Tudo por Nico di Angelo escrita por Mariana Pimenta


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Oi, leitores! Tudo bem? Feliz Páscoa!
Esse capítulo tem uma pequena quebra de tempo, como você vão poder ver.
Espero que gostem! Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/469973/chapter/26

Alerta de spoiler: antes de começarmos a namorar, Nico di Angelo me beijou três vezes. Vocês já sabem sobre os dois primeiros. Está na hora de saberem sobre o terceiro.

.......

Eu estava dormindo muito bem. Muito bem mesmo. Não lembro se sonhava com algo, mas como sonhos de semideuses costumam ser perturbadores e bem, digamos, memoráveis, suponho que realmente não sonhava com nada.

Mas alguém tinha que me acordar.

Senti uma mão em meu ombro, balançando-me.

— Mariana. – disse uma voz.

Deduzindo ser Madrasta, a única pessoa daquela casa que ainda tinha a audácia de entrar no meu quarto às vezes, dei um tapa na mão, sem abrir os olhos, um claro sinal para me deixar em paz.

Claro que, sonolenta como eu estava, não prestei atenção ao fato de que Madrasta ainda costumava me chamar de coisas como “peste” ou “praga”, quase nunca pelo nome. E ao fato de que aquela não era nada parecida com a voz dela (e não tinha aquele tom impaciente e irritante de sempre).

— Mari, acorda. – me balançou de novo.

— Me deixa dormir. – afastei a mão de novo e agarrei o travesseiro. Percebendo de quem era a voz, abri os olhos devagar. Eles se arregalaram quando vi que estava certa, e dei um pulo na cama, puxando o edredom para cima – Nico?!

— Oi. – ele estava sentado na cama, na minha frente. Olhou por cima do ombro rapidamente e voltou a me encarar, enquanto eu esfregava os olhos e colocava os óculos – Quando você vai aprender a fechar a janela? Qualquer um pode entrar aqui.

— Primeiro, como eu já disse, estamos no segundo andar, não é tão fácil subir aqui, ainda mais sem ninguém ver, com esses vizinhos fofoqueiros que eu tenho. Segundo, a cidade toda me conhece, praticamente, e todo mundo tem medo de mim. Ninguém vai tentar entrar aqui. Terceiro, meu quarto, minhas regras.

O filho de Hades esboçou um sorriso nos lábios e balançou a cabeça.

— Mas o que você está fazendo na minha casa, e invadindo meu quarto, me acordando as... – olhei o relógio na cabeceira – nove e meia da manhã de um sábado?

Nico sorriu como uma criança travessa antes de se virar e pegar algo atrás dele. Ele mostrou o que tinha em mãos: um cupcake com cobertura de chocolate com uma vela preta e branca. A forminha era preta com estrelinhas brancas.

— Feliz aniversário?

Fiquei pasma e feliz ao mesmo tempo. Minha boca se abriu, mas eu não sabia exatamente o que dizer.

— Você lembrou. – ele me ofereceu o bolinho e eu o peguei – Ah, Nico, não precisava.

— Talvez eu não precisasse te acordar, mas isso precisava sim.

— Não sei por que você faz tanta questão.

— Você nunca esquece o meu aniversário. Você nunca esquece data nenhuma. Eu esqueci o seu de 13 e o de 14, mas o de 15 eu prometi que não iria esquecer.

Eu sorri e o abracei, puxando-o para perto e mantendo o cupcake distante para não esbarrar. Nico pareceu travado por um segundo, mas me abraçou de volta.

— Agora, – eu disse, pegando a mão dele e colocando o bolinho nela com cuidado – você vai esperar aqui enquanto eu faço minha higiene matinal para eu falar com você direito. – e pulei da cama.

Encarei a pessoa no espelho do banheiro enquanto escovava os dentes. Odiava quando Nico me via de manhã. Só que normalmente ele tocava a campainha e me esperava na sala. Isso quando era fim de semana e ele vinha me visitar cedo. E também tinham as vezes em que ele me esperava na escola, ou para conversar e matar o tempo, ou para dizer que o mundo estava em guerra pela milésima vez.

Finalmente o mundo estava um pouco quieto. Eu posso ter aparecido no meio da bagunça (com mais uma vida bagunçada precisando de uma ajudinha), mas depois de Cronos, Gaia, a Triunvirato S.A., e todas as outras descobertas que foram feitas nos últimos anos... pessoas como Nico, Percy e Annabeth, que estão nessa desde o início, já estavam mais do que precisando de férias.

Lavei o rosto e voltei a olhar meu reflexo. Pelo menos eu não tinha espinhas. Mas meu cabelo cacheado ainda era um animal selvagem de manhã. Como não havia muito o que fazer, e eu não queria demorar, fiz o melhor que pude em pouco tempo e voltei para o quarto.

Nico encarava minha estante de livros, com o cupcake na frente do corpo. Virou-se quando me aproximei e me entregou o bolo. Procurava algo no bolso quando disse:

— Belo pijama.

— Cala a boca.

Olhei para mim mesma para ver se não havia nada de errado. Na maioria das vezes ele é sarcástico com esses comentários, mas nunca se pode ter certeza. De qualquer modo, não parecia ter nada de errado com meu short preto de bolinhas brancas e a regata preta com os dizeres “Do all things with Love” (“Faça tudo com Amor”, em inglês) também em branco.

Nico tirou do bolso um isqueiro escuro estampado com caveiras e acendeu a vela, enquanto eu segurava o bolinho com as duas mãos.

— Faça um pedido.

Olhei nos seus olhos antes de fechar os meus. Uma imagem nossa de mãos dadas passou pela minha mente, mas tentei afastá-la. Eu ainda gostava dele, sim, mas a nossa relação atual era perfeita: raramente brigávamos, passávamos muito tempo juntos, sempre ajudávamos um ao outro. Mudar isso poderia estragar tudo.

O que for melhor para mim. Pensei. Abri os olhos e soprei a vela.

— Agora – disse Nico – você vai sentar na sua cama e vai comer esse bolo enquanto eu digo o que preparei para hoje.

— Desde quando você me dá ordens?

Ele ignorou minha pergunta. Sentei-me na cama e comecei a comer.

— É daquela padaria perto do parque. – pensei um pouco – Biscoitos de chocolate. É. É igual ao que eu fazia com meu pai quando eu era pequena.

— É o sabor do seu néctar, não é?

— Você pensou em tudo, não pensou?

— Você ainda não viu nada.

Ele pigarreou e se empertigou, como se fosse apresentar um trabalho da escola na frente da turma.

— Eu fiz algumas pesquisas e vi que, por algum motivo que eu ainda não entendi, os aniversários de 15 anos são muito importantes para as meninas.

— Hum. – engoli um pedaço do bolo – Isso vem das culturas pré-colombianas, e depois os espanhóis adequaram isso à cultura deles. Quando uma menina fazia 15 anos, ela parava de ser tratada como criança e começava a ser tratada como mulher. Apresentavam-na à sociedade, com uma festa, simbolizando que ela já estava na idade para se casar e procriar. Era uma cultura bem machista.

Nico ficou me encarando durante minha pequena aula de história, com uma expressão de desaprovação.

— Você interrompeu meu monólogo.

— Desculpe. – voltei ao bolo com uma risadinha.

— Então, eu queria que você tivesse um aniversário diferente, sabe, mais animado do que os outros. As tradições das comemorações de 15 anos são festas gigantes ou viagens. Bom, não há muitas pessoas para chamarmos para uma festa, primeiro porque muita gente tem medo de você, principalmente na sua escola, e o acampamento está relativamente vazio nessa época. E nós dois sempre podemos viajar para qualquer lugar do mundo por viagem nas sombras, mas ficaríamos muito cansados com isso. E uma viagem de avião demoraria muito, e você está no meio do período de aulas.

Ele remexeu no bolso do casaco de aviador e tirou um papel dobrado.

— Então eu listei alguns lugares aqui em Denvan que a gente poderia visitar, para passar o dia. Tem parques, cinemas, shoppings, fliperamas, monumentos, restaurantes... Já fiz todo o cronograma, mas se você quiser mudar alguma coisa, a lista está aqui.

Dobrei a forminha vazia e levantei-me. Peguei o papel na mão de Nico e passei os olhos nos lugares listados. Ele realmente havia pensado nos meus lugares favoritos naquela cidade. Olhei o último item.

— Por que o parque do centro está em último? Tínhamos que ir lá cedo, aproveitar enquanto está claro.

— Ah, o parque pode estar cheio, com muito barulho, sabe, e nunca o vimos à noite, deve ser bonito.

— E por que está com um asterisco?

— Hã... – ele pareceu travar por um momento – Ah, eu devo ter colocado por engano.

A pior desculpa que ele podia dar? Com certeza. Mas fingi que acreditei.

— Claro. Bem, – devolvi a lista para ele – é melhor eu me arrumar, então. E você vai me esperar lá fora – comecei a empurrá-lo em direção a janela.

— Ei, não posso sair pela porta do quarto e esperar na sala? – perguntou, sentando no parapeito.

— Madrasta não viu você entrando. Não que eu me importe muito com a opinião dos outros, mas o que você acha que ela vai pensar quando vir você saindo sorrateiramente do quarto, agora de manhã?

Ele ficou me encarando e corou um pouco. Parece que entendeu, pois só assentiu e pulou pela janela. Assim que ele sumiu, saí correndo para o banheiro.

Fiz o máximo possível para meu cabelo ficar no mínimo apresentável, mesmo molhado. Peguei uma blusa preta com uma coruja branca estampada, uma das minhas favoritas; um short jeans escuro, que dava mais mobilidade que a calça jeans, era mais refrescante no calor que estava fazendo naquele dia, e era melhor para correr caso ao algo acontecesse (como monstros aparecendo do nada); e um par de botas pretas de cano curto. Meu relógio de sempre, uma pulseira, perfumes... A mesma coisa de todas as vezes em que nós saímos, o que era bem comum. Mas por algum motivo, eu me sentia diferente.

O fato de ser meu aniversário não mudava muita coisa. Já havíamos passeado assim antes, andando pela cidade para matar o tempo. Às vezes, íamos à biblioteca estudar um pouco. Mas dessa vez tínhamos um cronograma completo, bem pensado. Era um dia especial sim.

Peguei dinheiro, as chaves de casa e mais algumas coisas que pudessem ser necessárias e botei em uma bolsa, apressada. Nico estava esperando. Dei uma última olhada no espelho, respirei fundo, e a porta do armário fez um barulho alto quando bati.

Tranquei o quarto e desci rápido as escadas. Com a chave a meio centímetro da fechadura, ouvi uma voz a alguns metros atrás de mim.

— Já vai sair? – perguntou Madrasta.

Virei-me devagar. Ela estava na cozinha e deve ter me ouvido descendo as escadas. Só podia ver sua cabeça projetando da porta, e a testa estava franzida.

Olhei para os lados, procurando algo suspeito, que justificasse o tom preocupado dela.

— Vou. – eu disse, bem devagar.

— Você não tomou café. – ela fez uma pausa – Você sempre toma café.

Nota: não, ela não estava preocupada com a minha alimentação. Ela sabe que eu tenho uma rotina, e nas raras vezes em que eu fujo dela, tem um motivo. Mas como dessa vez ela não sabia de nada, provavelmente estava preocupada com, por exemplo, a possibilidade de eu ter sido possuída e o mal que isso poderia trazer para ela e para os filhos.

— Espere. – ela olhou para dentro da cozinha, na direção da geladeira, provavelmente para o calendário pendurado lá – Ah, sim. – e se voltou para mim com cara de tédio – Parabéns. – e voltou à cozinha.

Pisquei e voltei minha atenção para a porta, como se nada tivesse acontecido.

Nico estava com o ombro encostado na moldura da porta, brincando com a ponta da espada. Havia tirado o casaco e o amarrado na cintura, mostrando os braços pálidos, que não eram mais magrelos como quando nos conhecemos, mas já havia certa massa muscular...

Pare de desviar do assunto.

— Vamos? – perguntou guardando a espada na bainha.

Assenti e começamos a caminhar.

— Está com calor?

Ele olhou para mim de soslaio e soltou uma risada fraca. Foi a única resposta que recebi.

O primeiro lugar que fomos foi a padaria que eu tanto amava, com os melhores cupcakes de biscoitos de chocolate que existiam, e tomamos um café decente. Conversamos sobre experiências passadas de aniversários. Ele contava dos seus primeiros aniversários, na década de 30, e falou sobre hoje em dia. No caso dele, quando havia algum tipo de celebração de fato, era bem simples.

Comigo não foi tão diferente. Não era muito chegada a festas, e nunca havia tido uma. Em geral, meus aniversários se resumiam em meu pai me dando parabéns com algum presente especial que ele deixava para essa data, como novos equipamentos de luta ou livros raros. E eu gostava assim.

Mas Nico me surpreendeu. Ele provou que me conhecia e que me ouvia, sabia do que eu gostava, sabia meus lugares favoritos, e superou as expectativas que eu tinha para aquele dia.

Depois de passarmos por lojas de música, a biblioteca, um estúdio fotográfico (não queiram ver as fotos que tiramos nas cabines de foto maluca), um restaurante árabe, um museu (onde não só aprendemos um pouco mais sobre história, como também zoamos algumas pinturas e estátuas), e um passeio no shopping do centro, começou a escurecer. Gastamos juntos pelo menos uns 250 dólares e estávamos esgotados. Então, fomos andando até o parque, o último item da lista.

Deitamos na grama perto da árvore mais alta, bem no centro, e observamos o sol se por. Muitas pessoas faziam isso para finalizar o dia. Ficamos tentados a dormir ali mesmo, mas algumas pessoas, especialmente crianças a nossa volta, não deixaram. Bem, era melhor assim.

Quando a noite caiu, o parque foi esvaziando aos poucos. As pessoas iam embora enquanto Nico e eu conversávamos, sem nos importar com o mundo a nossa volta. Paramos de falar quando o cansaço e qualquer alma viva já havia nos deixado, sozinhos.

Ficamos alguns segundos só olhando o céu estrelado. Nico olhou para os lados e perguntou:

— Que horas são? – e puxou o meu braço, a fim de ver o meu relógio de pulso – É, está na hora. – ele se levantou rapidamente.

— De que? Está muito cedo para eu ir pra casa.

— Não, não. É outra coisa. – ele estendeu a mão em minha direção – Vem.

Continuei encarando-o do chão por mais alguns segundos. Por fim, deixei que ele me puxasse.

Nico guiou-me pelo parque, agora praticamente vazio, até chegarmos a uma das extremidades, onde havia uma pequena descida e um lago. Diferente da grama macia que cobria quase todo o terreno do parque, o chão era de pedra em volta do lago, com alguns bancos espalhados. Descemos as escadas do barranco e paramos perto de um dos bancos. Sentei-me, com ele em pé na minha frente. Levantei os braços, exigindo uma explicação para tudo aquilo.

— Hã, tá, ok, certo. – ele parecia um pouco nervoso, e isso estava me deixando nervosa – Durante minhas pesquisas, descobri que uma das tradições mais antigas das festas de 15 anos era a valsa, normalmente com o pai, ou com irmãos, ou com um amigo.

Ai, deuses. Pensei em falar algo, mas fechei a boca quando ele continuou.

— Então, hã, como o seu pai está morto, e eu sou seu melhor amigo, além da única pessoa presente aqui... – ele me ofereceu a mão, no maior estilo Príncipe Encantado (não, isso não foi um elogio) – Me concede a honra?

Fiquei algum tempo olhando dele para a mão estendida, e da mão para ele. Minha surpresa impedia-me de dizer qualquer coisa.

— Hã... É sério? – foi a única coisa concreta que conseguiu sair da minha boca.

— Sim.

— Não, você está brincando.

— Não estou.

— Mas... Nico... Eu... Eu não sei dançar.

Ele abaixou a mão e riu.

— E você acha que eu sei? Acredite, você vai se sair melhor do que eu.

— E não tem música.

— A gente não precisa de música. – ele estendeu a mão novamente – Então, quer dançar comigo? – nos encaramos, a expectativa estampada em seu rosto – Por favor – ele sussurrou, não num tom de súplica, mas como uma tentativa fofa de convencimento.

Revirei os olhos com um sorriso, cedendo, e aceitei sua mão.

Ele me puxou, fazendo nossos rostos ficarem perto um do outro. Nenhum dos dois se importou. Sem se afastar, sem parar de me encarar e na maior calma possível, ele colocou uma das minhas mãos em seu ombro e segurou a outra. Seus dedos deslizaram pela minha cintura, e no silêncio daquele parque começamos a dançar.

No início, os dois estavam nervosos, envergonhados e não sabiam bem o que fazer. Mas depois paramos de nos importar, pois éramos só nós dois. A intenção inicial era ser um rito de passagem, mas era um momento de descontração também.

Começamos a rir juntos, o que fez nossos movimentos serem menos robóticos. Nos soltamos e começamos a inventar, misturando um pouco de cada tipo de dança em pares que conhecíamos. Girávamos, e nos puxávamos, e ríamos, e andávamos em volta do lago, e ele me girava, e trocávamos de lugar, e assim por diante. Surpreendentemente, não pisamos em nossos pés nenhuma vez. E Nico não me deixou cair nem quando inclinei as costas para trás e deixei-o me segurar.

Quando ele me puxou de volta, nossos rostos quase se chocaram, e rimos novamente. Passei meus braços pelo seu pescoço, e ele fez o mesmo na minha cintura. Ficamos naquela posição por muito tempo, nossos corpos se movimentando levemente para os lados. Com nossas testas encostadas e nossos narizes se esbarrando, nenhum dos dois sabia se olhava para os olhos ou para os lábios do outro.

Eu queria. Eu queria muito beijá-lo lá, naquele momento. Uma parte de mim só conseguia pensar “Vai logo, beija ele!”, enquanto outra parte dizia “Por favor, me beije logo”, porque era evidente que ele também queria, se não teria se afastado. E uma terceira parte minha me repreendia por ser tão piegas.

Eu não queria estragar tudo. O dia tinha sido perfeito, não queria ser precipitada. Eu podia estar errada em relação às vontades dele. Não queria estragar nossa relação, tudo que havíamos passado nos últimos anos. Todas aquelas tentativas de parar de pensar em Nico di Angelo dessa forma teriam sido em vão se eu desse o primeiro passo.

— Hã... – comecei, mais para ter coragem de continuar. Afastei-me um pouco, só o suficiente para olhar em seus olhos direito – Está ficando tarde. É melhor eu ir pra casa.

— Uhum. – foi tudo que ele disse, com um aceno de cabeça.

Suas mãos afrouxaram na minha cintura, e sai de seus braços para pegar minha bolsa que estava no banco, intocada. Coloquei-a no ombro e Nico parou ao meu lado. Em vez de darmos as mãos, ele entrelaçou seu dedo mindinho no meu, e fomos juntos andar pelas ruas escuras da cidade.

.......

— Sério, muito obrigada por hoje. – eu disse quando chegamos à minha rua.

— Não foi nada. – ele respondeu, com a cabeça abaixada.

— Nem sei como te agradecer.

— Não precisa me agradecer. Eu estava te devendo.

— Não, não estava. Nunca lhe pedi para fazer algo assim, nunca cobrei que se lembrasse do meu aniversário. E ninguém nunca fez uma surpresa dessas pra mim.

— Ah, você merece.

Chegamos à frente da minha casa e eu procurava as chaves enquanto me aproximava da porta, com Nico atrás de mim.

— Hã, você tem certeza que não quer dormir na minha casa? – ele perguntou. Virei-me para ele – Sabe, pra fechar o dia. Não precisa falar com sua madrasta hoje e...

— Olha, Nico, não sei se aguento uma viagem nas sombras até Los Angeles depois de hoje. Eu estou quase tão morta quanto seus vizinhos.

— Ha-ha, muito engraçado.

— Outra hora eu passo lá. – passei meus braços pelo seu tronco e o apertei forte, colocando minha cabeça na curva de seu pescoço. Era quase engraçado como ele ficava travado por um momento em abraços repentinos, mas, como sempre, ele me abraçou de volta – Muito obrigada, mesmo. Não sei o que eu faria sem você.

Ele sorria quando nos soltamos. Ele segurou minha cabeça pelas laterais, com as duas mãos, e fechei os olhos quando ele beijou minha testa, um beijo lento e demorado. Depois, me segurou pelo ombro e apenas disse:

— Até amanhã.

Abri um sorriso largo, agradecida, e nós dois nos viramos. Nico seguiu pelo caminho de pedras até a calçada e eu fiquei plantada na porta de casa, sorrindo como uma pateta. Até ali o dia tinha sido tão bom que eu nem conseguia acreditar.

Olhei por cima do ombro, esperando ver a calçada vazia, como eu fazia nas vezes que Nico não esperava eu entrar em casa para ir embora, só ia andando e desaparecia nas sombras. Mas ele ainda estava ali, e também me encarava por cima do ombro.

Sua expressão era indecifrável. Ele olhava para mim, mas não sabia se estava prestando atenção em mim ou se estava perdido em pensamentos, talvez os dois. Fiquei de costas para a porta para perguntar se tinha algo errado, mas ele se pronunciou antes de mim.

— Ah, dane-se.

Ele voltou-se para mim e andou em minha direção. Franzi a testa, sem entender, mas isso só durou um segundo, pois no momento seguinte ele já estava me beijando.

Primeiro ele só me segurou pelo pescoço e me puxou para si. Claro que eu retribuí, mas eu me surpreendi e, por reflexo, segurei suas mãos, como se fosse pará-lo. Ele deslizou as mãos para a minha cintura e me ergueu um pouco do chão, deixando-me da sua altura e fazendo com que apenas a ponta das botas encostasse nas pedras. Cruzei meus braços atrás de seu pescoço e deixei que ele decidisse quando parar. A sensação era de que ele nunca iria me soltar.

Não sei quanto tempo ficamos assim, muito menos se havia alguém na rua nos observando. Não importava. Mesmo que minha paixão por ele tivesse sido sufocada até meu subconsciente, ainda era o que eu queria, e meu desejo não poderia ter sido realizado de forma melhor, com ele também demonstrando que queria.

Quando nossas bocas se separaram e permaneceram afastadas por mais de um segundo, Nico me colocou no chão cuidadosamente, sem tirar aqueles olhos escuros dos meus. Eu queria dizer alguma coisa, talvez agradecer, ou demonstrar minha surpresa, minha felicidade, mas minha mente estava muito confusa e muito agitada para falar.

— Feliz aniversário. Boa noite, Mariana. – ele disse e voltou-se para a rua, afastando-se.

Ia pedir que ele voltasse. Ia perguntar por que ele tinha feito isso, o que aquilo tinha significado, se ele sentia alguma coisa, se aquilo mudava algo na nossa relação. Olhei para o chão, para os lados, tentando organizar meu cérebro e as perguntas.

— Nico... – eu comecei, mas ele já tinha ido, misturando-se às sombras e desaparecendo.

.......

Não falei com ele no dia seguinte. As provas estavam se aproximando e ele sabia q eu gostava de estudar antes. Mas quando chegou segunda-feira, que ele foi me buscar na escola para nós conversamos, agiu como se nada tivesse acontecido. Tudo estava normal, como sempre.

Durante os dias seguintes, toda vez que estava com ele, sentia vontade de perguntar. Falar algo sobre isso. Só queria esclarecer tudo. Mas tinha medo da resposta. Então decidi adiar a conversa para outro momento, mas acabamos adiando por tempo demais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Comentem!
Sério, o último capítulo não teve muitos comentários, o que me desmotivou um pouco a escrever. Não deixem de comentar, ainda mais agora que a fanfic está chegando ao fim. Só tem mais um capítulo dessa história, só mais um capítulo programado, então eu gostaria muito de saber o que vocês estão achando, o que vocês acham que vai acontecer, como vocês acham que vai acabar, etc. Ok?
Então é isso, gente. Beijos e até o próximo capítulo!