Deborah Egan abriu seus olhos, cansada. O relógio ao lado de sua cama marcava 11h. Havia dormido muito, mas, no seu ponto de vista, ela merecia. Era domingo e ela havia começado, no dia anterior, suas férias do serviço - um pub local onde trabalhava como garçonete. Suspirou fundo e levantou-se da cama, sentindo seus pés baterem contra o piso frio.

Ela morava com seus pais no litoral brasileiro. Estavam na segunda semana de julho, o que significava que ela acabara de começar suas férias de inverno na faculdade e também começara as férias do serviço, pelo menos por duas semanas ela teria folga. Mas também significava que o tempo estava extremamente frio, o que a desagradava inteiramente. Amava o verão. O calor a deixava feliz. O inverno a deixava melancólica.

Entrou no pequeno banheiro que possuía em seu quarto e tomou um banho quente. Assim que saiu, vestiu um moletom preto velho, que, na verdade, fora seu moletom de formatura no ensino médio, e uma calça, também de moletom, cinza. Calçou suas pantufas (eram panteras negras) e prendeu seu cabelo, indo para a cozinha.
Não encontrou seus pais lá, apenas um bilhete em cima da mesa:

''Olá, querida. Seu pai e eu decidimos viajar para a praia onde o senhor Pablo mora, não há bons peixes aqui nessa época do ano e estamos precisando de dinheiro. Voltaremos terça feira pela manhã. Se cuide, deixei almoço para você na geladeira. Beijos. ''

Deborah não gostava de quando seus pais viajavam, sentia-se sozinha e odiava aquilo. Mas as condições financeiras deles não eram as melhores, por isso compreendia a situação. Respirou fundo e pôs a mesa, depois foi até a geladeira e pegou um prato que continha um pedaço de lasanha. Sua mãe sabia suas preferências. Aqueceu a comida no microondas e sentou-se para comer.

Estava quase terminando sua refeição quando Mel, sua gatinha, pulou no seu colo.

–Olá, Mel. - Falou a jovem, fazendo uma voz mais infantil e acariciando a cabeça do pequeno animal. - Está com fome? - A gata, como se entendesse, miou em resposta, arrancando uma risada da garota que pegou um pedaço de lasanha e colocou no chão. Logo Mel estava comendo, com aparência faminta. - Quem vê você comendo com toda essa voracidade, até imagina que eu não te alimentei ontem a noite.

Deborah terminou sua refeição, então arrumou a mesa e lavou a louça, deixando-a na pia para escorrer um pouco, com a intenção de secá-la mais tarde. Limpou o chão onde havia colocado a comida para Mel e foi até a lavanderia pegar alguns panos e produtos de limpeza. Depois dirigiu-se até seu quarto. Fazia três semanas que ela não o limpava. Seu tempo era dividido entre faculdade, emprego e achar respostas mal educadas para os clientes que lhe passavam cantadas. Com isso, não tinha tempo para faxina.

Começou recolhendo todas as roupas que precisavam ser lavadas e colocou-as na máquina de roupas. Depois limpou em cima dos guarda roupas e dentro deles. Trocou os lençóis da cama e tirou pó de suas estantes com livros. Se havia algo que ela amava na vida, era ler. Era simplesmente viciada naquilo e depois que pegara seu namorado de três anos a traindo com sua amigo de infância...bem, basta dizer que a leitura fora a única escapatória do sofrimento que ela encontrara.

Enquanto tirava o pó dos seus duzentos e poucos livros, encontrou um que ela amava. Chamava-se '' a maldição do tigre''. Ela ainda lembrava-se da primeira vez que lera aquela livro e de como se sentira atraída por uma personagem, Kishan. Suas amigas já haviam lhe contado sobre ''paixões literárias'', mas até aquele dia ela não acreditara naquilo. Mas, depois de ler aquele livro, sentiu como se ela tivesse uma conexão com aquele belo personagem indiano.Por muitas vezes pegara-se pensando em como seria maravilhoso se ele fosse real. Acabou rindo em meio aos seus pensamentos. Aquilo fora a uns quatro anos atrás. Eram coisas típicas de criança, agora ela era adulta - ou preferia pensar assim, já que já tinha 19 anos.

Mel pulou no seu colo enquanto ela admirava a capa.

–O que foi, gatinha? - O animal miou em resposta. - Quer que eu leia essa história para você? - Novamente a gatinha miou e se aninhou ao lado da dona, que riu. - Tudo bem, eu lerei para você, mas primeiro vou terminar de limpar nosso quarto.

A garota levantou-se e terminou de limpar o chão do cômodo. Depois pegou suas roupas, que ela colocara na secadora, e guardou-as em seus devidos lugares. Depois colocou um pouco de seu perfume de maçã verde pelo quarto e, por fim, sentou-se na sua cama, admirando seu trabalho. Logo Mel pulou em seu colo, aninhando-se sobre suas pernas.

–Tudo bem, já entendi. Vou contar a história para você.

A gatinha ronronou e enroscou-se melhor.

Deborah abriu o livro e foleou alguns capítulos, até encontrar o que ela queria. Era o capítulo em que Kelsey, a personagem principal da história, via Kishan, o tigre negro, na forma de homem pela primeira vez. Deborah amava aquela parte, permitia que ela sonhasse com seu príncipe encantado, mesmo que ela tivesse consciência, ainda mais depois de seu ''trágico'' ex-namorado, que príncipes encantados não existiam.

A garota começou a ler para Mel aquela página, pensando na descrição que Kelsey fazia dos belos olhos dourados de Kishan. Como ela queria encontrar alguém como ele.

Ela estava quase terminando a página quando as luzes piscaram. A garota parou por uns segundos, mas viu que as luzes normalizaram-se novamente. Continuou lendo para Mel, embora a gatinha já estivesse dormindo. Quando ia começar a ler a outra página, sentiu seus cabelos se soltarem. Largou o livro e tentou encontrar o rabicó que prendia seus fios. Não encontrou. Suspirou e tirou Mel de seu colo, levantando-se para pegar outra borrachinha. Porém, assim que levantou-se, parou assustada. Na sua frente encontrava-se um belo homem. Ele era alto e tinha a pele bronzeada. Vestia uma calça jeans e uma camisa polo preta, que marcava bem seus músculos desenvolvidos. Seu cabelo era preto e batia no seu queixo. Seus olhos possuíam um belo tom dourado.

Deborah não conseguiu nem gritar, aquele homem se parecia demais com o Kishan do livro. Num momento de pavor, a garota desmaiou.