Tudo por Nico di Angelo escrita por Mariana Pimenta


Capítulo 25
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos!!!
Então, novamente, eu demorei séculos para aparecer aqui de novo. Não espero que me perdoem, já fiz isso mais vezes do que posso contar. Odeio bloqueios criativos. Fiquei meses parada no final do capítulo. Aff
No momento eu estou viajando, literalmente do outro lado do mundo, e adivinhem: hoje é meu aniversário!!! Um pequeno spoiler sobre a história, mas achei legal o fato de que eu comecei a escrever com a idade de nossa protagonista (12 anos) e vou terminar com a idade que ela tem quando a história terminar (16 anos). Bem, mais ou menos. Depois vocês vão entender.
Vocês podem achar meio estranho, mas é um capítulo mais explicativo. Espero que gostem! Boa leitura!



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Que dia melhor para visitar o inferno do que o Halloween?

O Dia das Bruxas costumava ser um dia feliz para mim: era a única época do ano em que eu poderia me vestir do jeito que eu queria, podia correr com as outras crianças pelas ruas, e assim fazia amizades (que só duravam algumas horas daquelas noites), e o melhor de tudo, ainda recebia doces por isso. Mas dessa vez, esse dia seria lembrado como o dia em que eu falei com Hades, o deus dos mortos e do Mundo Inferior; o pai do meu melhor amigo; o deus que me abençoou para salvar minha vida; o cara que tem nome de marca de suco.

Eu e Nico fomos liberados para entrarmos e sairmos do Mundo Inferior quando bem entendêssemos, mas apenas nós dois. Nico é o filho do “dono” e mora lá, então ele meio que tem o direito; e no meu caso, é grosseiro convidar alguém para sua casa e obrigar a pessoa a pagar para entrar. Então, eu economizava uns dracmas com isso. O único que não ficava muito satisfeito com isso era Caronte.

A viagem nas sombras nos levou para os enormes portões de bronze na entrada do palácio. Passamos pelo jardim de Perséfone, no qual se cultivava plantas e pedras preciosas, e subimos as escadas. Havia dois esqueletos com trajes militares guardando a porta. Antes parados como estátuas, eles caminharam até os puxadores da porta e os seguraram. Eles só precisavam da ordem. Nos aproximamos em silêncio.

— Pronta? – Nico se virou para mim.

Assenti respirando fundo.

— O que for necessário para descobrir a verdade.

Com um movimento de cabeça, Nico deu a ordem e os esqueletos abriram as enormes portas. O teto como o de uma caverna, as paredes de mármore, o trono de ossos, e o senhor dos mortos sentado nele com seus mantos escuros. Tudo do mesmo jeito que eu havia visto no sonho, quando descobri a benção. A diferença era que agora Hades definitivamente me via, e meu pai não estava presente.

O deus do Mundo Inferior tinha a mesma expressão intimidadora de antes, e, assim como no sonho, ele sorriu quando nós entramos no salão. Hades abriu os braços.

— Bem-vinda, Mariana. – o deus empurrou os braços da cadeira para se levantar e descer os degraus do trono, indo em nossa direção devagar – Não pode imaginar como esperei por esse momento. Mas o que são 12 anos para quem tem mais de três mil? – Hades se colocou a nossa frente – Nico, você poderia nos dar licença? Preciso conversar em particular com sua... amiga.

Nico me encarou, parecendo um pouco preocupado.

— Estou lá em cima, se precisar de alguma coisa. – então se virou e deixou o salão.

Eu e Hades, agora sozinhos, nos encaramos por três segundos. Então, o deus dos mortos começou a andar pelo salão, com as mãos para trás.

— Imagino que tenha muitas perguntas, muitas dúvidas, então vamos por parte. O que quer saber?

Respirei fundo e soltei o ar devagar antes de responder:

— Quero saber exatamente o que aconteceu na noite em que me abençoou, sobre o trato que fez com meu pai. E sobre minha semelhança com Bianca.

— Você e Bianca... essa é uma boa história. Foi uma grande perda ela ter morrido, ainda mais porque ela só soube que era minha filha depois de morta. Como a semelhança entre você duas é algo muito difícil de explicar, e que trará perguntas demais, comecemos pelo trato que fiz com seu pai.

Ele puxou um pergaminho gasto de sua capa preta e me entregou-o. Era o contrato deles, escrito. Enquanto eu o abria e lia superficialmente, Hades explicava:

— Sua mãe teve que voltar para o Olimpo alguns dias depois de você ter nascido, mas Heitor sabia que isso iria acontecer, então ele estava preparado. Teve toda a ajuda de que precisava de Atena. Mas depois das primeiras semanas você ficou muito doente, ninguém sabia o que você tinha, e até hoje isso é um mistério mesmo para mim. Parecia algum tipo de maldição. Seu pai não contou exatamente como, mas ele pediu ajuda a Atena e chegou aqui. Não me lembro da última vez que um mortal fez isso, se é que já fizeram.

“Ele não sabia como funcionava a questão da morte, só sabia que eu era O Deus dos Mortos. Perguntou se eu podia fazer algo, mas eram as Parcas que controlavam o destino. Pediu que eu mudasse algo. Ele trazia você nos braços, e você era tão parecida com Bianca, mesmo tendo apenas meses, que eu não sabia como dizer não. Ele era um pai desesperado, assim como eu fiquei quando mandei Nico e Bianca para o cassino.”

— Espere. Então eu já nasci parecida com Bianca.

— Sim.

— Como?

— Explicarei mais tarde. De certo modo, isso me convenceu a ajudar vocês dois. Mas expliquei a seu pai que eu não poderia simplesmente ignorar a decisão das Parcas. Alguém teria que morrer, e não poderia ser qualquer um. Você era uma semideusa, mas de acordo com elas, isso não faz de você mais especial que os mortais, ainda mais porque você era só um bebê, suas ações eram imprevisíveis. Alguém teria que morrer no seu lugar, e a pessoa teria que estar ciente disso e aceitar. Só havia uma pessoa que poderia se oferecer para isso.

— Meu pai.

— Ele se ofereceu na mesma hora. Faria qualquer coisa para salvá-la. Só pediu a chance de cria-la, para prepara-la para o mundo. Então, como você pode ver no pergaminho, o trato foi o seguinte: ele teria até o seu aniversário de 12 anos para cria-la como ele bem entendesse, mas após esse dia ele duraria pouco. Quando é seu aniversário?

Fiquei um tempo sem responder, ligando os pontos na minha cabeça.

— 15 de abril.

— E quando ele morreu?

— 8 de maio. – Como não pensei nisso antes?

— Viu? Três semanas depois. Ele sabia que iria morrer naquela viagem. Por isso te mandou para o acampamento logo. Convenhamos, ele era a única coisa que te prendia naquela casa com sua madrasta e os monstrinhos. Falando nela, seu pai foi muito inteligente por se casar com ela. Facilitou sua saída.

— Com certeza. Mas imagino que as marcas não estavam programadas.

— Não, não. Isso foi ideia de Cupido, aquele sádico. Nunca concordei com isso, mas não quis me meter. Hécate parece ter gostado da ideia, tanto que o ajudou quando ele pediu, mas sua mãe ficou irritadíssima. Mas parece que você não precisa mais se preocupar com isso. Nico parece ter... cuidado bem de você.

Eu corei um pouco.

— É, ele... me ajudou muito, desde que nos conhecemos.

Hades parou e exibiu um sorriso leve, como se achasse graça. Se o deus dos mortos sabia sobre meus sentimentos por Nico, não demonstrou. Não explicitamente.

Suspirei, tentando organizar todas as novas informações na cabeça.

— É muita pressão psicológica você saber que em 12 anos você morrerá. Ele quase sabia a data certa.

— Para os mortais, até certo ponto, isso é fácil. – Hades recomeçou a andar de um lado para o outro – Veja você por exemplo. Você pode ter quase certeza de que daqui a 100 anos, não estará viva. Isso não te atormenta. Quem vive uma vida longa e duradoura, se acostuma com a ideia da morte que se aproxima. Seu pai já era adulto, e ele fez isso por uma boa causa. É diferente se um adolescente ou até uma criança recebe essa notícia.

— Mesmo assim. Saber que você não vai viver para ver seus netos, nem ver seus filhos irem para a faculdade. – olhei para os portões de bronze atrás de mim – Mas ele vai esquecer-se dessas coisas com o tempo. Sei que é a tendência de todos nos Campos de Asfódelos. Esquecerem sua vida, as pessoas que conheceu, sua identidade. Só espero que ele não sofra demais vagando por lá.

Hades parou e me encarou, com a testa franzida.

— Campos de Asfódelos?

— Sim, para onde vai a maioria dos mortos, aqueles que tiveram a vida balanceada entre o bem e o mal. Meu pai está lá, certo? – eu disse devolvendo o pergaminho.

O senhor dos mortos me encarou por mais alguns segundos, pegando o contrato de minha mão lentamente. Depois disse, calmo:

— Não mandei seu pai para os Campos de Asfódelos.

Arregalei os olhos.

— Então, onde ele está? Ele não pode ter ido para os Campos de Punição! O que ele... O que você...

— Mariana, seu pai está nos Campos Elísios.

Encarei-o, sem conseguir formar palavras.

— O Elísio é para os maiores heróis. Como ele...

— Heitor tinha a vida perfeita, e desistiu de tudo por você, mesmo sem saber como você seria. Ele com certeza arriscou a vida só para chegar aqui, e fechou um acordo em que dizia que em 12 anos ele morreria e a deixaria. Passou todo esse tempo cumprindo com a palavra, sem escapar nenhum detalhe. Ele trocou uma vida em que ele poderia viver até uns oitenta e poucos anos para morrer com um pouco mais de quarenta. Ele viveu para você. Não iria ignorar isso no dia do julgamento.

Lágrimas se formaram em meus olhos, mas não chegaram a cair.

— Então ele ainda se lembra de tudo. Mas se ele quiser renascer...

— Não, não. Ele está esperando você. Quando chegar sua hora, se você for realmente digna de ir para o Elísio, ele estará lá para recebê-la, antes de, talvez, partir para uma nova vida.

— Eu ainda posso vê-lo... – olhei novamente para os portões.

— Apenas depois de morta. Não podemos permitir a entrada de pessoas de fora.

— Ah, sim, claro.

Hades virou-se de costas, olhando em volta, pensativo, como se as paredes ou o teto escondessem algo.

— Engraçado, não? É a segunda vez em pouquíssimos anos que alguém da sua família faz isso.

— O que quer dizer?

— Não faz muito tempo que uma pessoa da sua família foi para o Elísio e só renasceu depois de se despedir daqueles que deixou para trás.

— Do que está falando? Além do meu pai, ninguém da minha família morreu recentemente.

— Infelizmente, morreu, sim. Há quase três anos. Uma morte trágica, porém heroica.

— Quem?

— Minha filha. Bianca di Angelo.

Hades virou-se para encarar minha expressão perplexa, que não durou muito tempo. As feições de uma pessoa confusa apareceram em meu rosto, enquanto Hades parecia se divertir com todo o mistério e a minha surpresa.

— Olha, – comecei, tentando achar uma explicação lógica para aquilo – eu sei que, teoricamente, todos os semideuses são parentes, porque praticamente todos os deuses são parentes.

— Não me refiro à parte divina. Você está ligada a família di Angelo muito mais fortemente do que imagina.

Franzi o cenho, esperando sua explicação.

— Você sabe quem era a mãe de Nico e Bianca? – perguntou Hades.

— Maria di Angelo. – eu disse, lembrando-me do que Nico já havia falado sobre ela – Ela era italiana, de Veneza, eu acho, mas se mudou pra Washington um pouco antes da Segunda Guerra Mundial.

— Correto. Mas havia algo que quase ninguém sabia, simplesmente porque não era necessário. Uma informação que só voltou a minha mente no dia em que seu pai passou por essas portas pela primeira vez: Maria tinha uma irmã, Paola.

— Então Nico e Bianca tinham uma tia.

— Exato.

— E o que isso tem a ver comigo?

— Nada, além de Paola di Angelo ter sido sua bisavó.

Pisquei e arregalei os olhos quando vi que ele não estava brincando.

— O quê?

— Você é parente de Nico e Bianca tanto pelo lado mortal quanto pelo lado divino.

— Mas meu sobrenome não é di Angelo.

— Exato, pois culturalmente o sobrenome que se coloca nos filhos é o do pai. Seu sobrenome vem de outra família, o “di Angelo” não prevaleceu por muito tempo.

Comecei a ligar pontos. Meu pai nunca havia falado muita coisa sobre os pais dele, muito menos sobre seus avós. Nunca havia muito o que dizer. Com certeza ele não sabia sobre os di Angelos, talvez já conhecesse o nome, mas nunca dera importância.

— Então, Maria di Angelo era minha tia-bisavó. – comecei – O que faz de Nico meu... – um arrepio passou por meu corpo, me fazendo tremer. Tive ânsia de vômito – Ai, deuses.

— Sim, é estranho, e nojento, considerando tudo pelo que vocês dois já passaram. – disse Hades, assentindo.

Me recompus e tentei ignorar aquilo. A vida de um semideus pode ser louca, mais isso já era demais.

— Mas isso não justifica o fato de eu ser igual à Bianca. – eu disse, erguendo uma sobrancelha.

— Não, mas é o mais próximo de uma explicação que temos. Vocês são, num certo nível, da mesma família, então não é nenhuma anomalia vocês serem parecidas. Mas praticamente idênticas... – ele mostrou as palmas das mãos – por hora, é apenas uma imensa coincidência.

Assenti. Exatamente o que Nico me disse antes.

— Como descobriu tudo isso?

Hades deu de ombros.

— Fiz algumas pesquisas, liguei alguns pontos. Não foi tão difícil. Tive bastante tempo para pensar. Fiquei abismado quando entendi tudo.

— Imagino a reação de Nico quando contou a ele.

— Ele ficou perplexo, sim, mas ficou mais preocupado com a sua reação. Aliás, ele deve estar agora andando em círculos pelo quarto, perguntando-se como você está digerindo tudo isso. Ou só jogando vídeo game, como de costume.

Soltei uma risada fraca.

— Não acho que Nico vá se preocupar tanto assim comigo. Tudo bem que essas não são as coisas mais fáceis de ouvir, mas ele sabe que eu não sou do tipo que tem ataques.

— Hum, talvez. Mas ele se preocupa com você sim. Se pergunta se não é muita coisa ao mesmo tempo, considerando que você descobriu que é uma semideusa tem... seis meses.

— É, talvez seja para uma pessoa normal, mas já acostumei.

O deus ficou me encarando, como se quisesse ver algo além de mim. Mas só suspirou e disse:

— Venha. Vou leva-la ao quarto de Nico para vocês conversarem sobre isso. Sozinhos.

Só assenti e segui-o para outro portão de bronze, para outra parte do castelo. Deuses. Pensei. Como vou olhar na cara dele depois disso tudo?


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Comentem!
Curiosidade: escolhi o nome "Paola" em homenagem a Paola Bennet, que compôs a música "Soldatino", a canção de ninar pro Nico, que é uma das minhas músicas favoritas.
Gente, a fanfic já está acabando, pelos meus cálculos, só tem mais 3 capítulos :'( Então, podem comentar! Podem voltar nos outros capítulos e comentar, fiquem a vontade! Responderei todos!
E os próximos capítulos também já estão quase prontos! Então realmente, dessa vez, não devem demorar mesmo!!!
Beijos e até o próximo!!