Dimitrius estava com suas mãos apoiadas na mesa em sua frente com um grande mapa que desenhava cada canto escondido que existia no inferno. Ele podia sentir Meridius em suas costas caminhando de um lado para o outro, pronto para fazer um buraco no chão já que nos próximos minutos estaria fazendo quase uma hora que ele não parava com esse movimento irritante.

Ele não conseguia entender por que Meridius não parava e descansava pelo menos alguns segundos, principalmente quando sabia que suas asas haviam prostestado pela dor por ter sobrevoado o inferno durante muito tempo. Caso contrario, ele jamais teria concordado em voltar para o castelo e deixar que os tenentes de Maximus assumissem a busca por Niffie.

Eles não haviam dormido nada durante a noite passada, mas também não precisavam disso. Dormir era uma necessidade tão mortal que não estava aos pés de arcanjos tão velhos como eles. No entanto, as asas de Dimitrius imploravam para estarem contra um colchão macio depois de passar horas estendidas em um vôo.

O som da porta sendo aberta foi ouvida e Dimitrius desviou seus olhos daquele mapa para ver Maximus entrando naquele escritório que usava para resolver assuntos que não envolvia castigar almas perdidas para a maldade. Sua expressão estava fechada e o arcanjo da dimensão dos humanos não soube dizer ao certo quem estava com o humor pior: Maximus ou Meridius.

— Vejo que você não teve uma boa noite também, Maxxie.— Dimitrius falou de maneira sarcastica.— Devo acreditar que foi por causa de uma mulher também?—

Meridius atrás dele parou de caminhar de repente e o arcanjo pode jurar que teria suas asas arrancadas pela brincadeira de mal gosto que envolvia sua mulher desaparecida.

— Por que você está colocando Niffie e aquela humana em uma mesma frase, Dimitrius?— Meridius perguntou de forma grosseira, mas um tom tão normal vindo dele que nem mesmo Maximus se importou de ter a sua humana chamada de “aquela humana”. — No entanto, estou curioso para saber o motivo dessa sua cara de enterro, irmão.— Ele falou para o arcanjo que governava o inferno.
— Eu descobri algumas coisas sobre a antiga vida de Ellylan.— Maximus disse calmamente, como se nada o tivesse atingido. Dimitrius sabia que seu irmão não estava bem, mas assim eram os arcanjos, eles jamais poderiam desmoronar quando reinos dependiam deles.— Ela era uma meretriz.—
— Wow!— Dimitrius exclamou com um sorriso no rosto devido a revelação que ele não esperava. No entanto, tal coisa não o surpreendeu. Ninguém conhecia melhor a humanidade do que ele e prostituição era algo tão comum na vida de humanos quanto o amor.

O arcanjo do paraíso ficou paralisado por alguns segundos, como se seu cerébro estivesse processando aquela informação que poderia chocar qualquer um.

— Ellylan possuí um orgulho muito grande para se submeter a isso.— Meridius refletiu.— Você tem certeza?—
— Sim, eu tenho.— Maximus o respondeu sem revelar suas fontes, mas desde que todos possuíam segredos, ninguém o questionou.
— Bom, Maximus,— Meridius começou, caminhando em direção da mesa em que Dimitrius estava apoiado para ficar mais próximo de ambos. Longe o suficiente para que suas asas não tocassem as suas.— Ninguém pode julgá-lo por preferir mulheres mais... experientes.—
— Meridius tem razão, você vive em um lugar onde o pecado é completamente normal.— Dimitrius concordou com o seu irmão.— Ninguém pode dizer qualquer palavra sobre o passado de Ellylan.—
— Por que vocês estão agindo como se eu fosse o problema da questão?— Os olhos azuis de Maximus encontraram os deles, confusão apareceu em sua expressão que segundos antes não demonstrava nada.
— Você não é?— Dimitrius perguntou e Meridius riu ao seu lado. Apesar de amargo devido ao seu sofrimento que tentava esconder, era um som verdadeiro.
— Maximus não seria o problema da questão quando sua humana possuí o orgulho de uma imortal.— O arcanjo disse sua conclusão e tudo fez sentido.

Imortais não julgavam pecados humanos e Maximus jamais se importaria com esse assunto quando já havia feito coisas piores.

— Eu acho,— Maximus disse sem olhar para seus irmãos, seus olhos fixos em um ponto daquele mapa que representava todo o inferno.— Que a alma dela nunca voltará a ser a mesma.—
— Você contou isso a ela de que modo?— Dimitrius quis saber.
— Eu apenas falei a verdade.—
Meridius ao seu lado riu novamente, o surpreendendo. Afinal, o arcanjo que representava os humanos nunca viu seu irmão rir com tanta frequencia.— Definitivamente, a alma dela nunca mais voltará a ser a mesma.—
— “Eu apenas falei a verdade.”— Dimitrius repetiu o que Maximus disse, fazendo uma careta em quanto falava.— Ellylan deve estar traumatizada nesse exato momento.—

Maximus levantou seus olhos do mapa naquele momento, os fuzilando com uma raiva que ninguém acreditaria que em questão de segundos passaria.

— O que você sabe sobre isso para estar rindo?—
— Eu sou o arcanjo da humanidade.— Dimitrius disse aquilo com orgulho.— Eu entendo de sentimentos humanos.—
— Parece que nunca esteve apaixonado antes, meu irmão.— Meridius disse aquilo para provocar Maximus em vários sentidos e Dimitrius foi obrigado a levar uma de suas mãos em frente de seus lábios para ocultar o seu riso. Seu irmão que governava o inferno já estava sem paciencia e não seria ele quem acabaria com ela.
— Eu nunca estivesse apaixonado antes.— Maximus disse algo que todos sabiam, mas também admitindo seus sentimentos por Ellylan sem perceber.— E eu não sei o motivo de risos quando ambos não são os melhores exemplos nesse assunto em particular.—

Maximus tinha razão. Realmente tinha.

Dimitrius nunca havia se apaixonado e dúvidava que isso algúm dia aconteceria. Ele não estava perto de se tornar alguém sem sentimentos, mas também nunca havia conhecido uma mulher que o interessasse mais do que sexualmente. O arcanjo da humanidade não recusaria o sentimento quando ele aparecesse, mas já havia se cansado de esperar.

E bom, Meridius era... Meridius. O único que estava bem longe de ser o mais romântico entre eles. No entanto, ele possuía o coração de uma linda mulher em suas mãos para fazer o que desejasse, mas tudo o que fazia era cuidar dele como se fosse a sua jóia mais rara.

Dimitrius admirava seus irmãos, até mesmo Maximus que até pouco tempo não conhecia esse sentimento. Entre eles, Max era aquele que mais era reconhecido por sua bondade, mas o modo que ele tratava Ellylan era algo único.

Maximus podia ser bem insensivel quando desejava, mas aquela humana era completamente sagrada para ele. Ninguém podia tentar prejudicá-la, nem mesmos as sombras do seu passado que eram manchadas apenas com sangue.

— Você precisa deixá-la sozinha por algum tempo.— Dimitrius quebrou o silêncio que cresceu entre eles.— Humanos só conseguem pensar quando estão sozinhos.—
Maximus olhou para o outro arcanjo com certa gratidão em seus olhos, mas não disse mais nenhuma palavra sobre o assunto. No momento, deixar essa revelação de lado era a melho opção para todos.— Eu irei voar por essa região.— Ele colocou seu dedo sobre uma região daquele enorme mapa para mostrá-los onde estaria.— Meus tenentes só voltarão quando escurecer e vocês podem usar esse tempo para descansar. Eu estou assumindo as buscas por Niffie agora.—
— Tudo bem.— Dimitrius concordou com ele.— Nós ficaremos de olho em Ellylan em quanto você está fora.—
Meridius revirou seus olhos em uma revolta fria, se manifestando depois de vários minutos em silêncio.— Ser babá de uma humana e ter minha esposa sequestrada por demônios... Meu dia não pode ficar pior do que isso.— Ele suspirou em desistência.
— Oh, vamos lá, Meridius, você ainda tem seus irmãos.— Dimitrius disse como se aquilo valesse muito e tudo o que recebeu foi um olhar frio que dizia o quanto Meridius desejava torturá-lo.

Maximus sorriu em frente deles e se virou para sair do escritório e começar a busca pela imperatriz do paraíso que havia sumido durante o baile. No entanto, antes que pudesse sair daquele lugar, Meridius o fez parar onde estava quando voltou a falar.

— Max.— Ele disse o seu nome e o arcanjo do inferno se virou para encontrar os olhos do irmão mais velho deles. Ficando em silêncio, Maximus esperou que Meridius falasse.— Traga Niffie para casa.—

Sem dizer uma palavra, o outro arcanjo apenas movimentou sua cabeça e saiu daquele lugar, deixando Meridius e Dimitrius sozinhos para discutir novamente seus planos que envolviam Niffie.