Tudo por Nico di Angelo escrita por Mariana Pimenta


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Olá! Eu disse que não ia demorar! Gente, esse é um dos capítulos que eu mais queria escrever, porque tem muita coisa importante para a história.
Espero que gostem e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/469973/chapter/12

Arregalei os olhos e ergui as sobrancelhas.

O que? – soltei uma risada fraca, totalmente sem humor – Não. Não estou não. É impossível.

– Por que é impossível?

– Porque... porque eu não me apaixono.

– O fato de você nunca ter se apaixonado não te impede de fazer isso agora.

– OK, mas... – fechei os olhos e balancei a cabeça – Não! Eu não estou. Não posso estar.

– Eu sou o deus do amor. Você acha que eu me enganaria com isso? Ainda mais depois de ficar tanto tempo investindo em você?

Franzi a testa.

– “Investindo em mim”? O que isso quer dizer?

Cupido começou a andar de um lado para o outro.

– Sabe, acho que todos deveriam se apaixonar pelo menos uma vez na vida. Mesmo sendo o deus do amor, não posso fazer com que seja puramente por minha causa que uma pessoa se apaixone pela outra. Posso até ajudar a juntar os dois indivíduos. Mas eu sei quando uma pessoa está apaixonada e por quem ela já se apaixonou.

“Eu tento dar um pouco mais de atenção aos semideuses, já que muitos deles não passavam dos dezesseis anos. Mas você, Mariana, foi um desafio para mim. Você não gostava de ninguém e não se dava o trabalho de tentar mudar isso. Depois de muito tempo pensando, percebi que a única pessoa pela qual você poderia se apaixonar, por mais difícil que fosse, era Nico di Angelo.”

– Mas como você pode ter certeza de que eu estou apaixonada por ele? Quero dizer, eu não demonstro emoções e admito isso. Como pode ter certeza que eu gosto dele se eu não pareço e nem me sinto apaixonada?

– Foi exatamente o que eu pensei. Como eu iria saber se você realmente gosta dele? Como eu iria saber se você estava mais feliz por ter conhecido ele? Eu precisava de algo que medisse a sua felicidade. Então tive uma ideia, e ele funcionou perfeitamente.

– E que ideia foi essa? Posso saber?

Ele parou de andar e me encarou com um sorriso feroz.

– Isso que está no seu braço.

Me espantei na mesma hora. Meu... Pensei. Meus olhos se voltaram para as mangas do meu casaco antes de encarar o deus novamente.

– Foi você que fez isto? – perguntei quase em um sussurro.

– Na verdade, eu e Hécate. Conversei com ela e ela disse que poderia colocar a ideia de te esfaquear na cabeça da sua madrasta. E envenenar as facas apenas quando elas te cortassem.

– O que isso tem a ver com as minhas emoções?

Cupido pareceu um tanto surpreso.

– Você não percebeu? Você estava sempre com raiva, por isso elas não paravam de sangrar. Toda vez que você ficava com uma raiva acima do normal elas pinicavam, não pinicavam? E quando foi que elas começaram a se curar? No exato momento em que você conheceu Nico e ele disse que iria te ajudar. E então você pergunta: eu não poderia estar apenas feliz por Nico tentar me ajudar? Não, pois as marcas continuaram se curando depois disso, mesmo depois de Nico cair no Tártaro e você ficar depressiva de novo. E as marcas voltaram a sangrar por alguns estantes quando eu estava provocando Nico, o que significa que isso também mexeu com você.

Não tenho palavras para descrever o tamanho da raiva que estava crescendo dentro de mim.

– Então foi você. Foi você que colocou isso em mim. – foi quando eu comecei a gritar – Por sua causa, eu fiquei durante semanas preocupada com o que esses cortes poderiam me causar se eles continuassem... AHHH!

A dor nas marcas foi apenas momentânea, mas era como se agulhas afiadíssimas perfurassem meu braço em diversos pontos. Eu me dobrei para frente.

– Quando você fica com raiva, as marcas doem. – concluiu Cupido.

Continuava encarando-o enquanto ajeitava a postura.

– Desde que eu comecei a prestar mais atenção em você, percebi que você faz esforço para não se relacionar com ninguém. Isso despertou minha curiosidade.

Levei um tempo para pensar se deveria falar alguma coisa ou se era melhor deixá-lo no vácuo. Não deve ser bom você deixar um deus no vácuo. Pensei.

– Prefiro ficar sozinha. Só eu e meus pensamentos. Aí eu não preciso me estressar com ninguém falando no meu ouvido.

– Outra coisa que também fiquei pensativo: mesmo sem se conhecer, as pessoas se apaixonam umas pelas outras. Por que nunca se apaixonou? Eu consigo ver que você evita fazer isso. Qual é o problema com o sentimento?

– Sem querer ofender, mas se apaixonar é horrível. Você se distrai de tudo e fica pensando na pessoa o dia inteiro. Quando você vê que a pessoa está mal, você também fica mal. E nem sempre você é correspondido. Se apaixonar só serve para ferrar você. E também tem o fato de que ninguém gostava nem de ficar perto de mim. Eu não entendo a incrível capacidade de algumas pessoas de se apaixonarem por alguém que elas nem conhecem. E o sentimento continua mesmo se essa pessoa não gosta de você! – respirei fundo antes de continuar – Como e por que eu iria me apaixonar por alguém que me odeia? Que era o caso de todos que me conheciam.

Ele assentiu.

– Você percebeu que acaba de dizer porquê se apaixonou por Nico?

Fiquei imóvel, a surpresa estampada em meu rosto.

– O que?

– Ele foi a primeira pessoa que confiou totalmente em você logo que te conheceu. Não era isso um dos pontos que te impedia de se apaixonar? As pessoas não gostarem de você? Nico confiava em você. E como ele tentou te ajudar de bom grado, pode-se dizer que ele gostava de você. – ele fez uma cara como se tivesse acabado de perceber algo (que foi o que aconteceu) – Então, quer dizer que você acabou de confirmar sua paixão por ele, além de explicar o motivo desse sentimento.

Abri e fechei a boca. Não é possível. Pensei. Não conseguia encontrar minha voz para rebater aquilo.

– Se isso não é o suficiente para te convencer, – continuou Cupido – tenho outra pergunta: por que você ficou no Argo II mesmo depois de saber que a irmã de Nico, Hazel Levesque, a filha de Plutão, já sabia que Nico estava em apuros? O que você conversaria com ele? Que tipo de assusto você estaria tão necessitada para discutir que estaria disposta a cruzar meio mundo para isso?

Fiquei atordoada. Não havia como negar que Cupido estava certo. Cambaleei para trás e tropecei em alguma coisa, e caí sentada em um pedaço de coluna que era do tamanho ideal para servir como banco.

– Mas como não percebi? – falei quase em um sussurro olhando para baixo – Eu já li tantos livros de romance durante toda a minha vida. Como que não poderia ter percebido os sintomas?

– Eu tenho um palpite.

Levantei a cabeça o mínimo possível para que ainda pudesse encará-lo pelas lentes dos óculos.

– A maioria das meninas têm suas primeiras paixões lá pelos seis anos. Algumas só com sete ou oito, mas normalmente antes dos dez elas sempre têm suas primeiras quedinhas. Você, Mariana, nunca chegou nem perto disso. Nunca teve amigos, então esses sentimentos de amizade e paixão não começaram a se abrir em você. Então, no momento em que você conseguiu um amigo em quem você sabia que poderia confiar, no caso, Nico, todos esses sentimentos vieram de uma só vez e você acabou se apaixonando por ele, confundindo isso com amizade. Você não sabia como era a sensação em você mesma. Mesmo já tendo lido todos aqueles livros, não sabia como era sentir o amor. Não havia como você perceber.

“Também tem o fato de que você gosta dele, mas não quer gostar dele, não dessa forma. As emoções ainda estão no seu subconsciente, e entra em conflito com ele por causa das ideologias opostas. Assim, você teria que libertar essas emoções para conseguir a paz interior.”

Ergui mais a cabeça e franzi a testa levemente.

– “Libertar essas emoções”? O que isso significa?

O sorriso do deus se alargou.

– Você tem que admitir que gosta dele. Não é simplesmente dizer “OK, eu gosto dele”. Tem que convencer a mim e a si mesma e aceitar isso.

– Como é que é?

– Admita. – ele fez uma pausa – Admita que gosta dele. Admita que você está apaixonada pelo seu melhor e único amigo verdadeiro. Admita que está apaixonada pelo Filho de Hades. – ele se inclinou levemente para frente – Admita que você está apaixonada por Nico di Angelo.

Durante vários segundos, eu apenas o encarei. Até que balancei a cabeça, me negando.

– Não. – eu disse – Não. Não é possível. Não é possível que depois de tudo você ainda queira que eu faça isso. Você quer que eu admita que eu errei. Você quer que uma filha de Atena admita que errou!

– Se apaixonar não é um erro. É uma coisa totalmente normal. E não é uma questão de eu querer. É para o seu próprio bem. Você vai se sentir muito melhor depois que começar a aceitar. Vai. Tente.

Não podia fazer aquilo. Não queria fazer aquilo. Eu estaria admitindo que fui contra tudo pelo qual eu lutei durante tanto tempo: não me envolver demais emocionalmente com ninguém para não sofrer.

Mas eu não podia discutir com Cupido sobre amor. Ele entendia disso melhor do que qualquer um, exceto Afrodite, claro.

Mas não adiantava. Eu precisava fazer aquilo. Era a única maneira.

A raiva que eu sentia de estar passando por aquela situação começou a tomar conta de mim.

– Você quer que eu admita? – perguntei me levantando – Ótimo. Eu admito, ta? Eu admito.

De pouco em pouco, fui deixando o meu subconsciente falar por mim.

– Eu gosto dele. Mas não é simplesmente gostar, como um amigo. Eu estou apaixonada por ele. É isso mesmo. Eu estou apaixonada por Nico. – aí eu comecei a gritar de novo – Eu estou apaixonada por Nico di Angelo. O Rei Fantasma! – não sei de onde isso saiu, mas parecia certo falar isso, e o apelido combinava com ele – Eu estou apaixonada pelo filho de Hades. – foi quando eu endoidei de vez. Eu me voltei para o chão e gritei – Ouviu? Eu estou apaixonada pelo seu filho, Hades! Eu o amo!

A última frase acabou comigo. Todo o sentimento de culpa por aquela paixão idiota voltou com tudo. Me deixei cair novamente na coluna quebrada e apoiei o rosto nas mãos. Senti uma lágrima caindo de cada olho e as limpei automaticamente. Não podia deixar Cupido me ver chorando.

Mas ele parecia um tanto distraído.

– Sinceramente, eu não vejo como o fato de você estar apaixonada por Nico possa ser um problema para Hades. – comentou.

Dei uma risada.

– Eu também não. Mas é bom gritar com mais alguém.

Respirei fundo. Até que um pensamento me veio à mente e eu comecei a soltar gargalhadas. Cupido inclinou a cabeça levemente para o lado.

– Qual é a graça? Não creio que está rindo por causa do que acaba de gritar.

Balancei negativamente a cabeça.

– Eu só queria saber. – ergui a cabeça e o olhei nos olhos – Eu sou algum tipo de brinquedo para vocês? Um rato de laboratório?

– Nós?

– Sim, vocês, deuses. Porque a maioria das coisas que estão dando errado na minha vida, mesmo não sendo muitas, parando agora para pensar, foi por causa de vocês.

Ele não pareceu entender. Me levantei novamente e expliquei.

– Eu não posso culpar Atena de ser minha mãe. No final nas contas, não é tão ruim ser semideusa. E ela fez muito por mim. E também não posso falar muito de Hades por ter me dado a benção, pois sem ela eu estaria morta. A minha vida não é tão ruim ao ponto de que a morte seria melhor. Mas meu pai morreu por essa benção. Foi uma vida pela outra? O pagamento não precisava ser tão forte, apesar de eu entender o porquê dele fazer isso.

“Mas você e Hécate, mesmo com boas intenções, quase deixaram o meu braço em carne viva, colocando a ideia de me esfaquear na cabeça da psicopata da minha madrasta. Tudo bem que você queria saber se eu estava feliz ou não, mas não tinha um outro jeito?

“E mesmo que já seja algo esperado dela, Gaia jogou Nico no Tártaro, bem na hora em que nós entraríamos no Palácio de Hades e eu entenderia de vez a benção. E Aracne, outra deusa da qual já não é esperado coisas muito boas, puxou Annabeth, a minha única irmã que tentou me ajudar, que confiou em mim e que me entendeu, e o namorado dela, Percy, para o Tártaro. Vai ver o fato de Annabeth não ter confiado totalmente em mim fez com que o destino a deixasse levar um acompanhante para o abismo.”

Cupido ergueu as sobrancelhas.

– Convincente. Como está se sentindo?

– Horrível. O que esperava?

– Claro que você está mal agora, mas depois vai começar a se sentir melhor.

De repente ele começou a batucar o dedo indicado na boca, pensativo.

– Que foi? – perguntei.

– Sabe, eu não gosto quando as pessoas dizem bem na minha frente que eu piorei a vida delas. Ainda mais quando eu só estava tentando ajudar.

Eu tinha pensado em uma resposta bem grosseira para isso, mas era melhor ficar calada.

– Então, eu decidi que vou te recompensar por finalmente te admitido seu amor pelo Filho de Hades. – ele fez uma pausa – Mas, você será punida por ter me acusado de tornar a sua vida uma desgraça.

– Não seria melhor não fazer nada?

– Não, eu já sei exatamente o que vou fazer. Vai ser o seguinte: vai acontecer uma coisa com você, uma coisa bem... marcante, e essa coisa vai ter um ponto positivo e um ponto negativo. Primeiro você vai ficar feliz, querendo ou não, mas depois vai ficar arrasada.

Fiquei sem palavras para o que acabara de ouvir. Mexi a boca esperando que algum som saísse, sem sucesso. Tentei de novo, mais calma.

– Sério? Depois de tudo o que você já me fez, de tudo o que já aconteceu comigo, ainda me vem com essa?

– Mas pelo menos tem um ponto positivo.

– “Quanto maior o pulo, pior a queda”. Já ouviu essa? – umedeci os lábios e suspirei – Por que vocês insistem em fazer isso comigo?

– Ah, eu não reclamaria tanto se fosse você. Olhe todas as suas conquistas atuais. Tenho certeza que você terá um futuro excelente.

Isso era verdade. Pelo menos, eu tenho talentos. Mas ser inteligente, esperta, estrategista e blábláblá não é nada surpreendente vindo de uma filha de Atena. Contudo, não havia como devolver.

– Tenho um conselho. – ele disse de repente.

– É mesmo? Que ótimo. Tomara que me seja útil. Qual é?

– Por que você não escreve uma carta?

Franzi a testa novamente.

Uma carta?

– Sim, uma carta para Nico. Expresse todos os seus sentimentos e pensamentos a respeito do que conversamos hoje. Vai esvaziar sua cabeça. Claro que você não precisa entregar a carta para Nico. É apenas para você abrir o jogo para ele sem que ele saiba. É apenas um meio de você organizar seus pensamentos.

Cruzei os braços e me encolhi.

– Vou pensar.

Cupido colocou seus braços atrás das costas.

– Bom, Mariana, filha de Atena, abençoada por Hades, acho que finalmente terminamos nossa conversa. Já consegui uma confissão de você. Já expliquei sobre as marcas. E falando nelas, tem um detalhe: elas vão continuar se curando lentamente, de acordo com a sua felicidade. Se você de repente ficar mais animada, o processo vai se tornar mais rápido. Se ficar com raiva, mais lento. Não importa com o que você fique feliz, ou se é você ou seu subconsciente, os cortes vão surtir o efeito das emoções. Não se esqueça de que os sentimentos podem surgir a qualquer hora, vindos de qualquer lugar.

Com isso, ele (finalmente) desapareceu, deixando uma única pena branca no lugar onde estivera.

Respirei fundo.

– Hora de voltar. – sussurrei para mim mesma.

.......

A viagem nas sombras foi bem mais difícil. Eu não fazia ideia que o navio já estava tão longe.

Abri os olhos. Novamente nos estábulos. Sozinha. Como eu gostava de ficar. De todos os jeitos possíveis.

Senti meus olhos umedecerem e me encostei na porta de uma das baias. Não aguentava ficar em pé. Deslizei e sentei no chão, minhas pernas dobradas na minha frente.

Eu odiava isso. Odiava estar apaixonada. Odiava estar emocionalmente dependente de alguém. Odiava o fato de não poder chutar nada para extravasar meu ódio, já que qualquer som me entregaria.

Coloquei a testa entre os joelhos e abracei as pernas. Lágrimas rolaram no meu rosto. Porém, pela primeira vez em muitos anos, eu não as limpei automaticamente. A frase “Mariana, pare de chorar” ficou na minha mente como um letreiro. Mas não me importei.

Eu não podia ignorar essa paixão. Ela era a base de tudo que estava acontecendo na minha vida. Por causa dela eu ainda estava no navio. Por causa dela as marcas ainda estavam se curando. Por causa dela eu estava tão determinada a falar com Nico.

Dei um chute no nada.

– Droga.

Encostei a cabeça na porta da baia e respirei fundo, com os olhos fechados. Minha cabeça se inclinou levemente para a esquerda, onde estava minha mochila, e abri os olhos. Pensei em todas as coisas que havia lá dentro: o dinheiro, as garrafas de água, o mapa dos Estados Unidos, a foto, a boneca, o caderno.

O caderno.

Lembrei-me do que Cupido dissera um pouco antes de desaparecer: escreva uma carta para Nico.

Uma carta. Abrir o jogo sem que ele saiba.

Fiquei mais alguns segundos pensando se realmente deveria fazer isso. Então puxei a mochila para mais perto e peguei o caderno, o lápis e a borracha. Abri o caderno na última folha e o apoiei nas pernas.

Meu primeiro problema foi que eu não sabia como começar. Escrever coisas como “Caro Nico” e “Querido Nico” soava extremamente formal e estranho para a situação. Então comecei simplesmente com “Nico”.

Depois disso, comecei a escrever tudo o que vinha na minha cabeça, como se eu estivesse realmente falando com ele. Acabei até falando de Bianca. Assim que escrevi essa parte, pensei em tirar, soou um pouco grosseiro. Mas ficou.

No final, ficou assim:

Nico,

Sinceramente, eu não faço ideia de porque eu estou escrevendo isso. É bem improvável que você leia. Eu não deixaria você ler meu caderno, ainda mais agora que tenho isso escrito. E se eu estiver morta, por que você estaria com o meu caderno? Ele deveria ficar na minha mochila, e se eu estou morta, minha mochila deveria estar desaparecida, já que eu nunca a deixaria fora do meu alcance.

Mas Cupido disse que isso me ajudaria a organizar os pensamentos. Então vamos lá.

Eu não sei se você sabe, mas eu estou apaixonada por você. Sim, eu estou mesmo. E não estou orgulhosa disso.

Dizem que é bem fácil saber se uma menina está apaixonada, mas não se sinta mal se não percebeu. Nem eu mesma percebi. Cupido disse que era porque eu nunca havia me apaixonado por ninguém, então eu não sabia como era a sensação. De acordo com ele, o fato de eu não saber nem como era ter um amigo fez com que eu confundisse esse sentimento de paixão com amizade.

Eu gosto de você, talvez porque você me entende. Muitas pessoas não gostavam de mim porque eu sou diferente. Mas para você eu não sou. Eu sou apenas mais um meio-sangue com uma vida complicada, como você. E você tentou me ajudar em um momento em que todos que se aproximavam torciam o nariz para mim.

E outra coisa que eu gostaria de ressaltar: as marcas, ou cortes, como queira chamar. Isso também foi obra de Cupido. Resumindo, o que aconteceu foi que ele e Hécate colocaram essa ideia na cabeça de Madrasta. Hécate fez com as marcas não se curassem e nem sequer parassem de sangrar até eu atingir um nível mais elevado de felicidade. Que foi exatamente quando eu te conheci, naquele cemitério em Nova York. Por isso elas não paravam de sangrar: eu estava sempre com raiva.

Honestamente, espero que você não esteja apaixonado por mim, e tenho 99% de certeza que você não está, o que é um alívio. Eu já me machuquei com isso. Não ia querer ver você assim também. Eu não iria querer ficar com você, pois estou tentando esquecer essa paixão idiota. Além disso, não tem motivo algum para você se apaixonar por mim. Se me permite dizer, seria estranho você se apaixonar por uma garota que é a cara da sua irmã morta.

Eu não gosto de estar apaixonada. Faz com que eu fique dependente de saber se você está bem ou não. Não me orgulho disso, mas aceito. E sei que você já passou por isso.

No momento em que escrevo, estou nos estábulos do Argo II, e você está em um dos andares de cima. Acabei de voltar de minha conversa com Cupido nas ruínas de Salona. Você e Jason voltaram há um tempo com o cetro de Diocleciano. Sim, eu vi o que aconteceu. E não se preocupe: nunca vou contar a ninguém, a não ser que você peça.

Bem, acho que era só isso.

Mariana.

Reli o texto várias vezes. Realmente estava me ajudando. Ficava mais calma a cada minuto. E comecei a tentar não ver esse sentimento como uma coisa ruim. O que apesar de ser um pouco difícil, não era impossível.

Depois de dois dias longe de Split, na Croácia, houve uma invasão e o navio “quebrou”. Passamos cinco dias no mesmo lugar, esperando o rei do Vento Sul falar com Jason para ver se ele podia ajudar.

Durante esses dias eu observava Nico de longe. Eu realmente sentia uma atração por ele. E era diferente de tudo o que eu já havia sentido.

Nossa, estou falando igual aos personagens em livros de romance.

Nico estava sempre sozinho (como se fosse novidade, né?), examinando o cetro de Diocleciano. E falava sozinho. Às vezes, eu o ouvia sussurrar coisas como “Ela não é real. Ela não é real. Ela não é real”. E ficava repetindo para si mesmo.

No quinto dia de espera, Jason parecia não aguentar mais. Encostado no guarda-corpo da varanda do palácio do senhor do Vento Sul, ele não podia me ver atrás de uma das colunas do próprio palácio, que era imenso. A tripulação do Argo II tentava consertar o navio no cais.

Nico estava perto, embaixo da sombra da coluna mais próxima de Jason. Ele tirara a jaqueta, mostrando toda a sua camiseta preta e os braços pálidos. O cetro de Diocleciano e sua espada de ferro estígio estavam pendurados em seu cinto.

– Ele disse alguma coisa? – perguntou Nico.

Jason negou com a cabeça.

– Nós temos que sair daqui. E rápido. – disse Nico.

– Alguma novidade sobre Percy e Annabeth?

– Estão chegando cada vez mais perto, e vão precisar de ajuda para atravessar as portas.

– Bem, pelo menos estão vivos. Mas precisamos consertas o navio ou...

– Não importa o que aconteça, vou cumprir minha promessa de levá-los à Casa de Hades.

– Não acho que dê simplesmente para você viajar nas sombras com todos nós. E todos têm que estar presentes para fecharmos a portas.

– Eu sei. E isso significa que precisamos da ajuda do rei do Vento Sul. – ele fez uma pausa – Eu não sofri todas aquelas humilhações por nada.

Ótimo. Pensei. Eles iam começar a falar sobre o que aconteceu entre eles e Cupido. Não queria me lembrar desse assunto, já que faz me lembrar que eu estou apaixonada por Nico, o que é um saco.

– Nico, se você quiser falar sobre o que aconteceu na Croácia... Eu estou aqui para ajudar. Eu sei como é complicado...

– Você não sabe nada.

– Nico, não vão te julgar.

O filho de Hades soltou uma risada debochada.

– Até parece. Sabe o que é ser o filho de Hades, Jason? As pessoas me olham como se eu fosse um assassino. Mas é claro que você não sabe como é isso. Você é o filho de Júpiter. As pessoas não te desprezam.

Jason suspirou.

– Tudo bem. Mas só você pode escolher se vai confiar em alguém, se vai acreditar que eu vou te aceitar e ser seu amigo, ou vai, como sempre, se esconder.

De repente o piso entre os dois semideuses rachou, e uma luz fantasmagórica sair de dentro da rachadura.

– Esconder?

Lembrei-me da noite em que Nico caíra no Tártaro. Gaia disse “Em todos os lugares que vai, as pessoas não a aceitam, e sente-se na obrigação de se esconder.”. Esconder... era isso o que eu e Nico fazíamos. Nos escondíamos para não sermos desprezados.

– Isso – continuou Jason – Se esconder. Não ficou em nenhum dos dois acampamentos. Tem medo de ser mais rejeitado. Se parasse de se esconder nas sombras, descobriria que as pessoas não te odeiam tanto.

A rachadura do piso se fechou e a luz estranha desapareceu.

– Não importa. – Nico não encarava mais Jason – Vou levá-los para Épiro e cumprirei minha promessa, ajudando no fechamento das portas. Depois eu vou embora... para sempre. Não vão mais precisar se preocupar comigo.

A porta da sala do trono se abriu atrás deles e Jason se distraiu quando uma voz disse que ele seria recebido. Então, Nico se misturou as sombras e desapareceu.

Depois que saímos de lá, passei os outros dois dias no navio. Chegamos a Épiro no dia dezoito.

O grupo de semideuses desceu, e o treinador Hedge ficou tomando conta do navio. Algumas horas depois, Reyna, a pretora do Acampamento Júpiter, chegou em seu pégaso e esperou o grupo voltar. Jason a havia chamado.

Passado um bom tempo, decidi arriscar uma subida para os andares de cima. Não tinha ninguém no navio, exceto eu. Olhei por uma das janelas do leme e vi todos fazendo um piquenique à sombra do navio. Coloquei a mão no vidro e os observei conversando.

Depois do que pareceu a chegada de um acordo, o treinador Hedge se levantou e veio na direção do navio. Desci rapidamente para não ser vista.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, o que acharam??
Só pra já deixar avisado, vai ter muito mimimi da Mariana falando o tempo inteiro que não quer estar apaixonada pelo Nico e tal. Não dá pra ser de outro jeito, já que essa é a base da história.
Leitores fantasmas, apareçam nos comentários!
Sugestões, críticas (construtivas e argumentativas, por favor), deixem qualquer coisa nos comentários. Aceito tudo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tudo por Nico di Angelo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.