terraços vazios. Parou por um instante. Como se decidisse se deveria ir atrás deles ou não. Sabia que estaria bisbilhotando.

Mesmo assim, se encaminhou para um dos terraços. Ficando na varanda embaixo da de Elise. Assim poderia ouvir o que estavam falando. Agradeceu mentalmente por todos estarem no salão. Quanto menos barulho, melhor.

–Elise, você o encontrou? Você o conheceu? – a voz do Vicomte saiu em um sussurro.

–Sim.

Do que eles estavam falando?

–E o rosto dele? A máscara?

–Raoul, não me pergunte mais do que eu posso responder.

Era disso que estavam falando. Erik não entendeu. Elise nunca havia contado nada a ninguém sobre tê-lo conhecido. E agora estava falando sobre ele para aquele rapaz.

–Aquele monstro, ele tentou machucar você?

Revirou os olhos. Garoto idiota. Como se ele fosse tentar machucar Elise.

–Não, Raoul. Ele não tentou me machucar. E ele não é um monstro.

Teve que sorrir. Já esperava esse tipo de benevolência dela.

–Do que você está falando? Aquele homem é completamente insano. Ele é um monstro.

–Por que ele não é bonito? E isso, não é? Christine o viu.

Ficou surpreso. Não só pelo fato de Elise o estar defendendo. Mas também por ela perceber tão bem o que tinha acontecido. Ela era inteligente demais.

–Você conhece o monstro. Eu conheço o homem. Você não conhece o coração dele. Mas eu sim.

As palavras dela foram inesperadas e reconfortantes. Era bom saber que alguém tivesse tanta fé nele.

–Elise, o que você está dizendo?

–Eu o amo, Raoul. Estou apaixonada pelo Fantasma da Ópera.

Erik sentiu seu coração pular no peito. Ela tinha acabado de dizer que estava apaixonada por ele. Que o amava. Era impossível. Ninguém jamais se apaixonaria por ele. Quem seria capaz de amar um monstro? Nem mesmo Elise seria capaz de tamanha proeza. Ou será que seria?

Ela era tão doce. Tão linda. E merecia mais do que ele poderia oferecer.

–Ele realmente ama Christine. Sei que pode não parecer. Mas ele ama. Às vezes eu queria que ela tivesse se apaixonado por ele. Não me leve a mal, Raoul. Não estou querendo destruir a sua felicidade. Mas eu sei que ele precisa de Christine para ser feliz. Você é jovem, bonito e rico. Poderia ter qualquer mulher no mundo.

–E você?

–Eu? Iria embora para Londres. Seguiria com a minha vida. Provavelmente me casaria com algum inglês de boa família. Mesmo sabendo que nunca poderia me esquecer dele.

Ah, Elise! Erik nunca havia visto tanta tristeza em sua voz. Ele a tinha magoado. Mesmo sem querer.

Erik nunca teve a intenção de fazê-la sentir-se mal. Como Elise mesmo havia dito eram amigos. Contava os minutos para passarem outra tarde juntos. Conversando besteiras ou tocando piano. Tomando chá enquanto ela escolhia mais um livro de sua biblioteca particular.

Não sabia como tinha passado tanto tempo sem isso. Ela lhe trazia um tipo de felicidade que ele não se achava digno de ter.

Mas nada saia como o planejado. Erik não tinha planejado seguir Elise e ouvir sua conversa. Nem descobrir tudo o que acabara de descobrir.

Tinha passado meses planejando como seria aquela noite. Compondo sem fim. As partituras de Don Juan. O modo como espantaria a todos. Como traria sua Christine de volta.

Agora, nada mais disso importava.

Sabia o que tinha que fazer.

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Elise descansou sua máscara sobre o parapeito da varanda. Encarava o nada. Completamente absorta. Sem se importar com a festa que acontecia atrás de si. A música era alta o suficiente para ser ouvida mesmo a distância.

–Dance comigo. – ela se virou. Querendo ter certeza de que o que ouvira não fora uma simples peça pregada pelo vento.

Deu de cara com uma figura coberta em vermelho. Suas roupas e capa eram sangue escarlate. As botas e luvas feitas de couro preto. Usava uma máscara branca de caveira com olheiras muito pretas.

Os olhos dele fixaram-se nela. Agora tinha a chance de olhá-la pela primeira vez. Ela usava o vestido que ele tinha lhe dado. Ao ouvir sua conversa com Meg, soube que tinha a roupa perfeita para ela.

Elise estava com um vestido azul-escuro que marcava perfeitamente sua cintura. A saia era longa e não muito rodada. Usava luvas até a metade dos braços, na mesma cor do vestido. A máscara prateada repousava sobre o parapeito da varanda. Longe do rosto de sua dona. Seus cabelos pretos e soltos. Meio lisos e meios cacheados. Os lábios rosados. Os olhos incrivelmente verdes.

Ela hesitou antes de caminha até ele. Não sabia se devia reclamar com ele. Ou se ao menos podia. Decidiu por simplesmente aceitar seu pedido para dançar.

Ele lhe ofereceu uma mão e ela pegou. Começaram a dançar. Elise achou estranho ter um dos braços dele ao seu redor. Erik dançava bem.

–Não imaginei que você fosse aparecer esta noite.

–Por quê? O que fez você achar que eu não gostava de bailes? – sorriu. Sabia que ele estava tentando ser engraçado.

Elise recostou a cabeça no peito dele.

–Você sumiu.

–Olha quem fala. Você também me ignorou lembra?

Ela se afastou, olhando nos olhos dele.

–Por três dias. Erik, você desapareceu por três meses.

–Você não está usando sua máscara. – ótimo. Ele estava mudando de assunto. Ela permaneceu em silêncio. Erik olhou em direção ao salão. – Não sei por que todos eles estão usando máscaras. Nenhum deles tem nada a esconder.

–Todos nós usamos máscaras. Todos nós temos algo a esconder. Uns mais do que outros. – ela levantou a mão, tentando tocar o rosto dele.

Ele a impediu.

Dançaram por mais alguns minutos.

–Do que você está vestido?

Ele a fez rodopiar uma vez, antes de sua mão voltar para a cintura dela.

–A morte vermelha. – Elise riu, nenhum pouco surpresa pela resposta de Erik. – E você, do que está vestida?

–Diga-me você. Você me deu o vestido.

–Eu acho que você é uma estrela. Você certamente está brilhando como uma esta noite.

Elise sentiu o sangue se acumular em suas bochechas, corando pelo elogio. Continuaram a dançar o resto da noite.

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Raoul voltou ao salão, ainda meio atordoado pelo que Elise acabara de lhe contar. Chegou até Christine. Ela lhes sorriu e todas as suas preocupações desapareceram. Na verdade, o mundo inteiro pareceu desaparecer.

Ele a conduziu para dançar.

–Olhe. Sua futura esposa. – Christine voltou a sorrir. Raoul observou o anel de noivado preso a uma corrente no pescoço dela.

–Não sei por que temos que esconder. É um noivado e não um crime. – já tinha falado sobre isso antes. Christine, mesmo depois de tanto tempo de paz, insistia em manter um noivado secreto.

Não queria contar nada a ninguém.

–Eu espero que com o tempo, você entenda. – ela falou-lhe docemente. – Tenha um pouco de paciência, meu amor.

–Eu espero que eu consiga entender. – foi a resposta sincera dele.

–Não vamos brigar.

Ele a beijou apaixonadamente. Mais uma vez, os dois se perderam em um mundo onde pertenciam apenas um ao outro.


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Notas finais do capítulo

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