Maximus viu o corpo de Ellylan ficar completamente rígido em questão de segundos e qualquer sentimento que existia naqueles olhos azuis com pequenas pintinhas negras se perderam no meio de uma tempestade fria.

Vazios, seus olhos ficaram tão vazios que era inacreditável que algo como aquilo estivesse acontecendo com essa humana que demonstrava tudo o que sentia com o seu corpo. Naquele momento, Maximus desejou mais do qualquer coisa ter acesso a mente dela para saber exatamente o que estava acontecendo com os seus pensamentos, mas o arcanjo sabia que isso era um pedido impossivel.

Ellylan se levantou em seus pés com uma agilidade até mesmo sobrenatural, humanos não costumavam se movimentar tão rápido, mas Maximus preferiu ignorar esse detalhe que não era importante quando ela se afastou dele com passos lentos e seus olhos continuaram presos aos seus como se não conseguisse desviá-los.

O anjo se levantou também e quanto ameaçou dar um passo em direção de Ellylan, ela congelou completamente como se estivesse com medo dele.

— Não se aproxime de mim.— Ela disse aquilo como se fosse uma ameaça, levando suas mãos em direção de seu coração que estava batendo rapidamente. Sua respiração também não estava normal, Elly respirava tão rapido que parecia que estava com medo que o ar em sua volta acabasse. Suas reações demonstravam que ela estava tendo um ataque de pânico, mas o arcanjo sabia que existia mais do que isso.

— Por que você está fugindo de mim?— Maximus perguntou calmamente, controlando o seu tom para que ela não quebrasse com os seus atos.
— Minha vida,— Elly falou em um tom baixo, uma única lágrima se formou em um de seus olhos e escorreu por seu rosto. Aquela imagem foi o sufciente para quebrar barreiras dentro de Maximus que deveriam ser intocáveis.— Tudo é um desastre.—
— Não diga isso.—
— Não?— Ela riu secamente em quanto mais lágrimas escorriam por suas bochechas.— Eu era uma prostituta, Maximus, homens me tocaram e eu não me lembro de nada.—
— Isso não importa.— Maximus falou o que considerava correto. Afinal, para ele, Ellylan não deveria agir dessa forma quando esse problema podia ser corrigido. Mas ela era uma humana e, infelizmente, o arcanjo não entendia nada de sentimentos humanos.
— Importa para mim.— Ellylan chorou, suas palavras nada mais do que um sussurro.— Importa para mim, Maximus.— Ela repetiu.
— Eu sinto muito que você tenha que passar por isso, Elly.— Maximus tentou se aproximar, mas ela estava atenta demais ao que o anjo fazia para que isso acontecesse.— Eu quero protegê-la de tudo o que pode machucá-la, mas não podia privar uma verdade sobre sua própria vida.—
— Eu o odiaria se você escondesse isso de mim.— Ellylan disse, desviando seus olhos dele pela primeira vez. No entanto, as lágrimas não paravam de escorrer pelo seu rosto. Elly estava paralisada e seus olhos tão mortos que estava fazendo com que o arcanjo do inferno ficasse desesperado por não ter o que fazer.
— Me diga o que fazer, Elly.— Maximus disse a única coisa que podia falar naquele momento.— Eu irei fazer qualquer por você.—

Ellylan o encarou por alguns segundos em um silêncio que quase sufocou o anjo, mas em quanto suas lágrimas escorriam por seu rosto, ela deixou claro que tão pouco sabia o que queria também.

— Eu quero ficar sozinha.— Elly disse depois de um tempo. E esse pedido era algo que Maximus jamais negaria a ela. Ellylan precisava pensar sobre o que fazia quando era uma humana comum e desde que o anjo não podia fazer nada, já que se tratava de seu passado, ele não negaria esse pedido tão simples.

Fechando suas asas em suas costas para começar a caminhar em direção da saída daquele salão, o anjo se deteve quando estava em frente de Ellylan. Ela permaneceu imóvel e com seus olhos fixos no chão, mas não correu para longe dele como estava fazendo antes.

Maximus a segurou de maneira carinhosa por seus braços para mantê-la no lugar caso decidisse fugir para longe novamente e logo em seguida o anjo se curvou para que seus lábios tocassem o topo da cabeça dela.

— Minha humana,— Ele disse de forma gentil, esfregando um lado das suas bochechas nas mechas negras e macias do cabelo dela onde havia beijado antes.— Ez dut utzi gehiago minik duzu.—

Eu não permitirei que você se machuque mais.

Se afastando de Ellylan, Maximus a deixou completamente sozinha naquele salão, mas não foi para muito longe. O arcanjo não confiava em Elly naquele estado para ficar sozinha e ele se afastou o suficiente para lhe dar o espaço que desejava, mas ficou o suficiente perto para ouvir o choro que apenas aumentava conforme o tempo passava.