Tudo por Nico di Angelo escrita por Mariana Pimenta


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Eu voltei, leitores, com mais um capítulo!
Gente eu chorei muito, muito mesmo escrevendo o capítulo. E deu muito, MUITO trabalho, por que eu não posso copiar as falas do livro, então eu tinha que fazer o mais diferente possível e ainda manter o sentido. Espero que isso não seja considerado plágio, se não estou ferrada.
OBS: O que a Mariana descobriu não é aquele negócio do Nico que todo mundo sabe! O que ela (no caso eu, a autora) disse é referente a uma coisa que só acontece no final do capítulo.
Boa leitura!



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Acho que posso dizer que estava ficando louca. Não sei o porquê, mas a necessidade que eu sentia de falar com Nico ia crescendo mais a cada dia. Eu queria muito falar com ele, mesmo sem ter quase nenhum assunto.

As marcas pareciam estar se curando um pouco mais rápido. Já tinham parado de sangrar totalmente, e estavam começando a ficarem um pouquinho mais esbranquiçadas, o que foi um grande alívio.

No momento, eu queria saber por que as marcas não estavam se curando e por que de repente elas começaram a fazer isso. As respostas dessa pergunta não foram gentis. Muito menos o jeito como eu descobri.

Nico estava se recuperando do choque e da desnutrição, e Hazel o estava ajudando. Mas ele sempre parecia distraído.

Uns dois dias depois que saímos de Roma, Hazel perguntou por que ele estava assim. Nico balançou levemente a cabeça.

– Não sei dizer. Sei lá... é como se eu estivesse me esquecendo de alguma coisa. De algo, de alguém. Não sei.

Posso dizer que desde o dia em que Nico chegou ao navio eu estava assim, meio louca. Estava obcecada na minha vontade de falar com ele. Ou com alguém. Acho que é porque eu nunca tinha ficado tanto tempo sem falar com ninguém porque não podia.

Quando meu pai estava em casa, eu podia falar com ele. E tinha Madrasta, Hilary, Gavin e Rúben se eu quisesse conversar com alguém. Mas eu odiava falar com qualquer um deles, especialmente com Madrasta. E eu nunca tinha nenhum assunto (e vontade) de falar com meus meios-irmãos e com meu amigo sátiro. E as coisas não mudaram depois que eu soube que sou uma semideusa.

Ou seja, todas as outras vezes eu não falava com ninguém era porque não queria. Mas agora eu queria, e não podia. Se eu tentasse falar com qualquer pessoa nos andares acima de mim elas iriam surtar, exceto Nico, acho.

Eu nem sabia se Nico se lembrava de mim. Quero dizer nos conhecemos horas antes de ele cair no Tártaro. Talvez ele não conseguisse se lembrar exatamente o que aconteceu antes.

Eu não conseguia mais ficar nos estábulos. A Atena Partenos ocupava a maior parte do convés inferior, e o rosto da deusa ocupava a maior parte dos estábulos. Fora o fato de que Leo ficou um tempo lá mexendo na estátua.

6 de Julho. Foi o dia em que eu saí do navio e senti a luz do sol na pele pela primeira vez desde Roma. Mas eu não havia falado com Nico ainda.

O caso foi que eu estava tão obcecada com a ideia de falar com Nico que na primeira missão que ele saiu eu também saí. Não queria ficar muito longe dele de novo (cara, que clichê) e estava super curiosa para saber o que eles estavam fazendo já que eu não tinha muitas informações.

Foi em Veneza, Itália. Pelo que eu entendi Nico, Frank e Hazel foram devolver um livro para um deus menor. Contei um minuto desde que eles tinham descido, fiz uma viagem nas sombras e desci do navio. Nunca havia ido à Veneza, mas dava para ver como era a cidade por aquela janela nos estábulos. Então não foi um problema.

O que eu consegui ver foi que o trio teve que lutar com vacas demoníacas, as catóblepa (nome difícil), e Hazel levou uma borrifada de veneno no rosto. Eles entraram em um edifício cujas paredes eram pretas e levou-se um tempo até que Frank saísse de lá, arrasado. Claro que algo havia acontecido.

Mas até que tudo se resolvesse, eu fiquei perto daquela rua.

Depois de uma ou duas horas esperando alguma coisa acontecer, Frank voltou e poucos minutos depois Nico e Hazel saíram com ele e tudo dizia que eles iam voltar para o navio. Frank estava com um pacote fechado na mão em que se lia “cevada”.

Então ta né.

Dois dias depois de sairmos de Veneza fomos atacados por uma tartaruga gigante e um ladrão psicopata. Nada de mais.

Eu ficava ouvindo as conversas deles. E foi em uma dessas conversas, três dias depois da saída de Veneza, que eu ouvi que estávamos indo para a Croácia, visitar o Palácio de Diocleciano.

Nunca na minha vida eu comecei a odiar tanto um lugar tão repentinamente.

Tudo bem, o problema não era o lugar, mas as lembranças que ele me traz. Eu não tinha problema algum com a Croácia antes do dia 9 de Julho daquele ano, quando meu mundo veio abaixo e eu descobri que estava indo contra meus próprios princípios sem saber, nem mesmo suspeitar.

Para o meu alívio, só havia Jason e Nico nessa missão.

Diferente das outras vezes, eu não desci do navio depois deles. Fiz uma viagem nas sombras e fui na frente deles. Estava sentindo que teria algum tipo de armadilha. De longe, mais perto do palácio, vi Jason seguindo com os olhos uma linha alaranjada no céu que parecia o pozinho mágico da Tinker Bell, que ia para dentro do palácio. Corri para dentro, tomando cuidado para não ser vista por Nico ou Jason.

Não prestando a menor atenção na arquitetura, vi uma pena de tom alaranjado caindo sobre os degraus de uma escada. Ali. Pensei. Chegando lá, desci os degraus.

Me vi em um porão com aspecto de uma caverna natural, com o chão de pedra, apesar do fato de que dava para ver que os blocos de calcário apenas se fundiram com a parede por causa da umidade. Vigas e colunas de sustentação apoiavam o teto. Era possível ver os pés das pessoas por uma fileira de janelas no limite superior da parede, por onde raios de sol não muito fortes entravam no local.

– Sabe, eu não esperava que você realmente fosse vir.

Desembaiei o facão e apontei para uma estátua que eu nem havia notado até me virar. Era a única coisa com forma humana que eu havia notado lá, mas não foi dali que veio a voz. Fui virando devagar e dei um giro de 180º para apontar a arma para a pessoa certa.

Um homem com asas estava encostado em uma das colunas de sustentação, enquanto brincava com um aro de bronze. O examinei de cabeça aos pés.

– Quem é você?

– Favônio, ou Zéfiro, para os gregos, como você, deus do Vento Oeste. Não sou muito conhecido, sou apenas um deus menor. Se não se importa, poderia abaixar sua lâmina?

Fiz o que ele pediu.

– Isso é algum tipo de armadilha? Você precisa ir para o Tártaro para entregar o cetro? – perguntei.

– O cetro de Diocleciano? Não, não está comigo. Está com meu mestre.

– Seu mestre?

– Cupido, é claro. Ah. – ele sorriu de um jeito estranho – Ele vai ficar tão feliz em vê-la. Nico di Angelo está vindo, não está? Vai ser um espetáculo! Gostaria de ver isso.

– Espera, espera, espera. O que Nico tem a ver com isso? Ele só está aqui para pegar o cetro.

– Você vai ver.

– O que vai acontecer quando ele encontrar Cupido?

– Ele vai ter que enfrentá-lo, ora! Essa é a parte boa. Com você assistindo, vai ser melhor ainda.

– O que? O que você quer dizer com...

– Meu mestre vai explicar melhor. Tenho pena de você, coitadinha...

Eu odiava isso. Odiava quando as pessoas diziam que tinham pena de mim. Fazia eu me senti fraca demais para enfrentar a situação.

– Por que tem pena de mim? Qual é o problema?

– Tudo será explicado. Tudo mesmo. Acredite.

Com isso, ele fez um gesto e senti meu corpo se esvaindo. Não conseguia mais ver a mim mesma.

Eu estava virando vento.

Fiquei um tempo com os “olhos” fechados e, quando os abri novamente, me vi em uma cidade em ruínas.

Tudo estava coberto de vegetação, havia pedaços de paredes e colunas espalhados por todo o lugar, as muralhas da cidade não eram nada além de uma parede repleta de rachaduras e várias estátuas despedaçadas.

Olhei ao redor, mas não havia sinal de vida.

Olá, Mariana. Disse uma voz. Ergui o facão e continuei prestando atenção ao meu redor. Como é bom finalmente conhecê-la pessoalmente.

– Cupido. – eu disse – Eu sei que é você.

Joguei a mochila dentro de um arbusto para ficar escondida e fiquei apenas com o facão.

O deus se materializou na minha frente. Ele era alto, musculoso, vestindo uma calça jeans embaixo de uma túnica branca. Em seu ombro estava pendurado um arco e flecha de verdade, daquelas que você vê no acampamento. Duas asas brancas brotavam de suas costas. Com os cabelos negros e os olhos extremamente vermelhos ele não bem com o que as pessoas esperam.

– Eu prefiro você assim, é bem melhor do que aquele anjinho idiota do Dia dos Namorados. – comentei.

– Que bom saber. – ele respondeu.

– Posso saber por que Favônio me mandou para cá? Eu não precisava ter vindo.

– Pelo contrário. Eu estava precisando falar com você.

– O que você precisa falar comigo? – franzi a testa.

Ele sorriu antes de responder.

– Você precisa saber a verdade. E algumas dessas verdades você poderia ter descoberto sozinha.

– Do que você está falando?

– Espere e verá. – ele olhou para o horizonte – Acho que Nico de Angelo e Jason Grace já estão chegando com Favônio. – seus olhos vermelhos me encararam – Já que você não quer ser vista, acho melhor lhe dar uma ajudinha. E devo lhe avisar que você não terá boas lembranças do dia de hoje.

Cupido voltou a ficar invisível. Só que eu também fiquei invisível. Não era como ser o vento. Dessa vez eu tinha uma noção de onde estavam os meus membros.

Alguns segundos depois o deus do Vento Oeste, Nico e Jason apareceram. Novamente eu tive aquela vontade de falar alguma coisa para que Nico soubesse que eu estou ali, mas me limitei a ficar atrás de uma pilastra quebrada.

– Esta é Salona, capital da Dalmácia. – disse Favônio – O lugar onde Diocleciano nasceu! Porém muito antes disso, esta era a casa de Cupido.

Os dois semideuses continuaram olhando em volta. Por algum motivo, Nico parecia prestes a vomitar. E por algum outro motivo, Favônio disse:

– Não se iluda, ele não é assim.

Jason olhou para o deus.

– Você leu minha mente?

– Não é necessário. Até se encontrarem com ele, todos têm a impressão errada.

As pernas de Nico estavam trêmulas e ele se encostou em encostou em uma coluna.

– Ei, Nico... – Jason parecia preocupado, mas Nico não parecia querer ajuda.

O que aconteceu com ele? Pensei. Por que ele parecia tão nervoso? Fui obrigada a ficar parada. Não poderia dar sinal de minha presença.

– Não o culpo pelo nervosismo. – disse Favônio – Vocês sabem por que eu acabei servindo ao Cupido?

– Eu não sirvo a ninguém, muito menos ao Cupido – disse Nico, com a voz trêmula.

Favônio começou sua história de que se apaixonou por Jacinto, e que aí Apolo também gostava do mortal, essas coisas de ciúme. No meio da história eu pensei “Cara, que idiota”. As meninas da minha turma na Geórgia falavam dessas coisas e eu sempre achei totalmente patético, e continuo achando.

Quando acabou sua história declarou:

– Então, eu vou indo. E Nico di Angelo, pense como vai agir com o deus do amor. Ninguém é capaz de mentir para Cupido. Se si deixar ser governado pela raiva, seu destino pode ser pior que o meu.

Favônio desapareceu e alguns segundos depois, o chão tremeu levemente, fazendo com que Jason e Nico sacassem suas espadas.

Então, vocês querem o cetro. Ouviu-se a voz de Cupido.

– Não o estamos vendo. Cadê você? – perguntou Jason.

O deus do amor riu.

No mesmo lugar que o amor: onde você menos espera. Respondeu.

Algo bateu em Jason e ele foi para no outro lado da rua, caindo sobre alguns degraus de um porão.

Devia saber disso, Jason Grace. Afinal de contas, você encontrou o verdadeiro amor. Ou continua duvidando de si mesmo?

Nico foi até onde Jason estava e o ajudou a levantar.

– Eu estou bem. Só fui feito de idiota. – disse Jason.

E o que você esperava? Que o amor fosse justo? O amor nunca é justo. E como eu sou o próprio, idem.

Uma flecha apareceu de repente e Jason a desviou com a espada. Ele e Nico subiram a escada e outra rajada de vento derrubou uma coluna que quase os esmagou.

Ele está tentando matá-los? Pensei.

– Você é Amor ou Morte? – perguntou Jason entre os dentes.

Por que não pergunta para seus amigos Frank, Hazel e Percy? Disse Cupido. Eles conheceram Tânatos, meu antagonista. A Morte e o Amor não são muito diferentes. A Morte costuma ser mais gentil.

– Só queremos o cetro! – gritou Nico – Precisamos impedir Gaia. De que lado você está?

Outra flecha foi lançada, dessa vez ela se projetou aos pés de Nico. Ele andou para trás quando a flecha explodiu.

O amor está em todos os lados, do mesmo jeito que ele não está em lugar nenhum. Vocês não sabem o que o amor pode fazer por você. Disse Cupido.

Jason virou-se de costas e fez um movimento. Sobre o calçamento brilhava um líquido dourado: icor, o sangue dos deuses.

Parabéns, Jason Grace. Você sente a minha presença. A maioria dos heróis não consegue nem sequer um relance de amor verdadeiro. Disse o deus.

– Então vai me dar o cetro? – perguntou o filho de Júpiter.

Cupido riu. Mesmo se eu lhe entregasse você não poderia controlá-lo. Apenas um filho do Mundo Inferior poderia invocar os soldados romanos, e apenas um romano poderia liderar as legiões.

– Nico é filho de Hades. Ele pode invocar...

Outra flecha se materializou no ar e passou muito perto do ombro de Jason. Solucei quando a flecha atingiu no braço em que Nico segurava a espada.

– Nico! – Jason e eu falamos ao mesmo tempo, mas eu apenas sussurrei.

Nico cambaleou. Sem deixar qualquer rastro de ferimento ou sangue a flecha se dissolveu.

Sem pensar direito, tirei o facão da bainha. Uma rajada de vento me atingiu e eu voei para perto de onde estavam os outros dois semideus. O facão caiu encima de um arbusto, então não fez barulho ao cair.

– Já cansamos das brincadeiras! – gritou Nico – Apareça.

É difícil olhar a face do amor verdadeiro. Disse Cupido.

Jason afastou-se quando outra coluna caiu em sua direção.

Cupido começou a contar uma história sobre ele e sua esposa Psique, mas eu não prestei a menor atenção, pois estava procurando meu facão e eu não queria mais ouvi-lo. Realmente parecia que ele estava tentando matar Jason e Nico. E eu queria muito poder vê-lo para atirar meu facão nele.

Um trovão apareceu do lugar de onde a voz do deus vinha. Coisas de Jason. Mas novamente outra força invisível o derrubou, fazendo sua espada parar do outro lado da rua.

Foi uma boa tentativa, mas não é assim tão fácil detectar o amor. Riu o deus.

Mais um muro desabou e Jason escapou por pouco.

– Pare! – Nico gritou – Deixe Jason em paz! Sou eu quem você quer!

Foi só então que eu realmente comecei a prestar muita atenção ao que eles estavam dizendo. Por que Cupido iria querer Nico? Por que ele seria o alvo?

Pobre Filho de Hades. Lamentou-se Cupido. Como vai saber o que eu quero, se não sabe nem mesmo o que você quer. Psique arriscou tudo em meu nome. E você, o que arriscou por amor?

– Sobrevivi ao Tártaro. – rosnou Nico – Você não me assusta.

Muito pelo contrário. Eu o assusto muito mesmo. Então por que não me enfrenta?

Jason começou a se levantar. A grama ao redor de Nico escureceu ou ficou em um tom amarronzado e as pedras racharam.

– Precisamos do cetro. – disse Nico – Não podemos ficar brincando.

Brincar? Nico foi arremessado contra um pedestal de granito e caiu de cara no chão. Tentei me aproximar e ver se ele estava bem, sem me importar nem um pouco com o fato de que eu estava invisível. Mas Cupido me jogou em um muro. Poucos segundos depois eu voltei a ficar visível, mas havia muitos pedaços de paredes e colunas na minha frente. Não se brinca com o amor verdadeiro! Não é fácil! Buscas intermináveis, um trabalho realmente pesado. É exigido muito de você, principalmente a verdade. Só assim isso pode lhe conceder recompensas.

Jason pegou sua espada.

– Nico, o que ele quer com você?

Conte-lhe, Nico di Angelo. Replicou Cupido. Conte-lhe que você é um covarde com medo de seus próprios sentimentos. Conte-lhe o verdadeiro porquê de sua fuga do Acampamento Meio-Sangue e por que você está sempre sozinho.

Nico emitiu um grito realmente forte, do fundo da garganta. O chão se abriu e esqueletos de guerreiros romanos tentavam sair. Alguns estavam com pedaços de seus uniformes, outros estavam com pedaços de armaduras.

Vai se esconder entre os mortos de novo? A voz de Cupido era provocativa.

Eu ainda estava deitada no chão tentando entender o que estava acontecendo. E eu estava com muita, muita raiva. Sentia uma onda de fúria gigante dentro de mim. Eu queria poder levantar e dar um soco forte na cara de Cupido.

Mas aí aconteceu uma coisa que não acontecia fazia um tempo.

As marcas voltaram a doer.

Puxei um pouco a manga do casaco e era como se o sangue estivesse querendo sair das minhas veias. Sufoquei um grito de dor. Perdi a força para levantar e tive que me limitar a ficar apoiada nos cotovelos.

Deixei minha cabeça cair e respirei fundo. As marcas começaram a parar de doer.

Os guerreiros esqueletos invocados por Nico já haviam saídos da terra e agarraram algo. Alguns simplesmente se despedaçavam, mas outros apareciam.

Ah, então você tem a força! Cupido não parecia realmente surpreso.

– Foi por amor! Foi por isso que eu deixei o acampamento! – Nico disse – Annabeth...

Não, você não tem a força. Ainda está se escondendo. Provocou Cupido.

– Cara, está tudo bem. – disse Jason – Eu... Eu entendo.

Havia dor e aflição no rosto de Nico quando ele encarou o outro meio-sangue. Senti um imenso aperto no peito. O que era estranho, pois eu raramente senti isso.

– Errado. Não há como você entender.

E você foge mais uma vez. De si mesmo, de seus amigos...

– Eu não tenho amigos! – Nico gritou – Eu não pertenço ao Acampamento Meio-Sangue, nem nunca pertencerei! Foi por isso que eu o deixei.

Cupido riu novamente. Uma risada tão diabólica que eu teria o imenso prazer de enterrar meu punho na cara dele.

– Cupido, deixe-o em paz – Jason conseguiu dizer – Isto não é da...

A voz de Jason falhou. Ele claramente queria dizer que aquilo não era da conta do deus. Mas até onde eu estava entendendo, aquilo era totalmente da conta de Cupido.

Eu não sabia o que Nico estava tentando esconder. Mas depois de alguns segundos o rosto de Jason pareceu se iluminar.

– Eu... Eu não estava apaixonado pela Annabeth. – Nico falava como se cada palavra doesse.

– Você tinha ciúmes dela. Era por isso que você não queria ficar perto dela, nem... dele. É claro.

Então, Nico relaxou. Os guerreiros esqueletos se reduziram a pilhas de ossos.

– Eu odiava tudo. Principalmente eu mesmo. – ele disse – E Percy Jackson.

Cupido finalmente se tornou visível. Ele estava exatamente igual a quando eu cheguei às ruínas. Exceto pelo fato de que ele parecia mais contente, e mais cruel.

Eu tinha uma noção do que Nico estava prestes a dizer. E me senti uma idiota por não ter percebido antes, como Jason, ou não ter prestado atenção direito à conversa.

Aquela sentença, aquelas cinco palavras juntas... me aterrorizaram por alguns minutos depois de ditas, até que eu também aceitei.

– Tive uma queda pelo Percy – disse Nico – Pronto. A verdade. O grande segredo está dito.

Naquele momento, eu senti alguma coisa morrendo dentro de mim. Uma coisa grande. Junto de uma dor insuportável no peito e uma sensação de vazio.

Mas eu não entendi o porquê de eu estar tendo essas sensações. Apenas uma vez na minha vida eu havia sentido aquilo: quando meu pai morreu.

Meu corpo todo parecia mais pesado, mas mantive a cabeça erguida e continuei olhando a cena. Nico encarava Cupido.

– Agora está feliz?

A expressão do deus demonstrava pena.

– O Amor nem sempre o faz feliz – posso jurar que ele olhou para mim por cima de Nico e Jason – Na verdade, muitas vezes ele o faz ficar surpreendentemente triste. – ele voltou a encarar Nico – Mas pelo menos você já o enfrentou. Era a única maneira de me vencer.

Eu senti alguma coisa no meu rosto. Passei os dedos embaixo dos olhos e... eu estava chorando?

Por que diabos eu estava chorando?

O que Nico acabara de dizer não deveria me afetar. Qual era o problema? Não importava o que eu fizesse, as lágrimas continuavam a cair aos montes e deixavam minha visão embaçada.

Cupido desapareceu no ar. E onde ele estava, havia o cetro de Diocleciano: um cajado de mármore com um globo escuro no topo, aninhado três águias de ouro.

Nico se abaixou e pegou o cetro. Ele virou de costas e olhou para Jason.

– Se os outros souberem...

– Se os outros souberem você terá mais pessoas dispostas a ter ajudar.

Nico ainda não parecia convencido.

– Mas é você quem decide. – continuou – Só queria dizer que...

– Não sou mais assim. – murmurou o filho de Hades – Quero dizer... Eu desisti disso. Eu era muito novo, e muito idiota e...

A voz dele falhou.

– Eu já vi muitos atos de coragem, mas o que você fez... acho que foi o maior de todos.

Nico levantou a cabeça.

– Precisamos voltar ao navio.

– Verdade. Se formos voando...

– Vamos pelas sombras. – disse Nico, decidido – Quero ficar longe dos ventos por algum tempo.

Assim, os dois desapareceram depois de alguns segundos. E eu me vi sozinha no meio das ruínas.

Deixei a cabeça cair e respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos. Eu já havia parado de chorar, mas meu rosto continuava molhado.

– Foi só porque eu estava aqui. – eu disse – Ele não precisaria ter passado por isso se eu não estive aqui!

Por algum motivo, o que eu havia acabado de dizer tinha sim algum sentido. Mas como a minha presença poderia ter alguma influência no que acabara de acontecer?

Cupido ficou visível novamente. Ele mantinha as mãos nas costas e, assim como eu mesma, parecia discordar com o que eu havia dito.

– Na verdade não. Nico di Angelo teria que fazer isso de qualquer jeito. Sua presença apenas deixou tudo mais interessante.

– É mesmo? E por que será? – perguntei me levantando.

O deus apenas sorriu.

– Você não faz a menor ideia de porquê estava chorando, não é?

– Não, não sei. Não consigo ver o que aconteceu como um problema para mim.

Ele começou a rir. Fiquei surpresa com a reação.

– Qual é a graça?

Cupido parou de rir, mas continuava sorrindo.

– Você não percebeu. Nem suspeita.

– Do que está falando?

Ele respirou fundo antes de responder. Ainda havia um leve sorriso em seus lábios.

– Sinto lhe informar, Mariana, mas você está apaixonada por Nico di Angelo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Por favor, deixem comentários, sofri muito para escrever isso.
O próximo capítulo não vai demorar. Acho, só acho, que já vai sair semana que vem.
Não esqueçam de comentar!!



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