Em Família escrita por Aline Herondale


Capítulo 20
Olhar


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigado a todos os meus leitores queridos que aguardaram pacientemente, até hoje, para ler a continuação da fic♥. Finalmente encontrei meu pendrive escondido no - submundo - meio dos sofás ( é incrível a quantidade de coisas que se encondem ali!).
Prometo a partir de agora, tomar mais cuidado com meus bebês.
AH, quero agradecer, também, a Mardy Bum pela linda recomendação. Esse capítulo vai para você flor.
Espero que gostem!



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Mais uma vez eu esperava o fluxo de alunos diminuir dos corredores até chegar o ponto em que mais ninguém estava lá, sendo o momento oportuno para eu ir embora.

Com a insistência de Charlie em me buscar na escola, precisei encontrar uma forma de esconder, de todos, que aquele homem estava ali para me buscar.

Mesmo já tendo se passado semanas desde sua primeira aparição na porta do colégio, ele era uma fofoca presente diariamente nos corredores e na boca de todos. Principalmente no grupo do sexo feminino. Se meu segredo viesse à tona, eu nunca conseguiria lidar com as garotas me olhando feio ou tentando me agradar para se aproximarem.

Depois de traçar vários planos e estudar formas de sair sem ser pega, descobri que se você permanecer por trinta minutos no banheiro feminino, após o término de todas as aulas, a escola sofre um processo de desabitação incrível. Os corredores ficam limpos e nem mesmo os zeladores permanecem no prédio. Sorri internamente quando descobri essa façanha e venho agindo assim desde então.

– Ei! Ei!Você ai! - Escuto alguém gritar nas minhas costas mas não paro de caminhar. Estranhamente havia alguém, além de mim, nos prédios da escola.

– Garota! Ei! Espera! – A voz grita mais uma vez.

Giro a cabeça e paro no lugar. Dois garotos corpulentos e trajando preto e roupas góticas correm até mim, ofegantes. Um deles tem o rosto familiar mas não consigo encontrar nas minhas memórias de onde já o vi.

– Você é a garota que saiu com o Whip, não é? – O familiar pergunta.
Franzo o cenho.

– “Que saiu”?... – Repito as palavras usada por ele, fazendo uma carranca. Não me recordava da última vez que havia ido ao centro, o que me diria sair com alguém como o Whip!

– Foi...foi você sim, tenho certeza. Você apareceu no Rocket aquela noite, lembra?

Foi quando um lampejo da noite em particular inundou minha mente. A noite em que Charlie alisou os seis da minha mãe, a noite me que sai correndo pela mata, em que encontrei um bar de motoqueiros e, coincidentemente, Whip estava lá. A noite em que ele morreu. A noite em que eu o matei.

Indiretamente.

Mas se eu não tivesse chegado ao Rocket e o chamado para dar uma volta, talvez ele ainda estivesse aqui.

– Sim, sou eu. – Consigo responder.

– E então. Tem alguma notícia dele? Sei lá... Aquela foi a última vez que o vimos antes dele...sumir. – O outro disse, tremendo os olhos e suando frio. Ele parecia não se permitir imaginar que o pior havia acontecido.

Falhei uma pulsação e meus olhos piscaram freneticamente - haveria alguma possibilidade desses dois estarem desconfiando de mim? Claramente que sim, para vierem me questionar, frisando a parte de ter sido comigo a última pessoa com quem viram com o Whip.

Meus olhos bicolores rolarem de um rosto parao outro mas tudo que eles expressavam eram...curiosidade.

Não.

Eles não sabiam de nada.

Estavam apenas ali, preocupados, com o paradeiro de um dos seus.

Depois de chegar a essa conclusão consigo respirar melhor e meu peito se eleva, agradecendo a passagem de ar.

Não posso falhar, não agora, não na frente desses dois góticos. Ou tudo vai por água a baixo.

Inclusive eu e Charlie.

O que eles estão fazendo é perfeitamente normal, amigos preocupados, questionando para todos e qualquer um com quem eles viram o colega desaparecido; nada demais. Não é como se suspeitassem de mim.

– Na...não. Não o vi mais depois daquela noite. Ele me deixou em casa e foi embora sozinho. - Menti.

O mais alto bufou e apertou os olhos, um tanto frustrado.

– Porra, aonde ele se meteu! - Berrou e virou as costas, voltando pelo caminho que veio correndo.

– Obrigado moça. - O outro agradeceu, meio sem jeito pela reação inesperada do amigo, e se apressou em seguir o que se afastava.

Também apertei meus passos. Agora, mais do que nunca, eu queria sair da escola o mais rápido possível. E quando atravessei as portas da escola havia apenas uma figura solitária, posicionado em baixo do carvalho que cobria todo o seu conversível. De longe parecia mais uma estátua, mesma posição, encostado sempre do lado esquerdo do capô, sempre com os Club Master e as roupas alinhadas.

E, involuntariamente, soltei o ar que não percebia estar segurando, até agora, de modo relaxado.

Caminhei até Charlie, que abriu a porta para eu me sentar, e deu a volta, ligando o carro e dando a partida.

Normalmente não falávamos nada, apenas apreciávamos o movimento da cidade, o cheiro de campo e eu deixava o vento bagunçar meu cabelo. Mas, no momento em que paramos no primeiro sinaleiro vermelho Charlie virou o rosto e me fitou silencioso.

– O que te aflinge? - Perguntou após dar a partida e continuar o caminho até o casarão.

Engoli seco.

Me perguntei como deveria estar minha feição para ele pressupor que algo teria acontecido comigo. Seria, eu, alguém tão fácil de expressar emoção?! Me repreendi mentalmente.

Empinei o nariz e fechei o semblante.

– Nada. - Respondi no tom mais neutro que consegui. Poderia não ser nada, mas a ideia daqueles garotos suspeitarem de mim estava me aterrorizando.
Charlie não perguntou mais nada e assim que ele estacionou seu carro azul Royal, abri a porta e caminhei para a entrada da mansão o mais rápido que consegui. Que, infelizmente, não foi o suficiente. Meu tio me prendeu quando contornava o automóvel, me deixando entre a parede do casarão e a possibilidade de contornar, pelo outro lado, o carro - o que seria ridículo.

Fitei meus oxfords.

– Sabia que é muito boa na arte da omissão? - Charlie disse de modo zombeiro.

– Não é o que me falam.

– Então, talvez, esteja perdendo a prática. - Disse e depois continuou, quando me mantive calada. - Não é difiícil, Evie. Basta você falar olhando diretamente nos olhos da pessoa.

Levantei meus olhos e fitei suas lentes negras.

Charlie, lentamente, levou sua mão até o seu Club Master e os retirou.

Respirei fundo e não me permitir desviar. Suas orbes estavam num tom de azul claro e límpido, como se eu estivesse encarando o fundo de uma piscina ou o céu de um dia sem nuvens.

Lindo.

Um sorriso de canto nasceu no canto dos seus lábios.

– Agora pode me dizer o que aconteceu na escola.

– Já disse, nada. - Frisei, começando a me irritar com sua insistência - algo do qual não deveria já que não era mais uma novidade, para mim, dessa sua característica.

– Talvez não saiba disso também, mas, dizem que os olhos são a porta da alma das pessoas. E porque os seus estão tão trêmulos e escuros?

– Minha melanina é escura.

Charlie riu e eu perdi o ar. Ele estava perto demais para ações como essa, seu perfume exalava com todo movimento seu, por mais mínimo que fosse, e lavanda me envolvia num abraço gentil.

Eu precisava sair dali.

– Percebi que era uma garota reservada desde o primeiro momento que pus meus olhos sobre você. Mas acreditei que existira uma brecha, afinal, ninguém sobrevive sozinho. Sem ajuda. - Ele comentou.

– Nunca pedi. - Rebati.

– E ainda bem que sou bom com as entrelinhas... - Charlie logo respondeu.

– Claro Quem não gosta de um bom Dom Casmurro? - Falei sorrindo internamente. O que eu mais queria era confundi-lo e rebater todas as suas respostas, era prazeroso demais. Mas eu não podia brincar com a sorte.

Charlie apertou os olhos e deu um passo na minha direção. Colocou uma das mãos nos seus bolsos mas assim que abriu a boca o som que veio foi de alguém de dentro da mansão.

– CHARLIE. - Minha mão gritava, fazendo sua voz ecoar por todos os andares da mansão.

Meu tio girou o corpo, verificando se havia alguém nos observando e aproveitei a oportunidade para comprimir meu corpo entre o dele e a parede e seguir caminho até a casa.

Soltei o ar dos pulmões como se o mundo saísse de sobre os meus ombros.


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Notas finais do capítulo

NÃO DEIXEM DE ME CONTAR O QUE ACHARAM!
XOXO
Mereço uma recomendação?



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