Tudo por Nico di Angelo escrita por Mariana Pimenta


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Olá!! Eu sei que demorei, já faz quase um mês que eu não posto. Mas finalmente eu consegui um tempo.
Boa leitura!



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Posso dizer que as coisas finalmente estavam dando certo. E ficaram assim por mais um tempo, mas é claro que tudo tinha que ficar pior do que estava antes de eu entrar no cemitério.

Primeiro, eu disse para Nico que tenho a benção de Hades e o básico, que eu fugi de casa e do acampamento, essas coisas. Mas aí ele disse que queria que eu contasse a história toda, com detalhes.

Aí eu realmente contei tudo: Madrasta, a morte do meu pai, a minha fuga, a descoberta da benção, minha chegada no acampamento, meus irmãos,... Deu pra entender. Ele era bom ouvinte.

Quando terminei, ele contou a história dele. Bianca, as batalhas, o Mundo Inferior. Nós dois contamos tudo. Ou pelo menos quase tudo. Novamente não contei sobre as marcas. Não era importante.

Já eram mais de cinco horas quando abri minha mochila e joguei para ele um pacote se salgadinho.

— Sério? – ele perguntou – Os seus recursos são muito limitados para você ficar...

— Se eu fosse você, calaria a boca e abriria logo essa droga.

Ele riu. E eu também ri. Eu não me lembrava da última vez que havia sorriso. Sorrido de verdade, feliz. Muito menos rido. Acho que foi até antes de meu pai ter anunciado a viagem para a Alemanha. Bem antes. Quando a vida não era tão ruim.

Abaixei os olhos rapidamente para abri o pacote. Levantei-os novamente, e Nico estava me encarando.

— Por que está me olhando?

— Nada. Eu só... Esquece.

— Pensando em Bianca?

Ele levou um tempo para responder, mas assentiu.

— Você é igualzinha a ela. Quase não dá para acreditar que não são irmãs.

— Pois é.

Não sei porquê eu disse isso, só queria dizer alguma coisa.

Nós dois começamos a comer os salgadinhos e ficamos em silêncio. Até que ele me chamou.

— Mariana. O que você acha da ideia de ir para o Mundo Inferior comigo?

— O que? – ergui os olhos.

— Eu estava indo procurar as Portas da Morte, e acho que um dos lados é no Mundo Inferior. Minha viagem nas sombras deu errado e eu parei em Nova York. Se quiser, podemos resolver o seu problema. Vamos falar com meu pai.

Pisquei.

— Está falando sério? Faria isso por mim?

— Claro. Estou curioso.

— Mas você não disse que isso o deixar exausto mesmo sozinho? Uma viagem nas sombras até o outro lado do país... não acha que é perigoso?

— Não muito com você ajudando. Acho que essa benção de Hades serve para alguma coisa além de afastar as pessoas de você.

— E me deixar menos inteligente do que os outros filhos de Atena. – continuei – E não deixar meu medo de aranhas tão intenso.

— Talvez você tenha os mesmo poderes que eu.

É, eu não tinha contado para ele que eu já sabia que tinha poderes. Também não era importante.

Fiquei um tempo calada. Tudo estava indo certo demais. Embora pudesse ser outra obra da sorte. Por que eu perderia a chance de saber tudo sobre a coisa que está arruinando a minha vida?

— Eu topo. – eu disse e, por algum motivo, continuei – É melhor você dormir um pouco. Precisa descansar. Eu fico de vigia.

— Qual foi a última vez em que você dormiu?

— No acampamento.

— Então você descansa e eu fico de vigia.

— Nico, não precisa...

— Eu insisto.

É verdade que eu estava cansada (não é para menos, caminhei uns 70 quilômetros sem parar), mas eu podia aguentar mais. Contudo, eu sabia que discutir não ia me levar a lugar nenhum. Então, tirei meu facão da bainha, me deitei na grama de bruços, tirei os óculos e deixei o facão ao meu lado. O cansaço me venceu cinco segundos depois, quando eu já estava dormindo.

Não sabia quanto tempo havia se passado. Só sabia que quando acordei, minha mochila não estava perto de mim, como antes. Nico estava de costas para mim e estava claramente olhando as anotações do caderno com a mochila aberta do seu lado.

Diferente do que aconteceu no acampamento, eu não fiquei com raiva. Nem um pouco. Acho que eu sabia que isso ia acontecer.

Me sentei na grama, sem fazer barulhos e arranquei uma folha do chão. Comecei a “limpar” o facão com aquela mera folha.

Depois de virar algumas páginas, ele guardou o caderno. Ele encontrou a foto, mas logo a guardou. Então, ele puxou a boneca e a examinou. Acho que ele percebeu o corte na cabeça, mas não conseguiu ver o que era, pois eu fiz algum som com a lâmina, e Nico ouviu. Se virou rapidamente, com uma das mãos no cabo da espada e a outra no grama, para se levantar. Ele pareceu ficar ligeiramente corado.

— Mariana. – começou. Eu me segurava muito para não rir – Olha, eu... Desculpe, eu...

Parei de passar a folhinha pelo bronze celestial e olhei para frente. Tentei parecer séria, o que não costuma ser muito difícil, mas eu não estava aguentando muito no momento.

— Um motivo. Eu quero que você me de um motivo para eu não enfiar esta faca em você agora mesmo.

Pronto. Isso pareceu ameaçador. Pensei.

Ele não pareceu pensar muito no que estava dizendo quando respondeu:

— Sou a única pessoa que te compreende. E que realmente te aceita. E você precisa de mim para chegar ao Mundo Inferior.

Passei a língua pelos lábios e finalmente o encarei, usando boa parte da minha força para não rir da cara dele.

— Parabéns. Você acaba de ganhar o direito de não ser morto por mim.

Nico pegou a boneca caída na grama e a colocou delicadamente dentro da mochila.

— Mariana, me desculpe. Eu... eu só... fiquei curioso... e eu...

— Nico. – eu disse, me aproximando um pouco mais – Eu não estou chateada com você.

— Não?

— Não. É claro que não. Nos conhecemos faz apenas algumas horas. É aceitável que você fique curioso. Você não me conhece, do mesmo modo que eu não te conheço.

— Bem, OK. Mas mesmo assim, desculpe.

— Não tem problema.

Nico pegou a boneca novamente.

— Você já viu isso aqui? – ele apontou para o corte.

— Ah, isso. – peguei a boneca de suas mãos – É por isso que meu pai me deu essa boneca.

Fiz a mesma coisa que meu pai fez quando me deu a boneca: deixei ela com o cabelo loiro. Passei os dedos pelos fios claros para ajeitá-los.

— “Como qualquer outra filha de Atena”, foi o que meu pai me disse. – admirei a boneca em minhas mãos – Foi para eu me sentir melhor.

Coloquei a boneca como estava antes e guardei-a.

— Bom, acho que é minha vez de ficar de vigia.

— Claro. – disse Nico, deitando-se na grama. Percebi que ele adormeceu quase instantaneamente.

Fiquei um tempo só olhando para os lados e observando Nico dormir. Até que em uma dessas vezes em que eu olhei para o lado, vi uma torneira, a alguns metros de distância. Levantei bem devagar e olhei em volta. Não havia ninguém no cemitério. Nenhum sinal de monstros.

Coloquei o facão na bainha e deixei a mochila ao lado de Nico. Assim, se ele não me visse de imediato, saberia que eu ainda estava por ali.

Levantei e caminhei até a torneira, prestando atenção para ver se não aparecia nenhum monstro. Abri a torneira e tirei uns pedaços de musgo que tinham ficado presos no casaco. Enquanto fazia isso, puxei um pouco a manga, esperando ver meu braço ensanguentado, como sempre.

Mas não foi isso o que eu vi.

Só havia sangue em cima das marcas.

Fiquei arrepiada por ver meu antebraço limpo daquele jeito. Tirei o casaco, para ver se ainda estava encharcado de sangue.

O. Casaco. Estava. Limpo.

Não havia nenhuma única gota de sangue nele. Era como se minha pele tivesse sugado todo o sangue do antebraço e do casaco. Nem se eu passasse o dedo pelas marcas o sangue saía.

Eu sorri. Tinha muito tempo que eu não via aquela pele assim.

Mas meu casaco ainda estava sujo de coisas com musgo e eu comecei a limpá-lo. Tive que tirá-lo para limpar as costas e aproveitei para examinar melhor as partes internas das mangas. Realmente não havia nada.

Senti uma mão no meu ombro e dei um salto, assustada. Era Nico.

— Minha vez de assustar você.

— Não faça isso de novo.

Mesmo que tentasse não demonstrar, deva para ver que ele havia notado as marcas. Tentei colocar o casaco novamente antes que ele perguntasse, mas não deu.

— O que é isso no seu braço?

— Nada. – tapei as marcas.

Nico puxou o meu braço esquerdo e o examinou.

— São ferimentos – observou – E profundos. O que aconteceu?

Eu precisava contar. Só não havia contado porque ninguém perguntara, porque eu não mostrei. Tinha certeza que poderia confiar em Nico. Talvez, ele até tivesse alguma explicação.

— Meus tratos em casa.

— O que aconteceu? – repetiu Nico.

Fechei a torneira, peguei meu casaco e fui para onde nós estávamos antes. Só então respondi.

— Minha madrasta me odeia. Ela achava que tudo o que eu fazia estava errado. Com a morte do meu pai, as coisas pioraram. Ela sempre me dava ordens, mas eu nunca às seguia. Como punição, ela pegava uma faca na cozinha e fazia um corte profundo nos meus antebraços. Cada uma das linhas é uma ordem descumprida. Pelo menos as que ela percebia.

— Mas isso já faz quase dois meses, e ainda estão vermelhas como sangue. Por que isso ainda não sarou?

— Eu também não sei. Já procurei em livros e na internet e nada. E a última coisa que eu preciso é ter que ficar mais alguns dias no acampamento, enquanto os curandeiros de Apolo e quem mais estivesse na enfermaria tentassem tirar essas feridas.

— Talvez sejam as facas.

— Eu já olhei também. Nada.

— Por isso você não queria tirar o casaco no acampamento.

— Exato.

Pode ter demorado, mas parece que o néctar e a ambrosia do acampamento finalmente estão fazendo efeito. Pensei.

O néctar e a ambrosia. Por que eu pensei que tinha sido isso? Me sinto até envergonhada de ter realmente pensado que era isso.

Examinei tudo o que tinha na mochila e colocando o casaco, disse:

— Bem, se você acha que dá, podemos ir agora. Acho que já descansamos o suficiente.

— Pode ser.

É claro que a noite e a escuridão ajudam na viagem nas sombras. E o contato com os mortos também. Que lugar seria melhor do que um cemitério à noite? Só o que estava contribuindo muito era a distância.

— Primeiro, tente pensar no lugar em que você quer ir. Já esteve em alguma parte de Los Angeles? – indagou Nico. – Conhece um lugar chamado Estúdio de Gravação M.A.C.?

— Fiz uma viagem com o meu pai uma vez. Tem um depósito abandonado perto. Bom, ainda deve estar abandonado. Podemos ir para lá.

— Sei onde é. Vamos. Me empresta a sua mão. – ele disse estendendo a própria.

Ergui minha mão direita e agarrei a dele. Não era um aperto de mão. Era só para fazermos a viagem juntos.

Do nada, tudo ficou escuro, e eu senti um frio na barriga. Então, tudo ficou claro e minha mão se desprendeu da de Nico. Eu caí no chão e ele caiu ao meu lado.

— Você está bem? – perguntei.

— Claro. E você?

— Estou bem.

Pulamos por uma das janelas quebradas e caminhamos pela rua deserta.

— Se eu soubesse que viajar nas sombras era tão fácil, minha jornada até o acampamento não teria durado uma semana.

— Só deixa cansado. Fora isso, é um bom meio de transporte. Aqui. Chegamos.

O que eu conseguia ver do lado de fora era o carpete e as paredes de um cinza-chumbo, móveis de couro preto, e todos os assentos ocupados por figuras transparentes.

— Deixa que eu fale com Caronte. – disse Nico, e indo falar com um cara alto de terno nos fundos da sala.

Fiquei encostada na parede enquanto Nico falava com Caronte. Nico olhou para mim por cima do ombro e fez um sinal para eu me aproximar.

Cruzei os braços e caminhei até eles. Caronte olhou para nós dois e perguntou:

— Vocês são irmãos?

— Não. – respondemos juntos.

— Tudo bem, então. Algum de vocês tem um dracma? Não faço serviços adicionais de graça.

— Eu tenho. – tirei da mochila um dos dracmas da aposta que meus irmãos perderam e joguei para ele.

— Ótimo. Boa viagem.

Caronte estalou os dedos e tudo ficou escuro por dois segundos. Senti meus olhos se abrindo e olhei para os lados.

Eu nunca soube o que esperar que fosse o Mundo Inferior. Mas correspondeu bem as minha expectativas de um lugar cheio de fogo, almas berrando nos Campos de Punição e filas para o Pavilhão dos Julgamentos ou para o Campos de Asfódelos.

O Mundo Inferior não é o lugar mais assustador que existe. Estávamos passando pelos Muros de Ébero quando algo muito grande apareceu na nossa frente.

Cérbero.

— Sai, Cérbero. Não tenho para ficar brincando agora. – ralhou Nico.

O cachorro gigante não saiu do lugar. Cruzei os braços e ergui uma sobrancelha. Ele não me intimidava e eu estava com excesso de pressa e falta de paciência. Fiquei encarando seus olhos enormes e disse:

— Sai. Da. Frente.

Ele andou para o lado e eu e Nico passamos.

— Como você fez isso? – ele perguntou.

— Sei lá. Mas também não estou com muito ânimo para brincar de “vá buscar a bola”.

— Nem eu.

Andamos o resto do caminho em silêncio. Até que eu vi um palácio todo preto um pouco mais ao longe.

— O palácio do meu pai é bem ali. – Nico apontou – Vamos lá.

Alguma coisa aconteceu assim que Nico acabou a frase. A temperatura pareceu cair cinco graus e tudo pareceu ficar mais quieto e tenso. Então, nós dois ouvimos uma voz:

Por que você se limita a isso, Filho de Hades?” A voz parecia vir do chão. Já tinha uma ideia a quem ela pertencia. “Ajudando uma semideusa pelo simples prazer de ver o rosto da sua irmã novamente. Que idiotice!”.

— Gaia. – eu disse – Não dê ouvido a ela. Vamos.

Ah, Filha de Atena”, continuou a deusa. “A benção de Hades a assusta? Em todos os lugares que vai, as pessoas não a aceitam, e sente-se na obrigação de se esconder.”

— Esconder? – minha cabeça ficou confusa de repente. Balancei-a rapidamente para acordar – Ela está mexendo com nossas mentes. Vamos.

O que você considera sua prioridade, Nico?”, perguntou Gaia. “Procurar as Portas da Morte ou ajudar a sua amiga?

Ninguém se moveu.

Você é o filho de Hades. Sabe muito bem onde ficam as Portas da Morte. Por que deixar a sua busca para depois?

De repente, Nico pareceu confuso e piscou.

— Eu... é que... bem...

Vá para as Portas, Nico.” Ordenou Gaia.

Foi aí que eu pensei “Agora tudo ferrou de vez.”.

Sem piscar, Nico se virou e foi em outra direção. Sabia que isso seria um problema, pois foi Gaia que mandou. Aí eu vi para onde ele estava indo: um buraco bem a leste do mundo Inferior, com um monte de pedras em volta.

Sabia muito bem para onde Gaia estava mandando ele.

— Nico pare! Acorda! – eu balançava-o pelos ombros. Estava quase dando um tapa na cara dele.

— Me solte. – ele disse. Dava para ver só pela voz que não era ele falando – Eu sou o filho de Hades. Posso andar em qualquer lugar do Mundo Inferior. Ninguém pode me ferir ou me controlar aqui.

Achei uma verdadeira uma idiotice falar isso, já que ele estava sendo controlado por Gaia, mas não liguei. Porque ele estava sendo controlado por Gaia.

Eu tentava agarrá-lo e puxá-lo para longe, mas ele me empurrava. Até que ele se aproximou demais do buraco e eu me impedi de avançar, pois sabia que existia a possibilidade de cair.

Ele estava a meio metro da borda. Deu as costas para o abismo e disse:

— Viu? Não aconteceu nada.

Eu empalideci, mais ainda, tão rápido que senti a cor sair do meu rosto. Alguma coisa, alguma força, fez com que Nico perdesse o equilíbrio. Como se estivesse em câmera lenta, eu o vi cair para trás, dentro do abismo. Só o que consegui fazer foi dar um passo para frente e gritar:

— Nico!

E ele desapareceu.

Se eu fosse você, iria atrás dele. Quem sabe ele está agarrado em uma das pedras?” disse Gaia.

Eu fiquei tão aterrorizada que eu só conseguia pensar “Eu preciso sair daqui. Eu quero sair daqui.”.

Então tudo ficou escuro e eu senti um vento fraco no meu rosto.

Só o que eu pensei foi “Eu também caí?


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?? Ficou bom? Comentem!
Eu preciso da opinião de vocês: desde antes de postar a fanfic, eu já tinha começado a fazer a capa, mas eu não sabia mexer no photoshop e eu também não sou uma expert agora. Está quase pronta. Talvez, só talvez, eu a lance junto com o próximo capítulo. Mas como a história é focada no Nico, além da Mariana, é claro, eu preciso colocar uma foto dele na capa. E eu não sei qual eu coloco. Sabe aquele desenho que a viria, a super artista que faz os melhores desenhos de personagens desse mundo, fez que tem um Nico de corpo inteiro e outros sete que é só o perfil? É uma daquelas fotos que eu queria colocar. Só uma.
Qual você preferem? Qual a que tem mais a ver com a história? Tentem descrever a expressão dele, ou coloquem um número, contando de cima para baixo e da esquerda para a direita, e a de corpo inteiro é a última.
Comentem!!



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