Em Família escrita por Aline Herondale


Capítulo 5
No Meu Peito não Cabem Mais Pássaros


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer a todos que estão acompanhando minha fic. Me alegra muito saber que existem aqueles que gostam do que escrevo.
Espero que gostem!



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Nada me acalma mais do que música clássica. Cresci numa família em que todos possuem um gosto refinado para a música, que logo aprendi a apreciar também. Meu falecido pai mesmo, só assistia aos canais de ópera, além das competições de golfe, e me incentivava a tocar todos os instrumentos, enquanto minha mãe era a melhor pianista que eu conhecia.

E naquele momento eu precisava de algo para me ajudar a acalmar. Por pouco não havia conseguido espantar meu tio, que avistei se aproximar da casa à passos tranqüilos. Após conseguir retomar minha respiração e tirar da cabeça a imagem da minha babá sendo enforcada, precisei piscar várias vezes para ter a certeza de que Charlie se aproximando da mansão, com um livro em mãos, não era miragem. Não era possível que teria tamanho cinismo para ir até ali como se nada tivesse acontecido; como se não tivesse acabado de assassinar um membro da família. Eu não deixaria ele entrar ali, não eu estando sozinha. E se conseguisse, ele nunca mais colocaria os pés naquela mansão.

Adentrei apressadamente a cozinha e liguei o nosso rádio – uma réplica aos dos anos 60 – e procurei a faixa de ópera. Foi quando “Stride La Vampa” gritou das caixas e eu coloquei no volume máximo. Não precisei espiar por sobe o ombro para ter a certeza de que Charlie havia parado à meio caminho da mansão e começara a procurar por uma cadeira de praia, que havia aos montes espalhadas pelo jardim.

Afinal, não tinha como alguém que pretendia ler um livro, ficar no mesmo cômodo em que um rádio gritava ópera. Sorri internamente e fui buscar resposta na biblioteca particular do meu pai. Os livros sempre tinham as resposta para nossas dúvidas, ele sempre dizia.

— Senhora Deville? ... Senhora Deville? – Chamou a voz da matriarcal da casa. Esta, vinha fazendo um laço em seu róbe de seda com a mesma tonalidade azul de seus olhos. O cabelo loiro aruivado estava bagunçado mas ainda assim transmitia um ar nobre àquela bela mulher. As semelhanças desta para com sua filha eram poucas, mas ambas tinham muita beleza. Talvez o conjunto, olho e cabelo claro favorecessem mais a mãe mas sua filha também não ficava para trás.

Com o corpo esguio e firme, exibia uma pele branca como leite desprovida de manchas, seus cabelos negros como a noite eram estranhamente perfeitamente ondulados. Sobrancelhas grossas na medida certa destacavam seus olhos que era o mais intrigante ali; uma mistura de negritude com o azul da mãe e um secto de castanho do pai, definitivamente chamava muito mais atenção do que o chanel loiro aruivado da mãe.

— Onde ela está? – Se dirigiu á filha assim que entrou na cozinha e encontrou esta sentada na redonda mesa de madeira.

— Eu ainda não a vi. – Mentiu a menina, sem levantar os olhos do livro que tinha em mãos.

A mãe suspirou e desligando o rádio desejou “Bom dia”.

— Passou do meio dia. – Ela anunciou em tom neutro para a mãe, que sorriu e levou uma das mãos ao rosto. Esta desceu os olhos para o livro que sua filha lia – “Enciclopédia de Funerais e Lutos” – e disse:

— Será que poderi...? – Deixou a frase inacabada ao olhar para a mesa e ver que ali tinha uma grande xícara cheia de café. A mãe se esticou pegando a xícara cuidadosamente e bebendo um gole. – Essa é a minha menina.

— O que você vai fazer hoje? – Após segundos de silêncio a mãe perguntou; numa tentativa de início de conversa.

— Pensei em fechar janela e cortinas, parar os relógios e depois me deitar.

— Não seja mórbida... Troque esse vestido, o que que é isso? – Perguntou a mãe apontando para o vestido da filha; preto, justo nas mangas e até aonde se acinturava, de comprimento médio.

— É meu traje de luto.

Após alguns segundos de silêncio, analisando o rosto sem expressões da filha, Lena pede: - Olha, porque não saímos um pouco? Podemos fazer compras, tomar um sorvete... – Ela tinha um singelo sorriso no rosto.

— Na era vitoriana esperava-se que a viúva ficasse dois anos de luto...no mínimo. – Falou Evie, encarando a mãe com o semblante sério. Ela, claramente, desgostava das ações da mãe. Já que seu marido acabara de falecer; esperava, ao menos, um pouco mais de isolamento.

— Evie...Você e eu, sorvete, ar puro... – Lena suspirou, cansada. – Vamos lá... Todos esses anos viajando com ele para caçar e tudo o que eu peço é uma tarde comigo. Seu pai iria gostar muito disso.

Por um momento a mãe acreditou ter visto resquícios de uma mudança de idéia estanpar-se no rosto da filha. Ela levantou seus olhos bicolores e encarou uma linha reta à sua frente. Lena continuou a dizer o que acreditava estar surtindo efeito na menina: - Nem sempre seu pai e eu fomos tão distantes. Sinto saudades de quando... – A mãe seguiu o olhar da filha, por intuito, e por um segundo quase se esqueceu de terminar a frase, e que terminou encarando o rapaz que lia, sentado, numa das cadeiras externas da casa. - ...ele era jovem.

Evie não viu o sorriso no canto dos lábios da mãe que se formou após o termino da frase.

O som rouco do motor se afastando foi ouvido pela menina de olhos bicolores, que estava sentada em frente ao piano. Esta suspirou, decepcionada pelas atitudes da mãe; não ia se admitir seguir pelo mesmo caminho, acima de tudo respeitava o falecido pai.

Pôs se a tocar Nocturne 20 in C Minor, Chopin, mas parou antes de terminar o ato.

Havia tramado uma ideia e sabia que, se não fosse feita naquele momento, não haveria outro. Então parou de tocar e seguiu em direção ao segundo andar.


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Notas finais do capítulo

NÃO DEIXEM DE COMENTAR,
XOXO.



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