Embaixo da Pele escrita por Ca_Dream


Capítulo 6
Amor em canções


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Eu não morri! Sei que faz um tempão que eu não atualizo. Mil desculpas por isso. Os estudos tem acabado comigo nos últimos dias. Aproveitei o feriadão para escrever. Afinal, eu não podia entregar qualquer coisa para vocês, não é?
Aproveitem a leitura e depois digam o que acharam.



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Erik não conseguia tirar a menina da cabeça. Elise tinha lhe devolvido a máscara, sussurrado um pedido de desculpas e ido embora.

Ele esperou que ela espalhasse pela ópera a notícia sobre a horrenda criatura que vivia embaixo do prédio. Mas ela não disse nada a ninguém.

E também não tinha voltado a falar com ele.

Elise o estava ignorando. Disso tinha certeza. A garota parecia sentir a presença dele por entre as paredes. Sempre saindo do cômodo se estaza sozinha, antes mesmo que ele pudesse tentar falar com ela.

A noite, em seu quarto, ela se encolhia na cama, apertava os joelhos e divagava em pensamentos. Completamente indiferente ao fato de que ele a observava por detrás do espelho.

No terceiro dia, Erik finalmente sucumbiu. Aquilo não podia continuar. Tinha que falar com ela.

Quando entrou em seu quarto, Elise esperava apenas dormir o resto da noite. E não pensar em mais nada. Qual não foi sua surpresa ao encontrar o homem mascarado encarando-a de volta.

Erik viu o choque passar dentro dos olhos dela. E mais outras mil emoções que não soube identificar. As íris verdes, sempre calmas, tinham se transformado em um oceano tempestuoso.

Ela sentou-se ao lado dele, na beirada da cama. Ainda sem olhá-lo propriamente.

–Não devia estar aqui. Não vai querer arriscar ser visto. – as palavras dela aspiravam cuidado. Mas sua voz era de uma tamanha frieza que fizeram com que Erik se arrepiasse.

–Por que você não desceu mais às catacumbas? – ele perguntou alguns segundos depois.

–Estava ocupada demais tendo pena de você. – foi sua resposta.

Ah! Então era por isso toda essa confusão? Os mistérios da mente feminina!

–Você ficou com raiva?

–Ofendida, para ser mais precisa.

Erik podia ser um gênio da música, mas sabia ser um idiota às vezes.

Ele finalmente tinha começado a entender o que se passava na cabeça dela. Ele a tinha mal interpretado. Não devia ter desconfiado de Elise. Ela sempre fora tão doce com ele. Mas o que mais poderia esperar? As pessoas só sabiam lhe demonstrar ódio. Horror. Não poderia imaginar que alguém acabasse por demonstrar algo além de pena.

–Elise, eu sinto muito. Eu não queria... Eu sinto muito.

Ela suspirou ao seu lado, baixando os ombros.

–Está tudo bem. – disse olhando para ele. Erik pode ouvir a sinceridade em sua voz. – Eu agi infantilmente.

Ficaram mais alguns momentos em silêncio antes que ela voltasse a falar.

–Achei que você não iria mais querer me ver.

–E por que você acharia isso? – pode ver o sorriso se formar no rosto de Elise ao ouvir sua pergunta.

O sorriso logo morreu.

–Ela não é a Condessa. – não foi necessário esclarecer de quem estavam falando.

–Eu sei. – de repente, Erik parecia mais sombrio ao seu lado. Ela se preocupou.

–O que vai fazer?

Ele a encarou antes de responder. Sentiu os olhos azuis atravessarem-lhe a alma.

–Eles estão à própria sorte agora.

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Elise esquadrinhava a plateia e o palco nervosamente. Era a estreia de Il Muto. Estava sendo corroída pelo pensamento do que poderia acontecer. O que Erik faria?

Raoul apertou sua mão, lançando lhe um sorriso amigável. Ele a tinha convidado para assistirem a peça juntos. E agora ela estava no camarote cinco. O camarote de Erik.

–Não vá me dizer que você acredita nessas lendas de Fantasma?

Elise sorriu para o amigo.

–Ah, Raoul. – suspirou sem responder. Se ele soubesse.

As cortinas subiram e o espetáculo começou. Tudo estava indo bem. Carlotta exagerando em seu papel de Condessa e Christine como o pajem. O público se divertia escandalosamente. Mas, do nada, uma voz pode ser ouvida, projetando-se por todo o salão.

–Eu não instruí que o camarote cinco deveria ficar vazio para o meu uso?

Elise endureceu sua postura. Teria reconhecido aquela voz até nas profundezas do inferno.

Erik tinha estado escondido em um dos sótãos, assistindo a tudo pelos vitrais. Agora ele aparecia nas últimas escadas da abóbada. A figura dele estava meio encoberta pelo lustre, mas sua presença agitou a audiência.

E num piscar de olhos, ele desapareceu.

Carlotta, louca que era, quis seguir com a atuação como se nada tivesse acontecido. Mas a cada frase que ela tentava cantar, sua voz falhava. Estava claro que a diva tinha perdido a voz. As cortinas se fecharam em meio à mistura de risos do salão.

Messieurs Firmin e Andre ficaram agitados. Eles entraram no palco, anunciando que o espetáculo continuaria com Miss Daaé assumindo o papel principal. Sua resposta foram os aplausos do público. Os dois também tiveram a infeliz ideia de anunciar o balé do Ato 3. Mas quando a cortina subiu outra vez, tudo o que se viu foi uma confusão desorganizada.

Elise respirou aliviada por nada pior ter acontecido.

Quando os ânimos começaram a se acalmar, as bailarinas gritaram. Pendurado por uma corda em seu pescoço estava Joseph Buquet.

Erik não podia dizer que matar era algo de que gostasse. Buquet tinha cometido o erro de ir atrás dele. E Erik tinha feito o que era necessário para se defender. Ele tinha olhado direto nos olhos do homem enquanto tirava-lhe a vida. Aquela lembrança não tornaria mais fácil suas noites de sono. Mas aquele era um destino do qual não podia escapar. Matar fazia parte de sua natureza.

Elise jogou-se nos braços de Raoul, escondendo a cabeça no peito dele. Tentando fugir daquela terrível visão.

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Christine corria pelos corredores e escadas da ópera. Raoul vinha logo atrás dela. Eles tinham que fugir. Se esconder antes que os olhos dele os achassem em meio à escuridão.

Raoul podia sentir Christine tremer de medo mesmo à distância. Ele tentou fazê-la pensar, mas ela não o escutou.

–Se ele tiver que matar mil homens... – sussurrou. – O Fantasma da Ópera matará outra vez.

–Esqueça esse pesadelo. Não existe Fantasma da Ópera. – ele tentava fazê-la raciocinar. Nada adiantava.

Os dois finalmente chegaram ao telhado.

Christine estava à beira de um colapso. Ela mal podia discernir o que era real e o que não era. Quem era aquele homem que caçava a morte? Ela não conseguiria escapar dele. Aquilo era tão confuso. Como um homem tão cruel podia ser capaz de criar tanta beleza? A música dele. Ele a fez sentir como nunca antes. Aquele som estranho e doce. Capaz de reviver sua alma.

Raoul a abraçou. Tentando acalmá-la e confortá-la ao mesmo tempo. Ela contou a ele tudo. Sobre o mundo de escuridão que havia conhecido. E sobre o rosto deformado do monstro que agora assombrava seus sonhos.

Os dois apaixonados fizeram suas juras de amor. Promessas de um amor que traria liberdade. E que deixasse os temores para trás. Desejavam apenas ficar um ao lado do outro. Sonhavam em compartilhar uma vida. Em acabar com a solidão. Onde um deles fosse o outro iria também.

Abraçados, os dois beijaram-se sob o céu estrelado.

Naquele momento Christine sentiu Raoul dissipar a escuridão. Ele era sua luz. Enquanto se beijavam, os dois finalmente sentiam-se completos.

Erik ouviu tudo. Encoberto por entre as estátuas. Sentiu seu coração ser dilacerado ao ver sua Christine nos braços do rapaz. Os dois riam como se aquele fosse o momento mais feliz de suas vidas.

Ao saírem, Christine deixou a sua rosa cair no chão.

Ele havia lhe dado sua música. Feito a canção dela criar asas. E qual foi sua retribuição? Ser renegado e traído. Ele sabia que o Vicomte estaria destinado a amá-la.

Com as palavras de amor dos dois ecoando em sua mente, Erik apanhou a flor, amassando suas pétalas. Eles amaldiçoariam o dia em que não fizeram o que o Fantasma havia pedido!

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Elise andava pelas passagens com os olhos queimando. Podia ter se acostumado à escuridão, mas era difícil enxergar enquanto suprimia as lágrimas que teimavam em cair.

Ela precisava falar com Erik.

Não podia dizer que não sabia do que ele era capaz. Os dois tinham se conhecido por causa de uma morte. Saber disso nunca a tinha incomodado.

Talvez fosse o fato de que naquele momento ele a estava protegendo. Não sabia dizer.

Mas agora ela queria desesperadamente saber o por quê. Queria conseguir entender. O que tinha levado Erik a matar aquela noite?

Ela sabia que o motivo não importava. Que nada justificaria tirar a vida de alguém. Ele era um assassino. Sabia que uma pessoa racional estaria fugindo agora.

Mas ela estava indo direto para os braços dele.

Queria poder dizer a si mesma que o que tinha de fazer era ir embora. E que ela nunca deveria olhar para trás.

Não conseguiu.

Elise podia mascarar o quanto quisesse seus sentimentos. Mas ela nunca poderia negar a existência deles.

Sabia do que Erik era capaz. E de alguma forma, em meio a toda aquela loucura, saber não diminuía o que sentia por ele.

Chegou ao covil.

O lugar parecia deserto. Mas não se deixou enganar.

–Erik? – sua voz ecoou no vazio.

Nenhuma resposta. Podia praticamente sentir a presença dele no ar.

–Erik, eu sei que você está aqui. – o coração dela se apertou. – Erik!

Nada.


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