Tudo por Nico di Angelo escrita por Mariana Pimenta


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores! Então, eu disse que talvez esse capítulo não fosse demorar muito, certo? Então, calculei bem mal o tamanho dele, fora que a semana de provas não me deixou entrar no computador por uma semana. Filhas de Atena também precisam estudar, e essa aqui é perfeccionista, desculpa!
E mais uma coisa: muito, MUITO, obrigada Leta Le Fay, pela recomendação. Quando eu vi o aviso, achei que era um comentário, mas não tinha escrito qual era o capítulo, então estranhei. Quando eu vi que era uma recomendação, comecei a chorar! Juro! Muito obrigada mesmo! Amei cada palavra! Era meio que um sonho meu ter uma recomendação. (mas não desanimem, podem recomendar mais!)
Enfim, boa leitura!



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Cheguei a tempo de me despedir de Frank e Hazel, que já estavam indo embora com os romanos, de volta ao acampamento deles. Eles haviam programado de sair mais cedo, mas Quíron insistiu que ficassem para um almoço de despedida. Então saíram no início da tarde.

Não havia muito mais o que eu fazer lá. Já havia treinado uma última vez, já havia visto Nico, não estava mais com as marcas e tudo o que achava realmente relevante dentro de todos aqueles livros no chalé de Atena já havia passado para meu caderno. A única coisa que me impedia de voltar para casa naquele momento era o cansaço. Nico estava certo, eu precisava descansar.

Saltei para o meu beliche, o mesmo que eu havia dormido antes de fugir. Verifiquei se não havia nada de errado, nenhuma tentativa de brincadeiras comigo. Pelo jeito, já havia acabado a graça de fazer isso.

Deitei, de costas para todos no chalé e de frente para minha mochila encostada na parede. Fechei os olhos e logo adormeci. Dessa vez, não houve sonhos macabros da minha infância, visões, nem visitas surpresa. Dormi tranquilamente, como não fazia há muito tempo.

Acordei algumas horas depois. Já havia escurecido um pouco. Espreguicei-me e revirei os olhos pelo chalé. Só duas pessoas além de mim. Saltei do beliche, já com a mochila e dei uma última olhada naquele pedaço de paraíso. Podia não ser o melhor lugar para mim, mas era o melhor lugar para um filho de Atena, com certeza. O problema era as pessoas mesmo. Então, passei pela porta sem olhar para trás.

Fui procurar Annabeth e Percy. Precisava me despedir deles. Fui para os Campos de Morangos, outro lugar que queria ir antes de partir, e, feliz coincidência, eles estavam lá.

Eu estava muito acostumada a ver os casais da minha escola: melosos, dramáticos e muito grudentos. Mas Percy e Annabeth eram bem diferentes disso, com suas brincadeiras nas horas certas e trabalhando juntos para salvarem suas vidas quando precisavam. Isso fazia com que, para mim, eles fossem, no mínimo, o casal mais fofo que eu conhecia.

Eles conversavam animadamente entre a plantação, ambos com sorrisos sinceros nos rostos. Diminuíram o passo até pararem quando me viram me aproximando.

— Oi. – disseram – Está tudo bem? – perguntou Annie – O seu... as marcas...

— É, é difícil de explicar, mas não preciso mais me preocupar com isso. Eu só... queria me despedir de vocês antes de... voltar pra casa. – essa última parte ainda parecia algo absurdo e muito distante.

— Você já vai? – indagou Percy, surpreso – Espera o jantar, é daqui a pouco...

— Não, valeu, eu vou logo. Não quero ficar fazendo hora, tenho muito o que resolver quando chegar.

— Vou sentir sua falta. – disse Annabeth, triste.

— Ei, eu volto. De vez em quando eu apareço aqui, só para me atualizar sobre as próximas guerras.

— Tomara que não tenha outra tão cedo. – murmurou Percy.

— É. Só... obrigada, por tudo. Principalmente você, Annie. Desde que eu cheguei.

— Não foi nada. – ela deu um meio sorriso.

Suspirei e encarei o filho de Poseidon.

— Cuida bem dela. Você é um cara de sorte.

— Eu sei. – ele disse, passando o braço em volta da cintura da namorada e puxando-a para mais perto dele. Percy abriu um sorriso – Nico também é.

Abri a boca para falar algo, mas nenhum som saiu de imediato.

— Mas nós não estamos...

— Eu sei. Eu entendo. – Percy assentiu.

Encarei Annabeth. O que foi que você contou a ele? Pensei. Acho que ela entendeu meu olhar, pois deu de ombros, como se dissesse “Só algumas coisas...”.

Virei os olhos para todas aquelas flores e os morangos que nos rodeavam.

— Vocês acham que Quíron ficaria zangado comigo se eu pegasse uma flor dessas?

— Acho que não, talvez ele nem perceba.

Agachei-me e peguei três flores brancas. Arrumei-as de um jeito na mochila que ficassem em pé, com a parte de cima para fora para não amassar. Voltei a encarar os dois.

— Então, é isso. Melhor eu ir logo. Qualquer dia eu volto. – acenei para eles e comecei a me virar – Tchau.

— Tchau. – disseram – E boa sorte! – gritou Annabeth.

Olhei para ela por cima do ombro, sorrindo.

Fui até a Colina Meio-Sangue, os limites do acampamento. Não falei com mais ninguém. Não vi Nico passando.

Fiquei perto do Pinheiro de Thalia e encarei o acampamento. Era um lugar lindo visto de cima, e a iluminação da chegada da noite deixava um ar misterioso porém feliz nele. Respirei fundo, devagar.

— Vamos para casa.

Fechei os olhos e visualizei minha casa, na Geórgia. Então, senti as sombras e a escuridão me consumindo.

Quando pude sentir o chão, me desequilibrei repentinamente, quase caindo. A luz finalmente entrou pelos meus olhos. Eu estava na calçada, em frente ao caminho de pedras no meio do gramado que levava a porta da minha casa.

Minha casa.

Parecia algo surreal, um sonho virando realidade. Lembro-me que quando fui embora, acreditava que nunca mais voltaria, que o acampamento seria meu novo lar.

Já estava escuro. Não havia ninguém na rua além de mim. Era possível ver as luzes da sala de estar e do quarto de Madrasta acesas.

Enchi os pulmões de ar e soltei tudo de uma vez. Finalmente.

Andei pela linha de pedras e parei em frente à porta. Eu não tinha a chave, mas sabia que a porta da frente estava aberta. Madrasta sempre fora um pessoa descuidada, e tinha certeza de que as coisas não haviam mudado desde minha partida.

Girei a maçaneta bem lentamente, até ouvir um click. As dobradiças rangeram quando a porta foi aberta.

Tudo estava exatamente igual. O enfeite que quebrei quando empurrei Madrasta sobre a mesa fora substituído por outro. Fora isso, era como se os últimos dois meses tivessem sido apenas horas. E, surpresa, a casa estava organizada e limpa.

Ainda segurava a maçaneta. Fui fechando a porta bem devagar, mas mudei de ideia. Puxei-a novamente e empurrei, com força. Ela bateu e o barulho ecoou pela casa.

— É hora do show. – eu disse, baixinho.

Ouvi passos apressados no andar de cima. Gavin havia saído do quarto e estava parado na ponta da escada, me encarando. Ele arregalou os olhos e empalideceu, contrastando a pele branca com os cabelos pretos. Sua expressão mostrava pânico.

Também encarei-o, com o sorriso mais diabólico que eu podia fazer.

— Mamãe! – ele gritou, com a voz tremendo, mas não saiu dali. Suas pernas também tremiam.

O som de uma porta se abrindo, e Madrasta apareceu ao lado do filho, a impaciência e o desinteresse estampados em seu rosto. Ao virar a cabeça na direção do olhar do filho, ela se jogou para trás, como se tivesse sido atingida, apoiando-se na parede e quase caindo de seu salto alto. Ela se recompôs rapidamente, agora com a expressão furiosa.

— Gavin, vá para o seu quarto agora. – ela disse, num tom ameaçador. O garotinho correu e foi para o cômodo ao lado – Olha só quem resolveu dar as caras aqui. – Madrasta deu dois passos para frente, apoiando uma das mãos no corrimão e a outra na cintura. O tom era de deboche, mas isso não era novidade entre nós – Quem é vivo sempre aparece, não é?

Não respondi. Só continuei rindo de seu desconforto e de sua tentativa, em vão, de fingir que está controlada e tem tudo sobre controle.

— O que está fazendo aqui?

— Hã, eu moro aqui. Esta casa ainda é minha.

— Errado. Ela é minha. E eu não te dei permissão para entrar.

— Eu também não tinha te dado permissão para infernizar minha vida, e parece que você vez isso com muito prazer nos últimos dez anos. Só estou retribuindo o favor. Eu tive que te aguentar. Agora você me aguenta.

— Seu pai me deixou a casa, está no testamento, eu tenho argumentos no tribunal se eu precisar. Então, eu digo o que pode e o que não pode se passar sob este teto, e você está no topo da lista das coisas que não deveriam chegar perto daquele gramado.

— Já deixei bem claro o que teria acontecido se eu fosse maior de idade. – cruzei os braços – E eu cheguei aqui primeiro. De qualquer forma, você não vai me tirar daqui tão cedo.

Madrasta desviou os olhos dos meus e olhou para meus antebraços.

— Estou vendo que se livrou dos cortes. – fez uma pequena pausa – Mas nunca se esqueça de que eu posso fazer mais. E é o que vai acontecer se você não sair desta casa nos próximos dez segundos.

— Não se lembra do que eu disse quando fui embora? Você nunca mais vai enfiar uma faca em mim.

— Não se lembra do que eu disse quando você foi embora? Ninguém vai acreditar nas palavras de uma menina de doze anos problemática, sem amigos e metida. – ela começou a descer a escada, lentamente – E eu não tenho medo do você. Nem um pouquinho. Você não assusta nem uma mosca, com esse seu estilinho metida à gótica depressiva, que se acha melhor do que os outros em qualquer coisa baseada em médias escolares. – ela chegou ao pé da escada, se inclinou em minha direção e sussurrou – Você não me assusta.

Durante os primeiros três segundos, ninguém se mexeu. Então, um sorriso começou a se formar no meu rosto, e comecei a rir. Não era uma gargalhada escandalosa, mas algo digno de um psicopata.

— Qual é a graça? – Madrasta afastou o rosto do meu e cruzou os braços – Ouvi dizer que algumas pessoas começam a rir quando estão com medo. Em pânico. Não me surpreenderia se fosse o caso.

Balancei a cabeça fechando os olhos, discordando e parando de rir aos poucos. Peguei fôlego. Afinal, eu ia precisar.

— Ai, ai. – parei de rir, deixando apenas um sorriso fraco – Eu acho que você vai mudar de ideia daqui a pouco.

Madrasta franziu o cenho e virou a cabeça levemente para o lado, confusa.

Meus braços estavam soltos, ao longo do corpo. Mexi a mão direita, me concentrando. As luzes da casa piscaram. Madrasta olhou em volta, mas pareceu não estranhar muito. Mexi mais uma vez, e sentimos uma ventania dentro da casa, fazendo nossos cabelos balançarem.

Mas a casa toda estava fechada.

— O que é isso? – as luzes se apagaram de vez e a ventania parou, deixando-nos num silêncio assustador. Madrasta começou a se afastar de mim, andando para trás, tateando o ar como se tentasse se apoiar em algo – O que você está fazendo sua... sua...

Não me mexi. Continuei me concentrando. Respirei fundo e quando soltei o ar, passei parte da minha energia para o chão, a ventania voltou, mais forte, porém só parecia afetar nós duas.

Senti uma dor forte no peito e um leve cansaço, mas se eu parasse agora seria tudo em vão. Não poderia fazer aquilo de novo tão cedo.

— O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO? – Madrasta gritava desesperadamente – PARE! PARE COM ISSO AGORA!

O som de pedra quebrando veio de trás dela, o que fez nós duas olharmos para o chão.

Mãos esqueléticas saíam do piso e tentaram agarrar seu tornozelo fino. Ela se afastou gritando e chutando, quase caindo. Um dos dedos se soltou com seu chute e parou a alguns centímetros de distância da mão. Mas os guerreiros-esqueletos continuam a aparecer, subir, até que dois deles estivessem completamente emersos. O osso solto no chão voou de volta para a mão de seu dono. Então ambos os esqueleto ficaram de frente para Madrasta, com as mãos erguidas em forma de garras, como se fossem ataca-la ou assustá-la.

Madrasta os encarava e se afastava deles, arfando. Ela estava em pânico.

Puxei meu facão e a ponta da lâmina encostou levemente nas costas dela, o que a fez se virar. Ela estava chorando, a maquiagem borrava fazendo-a parecer um panda.

Entre ser cortada por um facão de caça e ser agarrada por dois esqueletos, Madrasta preferiu ficar parada entre nós. Meus cadáveres não se mexeram, permanecendo naquela posição de ataque. Com as luzes apagadas, eles pareciam decorações macabras de Halloween, apesar do cheiro os denunciarem.

Madrasta arfava, o peito subindo e descendo com a respiração acelerada.

— O que você é? – perguntou baixinho, quase sussurrando.

— Quando menos você souber, melhor.

— Eu vou embora. Eu vou embora, levo Hilary e Gavin comigo, você nunca mais vai precisar nos ver, só, por favor, deixa a gente em paz.

Abaixei o facão.

— Era tudo o que eu queria. – guardei a arma na bainha – Paz. É tudo que eu tenho te pedido nos últimos dez anos, desde que nos conhecemos. E o que você fez? Não poupou esforços para transformar minha vida num inferno. – pronunciei a última palavra mais devagar, com ênfase. Senti meus músculos pegando fogo, e minha vontade era de continuar aterrorizando-a, mas eu tinha que manter minha sanidade – Mas, apesar de odiar admitir, ainda preciso de você. Preciso de alguém maior de idade aqui dentro. Então você vai poder ficar, e seus filhos também. Mas você vai prometer que vai parar de se meter na minha vida, vai parar de me infernizar, vai parar de me ameaçar, e vai me deixar em paz, a não ser que seja realmente necessário falar comigo. Entendeu?

Madrasta assentiu rapidamente.

— Então estamos entendidas.

Um som veio de trás de Madrasta. Observamos os dois guerreiros esqueletos ficarem totalmente retos, como soldados, e bateram continência para mim. Então, eles simplesmente entraram pelo buraco de onde vieram, desaparecendo, e o piso voltou ao lugar, como se eles nunca tivessem estado ali. As luzes se acenderam novamente.

Madrasta olhou em volta balançando a cabeça, confusa.

— Como você...

— Hã-hã. – balancei um dedo na frente dela – Como eu disse: quando menos você souber, melhor. E é melhor você não se meter mesmo.

Ela só continuou me encarando. Suspirei.

— Bem, pode continuar com sua vida. Eu vou pro meu quarto. – me virei e subi as escadas.

A chave ainda estava lá, no buraco da parede. Com a porta destrancada, seguei a maçaneta por alguns segundos. Prendi a respiração e abri a porta. Como previsto, a poeira entrou em meus olhos, mas não incomodou tanto. Tateei a parede e liguei a luz.

Meu quarto. Exatamente do jeito que eu havia deixado. Tudo coberto com lençóis, agora sujos de poeira. Mas ainda era possível ver as formas dos móveis.

— Lar doce lar.

Deixei a mochila ao lado da escrivaninha. Tive uma imensa vontade de pular em cima da minha cama, como as pessoas fazem nos filmes, mas ela estava coberta de poeira, como todo meu quarto.

Não demorou muito para eu tirar todos os lençóis e passar a vassoura no quarto. Logo, tudo já estava bem mais arrumado, mais limpo. No dia seguinte eu me esforçaria mais.

Pela primeira (e única) vez em minha vida, eu fiquei feliz de jantar com Madrasta e meus meios-irmãos. Eles não fizeram brincadeiras comigo, nem mesmo perguntaram-me o que aconteceu. A cadeira vazia do meu pai não me incomodava mais. Era tudo com o que eu havia sonhado.

Coincidentemente, no dia seguinte da minha chegada, fazia três meses da morte de meu pai. Era o momento perfeito.

Visitei seu túmulo no cemitério de Denvan. Nunca achei que as palavras “Pai dedicado”, escritas na lápide, eram o suficiente para descrever como ele era. Mesmo assim, agora concordava que essa era sua melhor característica.

Ajoelhei-me em frente à lápide.

— Pai, – já estava me esforçando para não chorar – eu consegui. Eu cheguei ao Acampamento Meio-Sangue. Sei que o senhor não queria me ver aqui, queria que eu estivesse lá, treinando com os outros semideuses, mas eu não podia. Sinto lhe informar que aquele lugar não é para mim. Mas saiba que seu sacrifício não foi em vão. – as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, mas esforcei-me mais para manter a voz firme – Vivi a maior aventura da minha vida por causa disso, conheci pessoas maravilhosas, e aprendi tanta coisa. Está certo que quase morri várias vezes, mas essa foi a melhor experiência da minha vida. Não trocaria isso por nada. Então, saiba que tudo que vez por mim valeu muito a pena. O único jeito de tornar tudo isso melhor... – solucei – ...seria... – minha voz falhou novamente – ...seria se você ainda estivesse aqui comigo. Então, obrigada. Por tudo.

As flores que eu havia pegado no acampamento tremiam em minhas mãos. Deixei-as lá, perto da lápide, e encarei-a por mais alguns minutos, deixando as lágrimas rolarem.

Os dias foram passando. Refiz minha matrícula na escola e nas aulas extracurriculares. Madrasta não deu um pio quando pedi sua ajuda. Quando acabei de arrumar meu quarto, coloquei minha foto com meu pai em um porta-retratos e deixei na minha cabeceira, junto com a boneca.

O último fim de semana antes das aulas começarem. Noite da última sexta-feira de férias. Ao contrário de todos os outros estudantes do mundo, esse costumava ser um momento de felicidade para mim. Com a escola, eu teria algo para me distrair. Não ficaria presa dentro de casa com Madrasta. Mas dessa vez não sabia bem o que esperar.

Estava relendo todas as minhas anotações do caderno quando decidi ir para o telhado, meu lugar favorito para pensar. Então, deixei o caderno na escrivaninha e fui para a janela. Não levei o arco para tacar pedras nas chaminés das pessoas. Eu só queria pensar.

Encostei-me na parede lisa da chaminé e observei o céu. A vista de Denvan era uma coisa linda daquele ponto. Os prédios do centro eram muito afastados, então podia-se ver toda aquela porção da cidade muito bem. O céu estava muito estrelado naquela noite. A Lua brilhava como sempre, só não me lembro da fase em que estava. Minha cabeça estava muito cheia para prestar atenção a esse detalhe.

Toda minha vida, todos os dias de aula eram iguais. Eu ia andado; entrava na escola sem falar com ninguém; pegava o que precisava no armário antes do começo de cada aula; ficava lendo durante os intervalos e no almoço, sozinha; e no final da tarde, voltava pelo mesmo caminho que havia ido. Rúben vinha falar comigo às vezes. Eu ouvia cochichos sobre mim às vezes. Mas isso tudo era antes da minha vida virar de cabeça para baixo. Antes de meu pai morrer. Antes de eu fugir de casa. Antes de eu passar dois meses fora de casa sem ninguém saber o motivo.

Dessa vez, não teria ninguém lá para falar comigo. Rúben não iria voltar. Meu amigo sátiro havia cumprido sua missão em Denvan. E vai saber o que falaram de mim depois que fugi, os boatos que correram pela cidade. Isso não me ajudaria a fazer novos amigos.

Mas pelo menos agora o inferno seria só na escola. Madrasta estava cumprindo sua parte do acordo, pelo menos durante esse primeiro mês. Alguma coisa tinha que mudar.

Na verdade, tudo mudou, certo? Agora, sabia quem era minha mãe, já havia até falado com ela; sabia mais sobre a morte do meu pai, muito mais do que a manchete do jornal dizia; sabia que era uma semideusa, e que não estava sozinha nessa; e que eu finalmente tinha feito um bom amigo, que confiava em mim, e no qual eu poderia confiar.

— Obrigada. – disse para as estrelas. Sabia que os deuses poderiam me ouvir. Devia tudo a eles. E ao sacrifício do meu pai.

Respirei fundo. Não, não sabia o que esperar do primeiro dia de aula. Bem, agora eu não sabia o que esperar do resto da minha vida. Mas pelo menos sentia que estaria preparada para tudo.

Ou quase tudo.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Comentem!
Eu sei que isso pareceu um final de história, mas CALMA, ainda não é o final da fic. Mas infelizmente, pelos meus cálculos, só teremos mais quatro capítulos. Então, eu preciso, e quero muito, que vocês comentem o que acharam deste capítulo, o que estão achando da história, o que vocês acham que vai acontecer, qualquer coisa! Só comentem!
Beijos e até o próximo!